domingo, 13 de agosto de 2017

“Vai dar merda com Michel”, diz Cunha. Será?

Por Altamiro Borges

No início de agosto, o relator da midiática Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin, recebeu da Polícia Federal o relatório com transcrição de um diálogo em que os então deputados federais Eduardo Cunha e Henrique Alves, ambos do PMDB e ambos presos, tratavam do recebimento de propina do empresário Joesley Batista, da JBS. Na troca de mensagens, eles citaram expressamente o nome de Michel Temer, que teria ficado contrariado por perder parte da grana para uma outra ala da legenda. Na ocasião, meados de 2012, Eduardo Cunha disse que o desvio da propina daria problemas no futuro. “Ele [Joesley] vai tirar o de São Paulo para dar a você [Henrique Alves]? Isso vai dar merda com o Michel”.

A gravação é mais uma prova do envolvimento direto do então vice-presidente da República nas negociatas de corrupção com o presidente da JBS. A Polícia Federal extraiu a troca de mensagens entre os peemedebistas do celular de Eduardo Cunha. Ela confirma que a quadrilha chefiada por Michel Temer tinha divergências sobre a distribuição da grana roubada. A transcrição do diálogo, porém, teve pouca repercussão na mídia chapa-branca e sumiu rapidamente do noticiário. E tudo indica que se depender da imprensa venal e do próprio Judiciário, “o chefe da maior organização criminosa da história do país” seguirá impune. Afinal, a operação abafa, visando “estancar a sangria” das investigações de corrupção, está em pleno curso.

Operação para estancar a sangria

Nesta semana, a revista Época deu duas notinhas que confirmam esta hipótese. A primeira, assinada por Murilo Ramos, revela que “as negociações da Procuradoria-Geral da República (PGR) para a delação premiada do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha estão encerradas. Cunha, reclamam os procuradores envolvidos, é incapaz de reconhecer sua participação em falcatruas na Petrobras. O peemedebista também poupa políticos próximos a ele e não consegue provar as acusações que faz contra o presidente da República. Na semana passada, a coluna revelou que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, classificara a proposta de delação de Cunha como ‘biscoito de polvilho’ porque só fazia barulho”.

A segunda nota, assinada pelo jornalista Marcelo Rocha, reforçou ainda mais esta hipótese. “Desânimo é a palavra entre os procuradores da República sobre as negociações com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Mais uma semana caminha para ser encerrada sem um avanço significativo nas tratativas. Os investigadores avaliam que as informações colocadas no papel pelo peemedebista não se sustentam”. Pelo andar da carruagem, “não vai dar merda com o Michel” – ao contrário do que previu o correntista suíço. A cloaca empresarial, que financiou o golpe dos corruptos que alçou ao poder a quadrilha de Michel Temer, respira aliviada. O desmonte neoliberal do Estado, da nação e do trabalho segue a todo vapor.

A lista dos deputados bandidos

A operação-abafa também deixa aliviado dezenas de deputados bandidos. Em recente depoimento, o executivo Ricardo Saud, delator da JBS, garantiu que daria os nomes e os valores recebidos pelos parlamentares para apoiar a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara Federal, em fevereiro de 2015. Na ocasião, o atual presidiário foi eleito com 267 votos, derrotando o petista Arlindo Chinaglia, que teve 136 votos. Na época da votação, Ricardo Saud atuava como lobista da JBS no Congresso Nacional e teria sido o responsável por fazer o repasse da propina. Os pagamentos diretos, em dinheiro vivo, representariam R$ 12 milhões dos cerca de R$ 30 milhões desembolsados pelo grupo para dar suporte a Eduardo Cunha.

Em sua delação premiada, o próprio Joesley Batista já havia afirmado que o grupo empresarial atendeu ao pedido de Eduardo Cunha, que em 2014 solicitou R$ 30 milhões para se eleger presidente da Câmara Federal. “Dos levantamentos nossos, pelo que eu entendi, ele saiu comprando um monte de deputado Brasil afora”, garantiu. Ele também detalhou que o valor foi pago da seguinte forma: R$ 5,6 milhões por meio de doação oficial ao PMDB e correligionários indicados por Eduardo Cunha; R$ 10,9 milhões por meio de pagamentos de notas frias em setembro e outubro de 2014; e R$ 12 milhões em dinheiro vivo. A diferença de R$ 1,5 milhão entre a soma desses três valores e os R$ 30 milhões citados não foi explicada.

Mas, ao que tudo indica, a esperada delação de Eduardo Cunha “não vai dar em merda” nem para Michel Temer e nem para os picaretas do Congresso Nacional. A conferir!

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