Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:
Está mais que na hora de estimar corretamente o tamanho do bolsonarismo. Se errarmos, podemos subestimá-lo, acreditando que perdeu tanta substância desde a eleição que passou a ser irrelevante, ou superestimá-lo, supondo que seja maior do que é.
Muitos pecam pelo exagero. No debate político, nas relações do capitão com o Congresso e o Judiciário, na maneira como a imprensa o trata, o bolsonarismo parece mais amplo, mais enraizado e mais significativo do que os números sugerem. Consequência, talvez, do modo como sua vitória eleitoral foi apresentada, na hipótese de um tsunami que teria atingido a nossa sociedade. Como se as evidências de manipulação devessem ser desconsideradas e nada restasse a não ser aceitar resultados tão “avassaladores”.
Está claro que é cedo para calcular em definitivo o seu tamanho e os sinais são de que tende a cair com a passagem do tempo. É bem possível, portanto, que qualquer retrato feito hoje da amplitude da base social do bolsonarismo lhe seja mais favorável do que o que se fizer amanhã. O primeiro conjunto de números diz respeito à eleição e ajuda a relativizar a suposição do tsunami. A fonte para essa discussão é a evolução das intenções de voto, disponível desde 2015.
Na média das pesquisas publicadas, Bolsonaro tinha 5% em junho daquele ano e chegou a 7% um ano depois. Em mais um ano, em junho de 2017, Bolsonaro chegou a 16%. Doze meses depois, permanecia no mesmo lugar, tendo ido de 16% para 18%. Chegou, portanto, à reta final perto de onde estava um ano antes, o que sugere que o tamanho real de seu enraizamento era de menos de 20% do eleitorado.
O que aconteceu de julho a outubro de 2018 é história conhecida, mas uma conclusão é forçosa: o bolsonarismo sempre mostrou ser, enquanto fenômeno social, significativamente menor do que se tornou no plano eleitoral, quando alcançou 34% do eleitorado.
O segundo conjunto de dados disponíveis para calcular o apoio que o capitão tem na atualidade vem das pesquisas de opinião feitas desde a eleição. Seus resultados não são nada bons para ele. O tamanho de sua base social é uma das razões dos problemas que enfrenta. Em abril, pesquisa CUT/Vox perguntou quando os eleitores do capitão se resolveram por ele. Entre os 33% que disseram haver votado nele, 70% afirmaram que se decidiram “muito tempo antes, sempre o admiraram”, representando pouco mais de 20% da população. Esses, e apenas uma parte deles, constituem o núcleo que hoje o aprova efetivamente.
Na pesquisa do Datafolha do início de julho, apenas 17% dos entrevistados deram notas 9 ou 10 ao governo. Na mesma linha, foram 12% os que responderam que, nos primeiros seis meses de governo, “Bolsonaro fez mais do que você esperava”. Inversamente, 61% disseram que “fez menos”.
Os encantados com o capitão, os que acham que “fez mais”, são predominantemente mais velhos e ricos: entre os de menor rendimento, 67% afirmam que “fez menos”, proporção que cai para 41% entre os mais ricos. Taxas parecidas às que vemos na idade: entre os mais jovens, apenas 9% dizem que “fez mais”, proporção que sobe para 13% entre os mais velhos.
Quem olha as reações da opinião pública através das redes sociais pode achar diferente, mas elas dão uma ideia enviesada do país que somos. O bolsonarismo que pulula nelas é duplamente falso, pois estão cheias de perfis inventados e movimentam uma parcela pequena e pouco representativa da população.
Como mostraram as pesquisas feitas ao longo do ano passado pelo Vox Populi, nas principais redes, salvo nos últimos dias antes da eleição, não chegava a 15% a proporção dos que se envolviam com temas políticos (recebendo conteúdos, postando ou discutindo): 15% da população no WhatsApp, 12% no Facebook, 8% no YouTube e 4% no Twitter.
Pouca gente, atipicamente mobilizada e interessada no assunto, de escolaridade e renda elevadas. Essas redes, em especial o Twitter, servem, no fundo, apenas como arena para proselitismo interno ou palco de discussões de bolsonaristas contra antibolsonaristas.
