sábado, 19 de junho de 2010

Homenagens do MST a José Saramago

Reproduzo mensagem de João Pedro Stedile e poema de Ademar Bogo, dirigentes do MST:

A partida de nosso amigo Saramago!

A literatura universal e portuguesa, em especial, perde seu patrono maior. Samarago projetou como ninguem a beleza de nosso idioma em seus contos e ensaios. Como militante social, soube refletir no seu primeiro livro a tragedia do camponês português, "Plantados do chão", na luta para ver a terra dividida.

O MST teve o privilégio e a honra de ter seu envolvimento militante, quando somou-se ao projeto de Sebastiao Salgado e Chico Buarque, e nos ajudou a difundir com sua letra a exposição “Terra”. E graças aos livros e fotos dos três, pudemos iniciar a construção de nossa escola nacional. Seremos sempre gratos à sua solidariedade.

Pessoalmente, sinto-me extremamente lisonjeado por ter podido conhecê-lo. Deixou um legado enorme na literatura, na militancia e no compromisso com as causas justas. Por isso será eterno (João Pedro Stedile).

Suspiros Lusitanos (Ademar Bogo)

Se um suspiro, leve e lusitano

Zumbir nas almas das nações imensas

É o comunista que para além das crenças

Silenciosamente da vida física se dispensa.

Vai pessoalmente viver a eternidade

E olhar de perto na tez do criador

Que pelas criaturas foi subjugado

E obrigado a justificar o horror.

Irá verificar que as guerras entre os deuses não existem

Pois são apenas conflitos da existência

Que os homens criam e põe-se a conflitar

Pedindo a Deus que tome providências.

E faça sempre o mais forte vitorioso

Abençoado pelas cruéis vitórias

Para deixar nos livros registrados

Os escritos que reflitam a superior memória.

Tudo o que disse são sobre os seus dilemas

Ficam como dizeres formulados

Se não dava nem acreditava em conselhos

É porque queria vê-los por conta experimentados.

Os próprios passos seriam os conselheiros

E os conselheiros caminhantes e aprendizes;

Se os erros deveriam ser experiênciados

Com os acertos formariam matrizes.

Era a crença de um apaixonado

Que a si mesmo o saber se concedeu

Porque acima de todas as verdades

Acreditava que não existe o absoluto ateu.

Por sobre as oliveiras e as corticeiras

Versos e letras irradiarão verdades

A qualquer tempo virarão consciências

E viverás nos povos em forma de saudades.

Assim abrimos o tempo enlutado

Para purgar a dor do prejuízo humano

Se no passado choramos escravizados

Hoje, nossos suspiros também são lusitanos.

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