sábado, 3 de novembro de 2018

Os custos da guinada na política externa

Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:

O presidente eleito Jair Bolsonaro já definiu os ocupantes de pastas estratégicas como Casa Civil, Economia e Justiça, mas não o de Relações Exteriores, geralmente um dos primeiros anunciados, até para que os governos estrangeiros tenham logo um interlocutor.

Ele segue fixando, pessoalmente, as linhas de uma política externa que pode ter custos elevados para o Brasil e comprometer décadas de esforços diplomáticos. O convidado terá que aceitar o prato feito.

O alinhamento com os Estados Unidos deve alcançar o nível das “relações carnais”, definição do ex-presidente argentino Carlos Menem para a submissão de seu governo.

Brasil vai virar um grande Porto Rico?

Por Marcelo Zero

Porto Rico é um “estado associado” dos EUA. 

Anexado em 1898 pelos norte-americanos, após a guerra contra a Espanha, Porto Rico é um território subordinado, que não faz parte dos Estados Unidos.

Seus habitantes, embora tenham a cidadania norte-americana, não podem votar para eleger o presidente, senadores ou deputados. No Congresso, Porto Rico tem apenas um Resident Commissioner, com direito a voz, mas sem direito a voto.

Dessa forma, Porto Rico não é nem um Estado soberano nem um Estado dos EUA.

Sergio Moro e a falsa ingenuidade

Por Céli Pinto, no site Sul-21:

Enquanto parte expressiva da imprensa internacional noticiou a ida de Sergio Moro para o Ministério da Justiça com espanto e desconfiança (Le Monde; Guardian; Clarín; Times), os órgãos da grande mídia brasileira encontraram no juiz paranaense a razão que precisavam para cair nos braços de Bolsonaro. O paladino da justiça, o grande balizador do bem e do mal está no governo. Agora, o eleito que prometeu matar inimigos e deixar apodrecer outros na cadeia, tornou-se um político ponderado e com escolhas corretas.

O triunfo do populismo de direita nas urnas

Por Luis Fernando Vitagliano, no site Brasil Debate:

Ao contrário do que possa parecer aos olhos desatentos, a ascensão de Jair Bolsonaro não tem nada de casual ou acidental, pelo contrário, tem laços internacionais, doutrina testada e muitas semelhanças a outras ameaças no restante do mundo. O nome do movimento que colocou essa figura pouco palatável no poder e ameaça a ordem democrática é o populismo de direita.

Criado pelo conservador estadunidense Steve Bannon, o populismo de direita é o fenômeno que, associado à internet, tem dado ao capitalismo sua forma mais radical depois da crise de 2008. Esse populismo de direita se combina ao nacionalismo para reforçar valores das maiorias. Ao criticar as elites econômicas e políticas, ao chamá-las de corruptas e de manipuladoras, defendem que essas elites atuam para defender seus privilégios e condenar a população ao estado de pobreza e opressão em que vivem.

Moro: Justiça com dois pesos, duas medidas

Editorial do site Vermelho:

A emblemática escultura de Alfredo Ceschiatti instalada em frente ao edifício sede do Supremo Tribunal Federal (STF), na Praça dos Três Poderes, em Brasília, simboliza, com seus olhos vendados, a imparcialidade que deve reger os vereditos da Justiça. Pode-se afirmar que esse simbolismo passou ao largo da trajetória de Sérgio Moro na magistratura, que num salto meteórico passou de juiz de primeira instância a ministro da Justiça do futuro governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Moro do Ministério da Justiça poderá ir para o STF, como admitiu o próprio Bolsonaro.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Herói da mídia, Moro vira superministro

Previdência no Chile e Plágio de Armínio

Por Eduardo Fagnani, na revista CartaCapital:

A proposta de Reforma da Previdência Social do novo governo elaborada por Armínio Fraga prevê a instituição de uma renda mínima universal para pessoas acima de 65 anos equivalente a 70% do salário mínimo no primeiro ano. A renda mínima substitui o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e o RGPS (Regime Geral de Previdência Social) para a maior parte dos trabalhadores urbanos e rurais que recebem benefícios de até um salário-mínimo.

