domingo, 10 de outubro de 2010

PT, marketing político e guerra assimétrica

Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:

O grande mito da eleição de 2010 no Brasil, até agora, é de que a internet não influiu no resultado. A decisão dos eleitores seria tomada a partir do horário gratuito na TV e dos debates. Discordo. Acho que a eleição foi para o segundo turno por causa da internet.

Vi duas coisas na paradigmática disputa entre Barack Obama e John McCain nos Estados Unidos:

1. O potencial da internet para disseminar mentiras e calúnias por e-mail e nas redes sociais;

2. O potencial do YouTube para criar ondas positivas (Obama girl) e negativas (vídeos “exclusivos”, “bombásticos”, “escondidos pela mídia” etc.)

Não é possível dissociar a rede do contexto em que ela existe: nos Estados Unidos, naquela eleição, os grandes grupos de mídia ainda estavam engatinhando na rede e seu conteúdo ainda era produzido majoritariamente para as plataformas tradicionais (jornal impresso, emissoras de TV, etc).

Brilhou a internet para as táticas de guerrilha virtual.

Com duas diferenças em relação ao que vemos no Brasil, agora.

Nos Estados Unidos, a infraestrutura da banda larga tornava o acesso praticamente universal. Os vídeos rodavam nas casas de todos os eleitores.

No Brasil isso não é fato. O alcance da rede é menor.

Ah, mas existe uma grande diferença no Brasil: as lanhouses. Na periferia das grandes cidades, as lanhouses são mais que lugares para frequentar a internet. São clubes. Onde os jovens se reúnem, jogam uns contra os outros, checam o e-mail e assistem ao vídeos no You Tube. Uns chamam a atenção dos outros para as notícias que recebem. Quanto mais tosco o vídeo ou mais “bombástica” a informação — verdadeira ou mentirosa –, melhor. É assim que os boatos se espalham como fogo, através dos jovens.

A desconexão que eles sentem em relação aos governos, o ímpeto próprio da juventude, a volatilidade de opiniões, o desejo de subverter a ordem — tudo isso conta.

Para muitos destes eleitores, não pesa a “credibilidade” da Folha, que eles não assinam. Pesa a credibilidade dos amigos e parentes nos quais as mensagens se originam. É credibilidade por associação a alguém confiável.

O movimento que levou Marina Silva para o segundo turno teve um componente disso. E foi a internet que deu consistência à expressão dele em diferentes regiões do país e especialmente nas regiões metropolitanas.

Quantos comícios Marina fez presencialmente nos lugares em que foi mais votada?

Para além disso, temos outra grande diferença em relação aos Estados Unidos, que é a diferença de renda.

A elite é identificada não apenas por um padrão de consumo, mas estético.

A estética da elite está presente nas campanhas de Dilma Rousseff e José Serra. São formulações distantes, de centros de poder imaginário (Brasília, São Paulo) na cabeça dos jovens, emitidas por meios eletrônicos (TV, internet).

Daí a importância residual, no Brasil, dos panfletos.

A concretude física lhes confere credibilidade.

A palavra escrita, os desenhos e as charges tem um impacto simbólico que não deve ser desprezado. São a linguagem “do povo”, em anteposição à imagem limpa das superproduções, associada à elite.

O PT, o PMDB e os movimentos sociais dispõem de uma esmagadora vantagem sobre o PSDB/DEM neste campo.

Militância e capilaridade. Juntos, chegam a todos os pontos do Brasil.

Uma vantagem que pode ser decisiva numa eleição apertada.

Mas a vantagem só poderá ser explorada se passos forem dados para superar o abismo que existe entre os de cima (marqueteiros e pesquiseiros) e os de baixo (militantes e eleitores).

A proximidade física entre os militantes e os eleitores (de parentesco, de vizinhança, de bar, de fábrica ou comércio) conta muito nessa hora.

Para os que são de muita informação, informação.

Para os que são de pouca informação, mensagens simbólicas que contenham toda a informação.

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente: