Foto: Acervo do PDT |
A história brasileira é cheia de políticos que passaram a vida sonhando com a presidência e nunca chegaram lá. Ruy Barbosa, Magalhães Pinto, Carlos Lacerda, Leonel Brizola, Paulo Maluf.
Sempre lembro da personagem de Macedonio Fernández, "El hombre que será Presidente y no lo fue". Macedonio, aliás, conhecia bem o assunto: tentou, sem sucesso, chegar à presidência da Argentina.
Ciro caminha para integrar este grupo.
Tudo aponta que terá, na quarta tentativa, seu pior desempenho nas urnas.
Os obcecados com a presidência que não a alcançam passam à história como figuras um tanto patéticas, que despertam um misto de piedade e zombaria. Quem foge deste figurino é Brizola.
À parte as outras qualidades do engenheiro gaúcho, ele se engrandeceu pela postura que teve em 1989. Não foi ao segundo turno por menos de meio ponto percentual.
Brizola certamente intuía que a presença no segundo turno faria de Lula o líder inconteste da esquerda brasileira.
Que aquela mísera diferença, menos de 500 mil votos, selaria o futuro político de ambos.
Ainda assim, Brizola não hesitou no apoio a Lula contra Fernando Collor de Mello.
Em 2018, Ciro, como todos lembram, foi incapaz de apoiar Haddad contra Bolsonaro.
Talvez tenha achado que seria, hoje, herdeiro tanto do antipetismo quanto da frustração com Bolsonaro, num cálculo tão mesquinho quanto equivocado.
Talvez tenha sido incapaz de superar as mágoas da campanha, mostrando não ter estofo para a posição de liderança que aspirava ocupar.
De um jeito ou de outro, apequenou-se.
Hoje, ele tem nas mãos um presente raro da Fortuna: uma segunda chance.
Não estamos a caminho de uma eleição "comum".
Há uma movimentação golpista, à luz do dia, comandada pelo presidente da República e com a simpatia de boa parte da cúpula militar.
Uma vitória da oposição no primeiro turno certamente contribuirá para reduzir a aposta golpista.
Todos sabem que sou crítico da chapa com Alckmin e do caminho traçado pelo PT, de reedição do pacto lulista original, em condições mais adversas. Mas não há dúvida de que é Lula o candidato que derrotará Bolsonaro.
Retirando seu nome da corrida e anunciando apoio a Lula, Ciro pode dar o passo decisivo para encerrar a fatura já no dia 2 de outubro.
Chegará à presidência depois disso, em 2026 ou 2030? Provavelmente não.
Mas terá um gesto de grandeza, que não será esquecido, a ornar sua biografia.
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