quarta-feira, 6 de março de 2019

Um capitalismo de vigilância

Por Shoshana Zuboff, no jornal Le Monde Diplomatique-Brasil:

Aquele dia de julho de 2016 foi particularmente difícil para David. Ele passara longas horas ouvindo testemunhas de litígios relacionados a seguros em um tribunal empoeirado de Nova Jersey, onde, na véspera, uma queda de energia havia danificado o sistema de ar-condicionado. Finalmente em casa, imergiu no ar fresco como quem mergulha no mar. Pela primeira vez no dia, respirou fundo, pegou uma bebida e subiu para tomar um longo banho. A campainha tocou no exato momento em que a água começou a correr sobre seus músculos doloridos. Interrompendo o banho, vestiu uma camiseta e uma bermuda e desceu as escadas correndo. Ao abrir a porta, viu-se diante de dois adolescentes sacudindo seus aparelhos de celular bem na sua cara.

O 'excrementíssimo' presidente Bolsonaro

Por Ivana Bentes, no sie Mídia Ninja:

E Bolsonaro, o “excrementíssimo” presidente da República, deu um tiro no pé: o presidente do Brasil responde as provocações dos blocos de carnaval de rua, que em todo Brasil viralizaram o “Ei Bolsonaro vai TNC” e outros impropérios, tentando desqualificar a maior e mais amada festa de rua popular brasileira com uma imagem garimpada nas redes para “horrorizar” o cidadão de bem! Como se o carnaval de rua fosse um vídeo pornográfico da deep web! Proibido para a família brasileira!

Bolsonaro tenta desmoralizar o carnaval

Da Rede Brasil Atual:

Jair Bolsonaro (PSL) foi o presidente da República mais lembrado da história em um carnaval com apenas dois meses de mandato. Mas a forma como os foliões o homenagearam nos blocos de rua deixou o chefe do Executivo sem rumo. Xingamentos, vaias e fantasias de laranjas em blocos de rua por todo o país, latas e pedras atiradas contra seu boneco em Olinda (PE), redes sociais tomadas por postagens ironizando e esculachando os dois primeiros meses de sua gestão, entre outras manifestações, deram o tom dos quatro dias da maior festa popular do Brasil. Irritado, Bolsonaro postou um vídeo obsceno de dois homens em um bloco de rua em São Paulo, dizendo que a cena seria comum em "blocos de rua no carnaval brasileiro".

Por esquerdas plurais e democráticas

Por Flavio Aguiar, no site Carta Maior:

A primeira condição para ser de esquerda hoje é parar de falar “na esquerda” e passar a falar “nas esquerdas”. É preciso acabar com o que chamo de “síndrome do banco da frente”, descrita mais ou menos assim: na nossa Kombi (sou do tempo das heróicas Kombis) é de esquerda quem senta comigo no banco da frente; dali pra trás e pra fora é tudo traidor do proletariado e da revolução que está nos esperando já no primeiro cruzamento. O diabo deste tipo de pensamento, que vigorou e ainda vigora por áreas do sentimento de ser “vanguarda”, é que não há cruzamento: esta estrada não tem fim.

Pibinho deixa o Brasil andando de lado

Por Paulo Kliass, no site Vermelho:

Alguns dias antes do início do Carnaval, o IBGE divulgou o resultado oficial das Contas Nacionais para 2018. Como era de se esperar, os números vieram a confirmar aquilo que já se anunciava como o fracasso da política econômica implementada desde o início do austericídio em 2015.

E aqui não custa nada fazer um pouco de recuperação de nossa História recente. Dilma havia sido reeleita em outubro de 2014, depois de um apertado embate com Aécio Neves no segundo turno. Um dos temas mais debatidos na campanha havia sido justamente o legado dos 3 mandatos a partir de 2003. Ocorre que depois anunciada a vitória, ela se deixou levar pelo discurso ortodoxo e monetarista do financismo a respeito da suposta necessidade de uma conduta mais rigorosa na questão fiscal.

terça-feira, 5 de março de 2019

Os militares e o resmungo final

Por Fernando Rosa, no blog Senhor X:

O Exército Brasileiro designou o general de brigada Alcides Valeriano de Faria Júnior para ocupar o cargo de subcomandante de interoperabilidade do Comando Sul. O Comando Sul, atualmente chefiado pelo almirante Craig Faller, é uma unidade militar dos Estados Unidos responsável por coordenar os interesses estratégicos do país na América do Sul, na América Central e no Caribe. “É uma coisa tão insólita, tão inusitada, que eu não me lembro de nenhuma situação semelhante, a não ser em tempo de guerra”, alertou o ex-chanceler Celso Amorim.

Daniela Mercury dá “aula” para Bolsonaro

Da revista Fórum:

Considerada uma das artistas mais importantes do Brasil, a cantora Daniela Mercury, através de uma nota oficial divulgada na tarde desta terça-feira (5), deu uma verdadeira “aula” sobre Lei Rouanet, economia e carnaval ao presidente Jair Bolsonaro.

