Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:
A Folha apresenta neste domingo uma reportagem sobre ex-vizinhos do Palácio do Planalto que melhoraram de vida desde que Lula assumiu, em 2002. Sob o título “A classe C mora ao lado”, a reportagem é uma confissão envergonhada de que algo mudou no Brasil.
Mas para por aí.
Usando como “base estatística” quatro famílias, o jornal do Otavinho diz que três delas subiram na vida sem ajuda do governo. Mas o mais impressionante é a “análise” de Gustavo Patu (reproduzida abaixo).
O analista da Folha diz que não existem estatísticas confiáveis que permitam uma avaliação de longo prazo sobre a ascensão social no Brasil e sobre as causas de tal ascensão.
E, na ausência de tais estatísticas, conclui que “recuar mais no tempo provocaria uma comparação incômoda com os resultados obtidos durante os anos 70, na ditadura militar”.
Ué, Patu, mas na ausência das estatísticas e estudos, como é que você sabe que a comparação seria “incômoda”?
É a lógica do jornal do Otavinho, em ação.
Fiquem com esta jóia:
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Oportunismo contamina debate sobre a pobreza
Por Gustavo Patu
"Nós tiramos” X milhões da pobreza (ou miséria) “e elevamos” Y milhões à classe média, repete, desde os tempos de candidata, a presidente eleita, Dilma Rousseff.
A ascensão social não é apresentada como mérito dos indivíduos, mas como feito dos governantes. X e Y variam conforme o estudo mais recente ou conveniente a ser citado. O debate sobre a pobreza permanece contaminado por escassez de diagnósticos e por sobra de oportunismo político.
A pobreza do debate começa pela inexistência de uma base estatística sólida sobre o tema - elaborada com metodologia transparente, atualizada com regularidade e capaz de abarcar uma série histórica longa.
Restam trabalhos isolados, ainda que meritórios, produzidos por meia dúzia de economistas especializados, com variadas definições do que seria um pobre, um miserável ou um cidadão de classe média.
Os governistas só exibem os dados contabilizados a partir de 2004 — o ano de 2003, de aumento da pobreza, é deixado de lado — ou, no máximo, depois do Plano Real. Recuar mais no tempo provocaria uma comparação incômoda com os resultados obtidos durante os anos 70, na ditadura militar.
É indiscutível que a pobreza teve forte queda nos últimos anos, com créditos para a administração petista já reconhecidos pelo eleitorado. Mais complexo é ponderar o peso de cada uma das causas do fenômeno.
Crescimento econômico, que não depende só das políticas domésticas, aparenta ser mais crucial que o salário mínimo ou o Bolsa Família.
A transformação demográfica hoje vivida pelo Brasil, com redução do número de filhos por família e maior proporção de adultos produtivos na população, já ajudou a enriquecer o mundo desenvolvido no passado.
Até o dólar barato, que ameaça a indústria e as exportações, contribuiu decisivamente para a sensação geral de bem-estar ao reduzir a inflação sem necessidade de juros ainda mais altos.
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domingo, 12 de dezembro de 2010
Diogo Mainardi já vai tarde
Reproduzo artigo de Pierre Lucena, intitulado "O fim de uma era de calúnias no jornalismo", publicado no blog "Acerto de contas":
A Veja desta semana vem com a despedida de Diogo Mainardi de sua coluna. Primeiro passou a escrever quinzenalmente, e agora anuncia que escreverá apenas um artigo mensal.
Na verdade esta deve ser a “saída honrosa” da revista para seu colunista mais polêmico, que aproveitou o espaço semanal para aprontar de tudo em matéia de lixo jornalístico.
Mainardi é o que podemos chamar de talento desperdiçado. De vez em quando tinha boas sacadas, mas aproveitou seu espaço para difamar loucamente os adversários da Editora Abril, e agora chegou a hora de pagar o preço do desvairio.
Diogo Mainardi já estava morando fora do Brasil, pois aqui corria o risco de ser preso, pois dezenas de processos estavam chegando a seu final, como por exemplo o que Paulo Henrique Amorim move contra ele.
Sua coluna era a mais lida da Revista Veja, e Mainardi era o representante máximo do jornalismo de baixo nível que tomou conta da revista.
Já vai tarde.
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A Veja desta semana vem com a despedida de Diogo Mainardi de sua coluna. Primeiro passou a escrever quinzenalmente, e agora anuncia que escreverá apenas um artigo mensal.
Na verdade esta deve ser a “saída honrosa” da revista para seu colunista mais polêmico, que aproveitou o espaço semanal para aprontar de tudo em matéia de lixo jornalístico.
Mainardi é o que podemos chamar de talento desperdiçado. De vez em quando tinha boas sacadas, mas aproveitou seu espaço para difamar loucamente os adversários da Editora Abril, e agora chegou a hora de pagar o preço do desvairio.
Diogo Mainardi já estava morando fora do Brasil, pois aqui corria o risco de ser preso, pois dezenas de processos estavam chegando a seu final, como por exemplo o que Paulo Henrique Amorim move contra ele.
Sua coluna era a mais lida da Revista Veja, e Mainardi era o representante máximo do jornalismo de baixo nível que tomou conta da revista.
Já vai tarde.
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Wikileaks e a saúde de Dilma Rousseff
Reproduzo artigo de Natália Viana, publicado no sítio da CartaCapital:
Não foi só a saúde da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que foi alvo da curiosidade do governo americano. A presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, também teve detalhes do seu estado de saúde investigados pela embaixada americana em meados do ano passado, quando sofreu de câncer linfático.
Documentos publicados hoje pelo WikiLeaks também revelam que o ex-embaixador americano em Brasília, John Danilovich, relatou que ela havia planejado três assaltos quando era integrante da organização VAR-Palmares.
Dilma Rousseff nega qualquer participação em ações armadas durante o regime militar.
Ao todo, o WikiLeaks publica hoje 9 documentos que mostram como a representação americana acompanhou de perto a trajetória de Dilma e o processo eleitoral brasileiro – que, aliás, a própria Hillary Clinton classificou de “bizantino”.
Joana D´Arc
Dilma Rousseff começou a chamar a atenção da embaixada quando tomou posse como Ministra-Chefe da Casa Civil. Um relatório especial a seu respeito foi elaborado e enviado em 22 de maio de 2005. Apesar de “não classificado”, o telegrama traz uma porção de temas sensíveis e algumas gafes. Um dos títulos é, por exemplo, “Joana D’Arc da Subversão se torna Chefe da Casa Civil” – uma referência à alcunha dada pelos agentes da repressão.
O documento afirma que ela teria planejado o “legendário” roubo ao cofre do corrupto prefeito de São Paulo, Adhemar de Barros, no qual a VAR-Palmares obteve 2,5 milhões de dólares.
“Integrando vários grupos clandestinos, ela organizou três assaltos a banco e depois co-fundou o grupo guerrilheiro Vanguarda de Palmares”, diz.
Dilma sempre negou qualquer participação em ações armadas.
O documento escrito pelo embaixador John Danilovich observa que ela foi presa por mais de três anos e torturada de forma “brutal” com eletrochoques.
A seguir, entra em detalhes pessoais ao estilo de uma revista de celebridades: “Ela tem uma filha, Paula, em Porto Alegre, onde passa os fins-de-semana. Gosta de filmes e música cássica. Perdeu peso recentemente após ter adotado a dieta do presidente Lula”.
O documento diz ainda que Dilma é vista como “cabeça-dura, uma negociadora difícil e detalhista” e revela que as empresas americanas tiveram receio quando ela se tornou ministra de Minas e Energia, mas “agora admitem que ela fez um trabalho competente”.
Rumo à eleição
O assessor da embaixada em Brasília, Phillip Chicola, relatou a Washington que Dilma Rousseff aumentou muito as suas chances de ser a candidata do PT depois da sessão no Senado em 7 de maio de 2009.
Dilma foi chamada para explicar o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e acabou tendo que explicar o escândalo do vazamento de informações dos cartões de crédito do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Logo no começo, o senador do DEM José Agripino Maia perguntou como deveriam acreditar nela, já que ela havia mentido quando interrogada pelos militares.
Nas palavras de Chicola, “a performance de Rousseff perante o comitê poderia ter prejudicado ou afundado suas chances presidenciais, se tivesse ido mal”. Mas Jose Agripino Maia “mancou feio” ao fazer a pergunta.
“Rousseff respondeu que foi brutalmente torturada pelos militares e tinha orgulho de ter mentido sob tortura porque isso salvou as vidas de outros que lutavam contra a ditadura. Com essa resposta dramática e inquestionável, Rousseff permaneceu no controle durante a maior parte da sessão”, diz o telegrama.
Câncer
Em outro relatório, enviado em 20 de julho de 2009, a diplomata Lisa Kubiske comenta o aumento de Dilma nas pesquisas apontando como consequência da sua visibilidade nas obras do PAC e da sua luta contra o câncer.
“Enquanto Rousseff continuar parecendo uma lutadora que venceu o câncer, suas chances presidenciais vão aumentar”, diz ela.
O estado de saúde de Dilma já havia sido tema de um extenso relatório enviado a Washington em 19 de junho, sob o título “Quão doente está Dilma Rouseff?”.
Nele, o embaixador Clifford Sobel relata as informações coletadas em conversas sobre a saúde da futura presidente, incluindo detalhes sobre o câncer linfático do qual ela sofria.
“Seus médicos afirmam que o câncer foi diagnosticado cedo e ela tem 90% de chance de se recuperar totalmente. Ela tinha nódulos linfáticos debaixo do braço esquerdo e começou um programa de um mês de quimioterapia em abril. Em maio, foi hospitalizada emergencialmente com dores nas pernas, o que foi atribuído à interrupção abrupta de medicamentos associados à quimioterapia. Os médicos dizem que ela vai reduzir esses remédios para evitar uma recaída”, diz o telegrama.
“No começo de junho ela havia completado três sessões de quimioterapia. Em uma reunião no dia 18 com um visitante de Washington, Rouseff parecia bem, com boa cor natural e pouca maquiagem, e um assessor disse ao embaixador que Rousseff estava respondendo tão bem à quimioterapia que suas sessões deveriam ser reduzidas de seis para quatro”.
No documento, Sobel especula sobre as consequências da doença da pré-candidata. Dilma poderia estar bem mais doente do que foi revelado publicamente, o que seria pouco provável. Outra possibilidade seria a doença piorar, inviabilizando sua candidatura. Finalmente, Dilma poderia reagir bem à quimioterapia e se recuperar do câncer. O embaixador via essa possibilidade como a mais provável – foi o que acabou acontecendo.
“Alguns analistas notaram que uma ‘vitória’ sobre o câncer jogará a seu favor e impulsionará a imagem de uma lutadora e vencedora. Mas se ela parecer fraca e derrotada, os eleitores vão minguar”.
Caso de Dilma não pudesse mais ser a candidata, Sobel faz outra uma lista de cenários possiveis.
No primeiro, o candidato do PT seria Antônio Palocci ou Gilberto Carvalho. No segundo, Aécio Neves se mudaria para o PSB ou o PV e poderia ser o candidato com apoio petista. E finalmente, Sobel reproduz especulações sobre um terceiro mandato de Lula, ouvidas em especial do deputado federal PPbista George Hilton.
“A doença de Rousseff mostrou uma vulnerabilidade do PT que não existia alguns anos atrás, quando podia indicar diversos governadores e congressistas como estrelas do partido. Essas estrelas por uma razão ou por estão apagadas e o partido adotou Dilma Rousseff, a escolhida de Lula, seu maior líder, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”, conclui Sobel.
Jornalistas
A embaixada acompanhou com informes regulares a contagem regressiva para a campanha eleitoral. Em outubro de 2009, a conselheira Lisa Kubiske já arriscava palpites sobre o pleito brasileiro. Um telegrama confidencial do dia 21 alertava Washington: “fiquem ligados!’
Nele, Kubiske dizia que o resultado dependeria da capacidade de Lula de transferir sua popularidade a Dilma, “ao mesmo tempo permitindo que ela se distingua como uma figura presidencial viável”.
Kubiske aponta em diversos telegramas a “falta de carisma” de Dilma.
Em fevereiro de 2010 ela conta que Dilma encostou em Serra nas pesquisas, e descreve a opinião de diversos jornalistas consultados pela representação americana.
“Os críticos mais ferrenhos de Rousseff frequentemente enfatizam que a campanha na TV e os comícios vão matar a sua candidatura”, afirma Kubiske, citando o apresentador da Globo William Waack.
Waak teria dito que em um fórum com empresários, Aécio Neves teria se mostado “o mais carismático”, Ciro Gomes “o mais forte”, Serra “claramente competente” e Dilma “a menos coerente”.
“Outros críticos usam um argumento mais sutil, dizendo de maneira racional que o desejo do Brasil por continuidade depois de anos de progresso na verdade beneficia Serra, visto como mais provável a seguir o caminho econômico iniciado por Cardoso e seguido por Lula”, escreveu Kubiske.
Bizantino
Os relatórios enviados pela embaixada americana em Brasília sobre as eleições foram muito apreciados em Washingon. Em um telegrama de 23 de abril de 2009, Clinton agradece pelo informe “estelar” sobre o candidato do PSDB José Serra.
Em outro telegrama, datado de 24 de julho, Clinton explica que as informações sobre Dilma foram usadas em reuniões de “briefing” com o alto escalão do governo dos EUA, inclusive o secretário do Tesouro Timothy Geithner. Hillary finaliza agradecendo o assessor para assuntos políticos Dale Prince por esclarecer sobre o sistema político brasileiro, “frequentemente bizantino”.
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Não foi só a saúde da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que foi alvo da curiosidade do governo americano. A presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, também teve detalhes do seu estado de saúde investigados pela embaixada americana em meados do ano passado, quando sofreu de câncer linfático.
Documentos publicados hoje pelo WikiLeaks também revelam que o ex-embaixador americano em Brasília, John Danilovich, relatou que ela havia planejado três assaltos quando era integrante da organização VAR-Palmares.
Dilma Rousseff nega qualquer participação em ações armadas durante o regime militar.
Ao todo, o WikiLeaks publica hoje 9 documentos que mostram como a representação americana acompanhou de perto a trajetória de Dilma e o processo eleitoral brasileiro – que, aliás, a própria Hillary Clinton classificou de “bizantino”.
Joana D´Arc
Dilma Rousseff começou a chamar a atenção da embaixada quando tomou posse como Ministra-Chefe da Casa Civil. Um relatório especial a seu respeito foi elaborado e enviado em 22 de maio de 2005. Apesar de “não classificado”, o telegrama traz uma porção de temas sensíveis e algumas gafes. Um dos títulos é, por exemplo, “Joana D’Arc da Subversão se torna Chefe da Casa Civil” – uma referência à alcunha dada pelos agentes da repressão.
O documento afirma que ela teria planejado o “legendário” roubo ao cofre do corrupto prefeito de São Paulo, Adhemar de Barros, no qual a VAR-Palmares obteve 2,5 milhões de dólares.
