Por Altamiro Borges
Nos últimos dias, uma acalorada polêmica tomou conta da chamada blogosfera progressista. Aparentemente, tudo começou com um artigo publicado no excelente blog de Luis Nassif com críticas sectárias ao movimento feminista. Diante das reações, algumas civilizadas e outras também sectárias, o próprio Nassif explicou que o texto não era de sua autoria, mas sim de um dos inúmeros colaboradores do seu blog, e reconheceu o erro na publicação e no tratamento dado à polêmica deflagrada. O clima, porém, já estava carregado, cheio de adjetivações e troca de farpas.
O que poderia ser um rico debate sobre o crônico machismo na sociedade – um debate sempre tão necessário, até para os que se dizem feministas desde criancinha – desembocou numa preocupante “crise da blogosfera progressista”. Visões pouco generosas, desagregadoras, chegaram a insinuar que a blogosfera progressista seria machista por natureza. No twitter, alguns babacas da direita nativa, que nunca tiveram qualquer preocupação com a questão de gênero, aproveitaram para festejar a divisão deste jovem movimento. No próprio campo progressista, alguns manifestaram o seu desânimo com as “baixarias”.
Garantir a unidade na diversidade
Em férias, um justo direito conquistado pelo proletariado, acompanhei à distância a encarniçada polêmica. Fiquei triste com o sectarismo, o que só confirma que ainda vamos apanhar muito para superar a nossa cultura autoritária, mas não caí no ceticismo. Sou daqueles que acha que o movimento da blogosfera progressista está dando apenas os seus primeiros passos. Ele ainda precisará comer muito arroz e feijão para definir melhor seus princípios, seus objetivos, sua abrangência e suas ações. Nesta longa caminhada, ele cometerá muito erros. Visões diferenciadas e até mesmo vaidades ficarão expostas.
Estas diferenças não me preocupam. A riqueza deste movimento está exatamente na sua diversidade. O desafio é exercitar a nossa cultura democrática e unitária, tendo como objetivo maior garantir a unidade na diversidade. O que une a blogosfera progressista hoje não são visões totalizantes, nem as posturas diante do atual governo ou as preferências partidárias. O que nos une é o desejo de construir outra mídia, mais democrática, crítica e compartilhada, que se contraponha a ditadura midiática. O que nos une são valores e lutas contra qualquer tipo de opressão – de gênero, étnicas, regionais, de classe.
Golaços da blogosfera progressista
Só com muita amplitude e generosidade, sem temores às polêmicas e às críticas, será possível construir um forte movimento da blogosfera progressista. Com esta postura, que norteou os trabalhos da comissão organizadora do primeiro encontro nacional em agosto passado – e que contou com a inestimável ajuda de Luis Nassif –, o jovem movimento dos blogueiros progressistas marcou dois golaços em 2010. Erros foram cometidos, até por inexperiência e desarticulação, mas eles não devem ofuscar ou minimizar os expressivos avanços deste incipiente movimento neste curto período.
Pela primeira vez na história, mais de 330 blogueiros, twitteiros e outros internautas que estavam dispersos, que nem se conheciam, participaram de um encontro nacional e aprovaram bandeiras unitárias de luta – contra o AI-5 Digital, por um plano universal de banda larga, por um novo marco regulatório da comunicação, em apoio à Adin do jurista Fábio Konder Comparato. Há consenso de que o encontro de agosto foi um marco histórico. Após intenso debate, a plenária definiu manter o adjetivo “progressista” até o próximo encontro, e aprovou uma forma mais horizontal de organização, sem hierarquias.
A vitalidade dos “blogs sujos”
O segundo golaço foi a entrevista coletiva com o presidente Lula. Ela garantiu maior legitimidade a este movimento coletivo e democratizante. Não teve nada de “chapa-branca”, como rosnou a velha mídia. Evidenciou que há uma mudança em curso, com o nascimento de uma nova mídia, que deverá ter papel mais protagonista no país. Diferentemente do encontro, no qual houve unanimidade nos elogios, a entrevista gerou certas críticas – algumas justas e outras exageradas. Para as próximas entrevistas, novos mecanismos, mais democráticos e transparentes, precisarão ser adotados. A vida vai nos ensinando.
