quarta-feira, 28 de julho de 2010

Dilma Rousseff e os erros do já ganhou

Reproduzo artigo de Wladimir Pomar, publicado no sítio Correio da Cidadania:

Parece predominar em diferentes áreas da campanha da candidatura Dilma, inclusive no PT, a suposição de que a disputa está ganha e a vitória eleitoral é certa. Afinal, Lula tem a aprovação de 85% da população, 10% são neutros e apenas 5% são contra. Como admitir que sua candidata não seja eleita?

Com base nisso, nos círculos aliados do PT discute-se não a campanha, mas a participação no próximo governo. Grupos de pressão, ou lobbies, formam-se por todos os cantos, na perspectiva de loteamento de cargos nas empresas estatais, ministérios e outras agências governamentais. Cria-se um ambiente de já ganhou, que é um caminho batido para a derrota, porque desarma a estratégia de campanha e abre campo para erros infantis.

Desde os tempos antigos sabe-se que a vitória não é resultado dos méritos do vencedor, mas dos erros do derrotado. Isto é válido tanto para a arte militar quanto para a arte política. E um dos principais erros que se pode cometer, ao ir para uma batalha, mesmo que eleitoral, é supor que a vitória está garantida, que o adversário usará as mesmas táticas de sempre e que, portanto, não será preciso um esforço extra para derrotá-lo.

Um exemplo recente, na área do futebol, tão cara para nós, foi o da Holanda no jogo contra o Uruguai. A Holanda entrou em campo supondo que o time uruguaio usaria as mesmas táticas de seus jogos anteriores. Onze entre cada dez analistas esportivos juravam de pés juntos que o Uruguai havia chegado às finais por um desses caprichos da sorte. Além disso, como mudara seis jogadores para aquela partida decisiva, isso deveria tê-lo enfraquecido ainda mais. Certeza absoluta de uma vitória acachapante da Holanda.

Pelo desempenho visto em campo, o time uruguaio deve ter estudado em detalhe o time holandês e seus pontos fortes e fracos. E entrou em campo com uma tática totalmente diferente, e uma disposição de luta de dar inveja aos brasileiros, que antes dos paraguaios haviam pensado ter o jogo ganho e o perderam de cabeça baixa. A Holanda teve que suar a camisa e só venceu porque os uruguaios, apesar de tudo, cometeram alguns erros fatais nas finalizações a gol.

Seria útil que o PT e seus aliados voltassem a assistir ao vídeo da partida entre Holanda e Uruguai, colocando-se na visão da Holanda, e aproveitassem as lições desse jogo para reorganizar sua campanha presidencial. Afinal, neste primeiro tempo de campanha, quando a maioria dos analistas considerava que a candidatura Dilma já deveria ter entrado numa curva firme de subida, ela continua empacada num inconfortável empate técnico, menos pelos acertos do adversário do que pelo que parecem ser fraquezas de sua campanha.

Se a campanha Dilma permitir que os lobbies do já ganhou continuem prosperando, isso certamente paralisará as atividades que são fundamentais em qualquer campanha eleitoral: o contato direto, diário, incansável, com as principais camadas populares do eleitorado. Se ela não subir os morros e não andar nas periferias das capitais e grandes cidades do país, não visitar as palafitas nordestinas e amazônicas, não for às aglomerações humanas do interior, ou seja, não fizer aquilo que Lula fez, e bem, em praticamente todas as campanhas em que participou, ela estará cometendo não apenas um erro tático.

É lógico que Dilma não é Lula. Mas, isso talvez não seja um argumento que reduza aquela necessidade. Ao contrário. Se ela pretende que haja uma transferência de peso da popularidade do presidente, terá de ampliar ainda em maior escala as atividades relacionadas com uma agenda de contatos diretos com o povão, aquilo que se costuma chamar de corpo a corpo. Para não cometer erros fatais, teria que reduzir os contatos com os lobbies do já ganhou para 5%, no máximo.

Além disso, a candidatura Dilma parece estar presa a uma agenda positiva inflexível. Isto é, não é um erro ter uma agenda positiva, na qual o centro consista em apresentar as propostas para continuar avançando nas políticas implementadas pelo governo Lula, em especial aquelas relacionadas com crescimento econômico, ampliação da infra-estrutura, redistribuição de renda, reformas na educação e na saúde, combate à corrupção etc. No entanto, ficar amarrada a isso não basta, pelo simples fato de que Serra e Marina estão dizendo a mesma coisa, e pelo fato de que há muitos problemas ainda não resolvidos.

Nessas condições, se a agenda positiva não tiver flexibilidade para enfrentar positivamente os problemas existentes, principalmente aqueles relacionados com a vida do povo, deixando-os sem proposta, nem firmeza positiva diante dos ataques dos adversários, deixando-os sem resposta, isso certamente terá reflexos negativos em segmentos consideráveis do eleitorado, porque os adversários estão com o mesmo discurso e acrescentando a ele a crítica a problemas não resolvidos.

