sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Um ano da morte anunciada

Por Marco Piva

Há um ano, o Brasil assistiu, numa improvável sessão dominical da Câmara dos Deputados, a destituição da presidenta Dilma Rousseff. Para seus críticos, ela era um incômodo para o desenvolvimento econômico. Com o objetivo de conseguir o impeachment a qualquer custo, a oposição foi buscar o argumento das "pedaladas fiscais", cuja explicação não alcançava a população, mas se tornou, naquele momento, o único meio possível de apeá-la do governo com o apoio majoritário de um Congresso mais do que suspeito.

Nas ruas, as "pedaladas fiscais" foram substituídas por uma bandeira muito mais fácil de assimilar: a suposta luta contra a maior organização criminosa que jamais houve na história do país, leia-se, o PT. Com o poderoso suporte da mídia comercial, que não hesitou em tomar partido e transmitir ao vivo toda e qualquer manifestação anti-Dilma, e de setores expressivos do empresariado, cujos recursos ajudaram a organizar movimentos sociais "fakes", foi possível criar um clima hostil onde as ruas determinaram exatamente o contrário do resultado eleitoral de 2014.

A promessa era a da recuperação da economia com base em privatizações a toque de caixa, enxugamento dos gastos do governo, liberalização da legislação trabalhista e outras medidas de abertura total ao investimento externo. Casualmente, a proposta derrotada nas eleições.

O que vemos um ano depois? A extinção de uma reserva ambiental na Amazônia equivalente ao estado do Espírito Santo é apenas um pequeno exemplo a quais interesses o atual governo serve. A venda dos lotes do pré-sal, que custou décadas de pesquisa da Petrobras, significa abrir mão da soberania e de um projeto de futuro sustentável para o país.

Enquanto parlamentares se regozijam com emendas para suas bases, usadas como moeda de troca para evitar o afastamento de Temer, o país sofre uma de suas piores crises sociais, agravada por onde quer que se queira ver: aumento da violência contra mulheres, indígenas, quilombolas e periferias; deterioração dos serviços de saúde, educação e segurança urbana; sucateamento das universidades e dos centros de pesquisa; maior poder dos ruralistas; lucros extraordinários para os bancos privados e diminuição do papel dos bancos públicos para o incentivo à produção etc.

Acreditar que as pessoas tenham tido boa intenção quando foram às ruas vestidas de verde e amarelo e bateram panelas em suas varandas nem vem ao caso. Esse setor da população não deve estar assim tão feliz com as consequências de seus atos. Milhões deles devem fazer parte do contingente de desempregados ou que subsistem na informalidade. Mas, uma coisa é possível, uma coisa é necessária para a nossa reflexão: a quem interessa a destruição acelerada de um país por um agrupamento de políticos suspeitos em seus métodos e práticas?

Está cada vez mais evidente que Dilma Rousseff era uma contenção para os desígnios malignos que se abatem sobre o Brasil na atualidade. Sua administração, com erros e acertos, foi surpreendida pela armadilha da governabilidade, se tornando refém de uma maioria parlamentar de achacadores, liderada por Eduardo Cunha. Todas as medidas para combater a crise econômica que já se sentia à época foram sumariamente derrotadas na Câmara.

Não há o que esperar de um governo ungido de uma conspiração de traidores e vende-pátrias. Sua lógica econômica é medíocre e ultrapassada. Subserviente para dizer o mínimo. Sua forma de fazer política é uma farsa que só provoca indignação e ojeriza. O resultado é que hoje os resultados do desastre atingem a todos, sejam “coxinhas”, “petralhas” ou simplesmente ausentes ou alienados. Por isso, nenhum brasileiro ou brasileira com consciência minimamente patriótica deve vestir outra camisa que não seja a defesa da nação e de seu futuro. A cor dela pouco importa.

* Marco Piva é jornalista.

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