terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Casoy e Gandra: CCC e Opus Dei unidos

O “âncora” da TV Bandeirantes, Boris Casoy, resolveu assumir de vez o seu direitismo raivoso. Depois de humilhar os garis que desejaram feliz ano novo - “Que merda. Dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... Dois lixeiros... O mais baixo da escala do trabalho” – e de receber uma bateria de duras críticas, ele decidiu radicalizar as suas posições. Nesta semana, Casoy acionou o jurista Ives Gandra, notório militante da seita fundamentalista Opus Dei, para falar sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos, de autoria do ministro Paulo Vannuchi.

Logo na abertura do Jornal da Band, o âncora, que é metido a dono da verdade, dá a sua opinião tendenciosa. “O novo decreto de direitos humanos do governo é criticado pela sociedade e até por ministros de estado. A lei estabelece censura aos meios de comunicação, é contra o direito de propriedade e de liberdade religiosa. Especialistas consideram o projeto o primeiro passo para um regime ditatorial”. Casoy mente descaradamente ao tratar plano como uma imposição autoritária do presidente, já que ele será debatido no parlamento. Quanto aos tais especialistas, ele ouve somente uma “personalidade” ligada à ditadura, ao latifúndio e aos setores mais reacionários da sociedade.

Visão tendenciosa e eleitoreira

Na sequência, um narrador em off reforça a visão preconceituosa e mentirosa. “A nova lei que o presidente Lula assinou sem ler passou pelo crivo direto da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, virtual candidata do PT à presidência da República, e dos ministros da Justiça, Tarso Genro, da Comunicação, Franklin Martins, e dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi. É um emaranhado de artigos e parágrafos que muitas vezes ataca a Constituição”. O objetivo, nesta narração, é nitidamente eleitoreiro, como palanque do tucano José Serra, o candidato da mídia hegemônica.

Criado o cenário para o desgaste do governo, o repórter Sandro Barboza inicia a entrevista com “um dos mais conceituados juristas internacionais”, Ives Gandra. O “jornalista”, que também não esconde suas posições direitistas nas perguntas, apenas deixa de informar aos telespectadores que o bajulado especialista participou da campanha presidencial de Geraldo Alckmin (o tucano que é seguidor do Opus Dei) e defende tudo o que é há de mais retrógrado e conservador na sociedade brasileira. Apesar da ânsia de vômito, vale à pena conhecer a grotesca “entrevista”:

As idéias de um direitista convicto

Jornal da Band: O projeto prevê que o proprietário rural que tiver uma fazenda invadida não poderá mais recorrer ao Judiciário.

Gandra: O que eles tão pretendendo é dar direito àquele que invadir qualquer terra fazer com que uma vez que for invadido o direito de propriedade deixa de ser do proprietário, passa a ser do invasor.

JB: A lei quer evitar a divulgação de símbolos religiosos.

Gandra: Se não pode mais haver símbolos religiosos nós temos que mudar o nome da cidade de São Paulo e todas as cidades que tem nomes de santos não poderão mais ter.

JB: Será criada uma comissão para controlar o conteúdo dos meios de comunicação.

Gandra: No momento em que se elimina a liberdade de imprensa nós estamos perante efetivamente o início de uma ditadura.

JB: Um novo imposto sobre grandes fortunas seria instituído.

Gandra: É um imposto que afasta investimentos porque aquele que formou um patrimônio depois é tributado em todas as operações e ainda vai ser tributado no seu patrimônio pessoal.

JB: As prostitutas contariam com direitos trabalhistas e carteira assinada.

Gandra: Isso não é profissão. Na prática o verdadeiro direito humano é tirar essas moças de onde elas estão e dar profissões dignas a elas.

JB: Os responsáveis pelas torturas durante a ditadura militar seriam julgados. Já os guerrilheiros que também torturaram ficariam livres de qualquer punição.

Gandra: Torturador de esquerda é um santo. Torturador de direita é um demônio. É um decreto preparatório para um regime ditatorial.


