sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Pó pará, Serra!

Reproduzo artigo de Marco Aurélio Weissheimer, publicado no sítio Carta Maior:

O corregedor-geral eleitoral, ministro Aldir Passarinho Junior arquivou nesta quinta-feira a representação da coligação O Brasil Pode Mais, do candidato José Serra (PSDB), que pedia a cassação do registro da candidatura de Dilma Rousseff (PT) à presidência da República. Na representação, a coligação de Serra acusa Dilma e outras seis pessoas (o candidato ao Senado por Minas Gerais, Fernando Pimentel, os jornalistas Amaury Junior e Luiz Lanzetta, o secretário da Receita Federal Otacílio Cartaxo, e o corregedor-geral da Receita Federal, Antonio Carlos Costa D’Ávila) de “usar a Receita Federal para quebrar o sigilo fiscal de pessoas ligadas ao candidato Serra, com a intenção de prejudicá-lo em benefício da campanha da candidata Dilma”.

Como se sabe, Serra não apresentou nenhuma prova para sustentar essa grave acusação. Ou, nas palavras do ministro Aldir Passarinho Junior, não apresentou “concreta demonstração” de que a candidata Dilma Rousseff teria se beneficiado dos atos. Além disso, o ministro não reconheceu a existência de “lesividade na conduta capaz de desequilibrar a disputa eleitoral”. Os fatos narrados, destacou ainda o ministro, podem “configurar falta disciplinar e infração penal comum que devem ser apuradas em sede própria, que não é a seara eleitoral”.

Mas Serra já havia atingido seu objetivo: criar um factóide que, graças aos braços midiáticos de sua campanha, ganharam as manchetes dos grandes jornais e uma edição do Jornal Nacional de quarta-feira que, pelo seu evidente caráter manipulatório, lembrou aquela feita no famoso debate entre Lula e Collor. Em queda livre nas pesquisas, sem programa, sem discurso e mudando de linha a cada semana, o candidato José Serra partiu para o vale-tudo. Queria que o episódio ganhasse manchetes para ele usar no horário eleitoral. Conseguiu isso. Esse é, no momento, o programa que o candidato tucano tem a oferecer ao Brasil.

A estratégia desesperada pode ter o efeito totalmente inverso ao esperado. Maria Inês Nassif escreveu hoje no Valor:

“É tênue a separação entre uma acusação – a de que Dilma é a responsável pela quebra de sigilo – e a infâmia, no ouvido do eleitor. Quando a onda está contra o candidato que faz a acusação, um erro é fatal. Essa sintonia não parece que está sendo conseguida. O aumento da rejeição do candidato tucano, desde o início da propaganda eleitoral, é alarmante.”

Pior ainda: além do aumento da já crescente rejeição ao candidato tucano, o episódio pode expor a montagem de uma farsa (e de um crime) com cúmplices espalhados em várias redações brasileiras. A farsa: a campanha de Dilma teria quebrado o sigilo fiscal da filha de Serra. O crime: as acusações desprovidas de prova e fundamento dirigidas contra a pessoa da candidata. O PT anunciou hoje que decidiu entrar com duas ações judiciais contra Serra e uma contra o presidente do PSDB, Sérgio Guerra.

A primeira medida é uma representação no TSE, com base no artigo 323 do código que regula as eleições. O crime previsto é imputar fato sabidamente não praticado pelo adversário para atingir objetivos nas eleições. Neste caso, segundo José Eduardo Cardozo, secretário geral do PT, Serra e o PSDB sabem que o PT e a campanha de Dilma Rousseff não tiveram qualquer participação na quebra de sigilo de pessoas ligadas aos tucanos, mas assim mesmo fazem acusações. Além desta, o partido decidiu entrar com outra ação judicial contra José Serra por calúnia, difamação e injúria. A última medida é a representação na Procuradoria Geral da República contra Sérgio Guerra, por crime contra a honra devido às repetidas declarações de Guerra, acusando o PT e Dilma de serem os responsáveis por quebras de sigilo fiscal.

A estratégia pode custar caro a Serra. Além das ações, começaram a circular informações nesta quinta-feira, dando conta das incríveis “coincidências” entre a data em que teria ocorrido a violação do sigilo da filha de Serra e a da guerra que o ex-governador de São Paulo travou com o ex-governador de Minas, Aécio Neves. Essa guerra tem uma trama novelesca, envolvendo confusões policiais em festas, acusações de agressões, chantagens e investigações especiais realizadas pelos dois lados em disputa. Pois ambas as coisas, a quebra do sigilo com uso de procuração falsa e o ápice da guerra Serra-Aécio ocorreram no mesmo mês, setembro de 2009.

