quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Cesare Battisti e a conspiração da CIA

A oposição de direita e sua mídia têm aproveitado o caso Cesare Battisti para atacar o presidente Lula, que num gesto soberano e legítimo deu asilo político ao escritor italiano. Todas as noites, o casal global do Jornal Nacional apimenta as críticas, bem diferente da postura adotada quando do exílio do ditador paraguaio Alfredo Strossner. Já os jornais Folha e Estadão publicaram editoriais insinuando que o ministro da Justiça, Tarso Genro, teria simpatias por “terroristas de esquerda”. Até a revista Carta Capital, um veículo progressista, reforçou estranhamente o coro crítico.

Parlamentares tucanos e demos, estes egressos do partido da ditadura militar brasileira, fizeram questão de se solidarizar com o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, o barão da mídia, que numa reação midiática retirou seu embaixador de Brasília. Caraduras, afirmam que a Itália é um exemplo de democracia para justificar o envio do escritor à prisão perpétua neste país. Nada falam sobre a trajetória ultradireitista de Berlusconi, das suas alianças com partidos neofascistas ou da recente medida do seu governo que impede que ele seja julgado por crimes de corrupção.

“Um bode expiatório conveniente”

O caso Cesare Battisti é complexo, mas não justifica a gritaria da direita servil e da mídia venal. França e Japão já deram asilo político aos condenados pela justiça italiana e não houve o mesmo alarde. O bufão Berlusconi e o processo jurídico neste país não são levados muito a sério. Como apontou Maria Inês Nassif, num excelente artigo no jornal Valor, Battisti foi condenado à prisão perpétua sem qualquer direito de defesa. As testemunhas que o acusaram de quatro assassinatos gozam da delação premiada e há indícios de que uma foi torturada. Dois dos citados homicídios foram cometidos no mesmo dia 16 de fevereiro de 1979, a 500 km de distancia um do outro.

“[Battisti] nunca esteve num tribunal para defender-se das acusações e, de volta à Itália, não será ouvido por nenhum juiz”, afirma a colunista no artigo “Um bode expiatório conveniente à Itália”. Para ela, “diante de tantas contradições e de tantos fatos mal explicados, fica a dúvida de por que interessa tanto ao governo italiano coroar Cesare Battisti como o bode expiatório de um período negro na Itália, onde não apenas a luta armada enevoou o país, mas as instituições se ajustaram a uma guerra contra o terror usando métodos poucos afeitos à ordem democrática”.

EUA subornam políticos e jornalistas

O livro recém-lançado “Legado de cinzas, uma história da CIA”, do jornalista estadunidense Tim Weiner, vencedor do prêmio Pulitzer, confirma a tese de Maria Inês Nassif de que o período em que Battisti participou da luta armada, nos anos 70, foi um dos mais tumultuados e sombrios da história recente da Itália. O clima era de guerra. Com base em inúmeros documentos oficiais, o autor demonstra que o serviço de espionagem e terrorismo dos EUA teve participação ativa no processo político italiano, financiando partidos da direita e realizando ações de sabotagem.

“A CIA gastou vinte anos e pelos menos US$ 65 milhões comprando influência em Roma, Milão e Nápoles”. McGeorge Bundy, diretor da agência, chamou o programa de ações secretas na Itália de ‘a vergonha anual’. Thomas Fina, cônsul-geral dos EUA em Milão durante o governo Nixon, confessou que a CIA subsidiou o partido democrata-cristão e deu milhões de dólares para bancar “a publicação de livros, o conteúdo de programas de rádio, subsidiando jornais e jornalistas”. Ele se jacta que “tinha recursos financeiros, recursos políticos, amigos e habilidade para chantagear”.

Nutro trecho, Tim Weiner revela que a ingerência ianque se intensificou a partir de 1970. “Com aprovação formal da Casa Branca, houve a distribuição de US$ 25 milhões a democratas cristãos e neofascistas italianos. O dinheiro foi dividido na ‘sala dos fundos’ – o posto da CIA no interior da suntuosa embaixada americana”. Giulio Andreotti “venceu a eleição com injeção de dinheiro da CIA. O financiamento secreto da extrema direita fomentou o fracassado golpe neofascista em 1970. O dinheiro ajudou a financiar as operações secretas da direita – incluindo bombardeios terroristas, que a inteligência italiana atribuiu à extrema esquerda”. Como se nota, não houve inocentes neste período sombrio, nem a mídia corrompida pela CIA.

6 comentários:

  1. Muito bom, nossa agora sim podemso usar uma feramenta como a internet, para denunciar as mentiras da direita Fascista.
    abraço

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  2. Miro, sempre antenado, atento às entrelinhas do jogo de poder midiático. Muito bacana mesmo. Estou sempre acompanhando seus textos. Estou gostando muito.

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  3. Miro, sempre atento às entrelinhas do jogo sujo feito pela mídia nativa. Sempre denunciando e mostrando caminhos. Estou acompanhando sempre seus texos. Valeu!

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  4. Miro, o último parágrafo desta matéria tem uma informação que parece incorreta (uma gralha, com certeza). Lá você digitou que "(...) houve a distribuição de US$ 25 bilhões (...)". Nos anos 1970, não seriam milhões? Bilhões nos anos 1970 já ameaçaria o produto interno bruto norte-americano -- seria melhor deixar a Itália comunista, mesmo... Parabéns pelo blog.
    Antônio.

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  5. Excelente post. A mídia infelizmente para a democracia brasileira faz o que interessa a mídia. Esconde a verdade.

    Abraços.

    http://olhosdosertao.blogspot.com/

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  6. a carta capital não está "estranhamente" se juntando ao coro crítico. o lance lá é que o mino carta tem uma boa noção do que foi o terrorismo italiano e não se reduz ao mecanismo pavloviano de defender qualquer guerrilheiro de esquerda -- na medida em que ele, mino carta, é de esquerda.

    o caso do battisti pode ter uns duzentos furos, mas ele sair por aí dizendo que vai ser morto se for à itália, que vai ser perseguido etc. é a maior balela. o walter maierovitch, no melhor artigo sobre o assunto até agora, explicou a situação dos atuais presos com passado terrorista, de como não há ali perseguição etc. e que, assim como no brasíl, há um limite para que o preso fique na cadeia, portanto a prisão não é "perpétua" -- 26 anos na itália.

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