“Integrando vários grupos clandestinos, ela organizou três assaltos a banco e depois co-fundou o grupo guerrilheiro Vanguarda de Palmares”, diz.
Dilma sempre negou qualquer participação em ações armadas.
O documento escrito pelo embaixador John Danilovich observa que ela foi presa por mais de três anos e torturada de forma “brutal” com eletrochoques.
A seguir, entra em detalhes pessoais ao estilo de uma revista de celebridades: “Ela tem uma filha, Paula, em Porto Alegre, onde passa os fins-de-semana. Gosta de filmes e música cássica. Perdeu peso recentemente após ter adotado a dieta do presidente Lula”.
O documento diz ainda que Dilma é vista como “cabeça-dura, uma negociadora difícil e detalhista” e revela que as empresas americanas tiveram receio quando ela se tornou ministra de Minas e Energia, mas “agora admitem que ela fez um trabalho competente”.
Rumo à eleição
O assessor da embaixada em Brasília, Phillip Chicola, relatou a Washington que Dilma Rousseff aumentou muito as suas chances de ser a candidata do PT depois da sessão no Senado em 7 de maio de 2009.
Dilma foi chamada para explicar o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e acabou tendo que explicar o escândalo do vazamento de informações dos cartões de crédito do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Logo no começo, o senador do DEM José Agripino Maia perguntou como deveriam acreditar nela, já que ela havia mentido quando interrogada pelos militares.
Nas palavras de Chicola, “a performance de Rousseff perante o comitê poderia ter prejudicado ou afundado suas chances presidenciais, se tivesse ido mal”. Mas Jose Agripino Maia “mancou feio” ao fazer a pergunta.
“Rousseff respondeu que foi brutalmente torturada pelos militares e tinha orgulho de ter mentido sob tortura porque isso salvou as vidas de outros que lutavam contra a ditadura. Com essa resposta dramática e inquestionável, Rousseff permaneceu no controle durante a maior parte da sessão”, diz o telegrama.
Câncer
Em outro relatório, enviado em 20 de julho de 2009, a diplomata Lisa Kubiske comenta o aumento de Dilma nas pesquisas apontando como consequência da sua visibilidade nas obras do PAC e da sua luta contra o câncer.
“Enquanto Rousseff continuar parecendo uma lutadora que venceu o câncer, suas chances presidenciais vão aumentar”, diz ela.
O estado de saúde de Dilma já havia sido tema de um extenso relatório enviado a Washington em 19 de junho, sob o título “Quão doente está Dilma Rouseff?”.
Nele, o embaixador Clifford Sobel relata as informações coletadas em conversas sobre a saúde da futura presidente, incluindo detalhes sobre o câncer linfático do qual ela sofria.
“Seus médicos afirmam que o câncer foi diagnosticado cedo e ela tem 90% de chance de se recuperar totalmente. Ela tinha nódulos linfáticos debaixo do braço esquerdo e começou um programa de um mês de quimioterapia em abril. Em maio, foi hospitalizada emergencialmente com dores nas pernas, o que foi atribuído à interrupção abrupta de medicamentos associados à quimioterapia. Os médicos dizem que ela vai reduzir esses remédios para evitar uma recaída”, diz o telegrama.
“No começo de junho ela havia completado três sessões de quimioterapia. Em uma reunião no dia 18 com um visitante de Washington, Rouseff parecia bem, com boa cor natural e pouca maquiagem, e um assessor disse ao embaixador que Rousseff estava respondendo tão bem à quimioterapia que suas sessões deveriam ser reduzidas de seis para quatro”.
No documento, Sobel especula sobre as consequências da doença da pré-candidata. Dilma poderia estar bem mais doente do que foi revelado publicamente, o que seria pouco provável. Outra possibilidade seria a doença piorar, inviabilizando sua candidatura. Finalmente, Dilma poderia reagir bem à quimioterapia e se recuperar do câncer. O embaixador via essa possibilidade como a mais provável – foi o que acabou acontecendo.
“Alguns analistas notaram que uma ‘vitória’ sobre o câncer jogará a seu favor e impulsionará a imagem de uma lutadora e vencedora. Mas se ela parecer fraca e derrotada, os eleitores vão minguar”.
Caso de Dilma não pudesse mais ser a candidata, Sobel faz outra uma lista de cenários possiveis.
No primeiro, o candidato do PT seria Antônio Palocci ou Gilberto Carvalho. No segundo, Aécio Neves se mudaria para o PSB ou o PV e poderia ser o candidato com apoio petista. E finalmente, Sobel reproduz especulações sobre um terceiro mandato de Lula, ouvidas em especial do deputado federal PPbista George Hilton.
“A doença de Rousseff mostrou uma vulnerabilidade do PT que não existia alguns anos atrás, quando podia indicar diversos governadores e congressistas como estrelas do partido. Essas estrelas por uma razão ou por estão apagadas e o partido adotou Dilma Rousseff, a escolhida de Lula, seu maior líder, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”, conclui Sobel.
Jornalistas
A embaixada acompanhou com informes regulares a contagem regressiva para a campanha eleitoral. Em outubro de 2009, a conselheira Lisa Kubiske já arriscava palpites sobre o pleito brasileiro. Um telegrama confidencial do dia 21 alertava Washington: “fiquem ligados!’
Nele, Kubiske dizia que o resultado dependeria da capacidade de Lula de transferir sua popularidade a Dilma, “ao mesmo tempo permitindo que ela se distingua como uma figura presidencial viável”.
Kubiske aponta em diversos telegramas a “falta de carisma” de Dilma.
Em fevereiro de 2010 ela conta que Dilma encostou em Serra nas pesquisas, e descreve a opinião de diversos jornalistas consultados pela representação americana.
“Os críticos mais ferrenhos de Rousseff frequentemente enfatizam que a campanha na TV e os comícios vão matar a sua candidatura”, afirma Kubiske, citando o apresentador da Globo William Waack.
Waak teria dito que em um fórum com empresários, Aécio Neves teria se mostado “o mais carismático”, Ciro Gomes “o mais forte”, Serra “claramente competente” e Dilma “a menos coerente”.
“Outros críticos usam um argumento mais sutil, dizendo de maneira racional que o desejo do Brasil por continuidade depois de anos de progresso na verdade beneficia Serra, visto como mais provável a seguir o caminho econômico iniciado por Cardoso e seguido por Lula”, escreveu Kubiske.
Bizantino
Os relatórios enviados pela embaixada americana em Brasília sobre as eleições foram muito apreciados em Washingon. Em um telegrama de 23 de abril de 2009, Clinton agradece pelo informe “estelar” sobre o candidato do PSDB José Serra.
Em outro telegrama, datado de 24 de julho, Clinton explica que as informações sobre Dilma foram usadas em reuniões de “briefing” com o alto escalão do governo dos EUA, inclusive o secretário do Tesouro Timothy Geithner. Hillary finaliza agradecendo o assessor para assuntos políticos Dale Prince por esclarecer sobre o sistema político brasileiro, “frequentemente bizantino”.
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Mentor do AI-5 Digital ataca Assange e Lula
Se dependesse do senador tucano Eduardo Azeredo, o "ético" que deu origem ao esquema do valerioduto, a internet nem existiria. Ele é autor do AI-5 Digital, projeto de lei que visa castrar o uso da rede - criando um esquema policialesco de vigilância e censura. Agora, ele também faz coro com os governantes dos EUA contra o Wikileaks.
Na última sexta-feira (10), o chefão do PSDB-MG criticou em seu Twitter o presidente Lula por sua manifestação de solidariedade a Julian Assange, criador do sítio. "Só faltava essa. Pres. Lula defende hacker". De imediato, recebeu uma saraivada de críticas dos internautas.
