sábado, 7 de agosto de 2010

“A mídia é concentrada e de direita”

Reproduzo entrevista concedida ao jornalista Osvaldo Bertolino, publicada no sítio da Fundação Maurício Grabois:

Nesta entrevista ao Grabois.org, o jornalista, secretário de Mídia do PCdoB e presidente do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé Altamiro Borges comenta o papel da mídia na formação do Brasil. Para ele, há duas tendências na mídia que não se revertem a não ser com rupturas. Uma é concentração e a outra a maior capacidade de manipulação. “Cada vez mais ela é concentrada e cada vez com posições mais à direita”, diz. Segundo Altamiro Borges, a mídia alternativa tem o papel de fazer a disputa com setores formadores de opinião. Mas não ganha eleição. “O que ganha a eleição são as mudanças no Brasil”, afirma.

O que é o Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé. O que é?

A ideia é fruto dos dois últimos anos, 2008 e 2009, em que o debate sobre democratização da comunicação ganhou certo impulso, principalmente no ano passado com a convocação da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). Essa era uma reivindicação antiga dos movimentos sociais. No interior do governo havia quem era contra. Havia forte pressão das empresas de comunicação para não se realizar a Conferência. Mas ela saiu. Foi convocada em janeiro, depois de anunciada no Fórum Social Mundial de Belém (FSM) em Belém, Pará, pelo presidente Lula anunciou. Para surpresa de muita gente, saiu. Isso fez com que o debate sobre comunicação ganhasse outra dimensão no Brasil.

O Barão de Itararé é fruto desse movimento. Aglutinou muita gente, trouxe à tona muitos que inclusive estão na chamada grande imprensa e que tem uma posição crítica. Muitas entidades do movimento social se inseriram nessa batalha. O Centro não nasceu do nada. Nasceu dessa luta pela democratização da comunicação, casada evidentemente com sua antítese — que é o desmascaramento da mídia hegemônica. Conforme vai caindo a ficha do que representa essa mídia, a luta pela democratização da comunicação cresce.

A ideia do Barão de Itararé, primeiro, é essa homenagem a um grande jornalista brasileiro, Aparício Fernando Brinkerhoff Torelly, um gaúcho que fez toda a sua história no Rio de Janeiro. Foi inclusive foi vereador do Partido Comunista do Brasil, o PCB, no Rio de Janeiro. Era um jornalista muito crítico. Ele foi o jornalista que fez a primeira imprensa alternativa no Brasil — tirando a imprensa sindical, anarquista e comunista. A primeira imprensa alternativa não partidária e nem sindical no Brasil, como o jornal A Manha, o Almanhaque.

Outra característica dele foi a irreverência, a ironia. O Barão é considerado o pai do humorismo no Brasil. Por isso, resolvemos fazer uma homenagem a essa figura, cujas idéias casam com o período que estamos vivendo. Esse movimento de sites, blogs é muito irreverente. A ideia do Barão é agregar essas pessoas, os vários movimentos sociais, agregar as entidades que lutam pela democratização da comunicação, as várias publicações, sites, revistas, jornais que têm um papel contra-hegemônico. E agregar pessoas que têm tido um papel importante na denúncia dessa mídia golpista. Pessoas como Paulo Henrique Amorim, Luis Nassif, Leandro Fortes, Maria Inês Nassif, Luis Carlos Azenha, Rodrigo Viana etc.

São pessoas que têm tido uma contribuição muito grande para estimular o senso crítico, um jornalismo mais crítico. O Barão procura agregar tudo isso. Para quê? Basicamente para quatro coisas: contribuir para o fortalecimento da luta pela democratização da comunicação; contribuir para o fortalecimento das mídias alternativas já existentes ou por existir - como blogs, sites, rádios comunitárias, TVs comunitárias, TVs públicas etc. -; e ajudar na formação dessa galera. Aprendo com ela, pois não há teoria pronta para isso. No intercâmbio vamos construir uma formação, desde o jornalista que está na faculdade — que está sendo formado para ser William Bonner e Fátima Bernardes da vida, mas que poderia ter um senso crítico maior — até a pessoa que está fazendo radiodifusão comunitária, jornal sindical, jornal de bairro.

