segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Vade retro Bush, o empresário corrupto (5)

Por Altamiro Borges

Até o mais debilóide cidadão estadunidense – e há muitos, segundo o cineasta Michel Moore no corrosivo livro “Uma nação de idiotas” – sabe que por detrás da retórica antiterrorista do presidente George Bush se escondem poderosos interesses econômicos – em especial das indústrias de petróleo e de armas e dos conglomerados financeiros. Não fossem os altos lucros auferidos por estes setores com a ocupação do Iraque, bastaria um rápido histórico sobre a trajetória da dinastia Bush para se ter certeza da falsidade do discurso do atual presidente. A família sempre esteve envolvida em negócios bilionários e ilícitos!

Antes de virar o 43º presidente dos EUA, em janeiro de 2001, George W. Bush foi acionista e participou da direção de várias companhias do ramo do petróleo – Arbusto, Spectrum e Harken. Já seu pai, George H.W. Bush, que presidiu o país entre 1989 e 1992, foi fundador e executivo da Zapata Oil e da Pennzoil, uma das maiores empresas petrolíferas do planeta. Seu avo, Prescott Sheldon Bush (1885-1953), foi dirigente da United Banking Corporation, banco acusado de transações ilegais com os nazistas. E seu bisavô, Samuel Prescott Bush (1863-1948), fez fortuna com a Buckeye Steel durante a I Guerra Mundial.

Família de mercadores de armas

Os negócios lucrativos e as relações promíscuas com o poder datam do período da I Guerra Mundial. No governo de Woodrow Wilson, o bisavô do atual presidente, Samuel Prescott Bush, dono da indústria de peças Buckeye Steel, tornou-se diretor do Escritório das Indústrias de Guerra e conselheiro do governo. Em curto espaço de tempo, ele dobrou a fortuna da empresa, que passou a fabricar munição, canos de canhões e outras armas. O estranho enriquecimento acabou sendo alvo de investigação de uma comissão parlamentar, presidida pelo senador Gerald Nye, sobre os “mercadores de armas”. Mas, curiosamente, os registros de suas falcatruas foram destruídos nos anos 90 para “economizar espaço” no Arquivo Nacional.

Já seu outro bisavô, George Herbert Walker, esteve envolvido com estranhos “contratos de guerra”, sendo presenteado pelo governo com milionários projetos de produção de manganês e de renovação dos campos petrolíferos na Alemanha devastada pela guerra. Os negócios melhoraram com a união dos Bush com os Walker, graças ao “casamento” da filha de George com o filho de Samuel. A rica união permitiu que a dinastia estreitasse as relações com os bancos e as casas de investimento de Wall Street e projetou o filho de Samuel, Prescott Sheldon, pai do primeiro presidente Bush e avô do segundo, no mundo da política.

As negociatas com os nazistas

Prescott foi eleito duas vezes ao senado em Connecticut e consolidou os vínculos dos negócios com o Estado. Sua trajetória, porém, foi marcada por vários escândalos. O maior deles se deu durante a II Guerra Mundial. Como diretor do United Banking Corporation (UBC), ele foi acusado de intermediar transações comerciais, como a venda de armas, para a Alemanha. Ele inclusive comprou do industrial nazista Fritz Thyssen, chamado de “anjo de Hitler”, a indústria Silesian Steel, que explorava os prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz. Ao ser revelado o caso, o presidente Franklin Roosevelt enquadrou a UBC na Lei de Transações com o Inimigo e decretou intervenção branca na instituição bancária.

Em decorrência do escândalo, Prescott Bush foi obrigado a se afastar da direção do UBC e aderiu, numa hábil manobra para limpar a sua imagem, à campanha nacional de arrecadação de dinheiro para o Fundo Nacional de Guerra (NWF). Concluída a guerra, cumpriu um mandato apagado no Senado e se aposentou. Mas a família já havia tomado gosto pela junção entre os negócios, em especial no ramo de petróleo, e a política. O filho de Prescott, George Herbert Walker Bush, pai do atual presidente, logo ocupou o lugar de pai nesta empreitada, mudando-se de Connecticut para o Texas, a terra do petróleo.

