quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Blogs brasileiros repercutem o Wikileaks

Reproduzo artigo de Raphael Tsavkko Garcia, publicado no sítio Global Voices: ·

O vazamento de mais de 250 mil documentos denunciando a prática de espionagem por parte do governo dos EUA causou furor também no Brasil, onde dezenas de documentos acabaram por colocar o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, em situação delicada. Natália Viana, do Opera Mundi, detalha o número de documentos vazados sobre o Brasil e diz que ainda há muito mais por vir:

"No caso brasileiro, os documentos são riquíssimos. São 2.855 no total, sendo 1.947 da embaixada em Brasília, 12 do Consulado em Recife, 119 no Rio de Janeiro e 777 em São Paulo. Nas próximas semanas, eles vão mostrar ao público brasileiro histórias pouco conhecidas de negociações do governo por debaixo do pano, informantes que costumam visitar a embaixada norte-americana, propostas de acordo contra vizinhos, o trabalho de lobby na venda dos caças para a Força Aérea Brasileira e de empresas de segurança e petróleo".

Os documentos, ainda, demonstram o desconforto dos EUA com os máximos representantes da diplomacia brasileira, explica Altamiro Borges em seu blog:

"No caso brasileiro, conversas confirmam o desconforto dos EUA com a política externa soberana praticada pelo Itamaraty. O ministro Celso Amorim e o ex-secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães são encarados como inimigos do império. Já o ministro da Defesa, Nelson Jobim – que infelizmente a presidente Dilma Rousseff pretende manter no posto – é tratado como um “aliado” dos EUA".

Leandro Fortes, do blog Brasília, eu vi, vai ainda mais longe, acusando o Ministro Nelson Jobim de ser um informante dos EUA (usando a gíria popular X-9, que significa “informante”)

"Nelson Jobim, ministro da Defesa do Brasil, foi pego servindo de informante da Embaixada dos Estados Unidos. Isso depois de Lula ter consolidado, à custa de enorme esforço do Itamaraty e da diplomacia brasileira, uma imagem internacional independente e corajosa, justamente em contraponto à política anterior, formalizada no governo FHC, de absoluta subserviência aos interesses dos EUA.

[…]

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, costumava almoçar com o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Clifford Sobel para falar mal da diplomacia brasileira e passar informes variados. Para agradar o interlocutor e se mostrar como aliado preferencial dentro do governo Lula, Jobim, ministro de Estado, menosprezava o Itamaraty, apresentado como cidadela antiamericana, e denunciava um colega de governo, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, como militante antiyankee. Segundo o relato produzido por Clifford Sobel, divulgado pelo Wikileaks, Jobim disse que Guimarães “odeia os EUA” e trabalha para “criar problemas” na relação entre os dois países".

Ao site oficial do Ministério da Defesa, Jobim negou ter criticado o então vice-chanceler brasileiro, Guimarães, informação também repassada pelo Twitter oficial do Ministério da Defesa.

Por outro lado, André Raboni, do blog Acerto de Contas, considera ridículas as desculpas dadas por Jobim e que suas declarações apenas comprovam sua função de informante da embaixada dos EUA:

"É absurdo (pra não dizer outra coisa) um ministro de Estado manter esse tipo de atitude colaborativa com um país que está tentando enfiar uma lei anti-terrorismo goela abaixo dos brasileiros. Uma lei que só interessa aos EUA, diga-se de passagem. Aliás, seria absurdo um ministro agir dessa forma com qualquer outro país, independentemente de serem os Estados Unidos e sua rede internacional de espionagem diplomática".

Danilo Marques, do blog O Inferno de Dandi, é irônico ao considerar que os EUA sentem ciúmes dos sucessos brasileiros em suas relações exteriores:

"Nos relatórios percebesse uma crise de ciúmes dos americanos, insatisfeitos com o sucesso brasileiro em suas relações exteriores. Achando que o Brasil está criando asas, a questão do Irã foi uma grande decepção aos que não gostam de dividir os brinquedos. Pois o Ministro Amorim, que defende as cores nacionais, afirmou em Washington que os americanos vão ter que largar de xilique, agora o panorama mundial pede outras relações diplomáticas".

Cristina Rodrigues, do Somos Andando, relembra outros episódios polêmicos me que se envolveu Nelson Jobim:

"Ele se posicionou contrário ao Programa de Direitos Humanos defendido pela sociedade civil e a criação de uma Comissão da Verdade. Parecia mais um aliado daqueles militares que comandaram o Brasil nos 21 anos entre 1964 e 1985. Foi peça-chave para derrubar Paulo Lacerda da Abin, Foram vários, enfim, os constrangimentos".