A idéia é ajudar na pesquisa, no estudo, tentar entender mais o que ocorre com a mídia não apenas no sentido do reativo. Essa mídia que está aí é a nossa crítica, mas estudar principalmente o que está pintando de novo, porque há muita coisa nova. Alguns autores até chamam de nova mídia. Então, tentar entender o que está acontecendo e potencializar isso.

Você diria que o Barão é resultado dessa ressaca da mídia dominante, depois daquela investida feroz, golpista contra o governo Lula?

Para mim, ele é resultado de duas coisas. Do desmascaramento e da ressaca dessa mídia que está aí, com sua overdose de manipulação e golpismo, de preconceito, de pensamento único. E é resultado não apenas da constatação, não apenas da ressaca, mas da reação a essa overdose. É resultado da crítica e do movimento. Da crítica a essa mídia que está aí e do movimento que vem sendo feito principalmente nesse último período por democratização da comunicação no Brasil. A meu ver, são essas duas coisas.

Você acha que a mídia, depois dessa invertida na tentativa frustrada de golpe contra o governo Lula, tem força nestas eleições?

A meu ver, tem. Para mim, a mídia perdeu força. Hoje ela é mais vulnerável. Mais vulnerável basicamente por três razões. Primeiro pela própria mudança tecnológica. O velho Marx tinha razão, porque quando as forças produtivas se mexem outras coisas se movem. O fato de haver alterações profundas na base tecnológica da comunicação, como a internet, fragilizou essa mídia. Vê-se uma queda de tiragem de jornais. Isso não apenas no Brasil.

No Brasil chama a atenção o fato de a Folha de S.Paulo, que na década de 1980 tinha uma tiragem de 1.000.000 /1.100 milhão exemplares aos domingos, hoje ter 300 mil. É um negócio impressionante. O mesmo se dá com o Estadão, com O Globo, com o Correio Brasiliense. Porque houve uma migração dessa mídia impressa para a mídia virtual, para a internet. Isso ocorre não só a mídia impressa. Mesmo a televisão está perdendo audiência. Esse é um fenômeno que se verifica nos Estados Unidos, na Europa, e começa a se verificar no Brasil. As pessoas estão saindo da TV, que é uma coisa unidirecional: o sujeito está lá, sentado no sofá, e ouve todas as abobrinhas ditas. A pessoa é passiva. Já a internet que é mais interativa. A pessoa pode escrever, colocar o filme dela, a foto.

Acho que na crise dessa mídia tradicional tem como primeira razão a questão tecnológica. A segunda é a crise de credibilidade – que Emir Sader chama de crise moral –, porque essa mídia vem se desgastando no Brasil e no mundo. Veja nos EUA, onde se destacou a capacidade de manipulação da mídia na preparação da invasão do Iraque. Tudo o que se disse sobre armas químicas e bacteriológicas era papo furado, era mentira do Bush que a mídia amplificou. O único jornal que reconheceu isso foi o The New York Times — embora timidamente.

Fico imaginando na Venezuela, onde houve um golpe que foi orquestrado pela mídia. O próprio Chávez chama de golpe midiático. Aquele povo não acredita muito na mídia, não chora de amores pela RCTV, que teve a outorga cancelada recentemente. E nem pela Globovisión, com seu dono metido em corrupção. Outro exemplo é a Bolívia, onde quase 90% das notícias na campanha eleitoral, na vitória de Morales, foram contra ele. Ou no Brasil. Há uma crise de credibilidade.

Acho que um terceiro fator é o crescimento de uma consciência crítica, que se materializa até em mudanças legislativas. Têm ocorrido mudanças importantes na Venezuela, no Uruguai, na Argentina, na Nicarágua, em El Salvador, Equador, na Bolívia etc. Portanto, começa a ter não só perda de credibilidade, mas começa a se pensar em alternativas. Políticas públicas, regulamentação. Por isso, acho que essa mídia está em crise. Mas não acho que essa crise tire o poder da mídia. Ela ainda tem ainda muita capacidade de interferir na sociedade.

