terça-feira, 6 de outubro de 2009

O anticomunismo primitivo da Veja

Na mesma edição em que reafirmou a sua simpatia pelos golpistas hondurenhos e que criticou o “imperialismo megalonanico” da diplomacia brasileira por garantir refúgio ao presidente deposto Manuel Zelaya, a revista Veja desferiu um ataque primitivo contra vários partidos de esquerda do Brasil. A exemplo do fascista Roberto Micheletti, que disse em entrevista recente que o golpe em Honduras foi dado “porque Zelaya colocou comunistas no seu governo”, a famíglia Civita, dona deste panfleto rastaqüera, também parece que perde o sono com medo do “fantasma comunista”.

“O socialismo não morreu (para eles)”. Com este título jocoso, a revista retomou um dos bordões que inaugurou a onda neoliberal no final dos anos 1980. Na época, Francis Fukuyama, consultor do governo dos EUA, decretou o “fim da história”, argumentando que o socialismo estava morto e que não haveria mais alternativas à democracia burguesa e ao livre mercado. Mas esta bravata não durou muito tempo. O neoliberalismo aguçou as contradições do capitalismo, resultando na queda de Wall Street (o muro dos rentistas) e numa das piores crises deste sistema. Apesar disto, a Veja insiste na sua cegueira ideológica, talvez apavorada com o avanço das idéias marxistas.

Um patético tucaninho

O texto reflete este temor, inclusive nas suas ironias trogloditas. “Um fantasma ronda a América Latina: o fantasma do comunismo. Pelo menos é o que acreditam os militantes de um punhado de partidos nanicos de esquerda que ainda sobrevivem na política brasileira. Para esse pessoal, não há nada mais importante do que impedir que as idéias de Karl Marx sejam devoradas pelo fungo e pelo bolor. Os esquerdistas radicais formam um grupo tão curioso quanto inofensivo”, dispara. O próprio uso de duas páginas da revista, que renderiam uns R$ 420 mil em publicidade, evidencia que a famíglia Civita teme a crescente influência do marxismo na América Latina.

Para confundir seus leitores mais tacanhos, a matéria mistura partidos de diferentes concepções, como PCdoB, PSOL, PSTU, PCO e PCB. Para todos, ela abusa nos adjetivos hidrófobos e pinça frases fora do contexto. Afirma que o PSOL é “um balaio de gatos”, que o PCB é comandado por Ivan Pinheiro, “o terrível”; e que o PSTU prevê que “[a revolução] está chegando e nós estamos preparados”. Quanto ao PCdoB, ela tenta ridicularizar um sensato pensamento do seu presidente, Renato Rabelo. “Quando a União Soviética desabou, houve quem achasse que o socialismo tinha morrido. Que nada. Só alguém sem visão histórica pode pensar assim... O capitalismo levou 300 anos para superar o feudalismo. O marxismo tem pouco mais de 100 anos de existência”.

A “reporcagem” da Veja não apresenta qualquer informação jornalística. É pura ideologização direitista. O seu objetivo é desqualificar as esquerdas. “As idéias disparatadas desses partidecos dão certo colorido à democracia brasileira, nada mais. Ao sonharem com o pesadelo da restauração socialista, seus militantes conseguem apenas criar para si próprios uma imagem folclórica... O socialismo não voltará à vida. Está morto e enterrado”, decreta o repórter Fabio Portela, o mesmo que numa edição de agosto bajulou o governador tucano Aécio Neves. Este patético e folclórico “jornalista”, seguidor de Diogo Mainardi, deve realmente temer o avanço das idéias socialistas!

11 comentários:

  1. MAL SABEM ELES QUE SERÁ O SOCIALISMO QUE SALVARÁ A HUMANIDADE.
    MAS PARA ISSO ,NÓS DA ESQUERDA, TEMOS QUE PALNEJAR ISSO!
    O SOCIALISMO NÃO MORREU ,NEM MENOS O REAL.

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  2. O pior é que o leitor tacanho de veja é o mais comum.
    É aquele cara de classe média que acha importante se manter informado, por isto assina uma revista de qualidade, a Veja.
    E lendo esta revista ele além de achar que sabe profundamente de tudo ainda se acha em condições de elucidar e explicar como o mundo funciona aos menos cultos.

    É triste, triste, triste....

    Para voce ter uma idéia há muito tempo que não vejo a Veja, mas estou sabendo de todo o ataque ao socialismo (e tudo que eles querem colar como ameaça comunista ao mundo civilizado) por meio desses leitores que se dizem "cultos" e explicam de forma patética o plano de Hugo Chavez para tomar o poder na America Latina e implantar o comunismo (que ainda come criancinhas) no mundo todo. E tudo passa por este meio, Honduras, Olimpiadas, Irã, China..... cara não sei como alguém engole essas coisas, é muita falta de discernimento.

