Ilustração de Cris Vector |
Quando começaram a surgir as primeiras notícias de que seria candidata a presidente da República, Dilma Rousseff foi logo apelidada “poste”. Por nunca haver disputado cargo eletivo, Dilma era um “poste” de Lula. As palavras “marionete” e “fantoche” também foram utilizadas. Mesmo que, antes de se candidatar, ela estivesse como ministra da Casa Civil da presidência da República, tendo sido antes ministra das Minas e Energia e ocupado vários cargos públicos a partir dos anos 1980.
Em Dilma, o fato de ser uma “não-política” foi apontado pela velha mídia como um defeito, não uma qualidade. Torceram o nariz para a “neófita”, a técnica que queria ser presidente. Eleita, dizia-se que quem governava de fato era seu “criador”. À parte a questão da misoginia, determinante em relação a Dilma, algo parecido aconteceu com Fernando Haddad em São Paulo. Embora tenha sido ministro da Educação, Haddad foi chamado de “poste” de Lula. Um “não-político” de esquerda? Inaceitável, vamos bater nele até derrotá-lo.
Antes de ser lançado por seu padrinho político Geraldo Alckmin à prefeitura de São Paulo, os únicos cargos de destaque que João Doria Jr. ocupou foram os de lobista do mundo empresarial, líder do movimento “Cansei” e administrador de uma empresa imaginária num reality show. Mas Doria se autodenominou “gestor”, um não-político, para ganhar a eleição. E colou. A boa vontade da mídia com o tucanato é tanta que ninguém o chamou de “poste”.
No entanto, não foram precisos nem dez dias à frente da prefeitura da maior metrópole brasileira para o país inteiro perceber que João Doria é o mais legítimo poste eleito para cargo público nos últimos anos, desde que Celso Pitta foi ungido prefeito por Paulo Maluf em 1996. Doria é um poste de “pole dance”, se exibindo fantasiado diante das câmeras de TV. O poste espetaculoso de Alckmin já se vestiu de gari e pedreiro. Virou meme: qual o próximo integrante do Village People que Doria irá encarnar?
Como suspeitávamos, João Doria Jr., o “ges-tor”, possui, ao contrário, todos os defeitos dos “políticos profissionais” que tanto criticou em campanha. É demagogo ao extremo. E populista no pior sentido da palavra, capaz de se fingir de pobre para agradar aos pobres, emulando seu antecessor Janio Quadros, que polvilhava farinha nos ombros para que as pessoas pensassem ter caspa. Não por acaso a marca registrada de Janio, como se tornou a de Doria, é uma vassoura.
É que o populismo, quando é de direita, é bem-vindo. Na esquerda, o discurso contra a desigualdade, por mais justiça social, é criticado como “populismo”. Que populismo bom é esse que tira cidadãos da miséria? Imaginem se Dilma se fantasiasse de faxineira ao iniciar o governo. Ou Haddad, de servente… Demagogo, populista, marqueteiro de si mesmo e obviamente despreparado para o cargo, para Doria ser igualzinho aos piores políticos só falta ser corrupto.
Pode-se dizer o que for de Dilma e Haddad, mas ambos fizeram administrações absolutamente republicanas, sem culto à personalidade e muito menos demagogia. Como técnicos sérios que são, se limitaram a fazer o que acreditavam frente aos cargos que ocuparam –sob o alto preço de receber uma chuva de críticas de todos os lados. Doria começou o mandato mostrando que não é nada além de um poste. Um poste vestindo Ralph Lauren não deixa de ser um poste.
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