quinta-feira, 24 de junho de 2010

Marina ajuda Serra, com apoio da mídia



Reproduzo artigo de Maurício Dias, publicado na revista CartaCapital:

A imprensa tenta oxigenar a candidatura de Marina Silva (PV), que patina em torno de 10% em todas as pesquisas mais recentes de intenção de voto.

Cresce a convicção, no meio político, de que, sem ela no páreo, Dilma Rousseff (PT) poderia ganhar a eleição presidencial de José Serra (PSDB) ainda no primeiro turno.

O interesse da mídia pela candidatura de Marina sustenta a confiança nessa convicção. Não se pode acreditar que os jornais, tomados pela fé democrática, ajam somente para estimular a competição eleitoral.

Nas circunstâncias atuais, não há dúvida: o eleitor de Marina dará um voto para Serra. É um efeito colateral dessa decisão, um antídoto contra Dilma.

Mas, seja como for, a democracia exige respeito à escolha do eleitor. Cada um vota como quer. É preciso, no entanto, conhecer os efeitos políticos do voto.

Marina pode vir a ser um obstáculo para Dilma e, em conseqüência, linha auxiliar – involuntária, admita-se – de Serra. Neste momento, ela se coloca exatamente entre os dois: critica Dilma acidamente e, suavemente, critica Serra. Nessa posição pode ser facilmente triturada ao longo dos debates polarizados.

Em 2006, embora não houvesse o viés plebiscitário de agora, a disputa foi para o segundo turno em razão da dispersão do voto progressista: Heloísa Helena (PSOL) obteve 6,85% e Cristovam Buarque (PDT), 2,64%. Ambos partidariamente à esquerda do espectro político. Faltaram a Lula, que buscava a reeleição, um pouco mais de 1 milhão de votos para ganhar no primeiro turno. Isso, percentualmente, significou 1,39% dos votos válidos.

A história eleitoral brasileira tem exemplos parecidos, que favoreceram a vitória de candidatos conservadores.

Um dos casos mais traumáticos para a esquerda foi a conquista do governo do novo estado da Guanabara pelo udenista Carlos Lacerda, em 1960. Ele obteve uma vantagem apertada sobre Sérgio Magalhães (PSB), de 2,6%. A derrota é atribuída à participação de Tenório Cavalcanti no pleito. Influente na Baixada Fluminense, Tenório, fatalmente, tirou votos certos de Magalhães.

Afinal, os pobres, por episódios como o do incêndio (provocado?) na praia do Pinto, na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio, e a matança de mendigos que apareceram boiando no rio da Guarda, na Baixada Fluminense, estavam escabreados com o lacerdismo. Os dois episódios foram parar na conta da administração Lacerda. Se não era verdade, a versão superou o fato.

Uma parte desse voto da turma do Brasil de baixo migrou para Tenório Cavalcanti, que tinha apoio do Luta Democrática, um influente jornal popular na ocasião. Seriam, naturalmente, votos de Sérgio Magalhães. Lacerda ganhou por isso.

A polarização hoje tende a ser maior e pode desidratar os votos que estão à margem do confronto PT versus PSDB. Além de Marina, há dez outros postulantes que, somados, não alcançarão mais do que 3% dos votos. É o cálculo que fazem os institutos de pesquisa. Se o porcentual de Marina não minguar, haverá segundo turno.

Esse viés plebiscitário que Lula sempre buscou e que a oposição sempre temeu deve estimular o eleitor, em outubro, a evitar a cabine eleitoral pela segunda vez.

Mesmo sem o uso de uma bola de cristal é possível prever a volta da campanha pelo voto útil, estimulada pelos petistas.

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5 comentários:

  1. Grande Altamiro
    Nessa mídia, deve-se incluir o DEMO Marcelo Tass, descaradamente puxando a brasa para a sardinha da Marina no último CQC ao dizer que ela, desconhecida de 50% da população já tinha 15% de intenções de voto nas pesquisas.
    E repetiu isso umas tres vezes.
    E o pior é que ele consegue enganar alguns bem informados eleitores.
    Mas, se Deus quiser, Dilma lá
    Abraços
    Zécarlos

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  2. O pior de tudo é que o Brasil tá olhando essa eleição de forma polarizada. Ou Serra ou Dilma.

    O problema é que Marina é reconhecida por menos da metade da população brasileira. Se está com 10%, 12%, 15% (como mostram algumas pesquisas) é um grande sinal. Menos de 50% do país a conhece, mas mesmo assim 10-15% vota nela! O que proporcionalmente daria em média 30% se todo mundo a conhecesse!

    Não vejo eleição de forma polarizada. Voto em quem acho que realmente possui os melhores projetos e o desenvolvimento econômico sustentável é o desafio deste século. Já começou a ser implantado em vários países e o Brasil, pela reserva natural que tem, já devia ser um dos países mais avançados em tal. Não é radicalismo nem coisa do futuro, pelo contrário, é coisa do mais presente possível. Pelo que o país possui, talvez ainda seja uma das alternativas mais baratas e conscientes de desenvolver (ordenadamente) a economia.

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  3. A candidatura da candidata do PV é legítima e deve ser tratada como tal. Dois comentários:(1) A candidatura da Marina Silva deve "tirar" votos dos dois candidatos - Dilma e Serra(2) Assumindo que a candidatura da Marina Silva "tire" votos, esses mesmos votos serão "repostos" aos 2 candidatos. Faz parte do jogo democrático.

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  4. Sei não! A semelhança dos pronunciamentos dela com os de Serra dá até pra desconfiar que ela vai ser vice de Serra.

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  5. Eleição polarizada é bom só para os 2 principais candidatos. Só.
    Acho que os eleitores deveriam pensar mais no que realmente é melhor para as pessoas do Brasil, não para o que é melhor para a candidatura de X ou de Y.
    Luana

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