Apresentar-se como continuação do presidente Lula pode ser positivo, mas talvez isto precise de algo mais para conquistar corações e mentes. Se não forem apresentadas propostas concretas para corrigir a política de juros altos, reduzir os tributos das pequenas e micro-empresas, melhorar a segurança pública, só para citar alguns exemplos, aquele diferencial pode ser insuficiente.

Se não houver empenho em mostrar que os problemas existentes são a herança dos governos anteriores a Lula, que a candidatura Marina não tem sentido, se ela pretende ser um papel carbono do governo Lula, e que os ataques terroristas da campanha Serra mostram sua verdadeira natureza política, só para citar alguns outros exemplos, aquele diferencial também será insuficiente.

Se a campanha Dilma continuar no segundo tempo na mesma linha do primeiro tempo, talvez tenha a mesma surpresa da seleção brasileira no enfrentamento com a Holanda. Até hoje os jogadores não sabem direito o que ocorreu.

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3 comentários:

  1. Excelente texto. Espero que a Dilma leia. Torço pelo Brasil, claro!
    @arielssnt

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  2. Dilma e as Polianas
    (publicado no "Amálgama")

    Uma polêmica recente dividiu os apoiadores de Dilma Rousseff. De um lado estavam aqueles que não viam problemas na condução da sua pré-campanha; de outro, seus críticos, acusados de reciclar o conteúdo da mídia corporativa e de fornecer argumentos para os adversários.
    A confusão é típica do momento. O ambiente indefinido em que está mergulhada a sucessão ajuda a alimentar certa angústia na militância. As quatro principais pesquisas de intenção de voto apresentam resultados diferentes, mas igualmente aceitáveis, a depender da preferência metodológica do observador. Não há movimentos estratégicos de grande visibilidade a empreender até que a campanha seja inflamada pelos horários gratuitos, no período que coincide com o final da Copa do Mundo de futebol.
    E os dois lados têm suas razões.
    Ninguém seria ingênuo a ponto de negar que a grande imprensa posiciona-se abertamente a favor de José Serra. Como ela é a principal origem das informações sobre a suposta crise na campanha de Dilma, há motivos para suspeitas. De fato, numa fase em que os partidos disputam alianças, a divulgação de que a petista enfrenta problemas vem a calhar para Serra. A expectativa de vitória atrai ou afugenta não apenas legendas menores e sem definições ideológicas, mas também boa parte do eleitorado indeciso. Por isso o PSDB investiu tanto em propaganda nos meses anteriores à desincompatibilização do ex-governador.
    Não surpreende constatar, portanto, que muitas dificuldades atribuídas à candidata governista foram inventadas, distorcidas ou descontextualizadas. Na mesma medida, os equívocos de Serra desapareceram das coberturas. Parece que ele passeia, desenvolto, rumo à vitória inevitável. E, claro, a ilusória tranqüilidade contribui para sua nova imagem conciliadora.
    Mas os defensores radicais da campanha dilmista cometem três equívocos de avaliação. Primeiro, assimilam a ilusão de que são indestrutíveis e, pior, inatacáveis: quem lhes faz o favor de apontar seus defeitos é tratado como inimigo figadal. Em seguida, jogam os problemas para colos alheios. Ou seja, as Polianas não admitem que a campanha de Dilma esteja em crise, mas se revoltam contra a inatividade do partido, quando, por exemplo, ele deixa de recorrer aos tribunais eleitorais. E, finalmente, se fecham nessa redoma de auto-suficiência e otimismo inabaláveis, rechaçando não apenas críticas, mas principalmente as contribuições externas.
    Apenas essa postura infantil já demonstra que algo não vai bem na campanha de Dilma Rousseff. Sua vitimização passiva e ingênua leva à armadilha da auto-indulgência. De repente acreditamos que todas as pesquisas desagradáveis são mentirosas, que a pré-candidata não tem dificuldades de empatia e oratória, que os coordenadores políticos e de comunicação trabalham em plena sintonia, que ela está cercada de profissionais competentes e que os seus eventuais deslizes são invenções de malvados comentaristas tucanos.
    A história mundial do sufrágio está repleta de eleições perdidas que um dia pareceram muito mais fáceis do que a imprevisível batalha de Dilma contra os poderes financeiros e midiáticos.

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  3. Se existisse uma forma seguro de não perder eleição, toda ela terminaria empatada. Acho correta a forma de como está sendo vendida a candidatura da Dilma, como continuidade do governo Lula e da base de apoio no congresso. Não apenas o PT estará no governo, mas toda a base aliada. Os chamados radicais do PT há muito tempo já não estão no partidos, desembarcaram quando o pragmatismo de Lula, Dirceu e outros começaram a render votos e frutos para a nação.
    Quanto a direita, com a perda desta eleição é que ela se transforme em furiosa extrema direita, se atualmente já não o é.

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