Luiz Carlos Azenha, do Vi o Mundo, acrescenta ainda que, segundo o WikiLeaks, Jobim teria também repassado ao embaixador americano a informação (falsa) de que Evo Morales, presidente da bolívia, teria “um tumor enfiado no nariz”.

Através dos documentos vazados, veio também à público [en] a informação de que os EUA estariam insatisfeitos com o fato do Brasil se recusar a implementar uma lei anti-terrorista em seu território, que não passou, segundo Hugo Albuquerque, do Descurvo:

"A ideia não vingou por pressão, inclusive, de Dilma Rousseff, atual chefe de estado e de governo. O argumento usado por ela é bem simples, como isso poderia ser usado para criminalizar movimentos sociais e, quem sabe, políticos".

Uma lei Anti-Terrorista teria como resultado, no Brasil, a criminalização de movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), diz João Pedro Stédile em entrevista concedida ao Opera Mundi:

“É evidente que as pressões do governo dos EUA, tentando influenciar governos democráticos e progressistas a aderirem à sua sanha paranóica de terrorismo, visa criminalizar e controlar qualquer movimento de massas que lute por seus direitos e que ocasionalmente representem manifestações contra os interesses das empresas estadunidenses”

Hugo Albuquerque continua, ainda, criticando a forma pela qual os EUA e alguns analistas brasileiros tratam o terrorismo, traçando paralelos com o ideal fracassado de livre-mercado dos anos 90:

"A maneira como é narrada o aparente descaso do governo brasileiro com o “terrorismo” é uma peça antropológica, sem dúvida. Os americanos e os analistas nacionais - mais gringos que os próprios -, na verdade, não entendem como o Governo brasileiro ainda não descobriu o potencial de como controlar os seus, por meio do potencial de subjetivação dos seus cidadãos como “terroristas”, mas a maneira como isso é narrado é deliciosamente cínica, os tecnocratas apontam o governo como “imaturo” do mesmo modo como se fazia com os países que não queriam aderir ao livre-mercadismo nos anos 90: A nossa vontade é tamanha que quem não se dobra a ela, só pode ser um idiota. Uma forma de idealismo perversa, na qual os próprios ideólogos começam a acreditar nas mentiras que repetem - e aí, caríssimos, só o inferno é o limite".

Idelber Avelar, do Biscoito Fino, acrescenta:

"De novidades nesse front, há a participação de um especialista brasileiro, André Luis Woloszyn, como uma espécie de “consultor” para os estadunidenses interessados em adequar a legislação alheia a seus interesses: “é impossível”, disse ele, “fazer uma lei antiterrorismo que não inclua o MST”. O caso me parece gravíssimo".

Finalmente, Altamiro Borges finaliza, dando sua visão da importância dos dados vazados e do WikiLeaks:

"A vasta documentação tornada pública, num serviço inestimável da ONG Wikileaks, confirma que a luta contra a agressão imperialista é a principal batalha dos povos na atualidade para superar a opressão e a exploração".

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3 comentários:

  1. O Jobim tem que cair fora urgentemente.

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  2. Pô Miro,

    Pode parecer implicância, mas juro por Marx que não é.

    Parece que só os blogs Cidadania, Escrevinhador, Conversa, Nassif e Viomundo, Brasília, eu vi fazem a repercussão.

    Sei que você reproduziu texto Global Voices, mas os "outros" [Com Texto Livre, Esquerdopata, redecastrorphoto, Vila Vudu, Biscoito Fino, DoLaDoDeLá, O Terror do Nordeste, Amoral Nato] não existem.

    Juro novamente por Marx que não legislo em causa própria, porque o Limpinho tem a missão de filtrar e reproduzir o que sai na blogosfera, porém tem outros blogs excelentes que estão fadados a serem vistos apenas pelos amigos do dono do blog.

    Abraços fraternos

    Miguel do Limpinho

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  3. Miguel: Como quem escreveu o texto do Global Voices fui eu, esclareço:

    É quase impossível não citar os grandes blogs, mas como você ppode ver, citei o Acerto de Conta,s o Inferno de Dandi, o Descurvo... Bllogs pequenos e médios também.

    Sempre procuro citar blogs menores, mas o Global Voices também pede os grandes, para balancear e dar credibilidade internacional.

    Aliás, há uma iniciativa, o #eblog, que busca dar visibilidade aos blogs menores, através da tag no Twitter.

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