Por Mino Carta, na revista CartaCapital:
Do velório de Marisa, mulher e companheira de Lula, saí entristecido e amargurado, e ainda ecoam na minha memória as palavras de despedida do ex-presidente no seu discurso da dor extrema e da justa indignação.
Ele disse da canalhice, leviandade, imbecilidade, maldade de quem acusa o casal e certamente precipitou a morte de Marisa. Que eu chamo e recordo como Marisa apenas, mesmo porque nunca ouvi Lula chamá-la Letícia.
A ida ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema foi um retorno ao passado, quando acompanhei de muito perto as greves de 1978, 79 e 80. Lá estavam os fiéis de Lula naquela luta de resistência à ditadura e na transformação do peleguismo em um sindicalismo digno da realidade do Brasil e destemido a ponto de desafiar a prepotência.
E encontrei também, prontos ao abraço, muitos jovens, moças e moços esperançosos, a confiarem no futuro. No meio do povo que fez filas intermináveis nas calçadas imaginei muitos e muitas que há quase 40 anos lotaram o gramado da Vila Euclides em comício permanente.
A morte de Marisa e as reações que suscita na chamada classe média são mais uma prova da medievalidade deste país da casa-grande e da senzala, assolado pela ferocidade do ódio de classe, pela ignorância, pela irresponsabilidade, pela violência dos senhores. Sou jornalista, e de jornalistas se pretendem, em teoria, visões quase frias de tão pacatas. Pois em relação aos golpistas sinto profunda repulsa, e aqui fala o cidadão antes do jornalista.
Nunca me filiei ao PT, mas saudei o seu nascimento, na certeza de que o Brasil precisa de um forte partido de esquerda. Quando do fracasso do Jornal da República, que diariamente abria uma página para a análise de questões do trabalho e um artigo assinado por representante da jovem leva de sindicalistas surgida na esteira de Lula, a dívida acumulada pelo jornal foi paga com a venda de IstoÉ a Fernando Moreira Salles.
Fiquei na direção da revista mais um ano. O jovem filho do famoso banqueiro me despediu por três razões, e uma delas era minha simpatia por Lula e o PT, enquanto ele pretendia aproximar-se do PMDB.
Mais atento, talvez, ao desenrolar dos eventos, o chefe da Casa Civil do ditador João Figueiredo, Golbery do Couto e Silva, perguntou-me mais de uma vez a respeito de Lula. Mais tarde, ao ficar preso no Dops aos generosos cuidados do delegado Romeu Tuma, Lula recebeu por duas vezes cavalheiros engravatados dispostos a conversar amavelmente a respeito das suas visões da vida, do mundo e das coisas da política.
Apresentavam-se como enviados do “cacique” e o próprio Lula me contou a história sem entender de quem se tratasse. Romeu Tuma, já senador, me esclareceu anos atrás: “cacique” era Golbery. O ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema se tornara então presidente da República. E, como primeiro mandatário, equilibrou-se entre o cravo e a ferradura para comandar o melhor governo brasileiro de todos os tempos, conforme é do conhecimento até do mundo mineral.
Como amigo leal e sincero, entendo que Lula falhou ao se cercar de figuras como Zé Dirceu e Palocci, para citar os mais vistosos. O PT, que na oposição cumpriu dignamente o seu papel, no poder agiu igual aos demais falsos partidos nativos. O PT não é vítima dos Torquemadas da República de Curitiba, e sim de si mesmo, a facilitar decisivamente manobras e ardis da casa-grande.
Excepcional negociador, Lula várias vezes foi leniente demais com seus adversários, para não dizer inimigos. Ele transcende, porém, o destino do PT, tal a força da sua liderança. De nada adianta argumentar em contrário, quem sabe ao alegar razões científicas: as urnas o levariam inexoravelmente de volta ao poder.
E não há outro motivo para a disposição de condená-lo por aquilo que não fez, prova mais clamorosa da absoluta ausência de justiça no Brasil do golpe. Bom sublinhar que, diante da ameaça, prestes talvez a ser realizada, Lula mantém a serenidade que já o vi exibir em inúmeras outras ocasiões de risco.
Só haverá saída do beco cego em que nos atirou o golpe de 2016, se o povo, vítima de um poder imperial que livremente age a seu talante empenhado apenas em ampliar seus próprios alcances, sair à rua. E somente Lula pode acordá-lo.
Em abril de 2015, imaginei que o ex-presidente se dispusesse a um périplo de pronunciamentos em praça pública Brasil afora, para denunciar a manobra e antecipar seu desfecho. Tenho certeza de que, ao agir desta forma, Lula obrigaria os golpistas ao recuo, assim como se daria se já então assumisse a chefia da Casa Civil de Dilma Rousseff.
Quero crer que agora não ficará no discurso da dor extrema.
Ele disse da canalhice, leviandade, imbecilidade, maldade de quem acusa o casal e certamente precipitou a morte de Marisa. Que eu chamo e recordo como Marisa apenas, mesmo porque nunca ouvi Lula chamá-la Letícia.
A ida ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema foi um retorno ao passado, quando acompanhei de muito perto as greves de 1978, 79 e 80. Lá estavam os fiéis de Lula naquela luta de resistência à ditadura e na transformação do peleguismo em um sindicalismo digno da realidade do Brasil e destemido a ponto de desafiar a prepotência.
E encontrei também, prontos ao abraço, muitos jovens, moças e moços esperançosos, a confiarem no futuro. No meio do povo que fez filas intermináveis nas calçadas imaginei muitos e muitas que há quase 40 anos lotaram o gramado da Vila Euclides em comício permanente.
A morte de Marisa e as reações que suscita na chamada classe média são mais uma prova da medievalidade deste país da casa-grande e da senzala, assolado pela ferocidade do ódio de classe, pela ignorância, pela irresponsabilidade, pela violência dos senhores. Sou jornalista, e de jornalistas se pretendem, em teoria, visões quase frias de tão pacatas. Pois em relação aos golpistas sinto profunda repulsa, e aqui fala o cidadão antes do jornalista.
Nunca me filiei ao PT, mas saudei o seu nascimento, na certeza de que o Brasil precisa de um forte partido de esquerda. Quando do fracasso do Jornal da República, que diariamente abria uma página para a análise de questões do trabalho e um artigo assinado por representante da jovem leva de sindicalistas surgida na esteira de Lula, a dívida acumulada pelo jornal foi paga com a venda de IstoÉ a Fernando Moreira Salles.
Fiquei na direção da revista mais um ano. O jovem filho do famoso banqueiro me despediu por três razões, e uma delas era minha simpatia por Lula e o PT, enquanto ele pretendia aproximar-se do PMDB.
Mais atento, talvez, ao desenrolar dos eventos, o chefe da Casa Civil do ditador João Figueiredo, Golbery do Couto e Silva, perguntou-me mais de uma vez a respeito de Lula. Mais tarde, ao ficar preso no Dops aos generosos cuidados do delegado Romeu Tuma, Lula recebeu por duas vezes cavalheiros engravatados dispostos a conversar amavelmente a respeito das suas visões da vida, do mundo e das coisas da política.
Apresentavam-se como enviados do “cacique” e o próprio Lula me contou a história sem entender de quem se tratasse. Romeu Tuma, já senador, me esclareceu anos atrás: “cacique” era Golbery. O ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema se tornara então presidente da República. E, como primeiro mandatário, equilibrou-se entre o cravo e a ferradura para comandar o melhor governo brasileiro de todos os tempos, conforme é do conhecimento até do mundo mineral.
Como amigo leal e sincero, entendo que Lula falhou ao se cercar de figuras como Zé Dirceu e Palocci, para citar os mais vistosos. O PT, que na oposição cumpriu dignamente o seu papel, no poder agiu igual aos demais falsos partidos nativos. O PT não é vítima dos Torquemadas da República de Curitiba, e sim de si mesmo, a facilitar decisivamente manobras e ardis da casa-grande.
Excepcional negociador, Lula várias vezes foi leniente demais com seus adversários, para não dizer inimigos. Ele transcende, porém, o destino do PT, tal a força da sua liderança. De nada adianta argumentar em contrário, quem sabe ao alegar razões científicas: as urnas o levariam inexoravelmente de volta ao poder.
E não há outro motivo para a disposição de condená-lo por aquilo que não fez, prova mais clamorosa da absoluta ausência de justiça no Brasil do golpe. Bom sublinhar que, diante da ameaça, prestes talvez a ser realizada, Lula mantém a serenidade que já o vi exibir em inúmeras outras ocasiões de risco.
Só haverá saída do beco cego em que nos atirou o golpe de 2016, se o povo, vítima de um poder imperial que livremente age a seu talante empenhado apenas em ampliar seus próprios alcances, sair à rua. E somente Lula pode acordá-lo.
Em abril de 2015, imaginei que o ex-presidente se dispusesse a um périplo de pronunciamentos em praça pública Brasil afora, para denunciar a manobra e antecipar seu desfecho. Tenho certeza de que, ao agir desta forma, Lula obrigaria os golpistas ao recuo, assim como se daria se já então assumisse a chefia da Casa Civil de Dilma Rousseff.
Quero crer que agora não ficará no discurso da dor extrema.
Lamentável, porque leviano, se não esclarece suas razões , o comentário negativo acerca de Zé Dirceu .
ResponderExcluirConcordo absolutamente com os comentário acima de Fábio Libertário. A inclusão do nome de Zé Dirceu na catilinária do articulista, inimigo de longa data do ex-ministro, sem que nunca, eu, leitor, soubesse os reais motivos para tal, me soou sem propósito e destemperado.Seu artigo me fez lembrar da historieta que corre entre a população sobre a presença de Pilatos no CREDO católico. Bola fora de Mino Carta.
ResponderExcluirPerfeito: O pt foi vítima de seus erros e Lula falhou ao se cercar de figuras como zé dirceu, zé cardozo, palocci libelu, mercadante, marta suplicy, marina silva e vários outros além da corja do pmdb
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