Há a tese de que acabou-se aquela história da pedra na lagoa que bate e se expande. As redes estariam superando esse efeito. Mas não superam a TV Globo. A TV Globo tem um poder monstruoso. Pegue pela Copa. Nas ruas o povo repete a argumentação da Globo. O Dunga – e olha que eu não gosto do Dunga, acho um técnico retranqueiro – é o vilão e a Globo, coitadinha, a vítima. A televisão ainda tem um papel fenomenal. Os jornais têm um papel fenomenal. A revista Veja, com 1 milhão de exemplares para a classe média, faz a cabeça. Acho que a mídia está mais vulnerável, mas não significa que ela perdeu o seu papel.

Existe uma pesquisa do Vox Populi que mostra que, em 2006, se não fosse o papel da Globo a eleição teria sido decidida no primeiro turno. Aquela onda que a Globo fez nos dois últimos dias, com os tais dos aloprados com pacotes de dinheiro, fez com que 6% do eleitorado se movessem. Foi o que garantiu o segundo turno. Por isso, acho que ela ainda tem muito poder. Às vezes o pessoal brinca que a mídia está na UTI. Nada, a mídia para ir para a UTI ainda vai demorar um bocado.

Você vê um componente ideológico nesses movimentos, baseado no fato de que o sistema norte-americano vai mais para a direita e desperta seu contraponto?

Gramsci, uma figura interessante, ao estudar mais essas chamadas sociedades complexas do Ocidente, como ficou a terminologia, estudou a questão da luta ideológica, o papel da hegemonia. E Gramsci, já nas décadas de 1920 e 1930, disse que quando as instituições da burguesia entram em crise a imprensa – não era a mídia – ocupa o papel do partido da classe dominante, ocupa o papel do partido do capital. Hoje, as instituições burguesas estão com dificuldades de administrar esse mundo cada vez mais sob a hegemonia do capital financeiro, cada vez mais desregulado. Há uma crise dessas instituições e a imprensa passa a ocupar o papel mais proeminente na sociedade.

Não quer dizer que ela não ocupasse isso no passado. Ela já ocupava. Se pegarmos a história do Brasil, o papel da imprensa foi decisivo. Veja o papel do Estadão na época de Canudos. Peguemos fatos mais recentes, de 60 anos para cá – no governo Getúlio Vargas, por exmplo, no governo do Juscelino Kubitschek. Ou o fato dramático que foi o golpe de 1964. Quem ajudou a preparar o golpe de 1964 foi a imprensa. Inclusive, certos chavões ditos hoje são mesmos daquela época. Eles não têm nem criatividade para mudá-los. A história de república sindical que a revista Época recentemente usou tem as mesmas terminologias.

Há um estudo impressionante de um pesquisador da Fundação Getúlio Vargas sobre o papel que a imprensa teve na Constituinte. Como ela foi moldando a Constituinte. Lembremos o papel que a imprensa teve na campanha das diretas, na eleição de Collor. Acho que cada vez mais ela vai por uma confluência, porque adquiriu maior poder econômico. O o setor de comunicação e de telecomunicação é um dos setores que mais cresce na economia mundial. Isso decorre da fragilidade, da crise vivida pelo capital. A mpidia passa a ocupar o papel de partido do capital de forma mais proeminente. E o partido do capital, na situação do mundo atual, tem uma marca reacionária muito forte.

O capital vai contra a humanidade. Esse sistema é contra a humanidade. Portanto, para se expressar a hegemonia desse sistema é preciso ter uma atitude cada vez mais reacionária. Há duas tendências na mídia que não se revertem a não ser com rupturas. Uma é concentração e a outra a maior capacidade de manipulação. São duas tendências: concentração e direitização. Cada vez mais ela é concentrada e cada vez com posições mais à direita. Lógico, com contradições. Não dá para ter uma visão também fechada, totalmente blocada.

No Brasil já temos uma concentração histórica. Você falou do golpe de 1964. No pós-golpe de 1964 começou a montagem desses grupos poderosos...

Já havia concentração antes. Porque temos problemas na legislação brasileira e na tradição brasileira. Na Europa, por exemplo, principalmente no pós-Segunda Guerra Mundial, enfrentou-se o papel que a imprensa teve no surgimento do nazi-fascismo. Estudou-se uma forma de democratizar a comunicação, de quebrar aqueles monopólios que foram incentivadores ou cúmplices do nazi-fascismo. Surgiu então a rede pública, como a BBC de Londres, que vem da resistência ao nazi-fascismo. Surgem também TVs públicas na França, na Itália. Mesmo nos EUA há uma rede pública com certa força.