Bolsonaro já assusta parceiros comerciais

Por Marcelo Manzano, no site da Fundação Perseu Abramo:

Passados apenas três dias do desfecho eleitoral, as declarações desastradas de Bolsonaro e de seus assessores mais próximos já provocam preocupações em diversas áreas, em especial no que tange as relações comerciais do Brasil com seus principais parceiros.

Ao fazer questão de manifestar sua simpatia especial por tudo que cerca a terra de Tio Sam, Bolsonaro tem conseguido azedar o humor com parceiros comerciais estratégicos, para os quais somos grandes exportadores ou dos quais importamos bens e serviços fundamentais para a nossa produção.

O capitão e seu feiticeiro

Por Paulo Kliass, no site Outras Palavras:

Anunciados os resultados do segundo turno do pleito presidencial, é natural que sejam aceleradas as tratativas e as negociações em torno da formatação da versão 1.0 do futuro governo do Capitão Bolsonaro. Por mais que estejamos a dois meses da posse, o novo presidente avança na definição de nomes estratégicos na composição ministerial. Além disso, precisa responder aos pleitos por cargos dos setores que o apoiaram no processo eleitoral e também atender às demandas dos atuais e, principalmente, dos futuros integrantes do Congresso Nacional.

Adeus, meu país, adeus

Por Eric Nepomuceno, no site Carta Maior:

Ontem, depois de votar, fomos minha companheira de mais de quatro décadas atrás, nosso filho e eu ao " Alvaro’s " comer algo leve e experimentar a emoção de ter votado para um futuro em que acreditamos e que era ameaçado .

Na segunda metade da década de 1960, em plena ditadura, e, em seguida, até o retorno da democracia o "Alvaro’s" um bistrô de bairro, era um ponto de encontro de artistas e pessoas progressistas.

Vamos continuar: no final volto ao "Álvaro's" o antigo.

No sábado à noite, meu filho, que estava fora e retornou ao Brasil com a única missão para votar ontem, me disse: "Você tem que levar um livro".

Paulo Guedes e o obeso com pneumonia

Por Cesar Locatelli, no site Jornalistas Livres:

Qual é o médico que cuidaria primeiro da obesidade de uma ou um paciente para depois cuidar da pneumonia? Cometesse tal doidice o “doutor”, certamente, se complicaria com o Conselho Regional de Medicina. Entre os economistas parece haver maior blindagem para desatinos.

A dupla Jair Bolsonaro e Paulo Guedes acha que, em primeiro lugar, deve-se “emagrecer” o Estado brasileiro, cortar gastos, ajustar as contas, produzir superávit já em 2019. O desemprego, que é a pneumonia, será resolvido com a “dieta”, acreditam eles, seus parceiros do mercado financeiro e liberais em geral.

O alerta da China a Bolsonaro

Por Haroldo Lima, no Blog do Renato:

As reiteradas posições inamistosas de Bolsonaro face à China fizeram com que este país, dois dias após a eleição no Brasil, tenha lavrado um protesto a suas posições e expressado um alerta vigoroso.

Jair Bolsonaro conseguiu ser eleito presidente da República sem apresentar suas ideias sobre o Brasil. Vituperava frases, em geral insolentes, agredindo setores sociais vulneráveis. Sobre a economia, repetia bordões genéricos e voluntaristas. Suas afirmações causavam sobressalto, mas seus apoiadores acreditavam que ele não as cumpriria. Nunca se desejou tanto que um presidente eleito desconsidere tudo o que prometeu. É a torcida de muitos dos que votaram nele, com elevada dose de ingenuidade.

Moro se assumiu como agente do golpe

Por Jeferson Miola, em seu blog:

Ao primeiro assobio, Moro se atirou no colo do presidente eleito como aquele cachorrinho faceiro, com o rabo abanando, ávido por receber do seu dono a recompensa pelo dever cumprido.

O editorial da Folha de SP [1º/11] se espantou com “a sofreguidão com que o juiz federal Sérgio Moro atendeu ao chamado do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), poucas horas após o fechamento das urnas […]” [sofreguidão, no dicionário Houaiss: característica do que é sôfrego; voracidade, gulodice; desejo ou ambição de conseguir sem demora alguma coisa; avidez ‹s. de enriquecer›; desejo sensual imoderado].