Além de censor, o mentor do AI-5 Digital ainda é bajulador do império que ficou nu com as revelações do Wikileaks.
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Na última sexta-feira (10), o chefão do PSDB-MG criticou em seu Twitter o presidente Lula por sua manifestação de solidariedade a Julian Assange, criador do sítio. "Só faltava essa. Pres. Lula defende hacker". De imediato, recebeu uma saraivada de críticas dos internautas.
Além de censor, o mentor do AI-5 Digital ainda é bajulador do império que ficou nu com as revelações do Wikileaks.
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WikiLeaks: EUA com as calças no varal
Reproduzo artigo de Antonio Luiz M. C. Costa, publicado na revista CartaCapital:
O que fazer de 251.287 memorandos diplomáticos? Uma leitura, análise e interpretação razoavelmente aprofundadas seriam um trabalho de anos, capaz de gerar milhares de artigos e teses acadêmicas em história, relações internacionais e ciências políticas.
Em vez de discutir as minúcias das árvores para as quais querem que prestemos atenção, busquemos uma visão geral da floresta. Uma conclusão inevitável é que o Departamento de Estado de fato põe diplomatas a serviço da espionagem, inclusive de seus aliados – e pode ter perdido parte da confiança destes, vista a facilidade- com que seus segredos são vazados.
Outra é que os EUA têm pouca capacidade de interpretação das informações que reúne. As opiniões desabridas de diplomatas de Washington e de seus amigos e informantes sobre líderes mundiais são por vezes divertidas, mas raramente acrescentam algo novo. Suas análises e especulações revelam poucos segredos e também pouca capacidade de ir além do senso comum.
Simon Jenkins, do Guardian, comenta: “A impressão é da superpotência mundial- vagando impotente num mundo onde ninguém se porta como ela pede. Irã, Rússia, Paquistão, Afeganistão, Iêmen, a ONU, todos vivem saindo do roteiro. Washington reage como um urso ferido, com instintos imperiais, mas uma projeção de poder improdutiva. Sua diplomacia mostra-se escrava do deslocamento da política à direita e se apavora com uma bomba que explode no exterior ou com um congressista pró-Israel”.
Nas palavras de um alto funcionário do governo argentino ao Página/12, as mensagens “revelam que uma parte da administração estadunidense se converteu em um Estado policial, com uma análise muito pobre da política internacional. Muitas vezes esse tipo de organismo, como os que fazem inteligência dentro do Departamento de Estado, exageram seu trabalho, apesar de chegarem a conclusões e limites absurdos, para justificar sua existência, pedir mais recursos e aumentar seu poder interno”.
Nos próprios documentos vazados, os diplomatas de Washington tiveram de relatar o desdém de aliados e inimigos por sua inteligência. Em um almoço no Quirguistão, um empresário britânico disse ao príncipe Andrew que os investimentos do Reino Unido e dos EUA no vizinho Cazaquistão eram comparáveis, embora a economia estadunidense seja muito maior.
“Nenhuma surpresa”, disse o príncipe, “os americanos não entendem de geografia, nunca entenderam.” Em uma recepção a senadores dos EUA, o presidente sírio Bashar Assad pondera: “Vocês possuem um gigantesco aparato de informação. Não temos esses recursos, mas somos bem-sucedidos no combate aos extremistas porque contamos com melhores analistas. Vocês gostam de fuzilar terroristas, mas sufocar as redes deles dá melhores resultados”.
Não se deve nem minimizar o conjunto como irrelevante fofoca de comadres ou papo de botequim para desvalorizar o que tem de incômodo, nem tratar as opiniões e alegações dos diplomatas dos EUA como verdade revelada. O material precisa ser criticado como qualquer outra fonte primária. John Kornblum, ex-embaixador dos EUA na Alemanha, contou como teve de escrever pareceres sobre personalidades do país onde atuava aos 23 anos, ao iniciar a carreira. Que avaliação séria do pensamento e dos planos de um líder estrangeiro poderia ter feito quando tão jovem e inexperiente?
Não há por que duvidar da autenticidade do material, mas com quais critérios foi escolhido por quem o vazou para o WikiLeaks? Bastaria um pen drive e um funcionário descontente, talvez tão jovem quanto o soldado de 23 anos acusa-do de vazar documentos sobre a Guerra no Iraque. Depois do atentado de 11 de setembro, as vias de comunicação diplomática foram unificadas na Secret Internet Protocol Router Network (SIPRnet), uma intranet para facilitar o acesso a informações sobre o terrorismo, para a qual 2,5 milhões de pessoas têm senhas. Mas não se pode descartar que o responsável tivesse uma agenda própria e quisesse apoiar ou prejudicar certos interesses.
Idem quanto ao próprio WikiLeaks e os jornais e revistas aos quais confiou seu material. Cada um seleciona ou prioriza à sua maneira. Seria ingenuidade pressupor sua neutralidade e isenção. Todas as publicações são ligadas às correntes principais dos interesses ocidentais: El País (Espanha), Le Monde (França), Der Spiegel (Alemanha) e Guardian (Reino Unido). The New York Times (EUA) não foi contemplado, provavelmente por causa do perfil desfavorável de Julian Assange, fundador do WikiLeaks, que publicou à época do vazamento sobre a guerra no Iraque, mas recebeu o material do Guardian.
O australiano Assange, vale notar, é muito mais próximo de Adam Smith do que de Karl Marx ou Bakunin, como mostrou em entrevista à revista Forbes: “Amo os mercados. Vivi em muitos países, vejo como é vibrante o setor de telecomunicações da Malásia. Nos EUA, tudo é verticalmente integrado e costurado, não há livre mercado. Na Malásia, há um amplo espectro de competidores e isso beneficia a todos”.
Como seus vazamentos se encaixam nisso? “Um mercado perfeito exige informação perfeita. Aprendi de muitos campos filosóficos e econômicos, mas um é o libertarianismo americano, de mercado. No que se refere a mercados, sou um libertarian, mas sei o suficiente de política e história para entender que um mercado livre acaba em monopólio se não for forçado a ser livre. O WikiLeaks foi criado para tornar o capitalismo mais livre e ético.”
É pouco justificada, por outro lado, a desconfiança do sociólogo radical James Petras, que estranhou a ausência de ações secretas dos EUA e de Israel. Mensagens classificadas como top secret não circulam na mesma rede. Embora se diga que 850 mil têm acesso a elas, poderia não ser o caso do responsável pelo vazamento, ou ele poderia não querer se arriscar tanto.
Podemos ver que o rei saudita Abdullah chamou Mahmoud Ahmadinejad de “Hitler” e que um assessor de Sarkozy classificou o Irã de “fascista” e sua diplomacia de “farsa”. Mas não lemos, por exemplo, o que árabes e europeus pensam de Israel e suas- ações em Gaza e na Cisjordânia, ou dos atentados do Mossad no exterior (com certeza em Dubai, provavelmente também no Irã). Por quê? Talvez os diplomatas prefiram contar só o que seus chefes queiram ouvir, mas tais mensagens também poderiam ter sido excluídas por algum dos interesses entre o pen drive e as manchetes.
É muito improvável que o material tenha sido deliberadamente vazado para justificar, digamos, ações militares contra o Teerã, como diz Ahmadinejad. Belicistas e sionistas tentam usar o material dessa maneira, mas é, no mínimo, uma faca de dois gumes. Ler que os EUA ouvem, apoiam e aconselham a oposição iraniana a prejudica junto a seu povo mais que ao governo de Ahmadinejad.