Estes dois golaços se somaram ao trabalho árduo e corajoso de muitos internautas, que há mais tempo vêem mostrando a vitalidade da blogosfera. Não é para menos que a guerrilha informativa travada por estes combatentes, antigos e novos, virou notícia na batalha presidencial. Serra, amigo da mídia golpista, ficou irritado com o que ele adjetivou pejorativamente de “blogs sujos”. Já o presidente Lula, que foi vítima do cerco midiático, estrelou um vídeo incentivando a blogosfera. Nos jornalões e revistonas, alguns colunistas de aluguel destilaram seu veneno ciumento contra a blogosfera.
Olhando para o futuro
Este precário balanço é o que explica meu otimismo com a blogosfera progressista. Ela só tende a crescer. Se conseguir criar maior sinergia, mantendo sua rica diversidade – sem verticalismos artificiais e disputas mesquinhas – ela vai se multiplicar, florescendo em milhares de blogs, adquirir melhor qualidade e conquistar maior audiência e influência na sociedade. Ele será um dos protagonistas na luta estratégica pela efetiva democratização da comunicação no Brasil. Com o tempo, encontrará as formas para se auto-sustentar e adquirir maior visibilidade. Só os nossos erros podem inviabilizar estes avanços.
Alguns estados já perceberam esse potencial “revolucionário” e estão se movimentando, de forma ampla e unitária, para enraizar a blogosfera progressista. Reuniões, debates e outras iniciativas estão se multiplicando no país. Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão, entre outros, estão olhando para o futuro. Não querem se perder em briguinhas desnecessárias, em demarcações sectárias, em disputas aparelhistas. Querem travar a boa polêmica, o bom embate de idéias e projetos. O desafio agora é trilhar esse caminho. Conforme o definido em agosto, o desafio agora é realizar massivos encontros estaduais até abril e um encontro nacional ainda mais representativo em maio.
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Miro, sou um acompanhante assíduo de seu blog e assino embaixo seu texto. Principalmente ao deixar de forma clara que devemos ser coesos em nossa própria diversidade. Sou muito crítico do sectarismo de alguns grupos e rixas mínimas. Creio que isso enfraquece em muito a luta de classes, mas com a blogosfera podemos tomar uma postura mais democrática ao tentar integrar diversas visões (ainda que seja a da velha mídia ciumenta ou da direita reacionária). Entretanto, ela revela não mais do que somos fora daqui. Portanto, é não deixar que as conquistas e avanços não se reflitam em frutos colhidos na materialidade da vida; nos rumos políticos e sociais que devemos visar sempre como objetivo, nas mudanças que devemos exigir nos marcos regulatórias. No acesso de todos a internet. Agir no mundo. Transformar. XI tese.
ResponderExcluirNessa "trincheira na luta contra a ditadura midiática" estou ao teu lado. Seus textos são sempre lúcidos e necessários. Grande abraço, Miro.
Enquanto isto, a direita, esta sim, suja e sectária, e seus jornalões, rádios e tv's, agradecem. Precisamos aprender com a história.
ResponderExcluirSobre o assunto, leiam minhas Reflexões depois da tempestade (em copo d'água): http://tudo-em-cima.blogspot.com/2010/12/reflexoes-depois-da-tempestade-em-copo.html
ResponderExcluirA blogosfera já é um rapaizinho. E tá chique. Incomodou pra caramba a velha mídia e até já teve um encontro em particular com o Presidente da República do Brasil. Não é pouca coisa não. A blogosfera é uma realidade que não volta mais atrás. Caminha a passos largos assim como acontece em tudo na cibernética. Evolução rápida. Parabéns a voce, Miro, e a todos da cúpula dos blogueiros progressistas.
ResponderExcluirPrezado Altamiro,
ResponderExcluireste episódio só gerou críticas pois os criticados são pessoas respeitadas pelos que os lêem.
Na intenção saudável de debater, pessoas e movimentos sérios foram debochados, estereotipados, ignorados.
Daí para a indignação foi um pulo, pois a atitude que se espera de quem faz o discurso da democracia deveria ser no mínimo coerente.
É muito bonito falar sobre divergência, tolerância, atrai muitos leitores que se identificam, mas o que se viu foi o oposto disso.
Seu post foi o mais reflexivo dos blogs progressistas até agora. É uma pena quem em boa parte não tenha sido assim, mas espero que sua expectativa de aprender com os erros se contretize. E ainda sobre alguém com bom senso nisto tudo.
Abraços
Assino embaixo, Miro. Abraço, Eduardo Guimarães
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