segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Folha detesta sindicalistas; prefere tucanos

Por Altamiro Borges

A Folha de S. Paulo nunca escondeu a sua rejeição ao sindicalismo. Qualquer greve ou passeata é tratada como culpada pelo “caos no trânsito”, que prejudica a população – numa ardilosa manipulação para jogar a sociedade, formada por trabalhadores, contra os próprios trabalhadores. Qualquer reivindicação trabalhista é encarada como algo que “engessará a economia” e, no caso do setor público, que “elevará a gastança do Estado”.

Este ódio é antigo. Na década de 1960, a família Frias repetiu a exaustão o bordão da “república sindicalista” para assustar a errática “classe média” e para preparar o clima para o golpe militar. Durante a sanguinária ditadura, ela distorceu as biografias de vários sindicalistas presos, “desaparecidos” e assassinados, rotulando-os de “terroristas”. Já no governo Lula, a Folha voltou a repetir o bordão da “república sindicalista” na sua recaída golpista.

Cunha entre Lula e Dilma

A “reporcagem” da Folha de hoje (27), intitulada “Sindicalistas detêm 43% da elite dos cargos de confiança”, segue a mesma toada. O objetivo é atemorizar seus leitores – cada vez mais reduzidos – de que o governo Lula sofreu uma perigosa “infiltração sindical”. Lembra a neura da chamada “guerra fria”, com o fantasma da infiltração comunista. A matéria informa que o governo federal possui 22 mil cargos de confiança, mas que “1.305 são a elite do batalhão de comissionados”. Destes cargos, 42,8% seriam ocupados por líderes sindicais – sendo 84,3% petistas.

A Folha também visa colocar uma cunha entre o atual governo e a presidenta recém-eleita. “Ao receber a faixa das mãos do presidente Lula, no próximo dia 1º, Dilma Rousseff herdará a máquina federal com quase a metade da cúpula dos cargos de confiança, sem concurso público, tomada por sindicalistas. Sem vínculo umbilical com o sindicalismo, ao contrário do antecessor, Dilma terá de administrar a pressão das centrais para manter e ampliar a cota desses cargos, os chamados DAS 5 a 6 (Direção e Assessoramento Superiores) e NES (Natureza Especial)”.

Visceral ódio de classe

A manipulação da Folha só engana os ingênuos. O jornal da família Frias não está preocupado com os entraves do governo Dilma nem com as debilidades e desafios do sindicalismo – que são muitos. Seu objetivo é criar cizânia no futuro governo e estigmatizar o movimento sindical. Como reagiu o presidente da CUT, Artur Henrique, “esse negócio de república sindical é bobagem porque o PT e a Central Única do Trabalhador têm a mesma raiz. O próprio Palocci foi dirigente da CUT e ninguém fala dele. Seria absurdo se fossem tucanos".

O presidente da CUT acertou na mosca. No seu visceral ódio de classe, a Folha nunca tolerou o novo bloco de poder no governo federal. Para ela, trabalhador é para trabalhar, para acatar ordens; quem deve dirigir o país e ocupar os seus principais postos são os representantes das elites. Ela nunca reclamou dos tucanos que ocuparam todos os cargos estratégicos no triste reinado de FHC – ou no governo de José Serra em São Paulo. Talvez o seu desejo fosse ter Judith Brito, presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e executiva do Grupo Folha, no cargo de ministra de Comunicações – com o Otavinho como comissionado do DAS-5.

As viagens de Lula e FHC

A “reporcagem” confirma que a Folha não dará tréguas para Dilma Rousseff, que é encarada, de maneira machista, como mera continuadora do governo Lula. A cada dia, o jornal inventa um factóide com o intento de desgastar a futura presidenta, que ainda nem tomou posse. Na semana passada, a UOL, do mesmo grupo, fez estardalhaço com as viagens internacionais do presidente Lula. A manchete escandalosa informou que ele fez 470 viagens. No meio do texto, bem escondidinha, até apareceu a informação sobre as 447 viagens internacionais de FHC.

A diferença no volume não é tão grande nem merecia tanto alarde. Já a diferença na qualidade é abissal – e isto a Folha preferiu não analisar. Enquanto o grão-tucano foi várias vezes ao exterior – inclusive para gozar de suas férias – e não produziu quase nada de positivo para o país, o operário Lula projetou o Brasil no cenário mundial, promoveu inúmeros acordos comerciais e diplomáticos, reforçou a integração latino-americana, priorizou as relações Sul-Sul, inclusive com várias viagens à esquecida África – e até tirou suas férias em bases militares no litoral brasileiro.

.

4 comentários:

  1. É realmente impressionante a incessante criminalização que a Folha tem feito em relação aos movimentos sociais.

    Cadê a liberdade de expressão que vc Folha como imprensa, deveria garantir aos movimentos sociais também? Alguém dos movimentos sociais consegue se expressar através desse meio chamado Folha?

    ResponderExcluir
  2. Qualquer reporcagem da Falha de São Paulo nada mais é que "merda em forma jornalística"; infelizmente uma péssima maneira no uso racional da celulose onde, ao invés de alvejá-la e usá-la como papel higiênico, preferem sujá-la com tinta e não prestar para mais nada senão para almofada de dejetos de animais, uns realmente animais, outros apenas leitores.

    ResponderExcluir
  3. Miro, há anos que deixei de assinar a Folha, que cada vez mais vê seu número de leitores reduzir.
    O próximo será o UOL.

    Abraço e Feliz 2011, com muito estômago para aguentar essa mídia porca.
    @Limarco

    ResponderExcluir
  4. Miro, não obstante a idiotice da matéria, em si, a Falha de SP ainda induz o leitor a erro quanto a dados objetivos.
    O Sasseron não ocupa cargo em comissão. Ele é um dos diretores eleitos pelos associados da Previ.

    ResponderExcluir

Comente: