sexta-feira, 1 de junho de 2018

Quem são os "intervencionistas"?

Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:

O país tem o direito de saber quem são estes “intervencionistas” que, segundo o governo e líderes de caminhoneiros, estão usando de violência para impedir o fim da greve, pregando a derrubada de Temer e uma intervenção militar. Ontem eles mataram a pedrada um caminhoneiro em Vilhena (RO). Altas patentes da ativa, vale dizer, repudiaram as vivandeiras das rodovias. Se elas fossem inofensivas ou insignificantes, a presidente do STF, Cármen Lúcia, não teria feito solene defesa da democracia como “único caminho legítimo”.

Cansados do governo Temer e irritados com a política de combustíveis todos estão. Há esforços para ampliar os protestos, como o dos petroleiros com a greve contra a direção e a condução da Petrobras e os protestos de taxistas, motoqueiros e motoristas de transporte escolar mas sem apelar para o golpismo. Apesar de seu déficit de legitimidade, Temer terá que sair dentro da legalidade, entregando a faixa ao presidente eleito ou, o que é muito improvável, afastado por uma decisão legal, se vier uma terceira denúncia, por exemplo. Ou, hipótese ainda mais remota, pela renúncia. Até Jair Bolsonaro, inspirador destes grupos de direita saudosos da ditadura caiu fora: se os militares tiverem que voltar, que seja pelo voto.

É cansativo mas sempre pedagógico lembrar que este golpismo difuso que está aí é fruto do processo que levou Temer ao governo, um impeachment de discutível fundamentação jurídica, nutrido pela impopularidade que tragou o governo Dilma, quando a bonança do lulismo acabou, por força da combinação entre fatores econômicos externos e erros cometidos pelo governo dela. A elite política deu o exemplo, agora acham que é assim: governo ruim, vamos varrer de qualquer jeito.

Na terça-feira o governo informou ter comprovado a “infiltração” que passaria a combater. Ontem Jungmann anunciou a criação de um “disque denúncia” para receber informações sobre atos de violência nos pontos de protestos. O reabastecimento avançou mas a violência aumentou. Caminhoneiros teriam sido forçados ao cárcere privado. Haveria milícias armadas atuando em estados como Minas, Goiás e Paraná. Neste último, em Carambeí, um caminhoneiro atirou contra PMs, ferindo-os. Executivos do agronegócio, anteontem na Câmara, fizeram relatos de muita gravidade. Em Mato Grosso, cortaram trilhos da ferrovia com maçarico e queimaram cargas de ração.

Então, há mais que discurseira irresponsável nessa loucura. E já tendo o país sangrado tanto, já tendo o governo errado tanto, tem a obrigação de identificar e punir os que atentam contra as democracia. A Constituição considera crime inafiançável e imprescritível (artigo 5º., inciso XLII) “a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático”.

Razões pessoais 
O ex-chanceler Celso Amorim informou ontem, em carta ao presidente do PT-RJ, Washington Quá-Quá, que não será mesmo candidato a governador do Rio, conforme já dissera ao vice-presidente do PT, Alberto Cantalice. Alegou “razões estritamente pessoais” e à coluna assegurou que a decisão não se relaciona com a escolha do candidato a vice na chapa do ex-presidente Lula: “Em algum momento haverá a escolha de um vice mas ainda não houve decisão do partido sobre a hora e muito menos sobre nomes”.

Ele confirma que a filósofa Márcia Tiburi, que já era cotada como sua companheira de chapa, deve ser candidata ao governo e elogia a escolha na carta a Quá-Quá.

Relativamente à situação nacional, Amorim compartilha do sentimento geral de que será difícil a travessia até às eleições com o governo Temer: “Agora só nos restou mesmo uma pinguela, e pinguela podre, mas não há saída fora da democracia e das eleições. Torço para que o Brasil compreenda que só o ex-presidente Lula pode pacificar o país”.

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