terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Cuidado, Regina Duarte... Cuidado, Brasil...

Por Eric Nepomuceno

Em primeiro lugar quero esclarecer que ao longo da vida tive pouquíssimos contatos com Regina Duarte, que foram sempre cordiais e agradáveis. Duvido, aliás, que ela se lembre de mim.

Portanto, o que digo aqui não tem nada de pessoal a favor ou contra.

Pois continuo convicto de que, para Jair Messias e seu projeto de país, muito mais, muitíssimo mais útil e conveniente do que Regina Duarte poderá tentar ser, era mesmo Roberto Rego Pinheiro, o que se diz “Alvim”.

Para Jair Messias e os militares empijamados que perambulam à sua volta, para Moro e Guedes e o resto da corja, uma perda inestimável.

Para fortalecer minha convicção, basta ver a maneira que Regina Duarte inventou para chegar ao governo: falou em “noivado”, uma leviandade sem graça quando o que temos pela frente é um funeral, e disse que quer “pacificar” a relação do governo com a classe artística e cultural.

Ora, ora: para Jair Messias, a única forma de “pacificar” sua relação com a classe artística e cultural ou com quem for, é a submissão absoluta aos seus desvariados surtos de desequilíbrio, ou então a paz dos cemitérios.

O grande erro de Rego Pinheiro, o tal “Alvim”, foi ter aberto o jogo.

Único e solitário erro, porque todo o resto de sua brevíssima gestão foi, aos olhos do que pretendem Jair Messias, o clã miliciano-familiar e todo o resto do governo, exemplar.

Uma capacidade de destruição comparável apenas, e justamente, à de Adolf Hitler.

Ao escancarar a afinidade íntima do governo com o nazismo, o infausto aspirante à glória das glórias, o ressentido extremo que, sabe-se lá a troco de quais aspirações, enterrou uma carreira que até que era interessante, despencou de vez para os porões da história.

Há uma única, isolada e solitária distância entre ele, Jair Messias e o clã familiar: Rego Pinheiro ao menos leu e entendeu o que tinha lido.

Tanto assim que disse “assinar embaixo” o conceito cultural e propagandístico de Joseph Goebbels.

Jair Messias e seus filhos hidrófobos e seus seguidores apatetatos e patéticos e bizarros não só jamais tinham ouvido falar do alemão como jamais leram nada de nada.

Pois vamos lá, Regina Duarte: o perigo não estava no Rego Pinheiro que se faz chamar de “Alvim”, está no desequilibrado que ocupa a poltrona presidencial.

E além do desequilibrado, o grande perigo não era nem é o defenestrado: o grande perigo atende pelos nomes de duas figuras abjetas, Sérgio Moro e Paulo Guedes. O resto, ou é inutilidade, ou bobagem.

Confesso, Regina, que me atrevo a pôr em dúvida, séria dúvida, seu preparo e sua formação para ocupar o posto que corresponderia ao de ministro da Cultura.

E não tenho dúvida em duvidar de sua capacidade de gestão.

Uma coisa é gerir fazendas e estábulos, outro é gerir uma instituição pública de delicada complexidade como deve ser a da estrutura de governo destinada a cuidar, ao menos em tese, das artes e da cultura.

Ah, tem mais: uma coisa é se declarar “conservadora” e outra, radicalmente contrária, é apoiar e ir trabalhar num governo de ultradireita, fundamentalista em seu reacionarismo mais absoluto.

Há uma distância essencial, Regina, entre um conservador e um reacionário. E parece que você não sabe disso. Jair Messias não é conservador. Aliás, nem é reacionário: é uma aberração.

É primata, tem tudo de nazista embora nem saiba direito o que isso quer dizer. Tanto assim que seu ministro de Aberrações Exteriores, e depois ele mesmo, disseram que o nazismo era de esquerda...

Cuidado, Regina: você corre o sério risco de mergulhar fundo no lodo irremediavelmente enlodaçado do desprezo.

Cuidado, Brasil: parece que ela gostou da ideia.

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