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  3. Belo texto.É por empregar "jornalistas" como esse que aquele panfleto de quinta categoria perde vários leitores a cada semana.

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  4. Altamiro, você foi muito feliz na definição de anticomunismo infantil da Veja. Como professor li uma "reporcagem" desse folhetim fascista colocando o marxismo como o grande responsável pela péssima educação no Brasil. Antes ficava muito nervoso com a Veja. Hoje, quando leio o pasquim de quinta categoria (porque sou obrigado, uma vez que a prefeitura de São Paulo manda às toneladas para as escolas) dou muitas risadas. Em sua paranóia doentia, a publicação dos Civita revela seu maior medo.

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  5. Altamiro, você foi muito feliz na definição de anticomunismo infantil da Veja. Como professor li uma "reporcagem" desse folhetim fascista colocando o marxismo como o grande responsável pela péssima educação no Brasil. Antes ficava muito nervoso com a Veja. Hoje, quando leio o pasquim de quinta categoria (porque sou obrigado, uma vez que a prefeitura de São Paulo manda às toneladas para as escolas) dou muitas risadas. Em sua paranóia doentia, a publicação dos Civita revela seu maior medo.

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  6. Caro Miro, reproduzi o artigo no meu blog, veja em www.ramonjrfonseca.blogspot.com . A imagem q ilustra a postagem é muito legal.

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  7. É por essas e outras que a cada vez mais tenho ojeriza a este meio de desinformação. Lendo esse teu artigo, Miro, chegou a me causar náuseas dessa forma ultrarreacionária com que o semanário da Famiglia Civita expões sua posição raivosa...
    Grande abraço, miro
    (P.S: num curso de formação da UJS em 12/2006 fui eu quem refrescou a memória da galera quando lembrou da propaganda que mostrava o Estado como um elefante e que a privatização era o caminho. Lembrou agora quem sou eu?)

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  8. Todos tem o seu papa, aquele que dá as diretrizes. Ele se chama "professor Hariovaldo": http://hariprado.wordpress.com/
    Cada louco com seu grupo.

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  9. Estou fazendo pesquisa de mestrado na PUC - SP, na área de comunicação. Pesquisarei a relação entre imprensa e desigualdade social no Brasil a partir do caso da ficha falsa da Dilma na folha de São Paulo (ver resumo abaixo). Já reuni muito material sobre o caso, incluindo bastante coisa da Blogosfera. Estou postando aqui para caso alguém deseje contribuir com algum elemento para a pesquisa. Quem desejar entrar em contato, meu e-mail é: jfalencar@yahoo.com.br.

    Título: A DITADURA CONTINUADA - um estudo sobre informação jornalística e desigualdade social a partir do caso da ficha falsa do DEOPS atribuída à ministra
    Dilma Roussef na Folha de S. Paulo

    Resumo: A pesquisa visa descrever e analisar as relações entre a imprensa e um problema central do Brasil, a desigualdade social, tomando como ponto de partida o caso da publicação, na Folha de S. Paulo, de uma ficha falsa atribuída aos arquivos da ditadura militar, com crimes associados à Dilma Rousseff e de matérias correlatas, que associavam a ministra a tais crimes, como “terrorista”; em particular, a associavam a um plano de seqüestro de autoridade não ocorrido. O caso em si e seus desdobramentos põem em evidência, com contornos definidos, uma série de questões relativas à linha editorial do Jornal, formas de tratamento da informação com ausência de ética jornalística e política, posicionamentos políticos reacionários, ausência de esclarecimentos e contrapontos, escandalização de factóides identificação com o ideário da ditadura militar, a qual surgiu e se manteve como reação a movimentos políticos favoráveis à redução da desigualdade social no país. A descrição do caso será contextualizada na história da imprensa brasileira e do próprio jornal, identificando as razões para essa linha editorial e, analisando o caso e seu contexto com base em teorias da comunicação social, segundo as quais a divulgação de determinados temas, a ocultação de outros e o controle e a manipulação do conhecimento são fatores de modelação da vida social. Segundo a hipótese a ser verificada, a imprensa brasileira tem fortes relações com a desigualdade social existente no Brasil, sendo configurada por ela e participando da sua reprodução. A pesquisa se inspira na obra de Darcy Ribeiro, “O povo brasileiro”, e fundamentar-se-á em teóricos como Jesús Martín-Barbero, Muniz Sodré, Antonio Gramsci, Nelson Werneck Sodré, pensadores da escola de Frankfurt, das teorias agenda setting, espiral do silêncio, das diferenças de conhecimento e da construção social da realidade.

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