No texto, veiculado em suas redes sociais, Daniela rebate uma provocação feita mais cedo por Jair Bolsonaro contra ela e o cantor Caetano Veloso. Pelo Twitter, o capitão da reserva postou um vídeo de um homem cantando uma marchinha dedicada aos dois artistas que diz que “o carnaval não está proibido”, mas “não será feito com o dinheiro do povo”. Como legenda do vídeo, Bolsonaro escreveu: “Dois ‘famosos’ acusam o Governo Jair Bolsonaro de querer acabar com o Carnaval. A verdade é outra: esse tipo de “artista” não mais se locupletará da Lei Rouanet”.

A (im)previdência chilena e a capitalização

Por Renato Martins, na revista Teoria e Debate:

A reforma do sistema de aposentadoria no Chile foi implementada em 1980, com a publicação do Decreto Lei nº 3.500, num dos períodos mais duros da ditadura de Augusto Pinochet.

A reforma consistiu no fim das aposentadorias por antiguidade; na definição do valor dos benefícios com base na contribuição realizada durante toda vida, e não só nos últimos anos de quotização; na adoção de mecanismos automáticos de ajuste do sistema às mudanças demográficas de longo prazo e às variações econômicas conjunturais; na substituição do modelo de repartição pelo sistema de capitalização e, finalmente, na transferência da administração pública das Caixas de Pensão para as Administradoras de Fundo de Pensão (AFPs), sob controle de grupos privados. Das múltiplas Caixas de Pensão existentes, as únicas que restaram foram a das Forças Armadas e a dos Carabineros. Ambas deficitárias, cobertas até hoje por recursos fiscais.

A briga de facções: Lava-Jato e os Bolsonaro

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

Tales Faria é um dos mais experientes repórteres políticos brasilienses, jornalista de total confiabilidade. No seu Blog na UOL, Tales descreve a reação de procuradores da Lava Jato à humilhação imposta ao ex-juiz Sérgio Moro por Jair Bolsonaro, desautorizando uma indicação dele para um cargo irrelevante.

Mencionaram as investigações sobre o Ministro do Turismo, sobre Flávio Bolsonaro e suas relações suspeitas com milicianos. No artigo de Tales, fica mais do que caracterizada a guerra entre facções políticas, com um dos lados dotado de poder de Estado, de investigar, denunciar e prender.

A reforma agrária no governo Bolsonaro

Por Gustavo Noronha, no site Brasil Debate:

Se no debate público o tema da reforma agrária surge e ressurge no Brasil pelo menos desde José Bonifácio, passando por Joaquim Nabuco, entre outros pensadores brasileiros, sua implementação efetiva como política pública foi muito circunscrita. De tanto se falar em reforma agrária no Brasil, sem nunca avançar na sua concretização, entendemos como caracterização adequada a este processo no Brasil como a reforma agrária perene. Não necessariamente perene em sua execução, mas como uma agenda que sempre esteve colocada (embora nunca implementada).

ONG bilionária dará superpoderes a Lava-Jato

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Num país que há cinco anos paga uma pesada contrapartida à Lava Jato, seja na economia, seja na democracia, acaba de surgir uma novidade espantosa.

Pretende-se criar uma Fundação para administrar um fundo bilionário, a ser alimentado por multas, indenizações e delações premiadas apuradas na operação.

"Serão milhões de reais por ano," admite Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa, em entrevista a Folha de S. Paulo.

Haverá vida além do PIB?

Por Ladislau Dowbor, no site Outras Palavras:

Crescer por crescer é a filosofia da célula cancerosa.

O objetivo da economia, o cuidado com a nossa casa, consiste essencialmente em assegurar o bem-estar das famílias sem prejudicar as gerações futuras. Isso exige inteligência no uso dos recursos que, por sua vez, exige formas adequadas e transparentes de fazer as contas. O PIB, como todos devem saber, é o produto interno bruto. Para o comum dos mortais, que não faz contas macroeconômicas, trata-se da diferença entre aparecerem novas oportunidades de emprego (PIB em alta) ou ameaças de desemprego (PIB em baixa). Para o governo, é a diferença entre ganhar uma eleição e perdê-la: não à toa o governo britânico acrescentou ao PIB as estimativas do comércio de drogas e da prostituição, para poder dizer que “estamos crescendo”. Para os jornalistas, é uma ótima oportunidade de dar a impressão de que entendem do que se trata, mas reduzir a questão do desenvolvimento a uma cifra escancara a porta para “interpretações”. Para os que se preocupam com a destruição do meio-ambiente, é uma causa de desespero, já que a nossa principal conta esqueceu este detalhe. Para o economista que assina o presente artigo, é uma oportunidade para desancar o que é uma contabilidade clamorosamente deformada, e apresentar algo que funcione.

O que há por trás do golpe da Previdência?

Ernesto Araújo é folclórico, tosco e perigoso

Por Gilberto Maringoni


A notícia que o 247 veiculou nesta segunda (4) - Ernesto Araújo inicia perseguição ideológica no Itamaraty - é surpreendente sobre o tipo de guerra ideológica empreendida pelo governo Bolsonaro.

