Em 9 de julho, enquanto a elite paulista festejava o feriado da fracassada “revolução oligárquica de 1932”, estive em Belo Horizonte para uma agenda carregada. Pela manhã, audiência pública na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, requerida pelo deputado Carlin Moura (PCdoB) para debater os desafios da 1ª Conferência Nacional de Comunicação. Na seqüência, um almoço com comunicadores populares, entre eles integrantes da combativa Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço), o incansável jornalista Luis Carlos Bernardes, o Peninha, e o legendário Edivaldo Amorim, Didi, presidente da Associação Brasileira de Canais Comunitários (Abccom). O papo foi excelente – só faltou a indispensável cachaça mineira. Depois, uma conversa com o atual presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, o classista Aloísio Morais.
Todas as atividades foram riquíssimas. Para encerrar o educativo dia, o jornalista Kerison Lopes organizou uma marcante visita à Rádio Favela FM. No alto do morro da Serra, a maior favela de BH, uma prova inconteste do heroísmo e criatividade do povo brasileiro. Num pequeno sobrado, vários jovens envolvidos na programação desta rádio comunitária. Fundada em 1981, ela enfrentou violenta repressão, inúmeras prisões e processos; teve seus equipamentos várias vezes destruídos ou escondidos às pressas – como retrata o belo filme “Uma onda no ar”. Com muita persistência, ela conquistou a comunidade e, após quase 20 anos de heroísmo, conseguiu a sua outorga legal.
Um exemplo para o Brasil
No estúdio bem equipado, dois comentaristas esculhambam a elitização do futebol mineiro, com a cobrança de elevados ingressos na Libertadores da América, que terá o Cruzeiro na decisão. “O futebol é do povo, não é da elite que come caviar e toma champanhe”, dispara um dos locutores. Na varanda, que dá uma vista panorâmica da capital mineira, o ativo Misael dos Santos mostra as marcas das algemas que ficaram de uma de suas prisões, “quando a rádio era chamada de pirata”. Lembra sua mudança forçada para São Paulo, mas que o levou a trabalhar como operador de som nas greves operárias do ABC e a conhecer o líder grevista Lula, o atual presidente do Brasil.
Misael fala empolgado da programação da Rádio Favela, que toca todo tipo de música, presta diversos serviços à comunidade e dá informações aos ouvintes, sempre numa linguagem popular e com abordagens críticas. “A elite metida do país apanha bastante na rádio”. Este comunicador e guerreiro popular também lembra os prêmios da emissora, que inclusive foi condecorada duas vezes pela ONU por sua atuação no combate às drogas e à violência. Hoje o sinal da rádio atinge vários municípios da região metropolitana de Belo Horizonte e tem uma maiores audiências do Estado.
Que bom seria para a consciência crítica da sociedade se o Brasil tivesse milhares de emissoras comunitárias legalizadas como a Rádio Favela. A ditadura midiática não teria o mesmo poder de manipulação que dispõem atualmente. Misael, obrigado pela aula!
Miro, fui complentamente excluída do evento da Assembleia e do almoço. Isso só porque eu sou mulher ou poruqe sou do FNDC-MG? (rs....) Brincadeirinha. Gostei muito de te conhecer pessoalmente. A democratização da comunicação ganha muito com sua existência.
ResponderExcluirGrande abraço, Lidyane Ponciano.
Comissão Mineira Pró-Confecom
Diretora do Sindicato dos Jornalistas