O novo “comando do terror”

Com mais esta “reporcagem” no seu currículo, Boris Casoy elimina qualquer ilusão sobre a sua neutralidade e imparcialidade jornalística. O blog Cloaca News, inclusive, conseguiu descobrir a revista Cruzeiro, de 9 de novembro de 1968, que denunciou Casoy como ativista do Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Tem até a foto dele mais jovem. Intitulada “CCC ou comando do terror”, a matéria comprova que este agrupamento promoveu vários atentados terroristas nos anos 1960/1970, inclusive contra os artistas do Teatro Roda Vida e contra os estudantes da USP.

Agora, o âncora fecha o ciclo e se une ao Opus Dei para criar um novo “comando do terror”. Para quem não conhece esta seita religiosa, reproduzo trechos de três artigos de minha autoria:


O Opus Dei (do latim, Obra de Deus) foi fundado em outubro de 1928, na Espanha, pelo padre Josemaría Escrivá. O jovem sacerdote de 26 anos diz ter recebido a “iluminação divina” durante a sua clausura num mosteiro de Madri. Preocupado com o avanço das esquerdas no país, este excêntrico religioso, visto pelos amigos de batina como um “fanático e doente mental”, decidiu montar uma organização ultra-secreta para interferir nos rumos da Espanha. Segundo as suas palavras, ela seria “uma injeção intravenosa na corrente sanguínea da sociedade”, infiltrando-se em todos os poros de poder. Deveria reunir bispos e padres, mas, principalmente, membros laicos, que não usassem hábitos monásticos ou qualquer tipo de identificação.

Reconhecida oficialmente pelo Vaticano em 1947, esta seita logo se tornou um contraponto ao avanço das idéias progressistas na Igreja. Em 1962, o papa João 23 convocou o Concílio Vaticano II, que marca uma viragem na postura da Igreja, aproximando-a dos anseios populares. No seu fanatismo, Escrivá não acatou a mudança. Criticou o fim da missa rezada em latim, com os padres de costas para os fiéis, e a abolição do Index Librorum Prohibitorum, dogma obscurantista do século 16 que listava livros “perigosos” e proibia sua leitura pelos fiéis. “Este concílio, minhas filhas, é o concílio do diabo”, garantiu Escrivá para alguns seguidores, segundo relato do jornalista Emílio Corbiere no livro “Opus Dei: El totalitarismo católico”.


O poder no Vaticano

Josemaría Escrivá faleceu em 1975. Mas o Opus Dei se manteve e adquiriu maior projeção com a guinada direitista do Vaticano a partir da nomeação do papa polonês João Paulo II. Para o teólogo espanhol Juan Acosta, “a relação entre Karol Wojtyla e o Opus Dei atingiu o seu êxito nos anos 80-90, com a irresistível acessão da Obra à cúpula do Vaticano, a partir de onde interveio ativamente no processo de reestruturação da Igreja Católica sob o protagonismo do papa e a orientação do cardeal alemão Ratzinger”. Em 1982, a seita foi declarada “prelazia pessoal” – a única existente até hoje –, o que no Direito Canônico significa que ela só presta contas ao papa, que só obedece ao prelado (cargo vitalício hoje ocupado por dom Javier Echevarría) e que seus adeptos não se submetem aos bispos e dioceses, gozando de total autonomia.

O ápice do Opus Dei ocorreu em outubro de 2002, quando o seu fundador foi canonizado pelo papa numa cerimônia que reuniu 350 mil simpatizantes na Praça São Pedro, no Vaticano. A meteórica canonização de Josemaría Escrivá, que durou apenas dez anos, quando geralmente este processo demora décadas e até séculos, gerou fortes críticas de diferentes setores católicos. Muitos advertiram que o Opus Dei estava se tornando uma “igreja dentro da Igreja”. Lembraram um alerta do líder jesuíta Vladimir Ledochowshy que, num memorando ao papa, denunciou a seita pelo “desejo secreto de dominar o mundo”. Apesar da reação, o papa João Paulo II e seu principal teólogo, Joseph Ratzinger, ex-chefe da repressora Congregação para Doutrina da Fé e atual papa Beto 16, não vacilaram em dar maiores poderes ao Opus Dei.

Vários estudos garantem que esta relação privilegiada decorreu de razões políticas e econômicas. No livro “O mundo secreto do Opus Dei”, o jornalista canadense Robert Hutchinson afirma que esta organização acumula uma fortuna de 400 bilhões de dólares e que financiou o sindicato Solidariedade, na Polônia, que teve papel central na débâcle do bloco soviético nos anos 90. O complô explicaria a sólida amizade com o papa, que era polonês e um visceral anticomunista. Já Henrique Magalhães, numa excelente pesquisa na revista A Nova Democracia, confirma o anticomunismo de Wojtyla e relata que “fontes da Igreja Católica atribuem o poder da Obra a quitação da dívida do Banco Ambrosiano, fraudulentamente falido em 1982”.


O vínculo com os fascistas

Além do rigoroso fundamentalismo religioso, o Opus Dei sempre se alinhou aos setores mais direitistas e fascistas. Durante a Guerra Civil Espanhola, deflagrada em 1936, Escrivá deu ostensivo apoio ao general golpista Francisco Franco contra o governo republicano legitimamente eleito. Temendo represálias, ele se asilou na embaixada de Honduras, depois se internou num manicômio, “fingindo-se de louco”, antes de fugir para a França. Só retornou à Espanha após a vitória dos golpistas. Desde então, firmou sólidos laços com o ditador sanguinário Francisco Franco. “O Opus Dei praticamente se fundiu ao Estado espanhol, ao qual forneceu inúmeros ministros e dirigentes de órgãos governamentais”, afirma Henrique Magalhães.

Há também fortes indícios de que Josemaría Escrivá nutria simpatias por Adolf Hitler e pelo nazismo. De forma simulada, advogava as idéias racistas e defendia a violência. Na máxima 367 do livro Caminho, ele afirma que seus fiéis “são belos e inteligentes” e devem olhar aos demais como “inferiores e animais”. Na máxima 643, ensina que a meta “é ocupar cargos e ser um movimento de domínio mundial”. Na máxima 311, ele escancara: “A guerra tem uma finalidade sobrenatural... Mas temos, ao final, de amá-la, como o religioso deve amar suas disciplinas”. Em 1992, um ex-membro do Opus Dei revelou o que este havia lhe dito: “Hitler foi maltratado pela opinião pública. Jamais teria matado 6 milhões de judeus. No máximo, foram 4 milhões”. Outra numerária, Diane DiNicola, garantiu: “Escrivá, com toda certeza, era fascista”.

Escrivá até tentou negar estas relações. Mas, no seu processo de ascensão no Vaticano, ele contou com a ajuda de notórios nazistas. Como descreve a jornalista Maria Amaral, num artigo à revista Caros Amigos, “ao se mudar para Roma, ele estimulou ainda mais as acusações de ser simpático aos regimes autoritários, já que as suas primeiras vitórias no sentido de estabelecer o Opus Dei com estrutura eclesiástica capaz de abrigar leigos e ordenar sacerdotes se deram durante o pontificado do papa Pio XII, por meio do cardeal Eugenio Pacelli, responsável por controverso acordo da Igreja com Hitler”. Outro texto, assinado por um grupo de católicas peruanas, garante que a seita “recrutou adeptos para a organização fascista ‘Jovem Europa’, dirigida por militantes nazistas e com vínculos com o fascismo italiano e espanhol”.

Pouco antes de morrer, Josemaría Escrivá realizou uma “peregrinação” pela América Latina. Ele sempre considerou o continente fundamental para sua seita e para os negócios espanhóis. Na região, o Opus Dei apoiou abertamente várias ditaduras. No Chile, participou do regime terrorista de Augusto Pinochet. O principal ideólogo do ditador, Jaime Guzmá, era membro ativo da seita, assim como centenas de quadros civis e militares. Na Argentina, numerários foram nomeados ministros da ditadura. No Peru, a seita deu sustentação ao corrupto e autoritário Alberto Fujimori. No México, ajudou a eleger como presidente seu antigo aliado, Miguel de La Madri, que extinguiu a secular separação entre o Estado e a Igreja Católica.


Infiltração na mídia

Para semear as suas idéias religiosas e políticas de forma camuflada, Escrivá logo percebeu a importância estratégica dos meios de comunicação. Ele mesmo gostava de dizer que “temos de embrulhar o mundo em papel-jornal”. Para isso, contou com a ajuda da ditadura franquista para a construção da Universidade de Navarra, que possuí um orçamento anual de 240 milhões de euros. Jornalistas do mundo inteiro são formados nos cursos de pós-graduação desta instituição. O Opus Dei exerce hoje forte influência sobre a mídia. Um relatório confidencial entregue ao Vaticano em 1979 pelo sucessor de Escrivá revelou que a influência da seita se estendia por “479 universidades e escolas secundárias, 604 revistas ou jornais, 52 estações de rádio ou televisões, 38 agências de publicidade e 12 produtores e distribuidoras de filmes”.

Na América Latina, a seita controla o jornal El Observador (Uruguai) e tem peso nos jornais El Mercúrio (Chile), La Nación (Argentina) e O Estado de S.Paulo. Segundo várias denúncias, ela dirige a Sociedade Interamericana de Imprensa, braço da direita na mídia hemisférica. No Brasil, a Universidade de Navarra é comandada por Carlos Alberto di Franco, numerário e articulista do Estadão, responsável pela lavagem cerebral semanal de Geraldo Alckmin nas famosas “palestras do Morumbi”. Segundo a revista Época, seu “programa de capacitação de editores já formou mais de 200 cargos de chefia dos principais jornais do país”. O mesmo artigo confirma que “o jornalista Carlos Alberto Di Franco circula com desenvoltura nas esferas de poder, especialmente na imprensa e no círculo íntimo do governador Geraldo Alckmin”.

O veterano jornalista Alberto Dines, do Observatório da Imprensa, há muito denuncia a sinistra relação do Opus Dei com a mídia nacional. Num artigo intitulado “Estranha conversão da Folha”, critica seu “visível crescimento na imprensa brasileira. A Folha de S.Paulo parecia resistir à dominação, mas capitulou”. No mesmo artigo, garante que a seita “já tomou conta da Associação Nacional de Jornais (ANJ)”, que reúne os principais monopólios da mídia do país. Para ele, a seita não visa a “salvação das almas desgarradas. É um projeto de poder, de dominação dos meios de comunicação. E um projeto desta natureza não é nem poderia ser democrático. A conversão da Folha é uma opção estratégica, política e ideológica”.


A “santa máfia”

Durante seus longos anos de atuação nos bastidores do poder, o Opus Dei constituiu uma enorme fortuna, usada para bancar seus projetos reacionários – inclusive seus planos eleitorais. Os recursos foram obtidos com a ajuda de ditadores e o uso de máquinas públicas. “O Opus Dei se infiltrou e parasitou no aparato burocrático do Estado espanhol, ocupando postos-chaves. Constituiu um império econômico graças aos favores nas largas décadas da ditadura franquista, onde vários gabinetes ministeriáveis foram ocupados integralmente por seus membros, que ditaram leis para favorecer os interesses da seita e se envolveram em vários casos de corrupção, malversação e práticas imorais”, acusa um documento de católico do Peru.

A seita também acumulou riquezas através da doação obrigatória de heranças dos numerários e do dizimo dos supernumerários e simpatizantes infiltrados em governos e corporações empresariais. Com a ofensiva neoliberal dos anos 90, a privatização das estatais virou outra fonte de receitas. Poderosas multinacionais espanholas beneficiadas por este processo, como os bancos Santander e Bilbao Biscaia, a Telefônica e empresa de petróleo Repsol, tem no seu corpo gerencial adeptos do Opus.

Para católicos mais críticos, que rotulam a seita de “santa máfia”, esta fortuna também deriva de negócios ilícitos. Conforme denuncia Henrique Magalhães, “além da dimensão religiosa e política, o Opus Dei tem uma terceira face: da sociedade secreta de cunho mafioso. Em seus estatutos secretos, redigidos em 1950 e expostos em 1986, a Obra determina que ‘os membros numerários e supernumerários saibam que devem observar sempre um prudente silêncio sobre os nomes dos outros associados e que não deverão revelar nunca a ninguém que eles próprios pertencem ao Opus Dei’. Inimiga jurada da Maçonaria, ela copia sua estrutura fechada, o que frequentemente serve para encobrir atos criminosos”.

O jornalista Emílio Corbiere cita os casos de fraude e remessa ilegal de divisas das empresas espanholas Matesa e Rumasa, em 1969, que financiaram a Universidade de Navarra. Há também a suspeita do uso de bancos espanhóis na lavagem de dinheiro do narcotráfico e da máfia russa. O Opus Dei esteve envolvido na falência fraudulenta do banco Comercial (pertencente ao jornal El Observador) e do Crédito Provincial (Argentina). Neste país, os responsáveis pela privatização da petrolífera YPF e das Aerolineas Argentinas, compradas por grupos espanhóis, foram denunciados por escândalos de corrupção, mas foram absolvidos pela Suprema Corte, dirigida por Antonio Boggiano, outro membro da Opus Dei. No ano retrasado, outro numerário do Opus Dei, o banqueiro Gianmario Roveraro, esteve envolvido na quebra da Parlamat.


“A Internacional Conservadora”

O escritor estadunidense Dan Brown, autor do best seller “O Código da Vinci”, não vacila em acusar esta seita de ser um partido de fanáticos religiosos com ramificações pelo mundo. O Opus Dei teria cerca de 80 milhões de fiéis, muitos deles em cargos-chaves em governos, na mídia e em multinacionais. Henrique Magalhães garante que a “Obra é vanguarda das tendências mais conservadoras da Igreja Católica”. Num livro feito sob encomenda pelo Opus Dei, o vaticanista John Allen confessa este poderio. Ele admite que a seita possui um patrimônio de US$ 2,8 bilhões – incluindo uma luxuosa sede de US$ 60 milhões em Manhattan – e que esta fortuna serve para manter as suas instituições de fachada, como a Heights School, em Washington, onde estudam os filhos dos congressistas do Partido Republicano de George W.Bush.

Numa reportagem que tenta limpar a barra do Opus Dei, a própria revista Superinteressante, da suspeita Editora Abril, reconhece o enorme influência política desta seita. E conclui: “No Brasil, um dos políticos mais ligados à Obra é o candidato a presidente Geraldo Alckmin, que em seus tempos de governador de São Paulo costumava assistir a palestras sobre doutrina cristã ministradas por numerários e a se confessar com um padre do Opus Dei. Alckmin, porém, nega fazer parte da ordem”. Como se observa, o candidato segue à risca um dos principais ensinamentos do fascista Josemaría Escrivá: “Acostuma-se a dizer não”.


Os tentáculos no Brasil

No Brasil, o Opus Dei fincou a sua primeira raiz em 1957, na cidade de Marília, no interior paulista, com a fundação de dois centros. Em 1961, dada à importância da filial, a seita deslocou o numerário espanhol Xavier Ayala, segundo na hierarquia. “Doutor Xavier, como gostava de ser chamado, embora fosse padre, pisou em solo brasileiro com a missão de fortalecer a ala conservadora da Igreja. Às vésperas do Concílio Vaticano II, o clero progressista da América Latina clamava pelo retorno às origens revolucionárias do cristianismo e à ‘opção pelos pobres’, fundamentos da Teologia da Libertação”, explica Marina Amaral na revista Caros Amigos.

Ainda segundo seu relato, “aos poucos, o Opus Dei foi encontrando seus aliados na direita universitária... Entre os primeiros estavam dois jovens promissores: Ives Gandra Martins e Carlos Alberto Di Franco, o primeiro simpático ao monarquismo e candidato derrotado a deputado; o segundo, um secundarista do Colégio Rio Branco, dos rotarianos do Brasil. Ives começou a freqüentar as reuniões do Opus Dei em 1963; Di Franco ‘apitou’ (pediu para entrar) em 1965. Hoje, a organização diz ter no país pouco mais de três mil membros e cerca de quarenta centros, onde moram aproximadamente seiscentos numerários”.


