terça-feira, 14 de setembro de 2010

Mídia quer Dilma como rainha da Inglaterra

Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:

Estou escrevendo este texto para os novos leitores do blog, que são muitos.

Se vocês não perceberam ainda, temos argumentado faz tempo que alguns grupos de mídia brasileiros estão engajados até a medula na campanha eleitoral de José Serra, do consórcio PSDB/DEM.

Eles não declaram voto em seus editoriais — como faz a CartaCapital e é comum nos Estados Unidos e na Europa.

Ao contrário, eles editorializam o noticiário.

Escolhem manchetes, ângulos e pautas que favorecem a candidatura de José Serra ou que prejudicam — ou pelo menos pretendem prejudicar — a candidatura de Dilma Rousseff. Propagam crises federais — a do saneamento básico, por exemplo — sem tratar das crises estaduais (no caso de São Paulo, o trânsito, os rios poluídos, as enchentes, o metrô lotado, a falta de trens de subúrbio, as deficiências na saúde e na educação).

Os recursos humanos e materiais destes grandes grupos de mídia –Organizações Globo, Folha de S. Paulo, Editora Abril e O Estado de S. Paulo — são concentrados na pauta que interessa a um candidato, em detrimento dos demais.

No sábado a revista Veja publicou uma denúncia contra o governo, o PT e a candidata Dilma Rousseff que foi direto para a propaganda eleitoral de José Serra na TV.

Uma reportagem que tinha como espinha dorsal um contrato não reconhecido — e, portanto, desmentido — pela empresa que teria pago propina. Está aqui.

Na segunda-feira, os três principais jornais do Brasil trouxeram o assunto nas manchetes acima da dobra, aquelas que ficam o dia todo expostas nas bancas de jornal de todo o Brasil.

"Filho de ex-braço direito de Dilma trabalhou no governo", disse O Globo.

"Irmã de ministra deu aval a contrato sem licitação com governo", disse o Estado de S. Paulo.

"Dilma se distancia de Erenice e chama Serra de caluniador", disse a Folha.

A isso os jornalistas chamam “dar pernas a um assunto”. Independentemente de algo de ilegal ter sido feito ou não, o efeito de manchetes múltiplas é o de suscitar dúvidas nos eleitores em um período pré-eleitoral. As manchetes também servem para aparecer na propaganda eleitoral do candidato José Serra. A gente fica sem saber quem alimenta quem.

Foi a campanha de José Serra que distribuiu dossiês de seus investigadores aos jornais? Quem faz a coordenação entre a campanha de José Serra, se essa coordenação de fato existe, e os quatro grupos de mídia acima citados? Por que a “coincidência” das denúncias contra Dilma acontecerem na véspera da eleição? Não há denúncia alguma a ser feita contra José Serra, ou será que nesse caso esses grupos de mídia estão omitindo informações para não influenciar o eleitorado?

Em minha modesta opinião, a essa altura já não se trata apenas de:

1. Forçar um segundo turno; 2. Salvar candidatos da coligação PSDB/DEM nos estados; 3. Tirar antecipadamente a legitimidade de um governo eleito.

Eu diria que o consórcio midiático acima citado trabalha, ao mesmo tempo, para pautar Dilma Rousseff e formar o ministério.

As pautas econômicas dos grandes jornais estão repletas de balões de ensaio sobre medidas econômicas conservadoras que seriam tomadas pela candidata que ainda nem se elegeu!

Tenho comigo que o objetivo da mídia, agora, é fazer uma espécie de primeiro-ministro, “eleito” por ela, para colocar no coração do governo de Dilma Rousseff.

Ela ficaria com o papel de rainha da Inglaterra.

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Um comentário:

  1. Miro, obrigada pelas análises. Instigam em nós um sentimento de busca pela verdade, de pesquisa, de convencimento de que muito mais se pode aprender. Obrigada pela reprodução do artigo de Venício Lima. É assim que nós, o povo, vamos nos habituando a ler a conjuntura nacional. Envio por e-mail as notícias - extraída dos Blogs "sujos" - o Brasil Real. Obrigada por nos informar!

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