Por Altamiro Borges
Ricardo Feltrin informa no site UOL que a crise no império global se agravou, e muito, com a Covid-19. “Entre março do ano passado – início da pandemia – e outubro passado, a TV Globo perdeu pelo menos 1 em cada 5 telespectadores na média de ibope das 24 horas do dia”. O baque é violento e ajuda a explicar a não renovação dos contratos de artistas antigos e renomados e de vários jornalistas.
Conforme pondera o colunista especializado em mídia, “a Globo ainda é a maior emissora do país e lidera com folga o ibope não só da TV aberta como também o da TV paga e, se existisse um ranking de serviços de streaming nacionais, estaria em primeiro também com seu Globoplay. O problema é que quem banca todos os investimentos, de forma geral, é a TV comercial. A TV Globo. E ela, mês a mês, perde cada vez mais público”.
Pelos dados de audiência nacional mensurados pela empresa Kantar Media, a emissora perdeu fôlego em praticamente todas as faixas horárias. A Globo fechou outubro com 10,8 pontos e 30,7% de “share” – a participação no universo de aparelhos de TV ligados. Para efeito de comparação, em março de 2020 os números da Globo eram 14,4 pontos e 36,2% de “share”. Em 2004, o melhor ano da Globo no século, ela marcava 19 pontos e 57,0% de “share”. Baita queda!
SBT de Silvio Santos também afunda
Todas as emissoras sentiram os efeitos da Covid-19. Em outra reportagem, o mesmo Ricardo Feltrin relata que outubro também foi muito ruim para o SBT – o Sistema Bolsonarista de Televisão do “topa tudo por dinheiro” Silvio Santos. Ele fechou o mês em terceiro lugar na tevê aberta, com 3,4 pontos no ibope e 9,7% de “share” – o pior resultado de seus 40 anos de existência. “Nunca tão poucos aparelhos de TV no Brasil sintonizaram a TV de Silvio Santos”. O colunista detona “sua programação cheia de improvisos, reprises e mudanças de planos repentinas”.
Já a emissora do “bispo” Edir Macedo teve um pequeno aumento de audiência. “Atrás da Globo veio a Record, que fechou com 4,6 pontos e 12,9% de share. Um crescimento de 5% em relação a setembro, que certamente foi causado por ‘A Fazenda’, ‘Top Chef’, além da novela ‘Gênesis’”.
“Em quarto lugar entre as TVs comerciais veio a Band, com 1,0 ponto e 2,8% de ‘share’ nacional, o que, convenhamos, é bem pouco para uma emissora com tanta tradição e que fará 55 anos em 2022. Em último, a RedeTV com 0,4 ponto de ibope (o que é considerado tecnicamente "traço", por estar abaixo de meio ponto) e 1,0% de "share’”.
Não sou especialista, mas me parece que o que importa é a análise de conjunto do tal "império global". A crise da TV comercial é um fenômeno mundial e está diretamente vinculada ao acesso à Internet. O advento da era 5G sinaliza a chegada da Internet "comercial", com acesso mediado pelo comercial. A Claro acaba a lançar um piloto, chamado "Prezão Free", associado ao número de comerciais assistidos que se convertem em créditos de celular. O acesso livre à Internet tenderá, portanto, a ser institucional, e a publicidade migrará cada vez mais para a Internet até encontrar um ponto de equilíbrio definido pela importância relativa de cada mídia. O serviço de streaming da Globo se faz com base em know how acumulando durante décadas a partir de sua capacidade de produção de séries e telenovelas que se converteram em produtos de exportação. A Globo foca não apenas no mercado nacional mas também no mercado mundial de streaming, segura da grande capacidade de penetração e aceitação de seus produtos testada exaustivamente no passado. Atualmente, é a única empresa nacional com potencial para figurar nesse mercado emergente. A crise na TV comercial não parece, portanto, ser suficiente para diagnosticar a bancarrota do imperio global. Me parece mais uma intromissão do desejo dos analistas que torcem, com justificada razão, por essa bancarrota, assim como torcem também Bolsonaro e Edir Macedo. Não me esqueço nunca da gênese desse "império global" que se fundou com recursos ianques e se inaugurou, prá valer, em grande escala,em 1° de abril de 1965. A Globo desfuta de grande credibilidade e confiança entre aqueles que lhe deram a vida e a ajudaram a crescer, ou seja, o capital financeiro e o imperialismo estadunidense. São eles igualmente que lhe ajudarão a superar a crise, motivados pelos mesmos interesses. Sempre pensei que a publicidade que se exibia na Globo deveria ser medida por dois pesos, o primeiro, devido ao interesse puramente comercial, em que o anunciante mede a capacidade de inserir a imagem de seu produto na memória subliminar dos telespectadores, o segundo, politico e ideológico, em que o imperialismo remunera a Globo, de forma mascarada, através da publicidade de suas multinacionais, pela sua capacidade de produção de comportamentos ideologicamente condicionados. Para mim, as demais TVs comerciais estão muito mais ameaçadas que a Globo, por serem muito mais pesadas, com estruturas que estão a se tornar obsoletas. A Globo está migrando consciente e planejadamente para o celular e, a meu ver, com grande competência, valendo-se de seu prestígio entre os telespectadores nacionais e do sucesso internacional de suas produções, assistidas em todo o mundo. Como parte integrante do imperialismo que a fundou, a Globo está ameaçada pela decadência do imperialismo ianque, tal como acontece com todas as demais partes. Isoladamente, a Globo não afundará. Isso, como disse, é apenas um desejo, como outros que lemos e ouvimos por aí, tão comuns entre uma esquerda orientada por concepções liberais e reformistas, que acredita em grandes mudanças produzidas por processos evolucionistas espontâneos.
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