No Brasil, nunca tivemos uma rede pública. Getúlio tenta montar uma, por meio da Rádio Nacional, mas não prosperou. Esse é um problema da mídia brasileira, só há o setor privado. Agora é que estão começando os primeiros passos da montagem de uma rede pública com a da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Então.

Um segundo problema é que nunca houve regulamentação desse setor no Brasil. Há regulamentação nessa área de mídia em várias partes do mundo. Nos EUA, por exemplo, o órgão regulamentador é forte — existem mais de 100 cassações e outorgas de TV e rádio por desrespeito à lei, à Constituição. No Brasil, sem nenhuma regulamentação o início da concentração começou cedo. O caso mais famoso é o de Assis Chateaubriand com os Diários Associados. Foi um baita império midiático. Com vários jornais, depois rádios. A biografia dele escrita pelo Fernando Morais é muito interessante. Ele era um chantagista, um mercenário da mídia.

A Globo, esse império, foi construída com o apoio da ditadura militar. Esse império só existiu por causa da ditadura militar, que permitou acordos lesivos, acordos contrários à legislação. O nascimento da TV Globo em aliança com uma empresa estadunidense, a Time Life, era proibido mas foi permitido. A Globo cresceu à sombra do regime militar. Aí é que ela se transforma num grande império. Hoje é isso, há sete famílias que dominam a mídia brasileira. É um negócio impressionante. São sete famílias.

Como essas famílias se realcionavam com o Estado? Temos exemplos mais recentes, como o caso das famosas concessões do ex-ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães (ACM).

A isso o professor Vinicius Lima chama de coronelismo eletrônico. Há o coronelismo do campo brasileiro e o coronelismo eletrônico. Tudo numa relação de promiscuidade, patrimonialismo com Estado, concessões, apoios. Então, vão sendo constituídos esses grandes grupos por meio de negociatas políticas. E essas grandes empresas passaram a ter um papel no Estado brasileiro. Basta pegar os ministros de Comunicação e, então, pode-se ver quem são. São pessoas vinculadas a essa área, que conta com muito poder. E aí funciona esse mecanismo de coronelismo, de troca de favores, de patriomonialismo.

É uma relação de promiscuidade muito grande. E desrespeitosa inclusive em relação à Constituição e às leis. Porque a legislação brasileira é taxativa: detentor de cargo público não pode ter meios de comunicação. Muito simples, coloca-se um fantasma, coloca-se um parente, mas continua tendo. Não era o ACM o dono da TV Bahia, mas a mulher dele. A mesma coisa com relação ao Sarney. Não é ele, mas o filho dele. E por aí vai. Vai sendo montado todo um esquema de promiscuidade pública e privada, de patrimonialismo mesmo. O que dá uma grande força a esses grupos.

O Luis Nassif usou o termo gangsterismo ao se referir a Otávio Frias, da Folha. Depois dessa ofensiva golpista alguns veículos até recuaram porque se desmoralizaram, mas a Folha e a Veja se mantêm na ofensiva. Você vê aí também gangsterismo?

Acho que são grupos com oscilações em determinados períodos históricos. Por exemplo, a Folha apoiou o golpe, apoiou o setor linha dura da ditadura na época do velho Frias. Não só apoiou escrevendo, chamando de terroristas, justificando assassinatos, como ajudou na logística –, cedeu carros de transporte de jornal para o serviço de repressão.

Quando ela percebe que o regime militar estava se fragilizando e não servia mais, teve uma oscilação ao desemmpenhar papel importantíssimo na luta pelas Diretas. Não dá para desconhecer isso. Lembra daquela capa histórica da campanha das Diretas na Catedral da Sé? A Folha quase foi um jornal da campanha das Diretas. A burguesia é muito hábil, tem flexibilidade. Às vezes a esquerda tem dificuldade de se flexibilizar, a direita se flexibiliza.

A Veja já foi o contrário. Ela nasce como uma revista de oposição. Com Mino Carta e outras figuras como Raimundo Pereira e Pedro de Oliveira. A Veja nasceu como uma revista de resistência. Depois vai se amoldando. Mas acho que ela nunca perdem o seu referencial de classe. Eles têm referencial de classe. Às vezes nós não temos muito. Eles têm. Eles não se iludem. Eles têm um projeto.

