quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Não adianta pedir perdão daqui a 50 anos

Por Eleonora de Lucena, no site Tutaméia:

Ninguém poderá dizer que não sabia. É ditadura, é tortura, é eliminação física de qualquer oposição, é entrega do país, é domínio estrangeiro, é reino do grande capital, é esmagamento do povo. É censura, é fim de direitos, é licença para sair matando.

As palavras são ditas de forma crua, sem tergiversação - com brutalidade, com boçalidade, com uma agressividade do tempo das cavernas. Não há um mísero traço de civilidade. É tacape, é esgoto, é fuzil.

Para o candidato-nojo, é preciso extinguir qualquer legado do iluminismo, da Revolução Francesa, da abolição da escravatura, da Constituição de 1988.

Envolta em ódios e mentiras, a eleição encontra o país à beira do abismo. Estratégico para o poder dos Estados Unidos, o Brasil está sendo golpeado. As primeiras evidências apareceram com a descoberta do pré-sal e a espionagem escancarada dos EUA. Veio a Quarta Frota, 2013. O impeachment, o processo contra Lula e sua prisão são fases do mesmo processo demolidor das instituições nacionais.

Agora que removeram das urnas a maior liderança popular da história do país, emporcalham o processo democrático com ameaças, violências, assassinatos, lixo internético. Estratégias já usadas à larga em outros países. O objetivo é fraturar a sociedade, criar fantasmas, espalhar medo, criar caos, abrir espaço para uma ditadura subserviente aos mercados pirados, às forças antipovo, antinação, anticivilização.

O momento dramático não permite omissão, neutralidade. O muro é do candidato da ditadura, da opressão, da violência, da destruição, do nojo.

É urgente que todos os democratas estejam na trincheira contra Jair Bolsonaro. Todos. No passado, o país conseguiu fazer o comício das Diretas. Precisamos de um novo comício das Diretas.

O antipetismo não pode servir de biombo para mergulhar o país nas trevas.

Por isso, vejo com assombro intelectuais e empresários se aliarem à extrema direita, ao que há de mais abjeto. Perderam a razão? Pensam que a vida seguirá da mesma forma no dia 29 de outubro caso o pior aconteça? Esperam estar livres da onda destrutiva que tomará conta do país? Imaginam que essa vaga será contida pelas ditas instituições – que estão esfarrapadas?

Os arrivistas do mercado financeiro festejam uma futura orgia com os fundos públicos. Para eles, pouco importam o país e seu povo. Têm a ilusão de que seus lucros estarão assegurados com Bolsonaro. Eles e ele são a verdadeira escória de nossos dias.

A eles se submete a mídia brasileira, infelizmente. Aturdida pelo terremoto que os grandes cartéis norte-americanos promovem no seu mercado, embarcou numa cruzada antibrasileira e antipopular. Perdeu mercado, credibilidade, relevância. Neste momento, acovardada, alega isenção para esconder seu apoio envergonhado ao terror que se avizinha.

Este jornal escreveu história na campanha das Diretas. Depois, colocou-se claramente contra os descalabros de Collor. Agora, titubeia – para dizer o mínimo. A defesa da democracia, dos direitos humanos, da liberdade está no cerne do jornalismo.

Não adianta pedir desculpas 50 anos depois.

* Eleonora de Lucena é jornalista, ex-editora-executiva da Folha (2000-2010) e copresidente do serviço jornalístico Tutaméia (tutameia.jor.br).

* Texto publicado originalmente na Folha de S. Paulo de 25 de outubro de 2018.

3 comentários:

  1. Pelo que vem acontecendo em relação aos militares ( a adesão total a bolso ) acredito que o pior seria o Brasil decretar uma guerra a Venezuela e digo isto por 2 motivos principais.
    1- O militar não sabe fazer outra coisa na vida alem de guerra. Veja que para defender nossas comunidades( no RJ)não serviram.
    2 - Demonstração de força e poder ( veja as Malvinas na Argentina ).

    Os generais e patentes mais baixas se acham superiores a juizes da suprema corte e mesmo de parlamentares.
    os comentarios de um coronel da este indicativo.

    A Venezuela esta sendo cobiçada pelo Americano ( tanto pelo petroleo como pelo territorio - vide Arabia , Irã e etc). Parece que nos primeiros dias de governo o Bolso deve declarar esta guerra . E ai? a familia mandará seus fihos para esta insanidade com o pretexto que estamos sendo invadidos por Maduro?
    Acho bom refletir bem se outros motivos não forem suficientes , acredito que este venha a ser

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  2. Só por Deus
    Diante da inércia das autoridades pedimos ao nosso pai celeste que ilumina a mente dos eleitores a tempo de não votarem contra o próprio sangue
    Contra o seu país.

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  3. Se no dia 28 que aproxima, o resultado destas eleições for a vitória do fascismo, no futuro talvez, a nova geração sinta vergonha das escolhas infelizes de seus antepassados; Só lamento que muitos tenham que sofrer por causa desta escolha! Ainda há tempo para escolhermos o que é melhor para esta e para as futuras gerações! Pensemos nisto!

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