segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Imprensa brasileira “sai do armário”

Reproduzo artigo de João Humberto Venturini, publicado no Observatório da Imprensa:

A expressão "sair do armário" virou moda depois que o cantor e ex-menudo Rick Martin assumiu ser gay. Não é objetivo deste artigo discutir sobre o preconceito, muito menos o cantor. Essa expressão representa que alguém se assumiu, ou simplesmente "tirou a máscara", ou seja, revelou aquilo que todos já sabiam. Com a grande imprensa brasileira aconteceu a mesma coisa quando, há algumas semanas, a presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e executiva do jornal Folha de S.Paulo, Maria Judith Brito, deu a seguinte declaração ao jornal O Globo:

"E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada."

Essa frase representa o que muitos já sabiam, ou seja, que a grande imprensa no Brasil se tornou um verdadeiro partido político. Os principais membros desse partido são controlados por famiglias poderosas, como Abril (Civita), Estado (Mesquita), Folha (Frias) e Globo (Marinho). Esse partido da imprensa, que é chamado também de PIG (Partido da Imprensa Golpista) na internet, atua geralmente como porta-voz da oposição e, ás vezes, como um partido apêndice destes. Ora a imprensa reverbera e apóia incondicionalmente todas as acusações da oposição ao governo Lula (atuando como porta-voz desta), ora escandaliza qualquer coisa e produz factóides para a oposição explorar, fazendo assim uma "dobradinha" oposicionista (atuando como partido apêndice).

Escândalos são exclusividade do PT

Antes de Lula ser eleito, a imprensa apoiou o governo tucano durante os oito anos do "reinado FHC" e já era partidária, mas ainda não agia como um partido. Depois da eleição e reeleição do presidente Lula começou a radicalização e transformação do partido da imprensa. Ficaram decepcionados por a oposição PSDB/PFL (atual DEM) não ter dado o golpe e tirado Lula do poder em 2005.

Fazer papel de oposição não é função da imprensa em um regime democrático, pois investigar as ações de um governo não significa manipular informações e mentir para beneficiar um grupo político. Infelizmente, é isso que a imprensa faz, pois usa pesos e medidas diferentes no campo político. No Brasil, as notícias a serem destaques e a produzir escândalos referem-se quase exclusivamente ao PT. Mesmo com o atual escândalo envolvendo o "ex"-partido de Arruda, o PFL (vulgo DEM), a mídia restringiu o escândalo ao "DEM de Brasília". O resto do partido "não sabia de nada" e o fato de ele ser preterido na chapa com José Serra nunca é lembrado pela imprensa. O que não ocorreria se ele fosse possível vice de Dilma Rousseff (PT), por exemplo. Mesmo no caso do chamado "mensalão do PT", quando viu que o operador Marcos Valério tinha feito o mesmo esquema com o PSDB de Minas Gerais anos antes, a mídia perdeu o interesse no assunto e chamou o caso de "mensalão mineiro" e não de "mensalão tucano".

Exemplos evidentes de partidarização

Atualmente, o partido da imprensa anda preocupado e nessas eleições vai jogar todas as cartas para eleger seu candidato, José Serra (PSDB). O terreno vem sendo preparado desde que Serra se elegeu governador do estado, descumprindo o compromisso público de não deixar a prefeitura de São Paulo. A mesma mídia que diz "investigar" minúcias do governo federal não tem nenhum empenho em investigar as ações dos governos estadual e municipal de São Paulo. Um exemplo didático é como foi retratada a tragédia causada pelas chuvas aqui, pois para a mídia a culpa foi exclusivamente das chuvas e de São Pedro. Já no Rio de Janeiro, a culpa foi inteiramente do governo federal, como mostram duas recentes capas da "revista" Veja.

Logicamente que tudo isso não é culpa somente das chuvas, mas também por ocupações irregulares (tanto de pobres como de ricos), lixo, falta de fiscalização e falta de políticas públicas voltadas para habitação e infra-estrutura por parte dos governos municipal, estadual e federal. É uma ação conjunta e o que ocorre hoje é resultado também da omissão dos governos anteriores. Ou seja, a imprensa fez o jogo político em cima desses fatos, quando que era para cobrar de todos os governantes.

A radicalização do partido da imprensa se intensificou após verem que a candidata Dilma havia crescido bastante nas pesquisas eleitorais e convocaram um fórum sobre "democracia e liberdade de expressão" por um tal de Instituto Millenium. O evento reuniu os principais representantes desse partido e foi realizado em um hotel de luxo e quem se inscreveu desembolsou R$ 500 para ouvir figuras como o blogueiro, colunista e assessor de imprensa tucano da "revista" Veja Reinaldo Azevedo e o verdadeiro cheerleader tucano da televisão, Arnaldo Jabor. Ali, o partido praticamente revelou as diretrizes a serem seguidas nessa campanha eleitoral e despejou os chavões mais delirantes e paranóicos.

Disseram que o PT era o partido a ser combatido porque é contra a liberdade de imprensa e também alertaram para o perigo (será que vão chamar de novo a Regina Duarte para propagar o medo?) de a Dilma implantar um "regime stalinista" no país. Para eles, a liberdade só virá com Serra e disseram que festejarão quando ele ganhar. Jabor expôs o verdadeiro stalinismo quando disse que o "pensamento de uma velha esquerda não deveria mais existir", ou seja, essa é a liberdade de imprensa que ele, seu patrão e colegas de partido querem e praticam hoje no Brasil. É aquela que censura a diversidade de opiniões cerceando a liberdade de expressão que tanto falam, mas na verdade desprezam. Aliás, eventos parecidos com este foram feitos pela mesma imprensa antes do golpe de 64, o que revela a face golpista destes. Até o momento vários exemplos da partidarização midiática estão cada vez mais evidentes nas revistas, jornais, rádios e televisão.

Politização de institutos de pesquisa

Começo com a jornalista da Folha, Eliane Catanhêde, que estava super animada e empolgada no lançamento da candidatura do Serra. Em um vídeo que ela gravou para o site da Folha mostra bem isso. Nele, ela diz que a festa tucana estava tão cheia de gente, que parecia um partido de "massas". Mas, segundo ela, um alto membro do tucanato disse que era uma "massa cheirosa"! Ou seja, o PSDB é o partido da massa cheirosa. Ela, no mínimo, fez as palavras do suposto tucano as dela e expôs todo o preconceito de classe não só pessoal, mas do partido que representa.

Os jornalões paulistas, Estadão e Folha, são tão tucanos que até nas brigas internas do partido eles são usados para mandar recado. Faz uns dois anos, o jornal Estado de Minas e o Estadão trocaram ofensas em editoriais porque um ofendeu o governador do estado do outro, no caso Serra e Aécio. Recentemente, a Folha (porta-voz de Serra) e o Estadão (porta-voz de FHC) também fizeram algo semelhante como em relação a Serra supostamente não querer comparar o governo FHC e Lula.

Outro exemplo foi a briga dos institutos de pesquisa, quando o Datafolha se destacou pela discrepância dos seus resultados com outros dois institutos, o Sensus e o Vox Populi. O pior foi o Datafolha atacar diretamente seus concorrentes com várias acusações e parece desesperado para fazer a candidatura Serra alavancar de vez. Isso expôs como esses institutos são usados politicamente e podem ser manipulados, mas é difícil imaginar que a pesquisa do Vox Populi, que foi encomendada pela Bandeirantes (do âncora Boris Casoy), tenha sido manipulada para beneficiar a Dilma. Não dá para acreditar que, de repente, Boris Casoy e cia. aderiram ao lulismo. Já o Ibope, que é da Globo, vai fazer a dobradinha com o Datafolha na campanha para o Serra.

"Independência" e censura prévia

Para finalizar os exemplos, o vídeo da recente propaganda da Rede Globo que foi ao ar no último domingo, 18/04/10. É muita "coincidência" que o slogan da propaganda da emissora seja idêntico ao slogan lançado pela campanha do Serra ("o Brasil pode mais") e ainda no final ter o número 45 representando o tempo de sua existência parecidíssimo com o 45 da legenda tucana. Deve ser uma coincidência pelo fato de Serra ter feito "acordo" com a Globo sobre o terreno público que a emissora usou durante 11 anos como privado, com a construção de uma escola técnica de áudio e vídeo. Ou também pelo fato do pupilo de Serra, o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, ter vetado a proposta que mudava os horários dos jogos em São Paulo. E agora, os tucanos deram mais um presente para a emissora, assinando a revista Terra da Gente, da editora Globo, para todas as escolas do estado de São Paulo. Aliás, esse tipo de agrado os tucanos gostam de fazer para o partido da imprensa, pois desde o ano passado, Serra assinou as revistas Escola e Veja, da editora Abril, e também os jornais Folha e Estadão para todas as escolas do estado.

Tudo isso exemplifica como o partido da imprensa vai atuar nessas eleições, ou seja, vai ser guerra suja contra os candidatos que não apóiam. Na verdade, isso sempre ocorreu, mas agora está acontecendo uma radicalização. Por exemplo, o jornal Folha de S.Paulo publicou uma ficha falsa da Dilma (a qual rodou por algumas correntes de e-mail) e tentou culpar diretamente Lula pelas tragédias aéreas acusando-o de "assassinato" dessas pessoas.

Outro exemplo é a Veja dar uma capa a Serra com mãozinha no rosto e super feliz e colocando essa capa como propaganda da revista nas bancas, sendo que fez o mesmo com Alckmin em 2006, mas na época foi mais ousada e expôs outdoors em São Paulo. Também recorreu até a astrologia para dizer que Serra vai ser eleito. É a propaganda política pura e suja do partido da imprensa.

Enfim, a atitude de dona Judith em assumir a partidarização da imprensa foi corajosa e deveria ser seguida e assumida de vez por todos os grupos de comunicação. Isso seria bom para a democracia no país, pois deixaria explícito de vez os motivos de apoiarem tal candidato. Em vez disso, preferem se esconder atrás de um manto falso de imparcialidade e "independência" que alegam possuir e ao mesmo tempo praticam a censura prévia de opiniões em suas publicações, tanto de leitores quanto de jornalistas.

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