terça-feira, 20 de novembro de 2018

Bolsonaro e a queima de confiança

Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:

Entre a eleição e a posse, presidentes eleitos transpiram legitimidade e nadam num mar de confiança e boa vontade.

Nos primeiros cem dias de governo, vivem a lua de mel com o eleitorado e com as instituições.

Jair Bolsonaro está conseguindo dilapidar seu crédito de confiança com o acúmulo de erros e precipitações na fase preliminar: com decisões erráticas sobre a estrutura administrativa, com o trato negligente das relações com o Congresso e com anúncios impetuosos que geram consequências nocivas, seja para grupos econômicos ou para a população, a exemplo do atrito com os países árabes e agora com a decisão de Cuba, de sair do programa Mais Médicos em resposta às suas declarações ameaçadoras e depreciativas.

Brasília, embaixada da República de Curitiba

Por Sergio Lirio, na revista CartaCapital:

A influência da “República de Curitiba” não para de aumentar em Brasília. Depois de integrar Érika Marena e Rosalvo Ferreira Franco, delegados da Polícia Federal, à equipe de transição do futuro governo Bolsonaro, o “superministro” Sérgio Moro convidou para a chefia da Polícia Federal o superintendente da corporação no Paraná, Maurício Valeixo.

Valeixo ocupou no passado o cargo de diretor de inteligência da PF e comandou o departamento de Combate ao Crime Organizado. O futuro ministro declarou recentemente a intenção de reeditar o modelo de força-tarefa adotado na Lava Jato no combate às facções criminosas, uma das promessas da campanha de Bolsonaro. Valeixo é descrito como um quadro “operacional”, oposto ao perfil “intelectual” do atual diretor da corporação, Rogério Galloro.

Sítio de Atibaia e a omissão da "Justiça"

Por Joaquim de Carvalho, no blog Diário do Centro do Mundo:

No último ato da defesa, antes da sentença no processo sobre o sítio de Atibaia, os advogados de Lula pediram uma série de providências, dentre elas duas se destacaram: querem a resposta dos peritos da Polícia Federal a um parecer técnico que desmonta a tese de acusação e o depoimento de Rodrigo Tacla Durán.

Os advogados começam o texto pela declaração de que não reconhecem na 13a. Vara Federal Criminal do Paraná competência legal para processar o ex-presidente.

Ultra-ricos preparam um mundo pós-humano

Por Douglas Rushkoff, no site Outras Palavras:

No ano passado, fui convidado a fazer conferência num resort superluxuoso para um público que, imaginei, seria de aproximadamente cem banqueiros de investimento. Era de longe a maior remuneração que jamais me foi oferecida por uma palestra – metade do meu salário anual como professor – tudo para fornecer algumas dicas sobre o tema “o futuro da tecnologia”.

Nunca gostei de falar sobre o futuro. A sessão de perguntas e respostas sempre acaba mais como um jogo de salão, em que me pedem para opinar sobre as últimas tendências da tecnologia como se fossem dicas precisas para potenciais investimentos: blockchain, impressão 3D, CRISPR. As audiências raramente estão interessadas em aprender sobre essas tecnologias ou sobre seus impactos potenciais, além da escolha binária entre investir nelas ou não. Mas o dinheiro chama; por isso, entrei no show.

A democracia deve ir às ruas

Por Wanderley Guilherme dos Santos, no blog Cafezinho:

Pelo tempo que existir, o próximo será um governo culturalmente tosco. Não basta a nulidade reconhecida do anunciado chefe da casa civil, a impostura de um anônimo Bebiano, agraciado com os despojos do toma lá dá cá de uma legenda sem destino, a truculência do futuro ministro da fazenda e a grosseria das manifestações orais do próprio clã Bolsonaro.

Era preciso adicionar ao espetáculo fantasmagórico um ministro das relações exteriores que se entusiasma com a confissão, por outras palavras, de ser um frankstein ideológico. Difícil interpretar como a Casa de Rio Branco concedeu-se o vexame de abrigar semelhante exemplar de talidomida diplomático. Mas, se o mundo não estiver ensandecido à la Trump, a Europa ocidental, os nórdicos, mais os russos e sobretudo a China se encarregarão de expulsá-lo do Itamaraty, já que os nossos não o fizeram.

Uma ditadura de novo tipo no Brasil

Por Marcio Sotelo Felippe, na Revista Cult:

O regime da Constituição de 1988 acabou. Vivemos uma ditadura dissimulada, de novo tipo, com a aparência espectral de formas jurídicas e políticas de um Estado de direito.

O fim desse regime não seguiu o padrão histórico. Nós nos habituamos a ver uma ruptura quando uma Constituição é revogada e surge outra, seja por padrões democráticos, como a convocação de uma constituinte, seja por atos de força, como a outorga de um texto constitucional. Assim, por exemplo, o Estado Novo em 1937, a 5º República francesa em 1958, a Constituinte de 1945, a Carta de 1967 e sua alteração em 1969 e a própria Constituição de 1988.

Moro e o Estado policial

Por Jeferson Miola, em seu blog:                                 

Sérgio Moro se encaixa com perfeição no conceito de déspota do dicionário Houaiss:

“1. que ou quem exerce autoridade arbitrária ou absoluta (diz-se de governante); tirano

2. que emprega ou quem quer que empregue de autoridade tirânica para dominar, revelando caráter autoritário

3. que ou o que exerce alguma forma de imposição ou autoritarismo, em qualquer campo”.


Moro não é um déspota por acidente. Sua forma de agir, como autoridade dotada de poderes ilimitados que despreza a ordem constitucional e legal vigente, foi sendo legitimada e banalizada por um judiciário de exceção, permissivo com a transmutação do juiz provinciano em agente político e celebridade influente da cena brasileira.

Bolsonaro mentiu sobre médicos cubanos

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Bolsonaro praticamente acabou com o programa Mais Médicos ao atacar Cuba e os médicos que o país nos enviou. E disse que esses médicos só poderiam continuar no Brasil se Cuba permitisse que suas famílias viessem para cá. Porém, em 2013, como deputado, tentou barrar a vinda das famílias dos médicos para o Brasil dizendo que eram compostas de “mercenários”

A nova cara do presidencialismo

Charge: Pataxó
Por Gabriel Cohn, no jornal Le Monde Diplomatique-Brasil:

Durante longo período o presidencialismo brasileiro foi caracterizado como sendo de “coalizão”, aquele arranjo no qual o centro do Executivo negocia cada passo com uma nuvem de partidos ou consórcios de interesse pouco significativos por si mesmos, mas dotados do inestimável recurso que é o poder de veto. Pois bem, isso que agora vemos ser construído, tudo indica que em consonância a plano muito bem pensado em escala transnacional, é regime bem diferente. Pode ser denominado, à falta de outro termo, “presidencialismo de ocupação”.