Reproduzo artigo do teólogo Leonardo Boff, publicado no sítio da Adital:
O Brasil está ainda em construção. Somos inteiros, mas não acabados. Nas bases e nas discussões políticas sempre se suscita a questão: que Brasil finalmente queremos?
É então que surgem os vários projetos políticos elaborados a partir de forças sociais com seus interesses econômicos e ideológicos com os quais pretendem moldar o Brasil.
Agora, no segundo turno das eleições presidenciais, tais projetos repontam com clareza. É importante o cidadão consciente dar-se conta do que está em jogo para além das palavras e promessas e se colocar criticamente a questão: qual dos projetos atende melhor às urgências das maiorias que sempre foram as "humilhadas e ofendidas" e consideradas "zeros econômicos" pelo pouco que produzem e consomem.
Essas maiorias conseguiram se organizar, criar sua consciência própria, elaborar o seu projeto de Brasil e digamos, sinceramente, chegaram a fazer de alguém de seu meio presidente do país, Luiz Inácio Lula da Silva. Foi uma virada de magnitude histórica.
Há dois projetos em ação: um é o neoliberal ainda vigente no mundo e no Brasil apesar da derrota de suas principais teses na crise econômico-financeira de 2008. Esse nome visa dissimular aos olhos de todos, o caráter altamente depredador do processo de acumulação, concentrador de renda que tem como contrapartida o aumento vertiginoso das injustiças, da exclusão e da fome. Para facilitar a dominação do capital mundializado, procura-se enfraquecer o Estado, flexibilizar as legislações e privatizar os setores rentáveis dos bens públicos.
O Brasil sob o governo de Fernando Henrique Cardoso embarcou alegremente neste barco a ponto de no final de seu mandato quase afundar o Brasil. Para dar certo, ele postulou uma população menor do que aquela existente. Cresceu a multidão dos excluídos. Os pequenos ensaios de inclusão foram apenas ensaios para disfarçar as contradições inocultáveis.
Os portadores deste projeto são aqueles partidos ou coligações, encabeçados pelo PSDB, que sempre estiveram no poder com seus fartos benesses. Este projeto prolonga a lógica do colonialismo, do neocolonialismo e do globocolonialismo, pois sempre se atém aos ditames dos países centrais.
José Serra do PSDB representa esse ideário. Por detrás dele estão o agrobusiness, o latifúndio tecnicamente moderno e ideologicamente retrógrado, parte da burguesia financeira e industrial. É o núcleo central do velho Brasil das elites que precisamos vencer pois elas sempre procuram abortar a chance de um Brasil moderno com uma democracia inclusiva.
O outro projeto é o da democracia social e popular do PT. Sua base social é o povo organizado e todos aqueles que pela vida afora se empenharam por um outro Brasil. Este projeto se constrói de baixo para cima e de dentro para fora.
Quer forjar uma nação autônoma, capaz de democratizar a cidadania, mobilizar a sociedade e o Estado para erradicar, a curto prazo, a fome e a pobreza, garantir um desenvolvimento social includente que diminua as desigualdades. Esse projeto quer um Brasil aberto ao diálogo com todos, visa a integração continental e pratica uma política externa autônoma, fundada no ganha-ganha e não na truculência do mais forte.
Ora, o governo Lula deu corpo a este projeto. Produziu uma inclusão social de mais de 30 milhões, e uma diminuição do fosso entre ricos e pobres, nunca assistido em nossa história. Representou em termos políticos uma revolução social de cunho popular, pois deu novo rumo ao nosso destino. Essa virada deve ser mantida, pois faz bem a todos, principalmente às grandes maiorias, pois lhes devolveu a dignidade negada.
Dilma Rousseff se propõe garantir e aprofundar a continuidade deste projeto que deu certo. Muito foi feito, mas muito falta ainda por fazer, pois a chaga social dura já há séculos e sangra.
É aqui que entra a missão de Marina Silva com seus cerca de vinte milhões de votos. Ela mostrou que há uma faceta significativa do eleitorado que quer enriquecer o projeto da democracia social e popular. Esta precisa assumir estrategicamente a questão da natureza, impedir sua devastação pelas monoculturas, ensaiar uma nova benevolência para com a Mãe Terra.
Marina em sua campanha lançou esse programa. Seguramente se inclinará para o lado de onde veio, o PT, que ajudou a construir e agora a enriquecer. Cabe ao PT escutar esta voz que vem das ruas e com humildade saber abrir-se ao ambiental. Sonhamos com uma democracia social, popular e ecológica que reconcilie ser humano e natureza para garantir um futuro comum feliz para nós e para a humanidade que nos olha cheia de esperança.
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Ótimo texto, concordo plenamente. Seria muito bom se todas as classes pudessem ter acesso a esse tipo de visão. Seja você petista ou tucano, desejar o melhor para o Brasil não é um mal, ao contrário, mal seria desejar o melhor apenas para si e tentar desvincular-se do coletivo. Isso não existe! Não podemos esquecer do que fernando henrique fez com o nosso país há alguns anos atrás e temos mesmo que fugir disso lembrando que serra é do mesmo partido e compactua das mesmas idéias do então ex presidente fracassado e, diga-se, sociólogo que em nada usou seu conhecimento para exercer a política. E olha só, o presidente sem graduação, conhecido como o presidente paz e amor e, melhor ainda, respeitado em todo o mundo, alavancou o país!! Temos que admitir, nos últimos 8 anos o Brasil cresceu e apareceu para o mundo de forma bacana e significativa. O novo ou a nova presidente que tomar posse deve porém se preocupar além do PAC e outras políticas do atual governo, com o meio ambiente e a natureza, sem eles de nada vale a indústria e a economia no auge da sua força.
ResponderExcluirE mais, espero que neste segundo turno Marina e o partido do qual faz parte não sejam incoerentes e contraditórios apoiando ideais tooootalmente opostos aos que eles dizem seguir e acreditar.
Espero muito mais um Brasil para todos do que um Brasil apenas para os bem favorecidos no que tange a dinheiro e educação.
Avante Brasil! o/
Érika Assumpção
@KikaKitty
Não acredito que a política social enriqueceu o povo, muito pelo contrário, diminuiu ainda mais o pouco de cultura e dignidade.
ResponderExcluirAcredito sim que pessoas realmente necessitadas foram beneficiadas, mas somente uma pequena fração.
A política social alimentou vagabundos, que descobriram que não é mais necessário trabalhar para conseguir sustento para o seu "lar".
O que o povo precisa é de educação, esporte, saúde e patriotismo. Nada de entregar tudo através de bolsas. Esta na hora de começar realmente a ajudar a população e não esconder os problemas dando dinheiro.
Eu queria ver se o Anônimo que postou 6 de outubro de 2010 07:47 fosse um necessitado e precisasse de benefícios dos projetos sociais vigentes, essas pessoas são seres cruéis e egoístas, são a favor de governantes que praticam a exclusão social com políticas neoliberais. Sinto revolta e impotência e quando percebo o vale tudo nessas eleições, inclusive constatar que personagens como Marina Silva caminhe de mãos dadas com a direita canalha, explorando até a fé de incautos para beneficiar um candidato aético, que assalta o país com uma campanha sórdida contra seus adversários, passando por cima de todos os valores que devem permear a vida de qualquer cidadão honesto. O Brasil precisa politizar seu povo para que não caiam em armadilhas de pessoas nefastas que se escondem em Partidos, em Instituições, em Mídias Golpistas e em Religiões que usam a calúnia e pregam a intolerância.
ResponderExcluirLeonardo Boff sempre sábio. Gosto sempre de suas palavras.
ResponderExcluirEu admito que já pensei como o Anônimo aí em cima, que não vê potencialidades nos programas sociais. Isso é gente criada pela mídia.
Hoje continuo lendo o Jornal O Globo e a Folha, mas não sou mais um mero refém de suas posições ideológicas que são colocadas com certa obscuridade para o leitor.
As pessoas estão começando a se libertar de sua "tutela da mídia". O que o próprio presidente Lula disse nessa campanha. A opinião pública está escorrendo dos dedos dos oligopólios midiáticos.
E enfim...
Por isso votei na Marina no 1° e voto na Dilma no 2°. rs