Crescimento na ditadura

Durante a ditadura, a seita também concentrou sua atuação no meio jurídico, o que rende frutos até hoje. O promotor aposentado e ex-deputado Hélio Bicudo revela ter sido assediado duas vezes por juízes fiéis à organização. O expoente nesta fase foi José Geraldo Rodrigues Alckmin, nomeado ministro do STF pelo ditador Garrastazu Médici em 1972, e tio do atual presidenciável. Até os anos 70, porém, o poder do Opus Dei era embrionário. Tinha quadros em posições importantes, mas sem atuação coordenada. Além disso, dividia com a Tradição, Família e Propriedade (TFP) as simpatias dos católicos de extrema direita.

Seu crescimento dependeu da benção dos generais golpistas e dos vínculos com poderosas empresas. Ives Gandra e Di Franco viraram os seus “embaixadores”, relacionando-se com donos da mídia, políticos de direita, bispos e empresários. É desta fase a construção da sua estrutura de fachada – Colégio Catamarã (SP), Casa do Moinho (Cotia) e Editora Quadrante. Ela também criou uma ONG para arrecadar fundos: OSUC (Obras Sociais, Universitárias e Culturais). Esta recebe até hoje doações do Itaú, Bradesco, GM e Citigroup. Confrontado com esta denúncia, Lizandro Carmona, da OSUC, implorou à jornalista Marina Amaral: “Pelo amor de Deus, não vá escrever que empresas como o Itaú doam dinheiro ao Opus Dei”.


Ofensiva recente na região

Na fase recente, o Opus Dei está excitado, com planos ousados para conquistar maior poder político na América Latina. Em abril de 2002, a seita participou ativamente do frustrado golpe contra o presidente Hugo Chávez, na Venezuela. Um dos seus seguidores, José Rodrigues Iturbe, foi nomeado ministro das Relações Exteriores do fugaz governo golpista. A embaixada da Espanha, governada na época pelo neo-franquista Partido Popular (PP), de José Maria Aznar – cuja esposa é do Opus Dei –, deu guarita aos seus fiéis. Outro golpista ligado à seita, Gustavo Cisneiros, é megaempresário das telecomunicações no país.

Em dezembro do ano passado, o Opus Dei assistiu a derrota do seu candidato, Joaquim Laví, ex-assessor do ditador Augusto Pinochet, à presidência do Chile. Já em maio deste ano, colheu uma nova derrota com a candidatura de Lourdes Flores, declarada numerária do partido Unidade Nacional. Em compensação, a seita comemorou a vitória do narco-terrorista Álvaro Uribe na Colômbia, que também dispôs de milhões de dólares do governo George Bush. Já no México, outro conhecido simpatizante do Opus Dei, Felipe Calderon, ex-executivo da Coca-Cola, venceu uma das eleições mais fraudulentas da história deste país.

10 comentários:

  1. O que espanta, nisso tudo, é perceber como reacionários empedernidos e antediluvianos conseguiram entender como a mídia é estratégica na tomada e na manutenção do poder. Coisa que a nossa esquerda, que se tem na conta de progressista e moderna, nem sequer cogita!!! É só tomar como exemplo a CONFECOM, realizada no apagar das luzes do Gov. Lula, quando deveria ter sido o 1º ato do 1º min do seu governo.

    No mais, gente como Casoy, Escrivá, Gandra, Hitler, João paulo II e Bento XVI, em alguns momentos, estarem em campos opostos, é só um pequeno erro de cálculo nas suas disputas pelo poder. No final das contas, eles conseguem descobrir que tem muito mais afinidades, do que diferenças...

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  2. o TJ de SP e alguns Ministros do STJ são simpatizantes desta seita

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  3. Perfeito, temos que divulgar e obrigar essas múmias a retirar suas máscaras de democrátas.
    Nada mais arcaico que pertencer a essa maldita seita Opus Dei, colaboradora direta de mortes, torturas e a manutenção de 40 anos de ditadura franquista na Espanha.
    Estou divulgando, e reproduzindo esta matéria em meu blog:
    http://brasilmobilizado.blogspot.com

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  4. Prezado Altamiro,
    Este artigo é tão importante pelos fatos que nele são relatados que, permita-me a ousadia, copiei e, além de postar no meu blog (http://parte1. wordpress.com), enviei para minha lista de correspondência.
    Parabéns!
    Deusdédit R Morais

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  5. Não sou fã de Boris Casoy, mas que bobagem este post!

    "Boris Casoy elimina qualquer ilusão sobre a sua neutralidade e imparcialidade jornalística". E onde está a neutralidade e imparcialidade do autor deste blog?

    Quem é o sr. para classificar o Opus Dei de "seita"? Este é o problema de quem enxerga tudo com lentes "políticas" e de "relações de poder". A vida é mais do que isso!

    Parabéns! Conseguiu me deixar do lado "direito"!

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  6. Internet é uma coisa impressionante: abre-se um canal de informação e mesmo assim ainda se consegue repercussão com esse jornalismo barato. Um dossiê histórico, recortado de biografias e colunas de 'jornalistas' (merecidas aspas)? Isso até eu, que não sou formado, seria capaz de fazer. O que o sr. Altamiro Borges esqueceu é um dos princípios básicos do Jornalismo: a multiplicidade de visões. Acusa o Opus Dei de doutrinação, mas faz exatamente a mesma coisa em seu texto. "Olhem só, tem gente influente que faz parte da Obra", "O fundador disse X" (descontextualizar citações é tão fácil é até Nietsche parece um cara simpático em livros de máximas). Imparcialidade é uma coisa utópica, mas esse tipo de enviesamento de informação me dá nojo. Aposto que quem escreveu o texto nunca entrou numa residência da Obra (como é chamada no Brasil) ou nunca conversou com um membro de lá. É isso que você chama de prospecção de informações? Uma colcha de ctrl+c e ctrl+v?
    O pior é que tem gente que se contenta com isso. Preguiça mental é uma coisa deprimente, nesses tempos em que se acredita que é possível estar bem-informado com um ou dois cliques, ou apenas assistindo ao Jornal Nacional.
    Existem pessoas influentes na Obra? Sim, existem. E o que elas fazem é problema delas e da opinião pública. O que tem a ver o cara ser cristão, muçulmano, judeu ou o que for? O que interessa são as atitudes dele. Colocar a espiritualidade como uma coisa negativa é pra quem não tem argumentos decentes. Tem muita gente notória que é ateia. E daí? Você vai dizer que conhece todos os ateus só porque sabe como essas pessoas notórias agem? Pensam que vão conhecer a Obra lendo textos enviesados e frutos de mau-jornalismo? Não se contentem com isso. A menos, é claro, que a preguiça mental seja suficiente pra vocês.
    Ninguém é obrigado a ser favorável ao Opus Dei. O que não se admite é fazer juízo de algo que não se conhece. E é aí que está uma das brechas da mídia amarela: conta metade da história e faz o leitor/ouvinte/telespectador pensar que sabe de tudo.

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  7. Com relação à questão do Opus Dei, não me parece grave, apenas reforça a visão direitista do Sr. Ives Gandra. Cada um com as suas convicções. O que me preocupa é abusar da falta de conhecimento das pessoas para criar falsas informações. Em primeiro lugar o PNDH-3 é um PROGRAMA e não uma lei. Portanto, não têm artigos, mas ações. Se alguma dessas ações for transformada em lei, deverá passar pelo congresso. Em segundo lugar, o PNDH-1, lançado em 1996, na 1.ª gestão do FHC, por pressão da ONU e OEA, que queria que os países da América do Sul melhorassem as condições de seus cidadãos,e, para isso, era necessário que se criasse um programa de direitos humanos, foi ingênuo ainda, mas já um progresso. Dessas 40 ou 50 ações (não me recordo o número) surgiram três leis que beneficiaram os torturados e suas famílias e os assassinados sem defesa (carandiru, carajás, etc.). Em 2002, apenas 5 meses antes de acabar a segunda gestão FHC, foi lançado o PNDH-2, que aumentou em mais de 400ações(518, para ser exata). Engraçado que muitas dessas ações tinham intenções "comunistas", mas não vi ninguém fazer escandalo na época... (leiam principalmente as ações 100 e 101). Aliás, em termos de direitos humanos foi mais um avanço (desta vez bem maior). O PNDH-3 apenas manteve as ações do 2 com mais algumas, seguindo a cartilha da OEA e da ONU. Se os programas são parecidos em vários países não é porque tem "influência da Venezuela" segundo o Sr. Ives Gandra falou no programa do Jô, mas porque seguem a orientação das duas entidades suprarreferidas. Lamentavelmente, as pessoas abusam da falta de conhecimento e de leitura das pessoas para, aliadas ao senso comum, levantar o terror nas pessoas. Que pena!

