terça-feira, 3 de agosto de 2010

Racha na ANJ e crise dos jornalões

Por Altamiro Borges

A Associação Nacional de Jornais (ANJ), presidida por Judith Brito – executiva do Grupo Folha que confessou recentemente que a “grande imprensa” exerce a função inconstitucional de partido de oposição ao governo Lula –, sofreu um duro baque na semana passada. Ela foi acusada de ser uma entidade contrária à liberdade de expressão, que se esquiva de “defender os direitos do ser humano, os valores da democracia representativa, a livre iniciativa e a livre concorrência”.

A critica não partiu, como era de se imaginar, de um movimento de luta pela democratização dos meios de comunicação. Ela foi feita por um ex-sócio da ANJ, a Empresa Jornalística Econômico S.A. (Ejesa), responsável pela publicação dos jornais Brasil Econômico, O Dia, Meia Hora e Campeão. Por considerar que a entidade não respeita os princípios que alardeia e defende apenas os interesses dos jornalões O Globo, Folha e Estadão, a Ejesa pediu a sua desfiliação da ANJ.

O falso discurso do “livre mercado”

O racha na entidade confirma a brutal crise vivida pela mídia impressa. Os jornalões tradicionais têm reduzido drasticamente suas tiragens – a Folha, por exemplo, caiu de mais de um milhão de exemplares, nos anos 1980, para menos de 300 mil nos dias atuais –, e temem a concorrência no setor. Numa prova de que a defesa da “liberdade de expressão” e do “livre mercado” é conversa fiada, a ANJ tem feito de tudo para excluir outras empresas do restrito mercado editorial.

Recentemente, a entidade moveu pedido ao Ministério Público para que investigasse a origem da Ejesa, alegando que ela fere o limite de 30% de capital estrangeiro autorizado para o controle dos meios de comunicação no país. A ANJ acusou o grupo de ser controlado por capital português. A reação da empresa foi pedir sua desfiliação da entidade e escancarar a sujeira existente no setor. Na sua nota, a Ejesa afirma que é vítima da perseguição implacável dos monopólios midiáticos e que a ANJ defende unicamente os interesses das Organizações Globo e do Grupo Folha.

Disputa fratricida e cinismo

O grupo editorial também reafirmou que “apóia de forma incondicional toda e qualquer ação que vise assegurar a manifestação do pensamento, a criação, a expressão, a educação e o livre fluxo informativo”. Em sua defesa, a Ejesa argumentou que os “documentos societários se encontram devidamente registrados na Junta Comercial” e garantiu que não fere a legislação brasileira. Para ela, o que ocorre é uma ação mesquinha dos monopólios para restringir a concorrência no setor.

Nesta briga de titãs é difícil tomar partido. A apuração da origem do capital é necessária para se evitar qualquer ilegalidade que dê brechas à invasão estrangeira. O que chama atenção, porém, é a disputa fratricida neste setor e a hipocrisia dos contendores. A “patriótica” ANJ sempre defendeu a criminosa desnacionalização da economia brasileira. Já o jornal O Globo, que agora também pousa de nacionalista, parece que se esqueceu das razões do enriquecimento deste império.

A origem ilegal da Globo

O grupo burlou a legislação brasileira ao se associar ilegalmente à empresa estadunidense Time-Life, em 1962, garantindo acesso a cerca de US$ 6 milhões, o que era proibido pela Constituição. Com esse capital ilegal, a TV Globo montou toda sua infra-estrutura e o Time-Life passou a ter influência direta na emissora brasileira, inclusive indicando o suspeito ianque Joseph Wallace para o cargo de diretor-executivo. O cinismo dos barões da mídia é realmente impressionante.

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