terça-feira, 1 de junho de 2010
Contra a Bolívia, Serra vira Bush
Frustrada a jogada marqueteira do “Serrinha paz e amor”, o presidenciável demotucano resolveu assumir de vez a postura de candidato da direita. Mais realista do que o rei, ele vestiu a modelito do ex-presidente George Bush, que difundiu 932 mentiras – entre elas, a de que o Iraque possuía armas químicas e bacteriológicas – para justificar a invasão daquela nação rica em petróleo. Para agradar a direita brasileira e estadunidense, José Serra decidiu bombardear a sofrida Bolívia.
De forma leviana, o Bush nativo atacou: “Você acha que a Bolívia iria exportar 90% da cocaína consumida no Brasil sem que o governo de lá fosse cúmplice? Impossível. O governo boliviano é cúmplice”. O ex-governador paulista, cúmplice do consumo aberto de crack nas ruas centrais da capital, mentiu descaradamente. Ele sabe que o maior produtor mundial de cocaína é a Colômbia (50,8%), seguida do Peru (35,7%). Mas preferiu ser cúmplice do aliado colombiano, o direitista Álvaro Uribe, acusado de vínculos com a narco-terrorismo.
O exterminador da política externa
A mentira do demotucano não se deu por descuido ou para criar mais um incidente diplomático – um mês antes, ele já havia dito que o Mercosul “é uma farsa”. Essas bravatas têm objetivos bem calculados. Como afirma Marco Aurélio Garcia, assessor do governo Lula, “Serra está tentando ser o exterminador do futuro da política externa”. O seu intento é atrair o apoio dos setores mais retrógrados da sociedade brasileira, contrários ao Mercosul, aos governos progressistas da região e ao projeto de integração soberana da América Latina.
Serra também tenta ganhar a confiança – e o apoio, aberto e camuflado – do governo dos EUA. A secretária Hillary Clinton, que parece mandar mais do que o fraco Barack Obama, está muita irritada com a postura do Brasil na negociação do acordo de paz com o Irã. Ela também chiou diante da posição brasileira que condenou enfaticamente o golpe em Honduras, no ano passado. Os EUA discordam das relações fraternais do Brasil com os governos da Bolívia, Venezuela ou Cuba. José Serra quer se cacifar como o candidato do imperialismo na disputa de outubro.
Direita serviçal do império
Como já apontou o jornalista Bernardo Joffily, do sítio Vermelho, José Serra utilizou esta mesma estratégia eleitoral no pleito de 2002. “O presidenciável do PSDB-DEM tem uma antiga fixação contra os vizinhos do Brasil. Quando ele tentou pela primeira vez a Presidencia, em 2002, usou como bordão a ‘ameaça’ de que ‘o Brasil pode virar uma Argentina ou uma Venezuela’. Até o jingle da sua campanha dizia que ‘não vou ser outra Argentina’”. Só que ele se deu mal!
A direita brasileira, cujo PSDB é sua expressão partidária, não tolera a atual política externa. Ela sempre pregou o “alinhamento automático com os EUA”, promovido de maneira servil – tirando os sapatinhos – pelo governo FHC. Ela nunca escondeu o seu ódio aos governos progressistas de Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa ou Raul Castro, taxando-os de “ditaduras”, mas foi cúmplice do golpe em Honduras e criticou o abrigo brasileiro ao presidente deposto Manuel Zelaya. Os demo-tucanos também tentaram sabotar o ingresso da Venezuela no Mercosul.
Orquestração com a mídia colonizada
A ofensiva do Bush brasileira também é articulada com a mídia nativa, que mais se parece com uma sucursal rastaqüera do império. Não por mera coincidência, na mesma semana em que José Serra atacou a Bolívia, a revista Veja publicou nova “reporcagem” contra Evo Morales. Semanas antes, ela já havia destilado veneno racista contra os bolivianos. Agora, confirmou as mentiras do demotucano sobre o tráfico de cocaína. No mesmo rumo, a Folha de S.Paulo estampou no título “PF avaliza visão de Serra sobre a Bolívia”, requentando documentos antigos da polícia federal.
Como afirma o jornalista Luis Nassif, as obviedades da campanha tucana são de cansar. “Serra dá o tiro na Bolívia. Aí a Veja aparece com a matéria prontinha, mostrando o perigo boliviano. Daqui a pouco vão ressuscitar os 200 mil guerrilheiros das Farc que invadirão o Brasil pelo mar... Onde esse pessoal está com a cabeça? Criaram um mundo circular em que meia dúzia de neocons fala para eles próprios sem se dar conta do entorno. É um autismo assustador”.
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