Anotações sobre o grande desastre

Por Gilberto Maringoni

A maior proeza de Jair Bolsonaro não foi ter vencido as eleições. Foi ter imposto sua agenda para toda a disputa.

E esse – contraditoriamente – pode ser seu calcanhar de Aquiles no governo.

A mercadoria que prometeu vagamente entregar – “mudar isso que está aí” – pode não constar de seu estoque.

Esse é tema para outro artigo. Quero me deter no caminho que percorremos até aqui.

Unir os democratas e resistir sem trégua

Por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, no site Tutaméia:

O fator mais evidente que explica a derrota histórica da esquerda e dos democratas foi a cegueira em relação aos reais motivos e à profundidade do golpe de 2016.

O golpe teve o objetivo de subordinar o país, eliminar um governo que, apesar de sérios erros, era a continuidade de políticas independentes que iam de encontro aos interesses dos EUA. A exploração do pré-sal, a articulação do país com China, Rússia, Índia e África do Sul, a atuação de empresas nacionais no cenário externo foram fatos que provocaram a ação norte-americana.

A lógica macroeconômica de Paulo Guedes

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

Vamos a um pequeno balanço das primeiras medidas econômicas anunciadas pela equipe de Bolsonaro. Não devem ser interpretadas como definitivas, dado o grau de confusão inicial. Haverá ainda trombadas até que consolidem cargos, responsabilidades e decisões.

A junção de Agricultura e Meio Ambiente

Um desastre já alertado pelo próprio agronegócio. Qualquer evidência de desrespeito ao meio ambiente fechará os mercados europeus aos grãos brasileiros.


Moro e a fundação do Estado policial

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Para quem não percebeu, o registro: amanhã, ainda que não se formalize imediatamente a aceitação, por Sérgio Moro, do cargo de “superministro” da Justiça, é a data da fundação do novo estado policial brasileiro, agora já saindo de sua fase larval para começar a tomar sua forma adulta.

A montagem é cuidadosa: não será só colocar sob um comando incontestável, o de Moro, a Polícia, o Ministério Público e o poder Judiciário, intimidado, a seu reboque.

Segurança deve preocupar a esquerda

Por Bepe Damasco, em seu blog:                                                                                                                               
As ameaças de perseguição, exílio e cadeia às lideranças dos movimentos sociais e de partidos de esquerda não foram retiradas pelo capitão nazista que venceu as eleições presidenciais.

Ao contrário, na entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo, quando perguntado sobre seu discurso para manifestantes da Avenida Paulista, no domingo anterior à eleição, Bolsonaro disse sem rodeios que se referia às cúpulas do PT e do PSOL.

Ou seja, reafirmou que faz parte de seus planos macabros rasgar a Constituição, fazendo letra morta das garantias fundamentais asseguradas pelo texto constitucional. E esse ataque aos direitos civis è as liberdades públicas pode se dar em várias frentes.

A "pacificação" nos termos de Bolsonaro

Por Mário Magalhães, no site The Intercept-Brasil:

No pronunciamento lido na noite do domingo, o presidente eleito Jair Bolsonaro mencionou uma vez o substantivo “democracia” e cinco vezes variações do adjetivo “democrático”. Citou 11 vezes a palavra “liberdade” e seis vezes “Deus”.

O marechal Castello Branco falou duas vezes “liberdade” e três vezes “livres” no discurso de posse como presidente, em abril de 1964. Evocou a democracia em cinco passagens. Limitou-se a uma referência a Deus. O orador tornava-se então o primeiro dos cinco ditadores do regime recém-parido. Foi escolhido por um Congresso manietado, e não por sufrágio universal.

Sergio Moro e o grande xerife

Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:

A presença do juiz Sergio Moro no superministério da Justiça do governo Bolsonaro é reveladora do tamanho das ambições políticas do presidente eleito e da existência de um projeto articulado de permanência do novo bloco no poder.

Se não com o próprio Bolsonaro (que já disse não desejar a reeleição, mas pode recuar, como tem recuado de outras decisões), com quem represente a extrema direita vitoriosa.

No núcleo duro do novo poder já se dizia, ontem, que Moro pode ser candidato a presidente em 2022.