Não surpreende que reis árabes estejam de acordo com Israel em pressionar por uma guerra com o Irã – sabe-se como eles receiam o destino do xá Reza Pahlevi –, mas ver isso escrito em letras de forma pode minar seu prestígio com a população e fortalecer os fundamentalistas dentro de seus próprios países. Goste-se ou não, as pesquisas de opinião mostram que, dos árabes, 80% veem Israel como ameaça e 77% os EUA, mas só 10% o Irã.
Da mesma forma, se a oposição tenta usar contra o governo mensagens referentes ao Brasil, elas têm maior potencial para desmoralizar os amigos de Washington. Alardeou-se que “para EUA, Itamaraty é adversário”. Não é novidade, mas se para Tio Sam o ministro da Defesa, Nelson Jobim, é “um dos líderes mais confiáveis no Brasil”, isso só o faz menos confiável para defender interesses brasileiros e fortalece o chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, que Jobim teria descrito ao embaixador Clifford Sobel como alguém que “odeia os EUA” e “cria problemas” entre os dois países.
Também caiu mal no Itamaraty a indiscrição de Jobim sobre um (suposto) câncer de Evo Morales, aparentemente revelando um segredo de Estado da Bolívia para ganhar a confiança de Washington. Também não ficou bem o general Jorge Félix, ministro da Segurança Institucional, ao dar ao embaixador a impressão de que discordava de Brasília e apoiava Washington quanto à Venezuela.
Dizer que o Brasil resistiu às pressões de Washington para impor leis “antiterroristas” e preferiu prender e processar por crimes comuns eventuais suspeitos de ligações com o terrorismo, reforça o prestígio do governo nos movimentos sociais como o MST que poderiam ser criminalizados por tal legislação, por mais que jornais escrevam que “Brasil oculta terrorismo” e “Dilma ‘cassou’ projeto de lei que reforçaria o combate ao terrorismo”.
Esta última afirmação exemplifica bem a lógica circular da inteligência dos EUA. Segundo o relatório em questão, pediu-se ao assessor do Gabinete de Segurança Institucional, Janer Tesch Alvarenga, para confirmar que foi Dilma quem derrubou a proposta, como escrevera o Correio Braziliense. A explicação foi complexa e correta: tratou-se de uma decisão política que atendeu a vários setores do governo, notadamente o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos.
Para o autor do relatório, Alvarenga “tergiversou” e “não negou”. O memorando preferiu destacar o palpite do major André Luís Woloszyn que, formado no Colégio Interamericano de Defesa dos EUA, falou a língua que a embaixada queria ouvir. Segundo o major, a reportagem do Correio “soava muito crível”. O GSI foi cortina de fumaça para iludir os EUA quanto à disposição desse governo “repleto de militantes esquerdistas” de combater o terrorismo e “a mente brasileira” não se preocupa com extremismo na sua comunidade muçulmana porque “não vai além de seus clichês sobre o paraíso multicultural que é o Brasil. Só mudaria com uma onda de violência como a do PCC”. (Sugestão implícita?)
E assim os EUA, em vez de monitorar o ambiente e tentar compreender o que lhes é estranho, preferem ouvir as próprias criaturas e correr atrás da própria sombra – como também a imprensa conservadora brasileira, ao destacar comunicados da embaixada sobre “corrupção” no governo brasileiro que nada mais fazem que refletir a opinião e os vieses da imprensa lida pelos diplomatas.
Da mesma forma, notas das embaixadas na Ásia Central sobre fraude na eleição no Irã não fazem mais que expressar a opinião da oposição iraniana. Não são necessariamente mais acuradas que a informação – provavelmente da mesma fonte – que em agosto de 2009 dava o líder supremo aiatolá Khatami como doente terminal de leucemia, com poucos meses de vida (14 meses depois, ele continua ativo e recebendo dignitários estrangeiros).
O maior estrago do vazamento pode ter sido feito nas relações com Ancara, aliada tradicional da Otan e de onde parte o maior número de mensagens destinadas a Washington. O chanceler Ahmet Davutoglu, que negociou com o Irã ao lado do colega brasileiro Celso Amorim, é chamado de sicofanta e de perigoso neo-otomanista.
O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan é acusado de tentar criar um Estado islâmico, citando-se o embaixador de Israel- na Turquia para quem Erdogan é “um fundamentalista que nos odeia religiosamente”. E o que é pior do ponto de vista político, se diz em um dos relatórios que ele seria proprietário de oito contas secretas na Suíça, o que ele nega peremptoriamente, mas a oposição tenta capitalizar.
Se os aliados dos EUA na Europa e no Oriente Médio rangeram os dentes ao tomar conhecimento dos documentos vazados, seus rivais e desafetos na América Latina tiveram motivos para sorrir.
Enquanto a maior parte da imprensa dos EUA e do Brasil insistia em falar de “deposição constitucional” de Manuel Zelaya, a embaixada dos EUA em Honduras não tinha receio de dar nome aos bois, referir-se ao golpe ilegal como tal e tachar de ilegítimo o regime de Roberto Micheletti. Evo Morales e Hugo Chávez estão vingados: suas afirmações de que as embaixadas dos EUA são centros de espionagem, pelas quais foram muitas vezes ironizados, estão comprovadas por escrito.
Uma mensagem de Hillary Clinton ordena a seu pessoal na ONU buscar dados biométricos, senhas de e-mail e números de cartões de crédito e de viagens de diplomatas no Conselho de Segurança – inclusive os do Brasil e do Reino Unido – e do próprio secretário-geral Ban Ki-moon. Segundo a BBC foi um choque ao menos para o embaixador britânico, que se imaginava protegido pela “relação especial” com Washington. Informações semelhantes são pedidas sobre candidatos à Presidência do Paraguai e líderes africanos.
É evidente a tentativa de violar segredos até de aliados – ou de conseguir dados pessoais úteis para chantagem. Partiu de Hillary uma ordem para investigar “como Cristina Kirchner lidava com seus nervos e ansiedades” e se tomava medicamentos. Também se interessava por quanto a situação gastrointestinal de Néstor o incomodava e por seus remédios, mas não pelos problemas cardíacos que depois o mataram.
Enquanto os EUA bisbilhotam o mundo, grande parte dos governos e da mídia condena a bisbilhotice do WikiLeaks ou tenta desqualificá-lo como irrelevante. O britânico Guardian defendeu o vazamento dedicou-se a um trabalho sério de análise e acompanhamento das repercussões, mas é exceção.
Comparou-o aos famosos “Papéis do Pentágono”, de 1971: na ocasião, o analista militar e coautor Daniel Ellsberg vazou 14 mil páginas de relatórios sobre a Guerra do Vietnã que discutiam ações secretas que incluíam bombardeios de países neutros e ataques diretos ao Vietnã do Norte, oficialmente negados.
As revelações foram publicadas pelo New York Times e Washington Post, que contestaram na Justiça a tentativa de Nixon de proibi-los e venceram. Ellsberg foi processado por traição e absolvido, enquanto os agentes da Casa Branca foram punidos por arrombar o consultório de seu psiquiatra em busca de dados comprometedores sobre sua saúde mental.
Hoje, o presidenciável republicano Mike Huckabee, ex-governador do Arkansas, pede pena de morte por traição a quem quer que tenha vazado os documentos ao WikiLeaks. Apesar da cobrança de republicanos como Sarah Palin, não há como enquadrá-lo como “organização terrorista” e Tio Sam recorreu ao jeitinho condenado pelo major Woloszyn: pôs a Interpol atrás de Assange sob a acusação, provavelmente forjada, de estupro na Suécia. Depois de dificultar doações ao site, pressionou a Amazon a expulsá-lo de seus servidores, o que ocorreu na quarta-feira 1º de dezembro.