Ou pelo menos por seus setores mais hidrófobos. Vai um trecho:

"A política de caça às bruxas no governo de Jair Bolsonaro atingiu o embaixador Paulo Roberto de Almeida nesta segunda-feira (4). Ele foi demitido do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), órgão vinculado ao Ministério das Relações Exteriores após republicar, em seu blog pessoal, textos recentes sobre a crise na Venezuela [da autoria de Fernando Henrique Cardoso e Rubens Ricupero]."


Clã Bolsonaro: Filho neurótico, pai patético

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

O espetáculo que a estranha relação entre Jair Bolsonaro e seus filhos – que acabaram sendo seu único e verdadeiro partido político – atinge seu clímax com o filho Carlos, cujo comportamento de “cão de guarda” do pai se aproxima de uma obsessão.

Como o pai o consente e estimula, isso acaba assumindo ares patéticos, como na publicação que o ex-capitão fez, ontem à noite, no Facebook, com uma foto que é uma verdadeira ilustração do conteúdo: andando apoiado no ombro do filho, num momento de fraqueza no hospital.

O ataque da "Lava-Jato da Educação"

Por Maria do Rosário, na revista CartaCapital:

A educação tem sido duramente atacada pelo governo Bolsonaro. São exemplos a extinção de pastas que coordenavam ações sobre alfabetização, inclusão e diversidade, o projeto Escola sem Partido e a militarização das escolas. Mais recentemente, o episódio do Hino Nacional executado e filmado nos colégios como uma “ordem” evidenciou o caráter autoritário e invasivo à autonomia do pensar na escola. Mostrou o total despreparo do seu titular e sua equipe, que além de desconectada com a educação, não demonstra grau de responsabilidade para assumir a gestão de um órgão com o peso de um Ministério da Educação.

segunda-feira, 4 de março de 2019

Moro frustra Cantanhêde, da massa cheirosa

Por Altamiro Borges

Mais rápido do que se previa, o "justiceiro" Sergio Moro vai perdendo a aura  fabricada pela mídia falsamente moralista  de herói da luta contra a corrupção e de superministro da Justiça. Na prática, o "marreco de Maringá", como foi apelidado no passado, é apenas um serviçal de um governo antipovo  composto de fascistas, milicianos, corruptos, fanáticos e outros trastes. O falso valentão se submete às ordens e às humilhações impostas por Jair Bolsonaro, seu chefe no laranjal. A situação é tão vexatória que até antigos admiradores já explicitam sua frustração. É o caso da jornalista Eliane Cantanhêde, aquela da "massa cheirosa tucana", que apostou suas fichas na midiática Lava-Jato e no "justiceiro" seletivo que prendeu o ex-presidente Lula e fez de tudo para extinguir o PT e as esquerdas no país.

Processo contra Haddad é arquivado. Agora?

Por Altamiro Borges

O Tribunal de Justiça de São Paulo arquivou, na semana passada, a ação penal contra o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), acusado levianamente por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e corrupção passiva. Em setembro do ano passado, em plena campanha eleitoral, o Ministério Público  que há muito tempo virou um instrumento descarado de ação política da direita nativa  denunciou o então candidato à presidência por "suspeita" de pedir R$ 2,6 milhões à construtora UTC. A denúncia teve enorme repercussão na mídia, o que ajudou a pavimentar a eleição do fascista Jair Bolsonaro. Agora, porém, o arquivamento da ação não mereceu manchete dos jornalões, capa das revistonas ou destaque nas emissoras de rádio e tevê  o que evidencia o grau de manipulação da mídia nativa.

Todos os heróis de Jair Bolsonaro

Emílio Garrastazu Médici e Alfredo Stroessner
assinaram o Tratado de Itaipu, em 26/4/1973
Por João Filho, no site The Intercept-Brasil:

A cerimônia de posse do novo diretor-geral da hidrelétrica de Itaipu tinha tudo para ser uma ocasião corriqueira na agenda de Bolsonaro. O ex-capitão nomeou um general para o cargo e aproveitou o evento para exaltar os ditadores brasileiros que participaram da construção da usina binacional junto com o Paraguai. Afirmou que Castello Branco foi “eleito em 1964″ e saudou Costa e Silva, Médici e Geisel. O último ditador militar, Figueiredo, foi merecedor de um afago especial: “saudoso e querido”. Nada demais até aí. Prestar homenagens à ditadura militar é um cacoete do nosso presidente.

Bolsonaro e a demolição do Brasil

Por Marcelo Zero

O governo Bolsonaro tem uma noção extremamente superficial e distorcida de nacionalismo.

De um lado, veste-se de verde-amarelo, proclama “Brasil acima de tudo” e quis até obrigar as crianças cantar o hino nacional nas escolas. De outro, porém, dedica-se com afinco a destruir o setor produtivo interno e a soberania nacional.

Na prática, em vez de “Brasil acima de tudo”, o real lema político do governo é “EUA acima de tudo”.

De fato, em razão de uma subserviência política e ideológica a Trump, o governo Bolsonaro vem tomando uma série de iniciativas em política externa que estão causando prejuízos sensíveis ao setor produtivo do Brasil, notadamente, mas não exclusivamente, à agricultura nacional.