Acho que no caso do governo Lula, essa turma tem muito referencial de classe. Percebe o seguinte: no governo Lula, mesmo não enfrentando os problemas estruturais do país, eles batem sem dó. A Veja não perde o referencial de classe. Ela percebe que isso é um processo que pode, em perspectiva, colocar em perigo os seus projetos de classe. O Nassif fala isso porque ele sentiu na carne. Ele fala: com o governo Lula esse setor muda, assume a posição de gangster mesmo. Aí não tem mais conversa, é uma posição de classe. O governo Lula é um perigo.

Estão com mais medo ainda da Dilma. Eles têm mais medo dela porque falam, com faz o Jabbour, que Lula pelo menos é um conciliador que conseguiu afastar os “bolcheviques” e “jacobinos”. Já a Dilma talvez não consiga. Então, esse setor tem muito medo disso. É um problema de classe. Assume uma posição de gangster mesmo. Não tem conversa e vai para metralhar. Acho que a Folha e o Estadão têm demonstrado isso.

A meu ver, outros são mais hábeis, mas também na hora do vamos ver eles se juntam. A Globo sabe pressionar, obter determinadas benesses e dar uma recuadinha para depois pressionar novamente. O episódio da Petrobras é ótimo nesse sentido. A Globo obrigou os partidos de direita a entrar na CPI. Os tucanos e os demos não tinham muito interesse em entrar na briga contra a Petrobras. Quem pautou a direita para entrar na CPI foi a mídia.

Quando essa mesma mídia conseguiu o que queria — basta ver o número de anúncios como aumentou —, a mídia tirou o time de campo. Tanto é que o Rodrigo Maia (presidente do DEM) reclamou: “Nos deixaram pendurados”. É deixou mesmo. A mídia tem uma componente pragmática, mercenária, muito forte. Isso ela aprendeu com Chateaubriand. Aí não é gangsterismo, é algo de jogador de carteado.

A TV Globo parecia que tinha adotado um comportamento mais neutro em 2004, 2005, até 2006. Na hora de dar o bote, quem forçou o segundo turno foi a rede Globo. Não foi a Veja ou a Folha. Então, acho que essa turma não perde a oportunidade. A Maria Inês Nassif, do jornal Valor Econômico, diz isso na dissertação de mestrado dela: o governo Lula forçou um posicionamento mais explícito dessa mídia. Alguns, de forma gangsterista outros de forma mais habilidosa. Mas, a meu ver, no conjunto é um projeto de classe.

Como você vê a ação desse conjunto na campanha eleitoral?

Acho que a mídia alternativa não ganha eleição. Não foi a internet que ganhou as eleições em 2006. E não será a internet, pelo lado progressista, que vai ganhar as eleições de 2010. O que ganha a eleição são as mudanças no Brasil. O que ganha, mais do que a internet, é o Bolsa Família, o Luz para Todos, é o país crescendo, o salário-mínimo valorizado, o emprego.

Não foi a internet, nem blogs e sites progressistas que evitaram a manipulação da mídia e que garantiram a reeleição de Lula em 2006. Acho que aí seria muita presunção de nossa parte. Até porque a internet atinge uma parte pequena da população. Atinge 22%, 23%. A mídia alternativa, a meu ver, tem o papel de fazer a disputa com setores formadores de opinião. Ela tem o papel de municiar o debate de ideias. Ela consegue às vezes reverter determinadas coisas. Veja um episódio recente que, em minha opinião, foi extremamente educativo, sintomático: aquela história do clipping de 45 anos da TV Globo. Aquilo foi impressionante.

Ela fez um clipping e, por mera coincidência, era a cara do PSDB. Era o slogan de campanha do PSDB: O Brasil pode mais. Com a cor azul do PSDB e, por acaso, 45 anos, o número da legenda do PSDB. Houve um bombardeio na internet, rapidamente eles sondaram o TSE, perceberam que ia dar processo e recuaram. Se não houvesse aquela gritaria na internet, possivelmente a campanha durasse um pouco mais. A tendência é de que cada vez mais cresça esse papel. Porque a mídia se democratiza à medida que a sociedade se democratiza.

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