Presença constante e marcante nos eventos partidários, a comunista Lilian Martins não participou da conferência estadual do PCdoB de São Paulo, no último final de semana. Ela faleceu na manhã de sábado em decorrência de graves problemas de saúde. Distante da capital, soube de sua morte por telefone. Fui informado, também, que a sua ausência causou profunda comoção nas centenas de militantes que participaram do evento. Os mais antigos, que tiveram o prazer de conviver com ela nos fóruns partidários ou nas noitadas, choraram. Os mais novos, os recém-filiados, ouviram as inúmeras histórias desta dedicada e despojada militante comunista.
Conheci Lilian ainda no tenso período da ditadura militar. Minha primeira reunião partidária, em julho de 1979, ocorreu na casa dela e do seu companheiro, Domingos, no bairro do Parque Santa Madalena, na periferia de São Paulo. Fui conduzido ao local sem saber quem eram os donos. A clandestinidade exigia certas normas de segurança. Na ocasião, chamou-me a atenção o tamanho da sala, desproporcional com relação aos outros cômodos. Lilian me explicou que ela era grande para permitir reuniões e o convívio com amigos. O casal, formado em história pela USP, havia decidido construir a sua casa no bairro proletário para estreitar as relações com os trabalhadores.
Mulher versátil, cheia de energia
Aprendi muito com a “professora Lilian”, que desde aquela época já era uma inquieta estudiosa do marxismo e uma apaixonada pela história do Brasil. Vivia “cerrando sua bóia” e pernoitando na sua casa. Quando do retorno do exílio de João Amazonas, fiquei cuidando de seus dois filhos, enquanto o casal foi recepcionar o presidente do PCdoB. Naquele mesmo dia, faleceu Diógenes Arruda. Varamos a madrugada conversando sobre a história destes dois dirigentes comunistas – um que retornava e outro que partia. Pouco depois, deixei a Zona Leste e passei a acompanhar a trajetória de Lilian como uma das principais lideranças da Apeoesp e das greves dos professores.
Lilian Martins era uma mulher versátil, cheia de energia. Apesar da intensa atividade, nunca caiu no praticismo doentio. Dedicava-se ao estudo, gostava das polêmicas teóricas, procurava evitar o dogmatismo. Mantinha relações com lideranças de distintas correntes, sendo admirada por sua capacidade intelectual. Nunca se distanciou das lutas do povo, seja como sindicalista ou como principal dirigente em Santos, onde sonhava em retomar a trajetória do “Porto Vermelho”. Era avessa ao pragmatismo. Na fase mais recente, ela se dedicava a ensinar, a formar novas gerações, como secretária de formação do PCdoB-SP. Lilian Martins fará muita falta aos comunistas.
Reproduzo abaixo o poema de José Carlos Tiziu, operário da Zona Leste que também teve o privilégio de conviver com esta bela pessoa:
A uma camarada - Homenagem à Lilian Martins
Um dia no passado
Numa longínqua periferia
Fizeste de várias pedras brutas
Diamantes vermelhos
Rostos e mãos
Marcados pela dura realidade das fábricas
Secularmente explorados
Pacientemente,
Às vezes com firmeza de genitora que cuida de sua prole
Nos lapidou
Nos apresentou livros, músicas, filmes
A BBC de Londres, a Rádio Tirana
Os versos de Brecht
Tornamo-nos poetas, operários, professores
Mulheres emancipadas
e, acima de tudo,
Militantes que ousam questionar o óbvio
Como pedras brutas aprendemos
também na divergência
a dialética da vida
Fizeste de uma escola
A fortaleza de múltiplas sementes
Que germinaram para a vida política
Velho Haroldo de Azevedo...
Seu Jardim vermelho
Por muito tempo floriu
A estrada deste outubro tão dolorido
Nos leva a Mercedes Soza
Numa América que transborda de esperanças
Que paga seu tributo a gerações passadas
Os versos que podemos deixar gravados na memória
Querida camarada Lílian:
O Partido Comunista de Sapopemba, São Mateus e Vila Prudente
Seguirá em frente,
Não vacilará!
Belo poema, bela homenagem Altamiro.
ResponderExcluirolá.
ResponderExcluirtd bem?
peço desculpas por usar este espaço para não comentar exatamente sobre o texto. (sempre que consigo acompanhou o seu blog, gostei muito da post sobre a privatização da Veja!)
eu faço jornalismo na UNESP (Universidade do Estado de São PAulo)
estou fazendo um trabalho sobre ética na comunicação e colhendo a opinião de alguns jornalistas sobre assunto.
Como percebo não seu trabalho um jornalismo engajado e bastante preocupado com a função social e política de um jornalismo, e a importância da profissão ter um caráter crítico e comprometido com a sociedade.
Tenho certeza que a sua participação vai acrescentar muito ao meu trabalho.
Você poderia responder a pergunta: "Como ser um comunicador ético no Brasil?"
A pergunta está aberta para que a sua resposta possa refletir da melhor forma aquilo que você pensa sobre as questões éticas e a comunicação, a prática ética e a profissão do jornalista.
Se possível, peço que me responda até o final desta semana (23/09)
o meu email:
pczinho@gmail.com
abs.
e obrigado
Olá, Altamiro!
ResponderExcluirMeu nome é Tássia, sou estudante do 3º ano de jornalismo na PUC-Campinas e gostaria de te fazer algumas perguntas sobre o livro "A Ditadura da Mídia". Gostaria muito que você pudesse me ajudar. Meu e-mail é tassia.al@hotmail.com.
Aguardo ansiosamente sua resposta.
Desde já, agradeço.
Parabéns pelo blog!