Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no blog Cidadania:
Meados de maio, noite fria, por volta das 19 horas, chegava eu para um encontro marcado comigo pelo Altamiro Borges, secretário de Comunicação do PC do B, um amigo, blogueiro de mão cheia e uma das mentes por trás do Portal Vermelho.
Miro, os amigos Luiz Carlos Azenha e Rodrigo Vianna (TV Record), Conceição Lemes (co-editora do Viomundo, site do Azenha) e eu próprio nos reunimos no tradicional “Sujinho”, restaurante que foi reduto lendário da boemia intelectual da Paulicéia Desvairada.
O assunto, proposto pelo Azenha: um Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas inspirado no movimento Netroots do partido Democrata norte-americano, sobre qual dou alguns dados:
• “Netroots” são blogueiros do Partido Democrata norte-americano – cerca de 6 milhões em todo país.
• Sem limites geográficos, os netroots conseguem arrecadar dinheiro em todo o país. Somente o blog MoveOn gastou US$ 25 milhões com a candidatura de 40 congressistas.
• Blogs como o Daily Kos são lidos por mais de 1 milhão de pessoas a cada semana. Para efeito de comparação, a influente revista New Republic tem uma circulação de 62 mil exemplares
• Para muitos analistas políticos, o movimento Netrots influiu decisivamente na eleição de Barack Obama.
Eis uma bela idéia que todos compramos naquele encontro, entre uma e outra dose de um néctar dos deuses apelidado de “Seleta” e uma exuberante bisteca de boi.
Daquela conversa, nasceram esforços que reunirão nomes da blogosfera como os supra mencionados e outros como Paulo Henrique Amorim e, inicialmente, Luis Nassif.
Posso falar por mim: estou dentro.
Um encontro nacional de blogueiros progressistas – um conceito que me parece dispensar maiores explicações – terá todos os méritos descritos pelo Azenha em post recente – ao qual acorreram centenas de seus leitores – e todos os outros que descobriremos juntos.
Apóio sempre essas iniciativas. Altercom, Barão de Itararé… Como disse aos amigos quando me convidaram para integrar essas tratativas, só há uma coisa que não apoio: a imobilidade, a paralisia, essa afasia democrática que o regime militar legou aos brasileiros.
Reitero, pois, meu integral apoio à iniciativa do 1º Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas. Este blogueiro veiculará todas as informações necessárias para os que quiserem integrar essa iniciativa em igualdade de condições com todos os outros integrantes.
.
Caro Altamiro,
ResponderExcluirMoro atualmente fora do Brasil e tenho acompanhado à distância, e graças aos Blogueiros e à internet, as atualidades políticas e culturais do Brazil. Graças à essa façanha da blog-esfera Brasileira no fortalecimento da mídia alternativa, pessoas como eu podem se manter atualizadas sem ter que se submeter, e na verdade à contragosto, da agenda política da grande mídia. Com interesse especial tenho acompanhado também o 'Encontro dos Blogueiros Progressistas', razão pela qual resolvi compartilhar uma fonte que, acredito, pode colaborar com o papel democratizador da informação exercido pelo blogs.
Clay Shirky, autor e pesquisador sobre internet e mídia social, no seu livro Here Comes Everybody: How Change Happens When People Come Together, [Aí vem todo mundo: Como as mudanças acontecem quando as pessoas se unem*] editado pela Penguin Books (2008) anuncia uma revolução em todo campo institutional de nossas sociedades. E só é uma revolução, como ele mesmo diz, se alguém sair perdendo. Em relação à realização de tarefas e resolução de problemas, essa mudança, que já está em andamento, vai minar o poder de instituições hierárquicas e enrigecidas e emponderar grupos cooperativos frouxamente associados. Acho que vale à pena conferir a utilidade para o contexto de luta dos blogs Brasileiros. O sítio de palestras TedTalks.com disponibiliza uma apresentação do autor para download. Com legendas em português a palestra Institutions versus Collaboration (aqui) resumi bem os assuntos tratados no livro.
Estudando a revolução causada pelas novas tecnologias nas instituições em geral, Shirky aponta o jornalismo como uma das classes onde a mudança é mais evidente. Ele, analiza, por exemplo, a intercessão entre a 'blog-esfera' e o jornalismo, e a questão do blogueiro ser, ou não, um jornalista, sendo que para ele essa não é a questão mais importante. Para ele, importa mais entender como, por meio de baixo custo e novas tecnologias, a 'amadorização' na veiculação de informações termina por extrapolar a exclusividade da classe profissional. Achei dois de seus insights muito válidos, não só para os blogueiros, mas para todos os progressistas.
Primeiramente, no tocante ao jornalismo, a queda radical dos custos operacionais e a maneira como as mídias sociais mudam o cenário, Shirky afirma que essas novas tecnologias invertem o padrão 'filtre primeiro e publique depois', para o 'publique primeiro e filtre depois'. Em sua análise, essa mudança tira das mãos dos 'grandes' editores o poder de decisão sobre o que é pauta (ou ao menos o relativiza), e passa a valorizar o julgamento do leitor, na medida em que este, por meio dos blogs, começa a redefinir a pauta da grande mídia. Um viés inovativo para o entendimento das mudanças tão faladas atualmente. Uma leitura genial e bem instrutiva, valendo, portanto, para todas as pessoas interessadas em desenvolver e aprimorar padrões mais cooperativos e horizontais de ação coletiva.
Outro insight importante é o papel dos novos meios de comunicação social na alteração dos padrões de formação, manutenção e operação de grupos sociais. Os novos meios, facilitando a o compartilhamento de informações, a cooperação e a ação coletiva, interferem no equilíbrio entre a abordagem institutional, inerentemente exclusiva, segundo ele, mas predominante até o momento e a abordagem colaborativa, mais democrática, mas até recentemente desprovida de tecnologias que a apoiassem.
Shirky, no entanto, alerta que "a questão aqui, não é que 'isso é maravilhoso' ou que vamos ver uma transição de abordagens exclusivamente institucionais para abordagens exclusivamente cooperativas. Vai ser muito mais complicado que isso. Mas o ponto é que será um reajuste maçivo. E já que podemos vê-lo com antecedência e sabemos que está chegando, meu argumento é essencialmente: nós podemos muito bem nos preparar melhor para ele".