Onde importa, na vida cotidiana da vasta maioria do País, o bolsonarismo é um fenômeno em retração e as consequências políticas da erosão de popularidade são conhecidas. Sarney, Collor, Fernando Henrique e Dilma que o digam.
Muitos pecam pelo exagero. No debate político, nas relações do capitão com o Congresso e o Judiciário, na maneira como a imprensa o trata, o bolsonarismo parece mais amplo, mais enraizado e mais significativo do que os números sugerem. Consequência, talvez, do modo como sua vitória eleitoral foi apresentada, na hipótese de um tsunami que teria atingido a nossa sociedade. Como se as evidências de manipulação devessem ser desconsideradas e nada restasse a não ser aceitar resultados tão “avassaladores”.
Está claro que é cedo para calcular em definitivo o seu tamanho e os sinais são de que tende a cair com a passagem do tempo. É bem possível, portanto, que qualquer retrato feito hoje da amplitude da base social do bolsonarismo lhe seja mais favorável do que o que se fizer amanhã. O primeiro conjunto de números diz respeito à eleição e ajuda a relativizar a suposição do tsunami. A fonte para essa discussão é a evolução das intenções de voto, disponível desde 2015.
Na média das pesquisas publicadas, Bolsonaro tinha 5% em junho daquele ano e chegou a 7% um ano depois. Em mais um ano, em junho de 2017, Bolsonaro chegou a 16%. Doze meses depois, permanecia no mesmo lugar, tendo ido de 16% para 18%. Chegou, portanto, à reta final perto de onde estava um ano antes, o que sugere que o tamanho real de seu enraizamento era de menos de 20% do eleitorado.
O que aconteceu de julho a outubro de 2018 é história conhecida, mas uma conclusão é forçosa: o bolsonarismo sempre mostrou ser, enquanto fenômeno social, significativamente menor do que se tornou no plano eleitoral, quando alcançou 34% do eleitorado.
O segundo conjunto de dados disponíveis para calcular o apoio que o capitão tem na atualidade vem das pesquisas de opinião feitas desde a eleição. Seus resultados não são nada bons para ele. O tamanho de sua base social é uma das razões dos problemas que enfrenta. Em abril, pesquisa CUT/Vox perguntou quando os eleitores do capitão se resolveram por ele. Entre os 33% que disseram haver votado nele, 70% afirmaram que se decidiram “muito tempo antes, sempre o admiraram”, representando pouco mais de 20% da população. Esses, e apenas uma parte deles, constituem o núcleo que hoje o aprova efetivamente.
Na pesquisa do Datafolha do início de julho, apenas 17% dos entrevistados deram notas 9 ou 10 ao governo. Na mesma linha, foram 12% os que responderam que, nos primeiros seis meses de governo, “Bolsonaro fez mais do que você esperava”. Inversamente, 61% disseram que “fez menos”.
Os encantados com o capitão, os que acham que “fez mais”, são predominantemente mais velhos e ricos: entre os de menor rendimento, 67% afirmam que “fez menos”, proporção que cai para 41% entre os mais ricos. Taxas parecidas às que vemos na idade: entre os mais jovens, apenas 9% dizem que “fez mais”, proporção que sobe para 13% entre os mais velhos.
Quem olha as reações da opinião pública através das redes sociais pode achar diferente, mas elas dão uma ideia enviesada do país que somos. O bolsonarismo que pulula nelas é duplamente falso, pois estão cheias de perfis inventados e movimentam uma parcela pequena e pouco representativa da população.
Como mostraram as pesquisas feitas ao longo do ano passado pelo Vox Populi, nas principais redes, salvo nos últimos dias antes da eleição, não chegava a 15% a proporção dos que se envolviam com temas políticos (recebendo conteúdos, postando ou discutindo): 15% da população no WhatsApp, 12% no Facebook, 8% no YouTube e 4% no Twitter.
Pouca gente, atipicamente mobilizada e interessada no assunto, de escolaridade e renda elevadas. Essas redes, em especial o Twitter, servem, no fundo, apenas como arena para proselitismo interno ou palco de discussões de bolsonaristas contra antibolsonaristas.
Onde importa, na vida cotidiana da vasta maioria do País, o bolsonarismo é um fenômeno em retração e as consequências políticas da erosão de popularidade são conhecidas. Sarney, Collor, Fernando Henrique e Dilma que o digam.
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