Reproduzo artigo de Luis Nassif, intitulado "Hipóteses para o caso do vazamento", publicado em seu blog:
Há várias hipóteses para o episódio do vazamento das declarações de renda. Uma delas, que os autores tenham sido "aloprados". Outra, que tenha sido fruto de brigas intestinas no próprio PSDB. Uma terceira, que seria uma manobra da própria inteligência de José Serra, visando contrabalançar os efeitos das investigações do jornalista Amaury Ribeiro Junior.
Em relação às duas últimas hipóteses, o relato abaixo me pareceu o mais embasado. Ontem à noite estive com um velho amigo, jornalista mineiro amigo de Andrea Neves. Ele me contou de conversas que teve com ela algum tempo atrás e de sua indignação com manobras de São Paulo visando comprometer a candidatura de Aécio.
O relato confirma a segunda hipótese. A terceira hipótese entra no texto como fruto de deduções. Mas é bastante verossímil - o que não significa necessariamente que seja verdadeira.
A cronologia da bala de Prata
Por Alberto Bilac de Freitas
Para se entender a lógica desse episódio da violação do sigilo fiscal de Verônica Serra, a gênese de tudo e as entranhas da que seja, talvez, a mais bem-urdida trama de espionagem político-eleitoral jamais tentada, há que se raciocinar como um deles; há que pensar como um, digamos, operador das profundezas do subterrâneo malcheiroso em que se transformaram o entorno e o núcleo da entourage próxima a José Serra.
A cronologia do bestialógico:
2005 – Passado o ápice do mensalão, Serra avaliava que Lula seria reeleito em 2006. A partir daí, seguiu-se o roteiro de empurrar Alckmin para a derrota anunciada. Decidira-se desde aí, que a chance de Serra seria em 2010, quando Lula já não poderia ser candidato. Mas o núcleo da inteligência serrista, coordenado por Marcelo Itagiba, sugeriu um laboratório do que seria aplicado em 2010: o escândalo dos aloprados, em 2006, por pouco não derrota Lula. Mas o objetivo era esse mesmo: um teste, para ver se o método aplicado com sucesso em 2002 com o caso Lunus, implodindo a candidatura Roseana, poderia ser reeditado. A armação com o delegado Edmilson Bruno, levando a eleição presidencial para o segundo turno, mostrara a viabilidade do método.
2008 – Com a articulação de Aécio Neves para o ser o candidato do partido em 2010, o staff de Itagiba começa a fazer um trabalhinho miúdo sobre o mineiro; coisa de pequena monta, que não inviabilizasse o apoio deste a Serra, no futuro, mas o suficiente para afastá-lo da disputa. Quando os esbirros de Serra na mídia lançaram a senha: Pó pará, governador! Aécio entendera que a turma era da pesada e não estava para brincadeiras. Nasceu aí o contra-ataque aecista: Amauri Ribeiro Júnior, então em um periódico mineiro, encabeçaria o projeto do contra-ataque e municiaria a artilharia mineira. Essa batalha subterrânea duraria até o final de 2009, quando Aécio recuaria.
2009 – Durante a batalha entre os dois grupos tucanos, Serra fica sabendo da farta e explosiva munição recolhida por Ribeiro Jr. O núcleo de sua equipe de inteligência, coordenado por Itagiba e que o acompanha desde os tempos do Ministério da Saúde, o adverte então: o material era nitroglicerina pura. Urgia providenciar um fogo de barragem, que pudesse ao menos minimizar o estrago quando o material viesse a público. Nasceu então, aí, nesse espaço-tempo, o hoje famoso dossiê "quebra de sigilo de Verônica Serra"! Notem que os personagens envolvidos na 'quebra de sigilo' são os mesmos do livro do Amauri: José Serra, Ricardo Sérgio de Oliveira, Gregório Marin Preciado, Mendonça de Barros e Verônica Serra (aí leia-se também Verônica Dantas e seu irmão, o querubim Daniel). Eduardo Jorge foi inserido aí como seguro. Próximo a FHC, mas não de Serra, EJ era o seguro contra qualquer atitude intempestiva de FHC, sabidamente não confiável, para que se mantivesse quieto quando a artilharia pesada viesse à tona.