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  8. Mr. Moogle, o sr. poderia curar minha ingenuidade e revelar a outra metade da verdade sobre a Opus ? A primeira, segundo o sr., é de Altamiro. Obrigado, Altamiro, por sacudir minha ingenuidade quanto à mais poderosa máfia internacional da direita, que de Deus não tem nada.

    apóllo natali

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  9. Alguns especialista tais como Mr Moogle, faz quetionamento e tenta desqualificar o Jornalista Altamiro, meu amigo você tem ler muito, a opus dei é uma organização ultra conservadora de direita que defendeu o regime fascista de Franco, prega uma religião medieval, tem rituais medievais e você não sabe disto. Você não tem conhecimento para criticar o que escrito no ótimo texto do jornalista. Sua defesa da ordem é bem explita, seja feliz na sua ordem, com certeza você terá um ligar lá no ceu, se existir.
    obs.: o anonimato é ridiculo

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  10. Anônimo, meu bom Erico? Com meu e-mail e uma foto constando no comentário? Achei graça na acusação. O apelido é um que uso na internet há muito tempo. Se quiser me mandar e-mails, pode fazer na hora em que quiser.

    Bom jornalismo se faz ouvindo os dois (ou mais) lados de uma história. E não foi isso que vemos do texto de Miro (que ele perdoe a intimidade). Críticas (que eu compreendo, sim, porque não é todo mundo que conhece membros da obra ou tem tempo ou paciência para ler a respeito) e ninguém para rebatê-las. Nem precisava ser um padre - já que eles são minoria na Obra -, podia ser um dos milhões de cidadãos comuns, taxistas, empregadas, repórteres de jornal de bairro. Se você (perdoe a intimidade, mas acho que "sr." seria muito formal) achou o texto bom, tudo bem. Mas não venha me dizer que é bom jornalismo. Isso é típico de Veja. O problema não está no posicionamento, mas em esconder partes da história para reforçar o próprio ponto de vista.

    O fundador da Obra recusou-se a participar da criação, no final da Era Franco, de um Partido Democrata Cristão na Espanha. Sempre disse que "o Opus Dei não atua; seus membros, sim." Se um membro é proeminente, não o é por causa da Obra. Não é uma espécie de maçonaria. Conheço membros mais conservadores, menos conservadores, apolíticos. Todos têm seu espaço, embora estejam sempre ligados de alguma forma à ética cristã.

    E você, Erico, leu bastante? Ou se contentou com O Código da Vinci, tanto o livro como o filme? É uma boa ficção com certa base histórica, mas que levou muita gente a formar um retrato distorcido da realidade.

    Eu frequento uma residência da Obra há mais de seis anos. Conheço membros notórios (que são minoria, como acontece no resto da sociedade) e nunca vi eles fazerem uso da suposta "força" da Obra para beneficiar seus projetos. Mesmo porque o Opus Dei tem sérias dificuldades em manter uma imagem boa. Por quê? Por causa de gente que leu O Código da Vinci e achou que isso bastava para estar informado. Gente que não se deu ao trabalho de ler investigações como as de Vitorio Mesori e John Allen Jr., que sequer fazem parte da Obra e não pintaram retratos cor-de-rosa. Eles falam da rigidez à qual os membros de submetem, que estão em pleno acordo com a doutrina cristã.

    O que você quer de mim, Erico? Quer que eu aplauda retratos 100% enviesados (não existe isenção total, mas o texto de Miro peca pela falta de informações)?

    Falei pela minha experiência pessoal. Não sou membro e nem pretendo ser. Não sou colaborador. Nada. Sou totalmente objetivo? Claro que não. Isso não existe. Mas não estou escondendo nada.

    Você não precisa gostar da Obra. Mas digo uma coisa: só é possível ter uma opinião consistente e respeitável quando se conhece o assunto.

    Acho que agora sabemos quem precisa ler e estudar um pouco mais.

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