Para Thomas Flanagan, assessor do primeiro-ministro canadense Stephen Harper, não basta: Barack Obama deveria oferecer uma recompensa a quem matar o australiano, ou “usar um avião sem piloto para acabar com ele”. O Ocidente de hoje é mais autoritário e conservador que o de há 40 anos e também mais arrogante e truculento: questionado sobre o impacto negativo nas relações dos EUA, o porta-voz do Pentágono deu de ombros: “O mundo não se relaciona conosco por gostar ou confiar em nós, mas por não ter outro remédio. Somos o último, o único poder indispensável”.
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O que fazer de 251.287 memorandos diplomáticos? Uma leitura, análise e interpretação razoavelmente aprofundadas seriam um trabalho de anos, capaz de gerar milhares de artigos e teses acadêmicas em história, relações internacionais e ciências políticas.
Em vez de discutir as minúcias das árvores para as quais querem que prestemos atenção, busquemos uma visão geral da floresta. Uma conclusão inevitável é que o Departamento de Estado de fato põe diplomatas a serviço da espionagem, inclusive de seus aliados – e pode ter perdido parte da confiança destes, vista a facilidade- com que seus segredos são vazados.
Outra é que os EUA têm pouca capacidade de interpretação das informações que reúne. As opiniões desabridas de diplomatas de Washington e de seus amigos e informantes sobre líderes mundiais são por vezes divertidas, mas raramente acrescentam algo novo. Suas análises e especulações revelam poucos segredos e também pouca capacidade de ir além do senso comum.
Simon Jenkins, do Guardian, comenta: “A impressão é da superpotência mundial- vagando impotente num mundo onde ninguém se porta como ela pede. Irã, Rússia, Paquistão, Afeganistão, Iêmen, a ONU, todos vivem saindo do roteiro. Washington reage como um urso ferido, com instintos imperiais, mas uma projeção de poder improdutiva. Sua diplomacia mostra-se escrava do deslocamento da política à direita e se apavora com uma bomba que explode no exterior ou com um congressista pró-Israel”.
Nas palavras de um alto funcionário do governo argentino ao Página/12, as mensagens “revelam que uma parte da administração estadunidense se converteu em um Estado policial, com uma análise muito pobre da política internacional. Muitas vezes esse tipo de organismo, como os que fazem inteligência dentro do Departamento de Estado, exageram seu trabalho, apesar de chegarem a conclusões e limites absurdos, para justificar sua existência, pedir mais recursos e aumentar seu poder interno”.
Nos próprios documentos vazados, os diplomatas de Washington tiveram de relatar o desdém de aliados e inimigos por sua inteligência. Em um almoço no Quirguistão, um empresário britânico disse ao príncipe Andrew que os investimentos do Reino Unido e dos EUA no vizinho Cazaquistão eram comparáveis, embora a economia estadunidense seja muito maior.
“Nenhuma surpresa”, disse o príncipe, “os americanos não entendem de geografia, nunca entenderam.” Em uma recepção a senadores dos EUA, o presidente sírio Bashar Assad pondera: “Vocês possuem um gigantesco aparato de informação. Não temos esses recursos, mas somos bem-sucedidos no combate aos extremistas porque contamos com melhores analistas. Vocês gostam de fuzilar terroristas, mas sufocar as redes deles dá melhores resultados”.
Não se deve nem minimizar o conjunto como irrelevante fofoca de comadres ou papo de botequim para desvalorizar o que tem de incômodo, nem tratar as opiniões e alegações dos diplomatas dos EUA como verdade revelada. O material precisa ser criticado como qualquer outra fonte primária. John Kornblum, ex-embaixador dos EUA na Alemanha, contou como teve de escrever pareceres sobre personalidades do país onde atuava aos 23 anos, ao iniciar a carreira. Que avaliação séria do pensamento e dos planos de um líder estrangeiro poderia ter feito quando tão jovem e inexperiente?
Não há por que duvidar da autenticidade do material, mas com quais critérios foi escolhido por quem o vazou para o WikiLeaks? Bastaria um pen drive e um funcionário descontente, talvez tão jovem quanto o soldado de 23 anos acusa-do de vazar documentos sobre a Guerra no Iraque. Depois do atentado de 11 de setembro, as vias de comunicação diplomática foram unificadas na Secret Internet Protocol Router Network (SIPRnet), uma intranet para facilitar o acesso a informações sobre o terrorismo, para a qual 2,5 milhões de pessoas têm senhas. Mas não se pode descartar que o responsável tivesse uma agenda própria e quisesse apoiar ou prejudicar certos interesses.
Idem quanto ao próprio WikiLeaks e os jornais e revistas aos quais confiou seu material. Cada um seleciona ou prioriza à sua maneira. Seria ingenuidade pressupor sua neutralidade e isenção. Todas as publicações são ligadas às correntes principais dos interesses ocidentais: El País (Espanha), Le Monde (França), Der Spiegel (Alemanha) e Guardian (Reino Unido). The New York Times (EUA) não foi contemplado, provavelmente por causa do perfil desfavorável de Julian Assange, fundador do WikiLeaks, que publicou à época do vazamento sobre a guerra no Iraque, mas recebeu o material do Guardian.
O australiano Assange, vale notar, é muito mais próximo de Adam Smith do que de Karl Marx ou Bakunin, como mostrou em entrevista à revista Forbes: “Amo os mercados. Vivi em muitos países, vejo como é vibrante o setor de telecomunicações da Malásia. Nos EUA, tudo é verticalmente integrado e costurado, não há livre mercado. Na Malásia, há um amplo espectro de competidores e isso beneficia a todos”.
Como seus vazamentos se encaixam nisso? “Um mercado perfeito exige informação perfeita. Aprendi de muitos campos filosóficos e econômicos, mas um é o libertarianismo americano, de mercado. No que se refere a mercados, sou um libertarian, mas sei o suficiente de política e história para entender que um mercado livre acaba em monopólio se não for forçado a ser livre. O WikiLeaks foi criado para tornar o capitalismo mais livre e ético.”
É pouco justificada, por outro lado, a desconfiança do sociólogo radical James Petras, que estranhou a ausência de ações secretas dos EUA e de Israel. Mensagens classificadas como top secret não circulam na mesma rede. Embora se diga que 850 mil têm acesso a elas, poderia não ser o caso do responsável pelo vazamento, ou ele poderia não querer se arriscar tanto.
Podemos ver que o rei saudita Abdullah chamou Mahmoud Ahmadinejad de “Hitler” e que um assessor de Sarkozy classificou o Irã de “fascista” e sua diplomacia de “farsa”. Mas não lemos, por exemplo, o que árabes e europeus pensam de Israel e suas- ações em Gaza e na Cisjordânia, ou dos atentados do Mossad no exterior (com certeza em Dubai, provavelmente também no Irã). Por quê? Talvez os diplomatas prefiram contar só o que seus chefes queiram ouvir, mas tais mensagens também poderiam ter sido excluídas por algum dos interesses entre o pen drive e as manchetes.
É muito improvável que o material tenha sido deliberadamente vazado para justificar, digamos, ações militares contra o Teerã, como diz Ahmadinejad. Belicistas e sionistas tentam usar o material dessa maneira, mas é, no mínimo, uma faca de dois gumes. Ler que os EUA ouvem, apoiam e aconselham a oposição iraniana a prejudica junto a seu povo mais que ao governo de Ahmadinejad.