2009 – Tomada a decisão, parte-se para o fogo de barragem. A parte mais fácil foi a montagem da 'quebra' de sigilo fiscal das vítimas. A incógnita, até agora, é que tipo de envolvimento tem o laranja Antônio Carlos Atella com a operação. Se é apenas mais um cavalo, o clássico operador barato, facilmente descartável, com acesso a algumas informações úteis e suficientes e lançador da isca fundamental: "Não me lembro quem foi... com certeza é alguém que quer prejudicar o Serra". Ou se é alguém orgânico, um insider dos intestinos itajibistas!
2010 – Com a desistência de Aécio, o grupo fica com a arma na mão, à espera da publicação do livro. É aí que se opera a clivagem para o quadro definitivo que vemos hoje: não é suficiente esperar o ataque do Aécio, que pode não vir, já que o mineiro recolheu suas baterias para o front de Minas Gerais. É preciso partir para o ataque. Além de neutralizar o grupo de Aécio, jogar pensando na frente, em fubecar a campanha de Dilma Roussef. Reeditar o mesmo estratagema de 2006. Ganhar a eleição na mão grande. O delegado Onésimo (outro que acompanha o grupo desde os tempos do bureau de inteligência do Ministério da Saúde) seria despachado para contactar o inimigo. Pausa. Agora recortem os informes dos integrantes do ex-comitê de inteligência de Dilma: tanto Lanzetta quanto Amauri reportam que Onésimo sugeriu insistentemente ao comitê, a realização de ações de contra-inteligência contra Serra. O azar deles é que Amauri, jornalista macaco velho e com conhecimento da comunidade de informações, sentiu logo o cheiro de queimado e cortou, de pronto, as ofertas de Onésimo. Não houvesse a negativa de Amauri, o passo seguinte de Onésimo seria a oferta do dossiê (já pronto) com a quebra de sigilo fiscal dos 05 tucanos. Estaria pronta e armada a reedição do escândalo dos aloprados em sua segunda versão. A campanha de Dilma não resistiria. A versão dos aloprados de 2006, perto desta, seria pinto. Era o modo mais seguro de Serra se eleger presidente. Esse é o modus operandi de Serra.
Com a recusa do ex-comitê de Dilma em morder a isca, tiveram que refazer o plano. O PT aprendera com os aloprados de 2006. Dilma, nesse ponto, muito mais impositiva que Lula, decepa no nascedouro o comitê de inteligência. O projeto original se complicara. Com o dossiê pronto desde 2009, a solução era vazá-lo, aos poucos, para a mídia parceira. Primeiro, vaza-se o EJ. Cria-se uma comoção (se bem que EJ, como vítima, não ajuda muito). Depois, a conta gotas, vem o restante: Ricardo Sérgio, Marin Preciado e Mendonça de Barros. E por fim, a cereja do bolo: Verônica Serra. Observem que o momentum foi escolhido a dedo por Serra: a entrevista em um grande telejornal! De novo, a semelhança: em 2006, os pacotes de dinheiro do delegado Bruno saíram no Jornal Nacional, da Globo; agora, o momento 'pai ultrajado' de Serra, foi encenado no Jornal da Globo! A intelligentsia serrista já foi mais original.
Diante desse quadro, o leitor inquieto deve estar se perguntando: o que deve fazer o PT e a campanha de Dilma? Assistir, inertes, a mais uma escalada golpista, como foi a de 2006? Tentar fazer o contraponto em uma mídia claramente parcial, golpista e oposicionista, conforme confessou dona Judith Brito, diretora da ANJ? O que fazer? O governo sabe onde está o antídoto ao veneno golpista da oposição! Não sei até que ponto o jornalista Amauri Ribeiro Júnior está integrado à campanha de Dilma Roussef. Também não sei até que ponto vai o empenho dele em livrar o país do ajuntamento político mais nefasto que o infesta, desde a redemocratização. O fato é que o seu livro, Os Porões da Privataria, é esse antídoto! Esse livro, verdadeira bateria anti-aérea que pode abater o núcleo duro do tucanato ligado à Serra, e o próprio Serra, de uma só vez, pode ajudar o Brasil a virar uma das páginas mais negras de seu curto período democrático!
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