Conforme foi amplamente noticiado, o jornal Estado de Minas estaria, neste período, preparando uma “investigação especial” sobre Serra. O jornalista Amaury Ribeiro Jr., que trabalhou no Estado de Minas, anunciou o lançamento de um livro sobre os bastidores do processo de privatizações. Esse trabalho atingiria Serra e aliados. Em novembro de 2009, o blog de Juca Kfouri publicou uma nota afirmando que Aécio teria agredido a namorada em uma festa. A virulência desta guerra pode ser atestada em um inacreditável artigo de Mauro Chaves (jornalista, advogado, escritor, administrador de empresas e pintor, conforme ele mesmo se apresenta), publicado no jornal O Estado de São Paulo em 28 de fevereiro de 2009. O recado do artigo, que critica as aspirações políticas de Aécio Neves, está resumido no título “Pó Pará, governador?” A expressão aparece na última linha de modo inteiramente abrupto, como quem não quer nada:

O problema tucano, na sucessão presidencial, é que na política cabocla as ambições pessoais têm razões que a razão da fidelidade política desconhece. Agora, quando a isso se junta o sebastianismo - a volta do rei que nunca foi -, haja pressa em restaurar o trono de São João Del Rey... Só que Aécio devia refletir sobre o que disse seu grande conterrâneo João Guimarães Rosa: "Deus é paciência. O diabo é o contrário." E hoje talvez ele advertisse: Pó pará, governador?

Curiosamente, o jornal O Estado de Minas, ligado a Aécio, deu pouquíssima repercussão ao caso da filha de Serra. O mesmo ocorreu com o Correio Brasiliense. Ambos os jornais pertencem ao mesmo grupo, os Diários Associados. Ao contrário da imensa maioria dos jornalões brasileiros, não julgaram o tema relevante. Coisas da nossa brava imprensa, não é mesmo?

Nada disso importa a Serra, o homem que Pode Mais. O ex-governador de São Paulo é conhecido por isso: acredita que pode qualquer coisa. Pode? O povo brasileiro dará a resposta. E, pegando carona na expressão do articulista do Estadão, ele poderá dizer:

Pó pará, Serra!

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4 comentários:

  1. Ponto com nó

    O levantamento de gastos do casal FHC provava a hipocrisia da imprensa oposicionista nas denúncias dos cartões corporativos do governo Lula. O dossiê dos aloprados fornecia atalhos investigativos para desvendar a máfia das ambulâncias, que operou no Ministério da Saúde na gestão de José Serra. O caseiro Francenildo recebeu uma soma vultosa em sua conta bancária, sem que até hoje alguém tenha fornecido uma explicação plausível para o depósito. Romeu Tuma e Roseana Sarney demoraram décadas para cair nas garras midiáticas, enquanto Orestes Quércia desfruta impunemente da aliança demotucana em São Paulo.
    Os escândalos do governo Lula foram uma sucessão de cortinas de fumaça para encobrir suspeitas envolvendo os amigos da mídia com eventuais deslizes dos seus inimigos. Mas aqueles episódios ainda preservavam uma abrangência pouco mais que pessoal e localizada. Por isso tiveram a repercussão preventiva de praxe e depois sumiram. Coisa muito diversa é alguém puxar capivaras de gente como Eduardo Jorge, Luiz Carlos Mendonça de Barros e Verônica “Dantas” Serra. Não precisa de guru indiano para saber que vem chumbo grosso pela frente. Subestimar a força dessa reação é um erro gravíssimo.

    http://guilhermescalzilli.blogspot.com/

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  2. O Zé dos Pedágios é conhecido como o homem que pode mais?
    Diz um dito popular: "Quem pode mais chora do mesmo jeito"

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  3. O Mauro Chaves do estadão soltou um destacado "pó pará governador!" logo depois do Juca Kfouri e de uma outra colonista da Folha terem soltado a fofoca de uma suposta agressão à namorada num momento de destempo do governador mineiro.
    No episódio da filhinha do Zé biruta, o Aécio tem que se impor antes que seja tare demais e decretar o fim de uma era com um brado que arrepie todo o Brasil:'PÓ PARÁ SERRA!"

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  4. O Serra não se deu conta de que quem Pode Mais É o Eleitor. Veio a concorrer numa eleição a presidência da República sem um ideário capaz de motivar a população brasileira. Seu discurso vazio, não motiva nem seus próprios apoiadores, só fazendo eco na imprensa golpista que se apropriou da liberdade de expressão no Brasil. Só o contraponto dos blogs nos livrou do pensamento único da direita. Caem por terra, todos adversários dos trabalhadores. Um vexame para a extrema-direita, para a fusão demotucana e principalmente para ANJ que se propunha ser a principal oposição ao governo Lula e a candidatura de Dilma.

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