Presidente da indústria de petróleo

Em 1950, com a ajuda do pai senador e de suas conexões com os investidores de Wall Street, ele fundou a primeira empresa de petróleo da família, a Bush-Overbey Oil. Quatro anos depois, criou a Zapata Oil, que se beneficiou de um projeto do pai que permitia a perfuração e extração de petróleo em mar, mesmo sem a sua empresa ter qualquer experiência nesta área. Em 1963, fruto da fusão com a Penn Oil, nasceu a Pennzoil, um das maiores empresas de petróleo do mundo. Consolidada a fortuna, George H.W. Bush partiu para a política, elegendo-se duas vezes deputado, mas fracassando no seu projeto para o Senado.

Vinculado aos interesses dos poderosos grupos petrolíferos, tornou-se presidente do Partido Republicano, diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), quando realizou negociações secretas de armas com o Irã e o Iraque, e vice-presidente na chapa de Ronald Reagan. Às vésperas de sua posse como presidente da Republica, em 1989, ele próprio admitiu que chegara ao mais elevado posto do país graças ao poderio das empresas petrolíferas. “Vou colocar desta forma: eles conseguiram eleger um presidente dos EUA que veio da indústria do petróleo e gás”. Desgastado com as inúmeras denúncias de tráfico de influência e da ligação com setores ultradireitistas e racistas, George H. W. Bush não conseguiu se reeleger em 1992.

Banco dos criminosos e vigaristas

Mas ele não desistiu e conseguiu realizar, oito anos depois, uma façanha na política dos EUA ao eleger seu filho para presidente – houve apenas outro caso na história do país, na eleição de John Quincy Adams. Mas a imagem do filho era bem diferente da cultivada pelo pai, um ex-piloto condecorado pelos serviços prestados na guerra e um homem de negócios bem sucedido. Já seu filho, George W. Bush, ficou famoso por fugir do exército durante a guerra do Vietnã, valendo-se da influência do pai, e ainda por suas prisões por dirigir embriagado e até por porte de cocaína na sua fase de universitário. Já no mundo dos negócios, o incompetente atual presidente manteve a tradição da dinastia do envolvimento em casos suspeitos.

Antes de levar à falência três empresas de petróleo – Arbusto, Spectrum e Harken – e virar administrador do time de beisebol Rangers, ele esteve metido em várias falcatruas. A Harken foi processada por fraude contábil, sonegação fiscal e vínculo com o Bank of Commerce & Credit International. O BCCI, apelidado de banco dos criminosos e vigaristas (criminal and crooks) da sigla, promoveu um dos maiores escândalos financeiros da história dos EUA. Ele atolou bilhões de dólares em lavagem de dinheiro do narcotráfico, contrabando de material nuclear e tráfico de armas. Entrou em colapso em 1991, quando sumiram US$ 5 bilhões utilizados no suborno de governantes de 78 países e de 28 senadores e 108 deputados dos EUA.

A família Bush sempre manteve relações estreitas com a direção do BCCI. Richard Helmns, ex-diretor da CIA e embaixador no Irã no tempo do ditador Reza Pahlevi, foi quem apresentou o principal operador do banco nos EUA, Mohammed Rahim Irvani, ao presidente Bush-pai. Antes disso, seu filho já havia virado amigo, durante seu “serviço militar” na Guarda Nacional do Texas, de outro pistolão do BCCI, James Bath. Em 1977, através deste contato, o banco financiou a primeira empresa de petróleo de baby-Bush, então com 31 anos, a Arbusto. Bath, que era representante no Texas da Bin Laden Brothers Construction, também foi o responsável pelo primeiro contato do atual presidente com a família de Osama bin Laden.

Apoio dos executivos-ladrões

Outro antigo contato da dinastia Bush que beneficiou o atual presidente foi com o Grupo Carlyle, um dos principais fornecedores do Pentágono. Antes de ser governador do Texas, Bush-II integrou o conselho de direção de uma das subsidiárias deste grupo, a CaterAir. As indústrias deste grupo fabricam, entre outras coisas, o tanque Bradley e as peças do helicóptero Apache. A guerra declarada por George Bush “contra o terrorismo” usa as armas fabricadas pelas empresas do Grupo Carlyle. Outra ironia da história é que a família Bin Laden também é uma poderosa acionista desta corporação transnacional.

