segunda-feira, 26 de julho de 2010

Serra chefiará a oposição de direita?

A revista IstoÉ desta semana traz uma longa reportagem sobre a “tática do medo” adotada pela campanha do tucano José Serra. Entre outras contribuições, ela afirma que os recentes ataques rancorosos e direitistas do candidato a vice, Índio da Costa, não foram gratuitos, decorrentes da infantilidade do jovem demo, já apelidado de “indiota”. A revista garante que “o comando da campanha de José Serra colocou o medo no centro da disputa presidencial”, e apresenta provas:

O “teste” desta tática teve início com as acusações levianas de que o PT seria ligado às Farc e ao narcotráfico. “Num primeiro momento, lideranças partidárias passaram a idéia de que Índio era apenas uma voz isolada, além de descontrolada e inconseqüente. Aos poucos, porém, foi ficando claro que ele cumpria um script previamente combinado. Muito bem orientado pelos caciques do PSDB e DEM, o vice de Serra servia de ponta de lança para uma estratégia de campanha: o uso da velha e surrada tática do medo”, relatam os jornalistas Alan Rodrigues e Sérgio Pardellas.

“Tática do medo” é planejada

Segundo apurou a revista, pesquisas quantitativas feitas pelo comando demotucano confirmaram que seria um erro atacar o presidente Lula, que “está acima do bem e do mal”. Mas elas também indicaram que “setores do eleitorado brasileiro ainda teriam restrições à ‘turma ligada ao Lula’... Em seis pesquisas, quando consultados sobre temas espinhosos como radicalismo e corrupção, os eleitores invariavelmente apontavam a culpa para setores “em torno” de Lula. A turma é que não seria boa”. Daí a tática do medo, de satanizar o PT, as esquerdas e a candidata Dilma Rousseff.

Esta linha agressiva deverá prosseguir e se radicalizar na campanha. Tanto que o PSDB, o DEM e o PPS não recuaram diante das críticas à violenta direitização. O “indiota” até saiu de cena por alguns dias, mas já voltou à carga. “Já há vários indícios de ligação do Comando Vermelho com as Farc. O PT e as Farc, as Farc e o narcotráfico, o narcotráfico, o Rio de Janeiro e o Comando Vermelho, com indícios muito claros de relacionamento. Ela (Dilma) tem que dizer o que acha”, esbravejou Índio da Costa, que deveria ser processado e ter sua candidatura cassada de imediato.

Vestindo o figurino direitista

O pior é que as bravatas fascistóides do “indiota” foram abonadas pelo próprio José Serra, o que sinaliza qual será o nível desta campanha. “Há evidências mais do que suficientes do que são as Farc. São seqüestradores, cortam as cabeças de gente, são terroristas. E foram abrigados aqui no Brasil. A Dilma até nomeou a mulher de um deles”, declarou o candidato, num discurso que joga no lixo o pouco que ainda restava da sua questionável história. No mesmo rumo, o senador Tasso Jereissati rosnou: “Lula é chavista. Ele pretende fazer aqui neste país uma ditadura populista, em que vai se cerceando os espaços de todo mundo e ficando só o seu espaço de poder”.

A revista IstoÉ mostra que a “tática do medo” não é nova, nem aqui nem fora do país. Nos EUA, a candidata republicana a vice, Sarah Palin, abusou desta retórica ao afirmar que Barack Obama dissolveria as famílias e implantaria o socialismo. No Brasil, na eleição de 1989, Collor de Mello alertou que Lula confiscaria a poupança – depois, ele aplicou o golpe – e Mario Amato, então presidente da Fiesp, afirmou que “800 mil empresários deixariam o país”. Em 1994, FHC disse que sua derrota representaria o fim do real e a volta da inflação. Já em 2002, no fiasco de Serra, a atriz Regina Duarte cumpriu o papel deprimente ao lançar o bordão “Eu tenho medo”.

Líder da oposição golpista?

A revista até faz um alerta. “Um retrospecto histórico mostra que a tática do medo, colocada em curso pela campanha tucana, funcionou na volta do país à democracia, mas não tem dado certo num Brasil mais maduro. Levado a cabo nessa eleição, o vale-tudo eleitoral pode, mais uma vez, significar o suicídio da campanha tucana”. Ela lembra que em 2002, o próprio José Serra, então candidato de FHC, lançou mão deste artifício e atacou “as invasões ilegais e as ligações com as Farc”. Mas se deu mal. Especialistas ouvidos pela IstoÉ também reforçaram esta advertência.

Mesmo assim, o comando demotucano insiste nesta linha. Qual seria a razão? Do ponto de vista eleitoral, as pesquisas mais recentes, realizadas já no clima da “tática do medo”, apontam para o crescimento de Dilma Rousseff e a estagnação de José Serra. O “teste” indicaria o erro desta tática. Fica, então, a possibilidade de uma nova hipótese. Já prevendo o fiasco nas urnas, Serra estaria se cacifando para liderar a oposição de direita no país. Sem espaços em São Paulo, onde o traído Geraldo Alckmin tende a se vingar caso seja eleito governador – não cedendo nem uma salinha no Palácio dos Bandeirantes –, caberia a Serra o papel de líder da oposição golpista. A conferir!

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Um comentário:

  1. Meu caro, o impacto pode não ser significativo, mas há. Ainda tem aqueles que não estão certos de que isso não passa de um golpe, mas optam pela candidatura Dilma por causa do LULA. Lula faz a diferença. Muita gente não tem acesso à internet e confiam ou tendem a confiar na mídia. Tipo: "onde há fumaça..."
    Mas o que colabora efetivamente para o seu pensamento é que não há muito o que ser feito por lá senão marcar uma posição para o futuro, se é que há futuro para eles. A direita, depois de Maluf e do Antonio C. Magalhães perdeu o seu referencial. Serra pode estar reivindicando isso.

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