Não surpreende que reis árabes estejam de acordo com Israel em pressionar por uma guerra com o Irã – sabe-se como eles receiam o destino do xá Reza Pahlevi –, mas ver isso escrito em letras de forma pode minar seu prestígio com a população e fortalecer os fundamentalistas dentro de seus próprios países. Goste-se ou não, as pesquisas de opinião mostram que, dos árabes, 80% veem Israel como ameaça e 77% os EUA, mas só 10% o Irã.
Da mesma forma, se a oposição tenta usar contra o governo mensagens referentes ao Brasil, elas têm maior potencial para desmoralizar os amigos de Washington. Alardeou-se que “para EUA, Itamaraty é adversário”. Não é novidade, mas se para Tio Sam o ministro da Defesa, Nelson Jobim, é “um dos líderes mais confiáveis no Brasil”, isso só o faz menos confiável para defender interesses brasileiros e fortalece o chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, que Jobim teria descrito ao embaixador Clifford Sobel como alguém que “odeia os EUA” e “cria problemas” entre os dois países.
Também caiu mal no Itamaraty a indiscrição de Jobim sobre um (suposto) câncer de Evo Morales, aparentemente revelando um segredo de Estado da Bolívia para ganhar a confiança de Washington. Também não ficou bem o general Jorge Félix, ministro da Segurança Institucional, ao dar ao embaixador a impressão de que discordava de Brasília e apoiava Washington quanto à Venezuela.
Dizer que o Brasil resistiu às pressões de Washington para impor leis “antiterroristas” e preferiu prender e processar por crimes comuns eventuais suspeitos de ligações com o terrorismo, reforça o prestígio do governo nos movimentos sociais como o MST que poderiam ser criminalizados por tal legislação, por mais que jornais escrevam que “Brasil oculta terrorismo” e “Dilma ‘cassou’ projeto de lei que reforçaria o combate ao terrorismo”.
Esta última afirmação exemplifica bem a lógica circular da inteligência dos EUA. Segundo o relatório em questão, pediu-se ao assessor do Gabinete de Segurança Institucional, Janer Tesch Alvarenga, para confirmar que foi Dilma quem derrubou a proposta, como escrevera o Correio Braziliense. A explicação foi complexa e correta: tratou-se de uma decisão política que atendeu a vários setores do governo, notadamente o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos.
Para o autor do relatório, Alvarenga “tergiversou” e “não negou”. O memorando preferiu destacar o palpite do major André Luís Woloszyn que, formado no Colégio Interamericano de Defesa dos EUA, falou a língua que a embaixada queria ouvir. Segundo o major, a reportagem do Correio “soava muito crível”. O GSI foi cortina de fumaça para iludir os EUA quanto à disposição desse governo “repleto de militantes esquerdistas” de combater o terrorismo e “a mente brasileira” não se preocupa com extremismo na sua comunidade muçulmana porque “não vai além de seus clichês sobre o paraíso multicultural que é o Brasil. Só mudaria com uma onda de violência como a do PCC”. (Sugestão implícita?)
E assim os EUA, em vez de monitorar o ambiente e tentar compreender o que lhes é estranho, preferem ouvir as próprias criaturas e correr atrás da própria sombra – como também a imprensa conservadora brasileira, ao destacar comunicados da embaixada sobre “corrupção” no governo brasileiro que nada mais fazem que refletir a opinião e os vieses da imprensa lida pelos diplomatas.
Da mesma forma, notas das embaixadas na Ásia Central sobre fraude na eleição no Irã não fazem mais que expressar a opinião da oposição iraniana. Não são necessariamente mais acuradas que a informação – provavelmente da mesma fonte – que em agosto de 2009 dava o líder supremo aiatolá Khatami como doente terminal de leucemia, com poucos meses de vida (14 meses depois, ele continua ativo e recebendo dignitários estrangeiros).
O maior estrago do vazamento pode ter sido feito nas relações com Ancara, aliada tradicional da Otan e de onde parte o maior número de mensagens destinadas a Washington. O chanceler Ahmet Davutoglu, que negociou com o Irã ao lado do colega brasileiro Celso Amorim, é chamado de sicofanta e de perigoso neo-otomanista.
O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan é acusado de tentar criar um Estado islâmico, citando-se o embaixador de Israel- na Turquia para quem Erdogan é “um fundamentalista que nos odeia religiosamente”. E o que é pior do ponto de vista político, se diz em um dos relatórios que ele seria proprietário de oito contas secretas na Suíça, o que ele nega peremptoriamente, mas a oposição tenta capitalizar.
Se os aliados dos EUA na Europa e no Oriente Médio rangeram os dentes ao tomar conhecimento dos documentos vazados, seus rivais e desafetos na América Latina tiveram motivos para sorrir.
Enquanto a maior parte da imprensa dos EUA e do Brasil insistia em falar de “deposição constitucional” de Manuel Zelaya, a embaixada dos EUA em Honduras não tinha receio de dar nome aos bois, referir-se ao golpe ilegal como tal e tachar de ilegítimo o regime de Roberto Micheletti. Evo Morales e Hugo Chávez estão vingados: suas afirmações de que as embaixadas dos EUA são centros de espionagem, pelas quais foram muitas vezes ironizados, estão comprovadas por escrito.
Uma mensagem de Hillary Clinton ordena a seu pessoal na ONU buscar dados biométricos, senhas de e-mail e números de cartões de crédito e de viagens de diplomatas no Conselho de Segurança – inclusive os do Brasil e do Reino Unido – e do próprio secretário-geral Ban Ki-moon. Segundo a BBC foi um choque ao menos para o embaixador britânico, que se imaginava protegido pela “relação especial” com Washington. Informações semelhantes são pedidas sobre candidatos à Presidência do Paraguai e líderes africanos.
É evidente a tentativa de violar segredos até de aliados – ou de conseguir dados pessoais úteis para chantagem. Partiu de Hillary uma ordem para investigar “como Cristina Kirchner lidava com seus nervos e ansiedades” e se tomava medicamentos. Também se interessava por quanto a situação gastrointestinal de Néstor o incomodava e por seus remédios, mas não pelos problemas cardíacos que depois o mataram.
Enquanto os EUA bisbilhotam o mundo, grande parte dos governos e da mídia condena a bisbilhotice do WikiLeaks ou tenta desqualificá-lo como irrelevante. O britânico Guardian defendeu o vazamento dedicou-se a um trabalho sério de análise e acompanhamento das repercussões, mas é exceção.
Comparou-o aos famosos “Papéis do Pentágono”, de 1971: na ocasião, o analista militar e coautor Daniel Ellsberg vazou 14 mil páginas de relatórios sobre a Guerra do Vietnã que discutiam ações secretas que incluíam bombardeios de países neutros e ataques diretos ao Vietnã do Norte, oficialmente negados.
As revelações foram publicadas pelo New York Times e Washington Post, que contestaram na Justiça a tentativa de Nixon de proibi-los e venceram. Ellsberg foi processado por traição e absolvido, enquanto os agentes da Casa Branca foram punidos por arrombar o consultório de seu psiquiatra em busca de dados comprometedores sobre sua saúde mental.
Hoje, o presidenciável republicano Mike Huckabee, ex-governador do Arkansas, pede pena de morte por traição a quem quer que tenha vazado os documentos ao WikiLeaks. Apesar da cobrança de republicanos como Sarah Palin, não há como enquadrá-lo como “organização terrorista” e Tio Sam recorreu ao jeitinho condenado pelo major Woloszyn: pôs a Interpol atrás de Assange sob a acusação, provavelmente forjada, de estupro na Suécia. Depois de dificultar doações ao site, pressionou a Amazon a expulsá-lo de seus servidores, o que ocorreu na quarta-feira 1º de dezembro.