Estas intrincadas relações com o “complexo industrial-militar” é que levaram George W. Bush ao poder. Em maio de 2004, quando vários escândalos colocaram no banco de réus os executivos-chefes de várias empresas, a revista Time revelou que sua reeleição teve o apoio financeiro de 261 destes criminosos; 31 contribuíram para seu adversário democrata, John Kerry. Entre as corporações que entraram em colapso por fraudes contábeis estava a Enron, a sétima maior multinacional do mundo na lista da revista Fortune, e a Arthur Andersen. Ambas foram as principais financiadoras de Bush. Ken Lay, o corrupto presidente da Enron, acompanhou-o desde o início da carreira política, ajudando-a a se eleger governador do Texas.

A maior parte da equipe do atual presidente também presta serviços ao “complexo militar-industrial”. O vice-presidente Dick Cheney presidiu a Halliburton Industries, a empresa de petróleo maior beneficiária da ocupação do Iraque; sua esposa, Lynne Cheney, participa do conselho de direção do maior fabricante de armas dos EUA, a gigante Lockheed; o procurador-geral John Ashcroft foi advogado da Monsanto e da AT&T; o ex-secretário de defesa Donald Rumsfeld pertenceu à direção da General Instrument, Sears e Kellogg’s; já o secretário de saúde Tommy Thompson foi, ironicamente, acionista da empresa de fumo Philip Morris; e a atual secretária de Estado, Condoleezza Rice, foi do conselho da Chevron – um dos maiores petroleiros desta empresa foi batizado com o seu nome pelos relevantes serviços prestados.

Máfia dos gusanos cubanos

Como se nota, a dinastia Bush mantém ótimas amizades. Os três irmãos do atual presidente também estão envolvidos em negócios ilícitos. Jeb Bush, governador da Flórida, mantém estreitas relações com a máfia dos exilados cubanos, os gusanos (vermes). Tão logo chegou a Miami, nos anos 80, ele virou sócio do “empresário” Armando Codina – processado por vários casos de corrupção. Depois, passou a freqüentar os luxuosos jantares e a voar no jatinho particular de Alberto Duque – que também foi condenado a 15 anos de prisão por fraudes, mas conseguiu “fugir” da cadeia. O outro vigarista com quem manteve relação foi Hiram Martinez, que também teve prisão domiciliar decretada por especular no ramo imobiliário.

Já Camilo Padreda, ex-oficial da contra-espionagem do ditador Fulgêncio Batista, outro amigo intimo de Jeb, foi indiciado por contrabando de drogas, lavagem de dinheiro e tráfico de armas. Miguel Recarrey, indicado por Jeb para integrar o gabinete do governador do Estado, ficou famoso por desviar verbas do programa Medicare – de assistência médica aos idosos. A sede da sua empresa, a International Medical Center, foi o quartel-general dos contra-revolucionários nicaragüenses. Na sua mansão em Miami, este “exilado” mantinha um arsenal de rifles e metralhadoras. Já seu irmão, Jorge Recarrey, que se gabava de ter prestado “serviços” à CIA, indicou seu amigo Jeb Bush como “consultor para acordos imobiliários”.

Detector de metais na Casa Branca

Os outros dois irmãos do atual presidente, Marvin e Neil, preferiram não ingressar na política. Mesmo assim, estiveram metidos em vários escândalos. Neil Bush foi diretor da Silverado Banking, empresa acusada de falência fraudulenta e desvio de US$ 1,3 bilhão dos cofres públicos. Ele gostava de viajar a Argentina para jogar tênis com seu amigo Carlos Menem, que na época já era acusado de vários casos de corrupção. Já Marvin Bush, irmão mais novo do atual presidente, integrou o conselho de direção da Fresh Del Monte, empresa acusada de subornar políticos do México e manter dinheiro sujo no paraíso fiscal das ilhas Cayman.

Estas e outras denúncias chegaram a causar desconforto na Casa Branca quando o pai era presidente. Este ainda tentou justificar os “negócios e as amizades” dos seus filhos. “Os meninos têm o direito de ganhar a vida”. Já um agente do serviço secreto encarregado da segurança da família presidencial foi mais direto: “Olhe, a gente avisa os garotos. Mas é só o que podemos fazer. Não temos como impedi-los de se ligarem a estas pessoas. Além de avisar, a única coisa que podemos fazer é submeter essa gente ao detector de metais quando aparece por aqui [na Casa Branca]”. Mas, infelizmente, o detector de metais não impediu que um de seus filhos, George W. Bush, chegasse a presidência dos EUA.

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