Para Thomas Flanagan, assessor do primeiro-ministro canadense Stephen Harper, não basta: Barack Obama deveria oferecer uma recompensa a quem matar o australiano, ou “usar um avião sem piloto para acabar com ele”. O Ocidente de hoje é mais autoritário e conservador que o de há 40 anos e também mais arrogante e truculento: questionado sobre o impacto negativo nas relações dos EUA, o porta-voz do Pentágono deu de ombros: “O mundo não se relaciona conosco por gostar ou confiar em nós, mas por não ter outro remédio. Somos o último, o único poder indispensável”.
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O perfil do novo ministro das Comunicações
Reproduzo artigo de Pedro Caribé, publicado no Observatório do Direito à Comunicação:
Acostumado a agir nos bastidores e se relacionar pouco com a imprensa, o bancário e ex-sindicalista Paulo Bernardo (PT) foi oficializado na quarta-feira, 8 de dezembro, como o novo ministro das Comunicações da presidenta eleita Dilma Rousseff (PT). O perfil reservado é só um abre alas das novas características que tendem a marcar a nova gestão no Ministério das Comunicações (Minicom). Bernardo tem formação balizada pelo pragmatismo, não só do ponto de vista político, mas principalmente econômico.
Sua ligação com o setor que agora coordena era diminuta até participar do desenvolvimento do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) quando ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão do governo Lula. Assim, caminha para ser o primeiro comandante da pasta a não ter alguns vícios ao se debruçar na regulação do setor, o que pode levar a relevar mais as nuances da cadeia produtiva do que as tecnologias, que tendem ser resignificadas com a convergência.
"É bem provável que a sua escolha signifique o fim de um longo ciclo. Desde dos militares os ministros são ligados às comunicações", explica Marcos Dantas, professor do Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ. Dantas não enxerga a escolha como perda de poder dos radiodifusores, representados no governo Lula pelo ex-ministro Hélio Costa (PMDB): "A questão é que o mundo passa por uma tsunami: as convergências. Nesse processo, quem enxerga a onda pega no prançhão, ou vai tomar um cachote".
Sob a tarefa de viabilizar a reforma do marco regulatório, Dantas nutre a expectativa que Bernado busque criar espaços democráticos e competição no setor tomando como base os elos da cadeia da produtiva, a exemplo das empacotadoras e programadoras: "Vai ser um equívoco se for regulado pela tecnologia (radiodifusão e telecomunicações)", defende Marcos Dantas.
Soldado
Outro traço que o paranaense Paulo Bernardo leva para o Minicom é a disciplina de soldado no cumprimento de suas tarefas. Como timoneiro do Planejamento, as decisões estratégicas na gestão e investimentos públicos federais passaram sob seu crivo, em especial funções de coordenação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Sempre leal aos superiores, sua escolha é considerada confirmação de que a presidente Dilma trará o Minicom para o eixo das decisões estratégicas do governo.
"Era necessário alguém de calibre, porque o ministério terá papel diferente do governo Lula: será estratégico. Mas não está dado que as transformações serão as que nós queremos. Na atual correlação de forças, teremos grandes embates e acredito na capacidade dos movimentos sociais de formular e mobilizar", alerta Rosane Bertotti, coordenadora nacional da CUT e integrante da executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).
A experiência de Bernardo no PAC tende a ser incorporada para fortalecer a infraestrutura estatal na Telebrás e no Sistema Público de Radiodifusão, sem extrapolar os gastos que o Tesouro almeja. No caso da Telebrás, o atual presidente, Rogério Santanna é considerado uma indicação direta de Bernardo. Quanto ao PNBL a avaliação é que ele andou menos o que desejou Lula, por isso o próximo Minicom deve ter uma secretaria específica para tratar da inclusão digital: "Paulo Bernardo fez um planejamento estratégico da Telebrás e agora vai deslanchar. Esse serviço público é fundamental para o desenvolvimento do país", explica Doutor Rosinha, deputado federal pelo PT do Paraná.
Quanto a gestão, o desafio de Bernardo é restruturar um Ministério sucateado e potencializar o ainda frágil Sistema Público de Radiodifusão, ambos carentes de funcionários. Nos Correios as armadilhas são maiores, Bernardo terá que sanar os escandâlos que explodiram no primeiro mandato de Lula e se proliferaram até agenda da candidatura de Dilma Rousseff à presidência: "Ele vai para o Minicom com tarefa importante, em especial nos Correios, porque é a empresa de posição mais forte. Mas as TV's públicas também vão ganhar, ele é um defensor que o Estado contrate mais funcionários".
Marcos Dantas foi secretário de Planejamento do Ministério das Comunicações em 2003 e considera a pasta uma "casca de ovo oco": "Ele tem uma visão extraordinária do setor público e terá que fazer um programa de recuperação do funcionalismo. Fiquei impressionado como tem gente boa no Minicom, mas que enfrenta problemas sérios".
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Acostumado a agir nos bastidores e se relacionar pouco com a imprensa, o bancário e ex-sindicalista Paulo Bernardo (PT) foi oficializado na quarta-feira, 8 de dezembro, como o novo ministro das Comunicações da presidenta eleita Dilma Rousseff (PT). O perfil reservado é só um abre alas das novas características que tendem a marcar a nova gestão no Ministério das Comunicações (Minicom). Bernardo tem formação balizada pelo pragmatismo, não só do ponto de vista político, mas principalmente econômico.
Sua ligação com o setor que agora coordena era diminuta até participar do desenvolvimento do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) quando ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão do governo Lula. Assim, caminha para ser o primeiro comandante da pasta a não ter alguns vícios ao se debruçar na regulação do setor, o que pode levar a relevar mais as nuances da cadeia produtiva do que as tecnologias, que tendem ser resignificadas com a convergência.
"É bem provável que a sua escolha signifique o fim de um longo ciclo. Desde dos militares os ministros são ligados às comunicações", explica Marcos Dantas, professor do Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da UFRJ. Dantas não enxerga a escolha como perda de poder dos radiodifusores, representados no governo Lula pelo ex-ministro Hélio Costa (PMDB): "A questão é que o mundo passa por uma tsunami: as convergências. Nesse processo, quem enxerga a onda pega no prançhão, ou vai tomar um cachote".
Sob a tarefa de viabilizar a reforma do marco regulatório, Dantas nutre a expectativa que Bernado busque criar espaços democráticos e competição no setor tomando como base os elos da cadeia da produtiva, a exemplo das empacotadoras e programadoras: "Vai ser um equívoco se for regulado pela tecnologia (radiodifusão e telecomunicações)", defende Marcos Dantas.
Soldado
Outro traço que o paranaense Paulo Bernardo leva para o Minicom é a disciplina de soldado no cumprimento de suas tarefas. Como timoneiro do Planejamento, as decisões estratégicas na gestão e investimentos públicos federais passaram sob seu crivo, em especial funções de coordenação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Sempre leal aos superiores, sua escolha é considerada confirmação de que a presidente Dilma trará o Minicom para o eixo das decisões estratégicas do governo.
"Era necessário alguém de calibre, porque o ministério terá papel diferente do governo Lula: será estratégico. Mas não está dado que as transformações serão as que nós queremos. Na atual correlação de forças, teremos grandes embates e acredito na capacidade dos movimentos sociais de formular e mobilizar", alerta Rosane Bertotti, coordenadora nacional da CUT e integrante da executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).
A experiência de Bernardo no PAC tende a ser incorporada para fortalecer a infraestrutura estatal na Telebrás e no Sistema Público de Radiodifusão, sem extrapolar os gastos que o Tesouro almeja. No caso da Telebrás, o atual presidente, Rogério Santanna é considerado uma indicação direta de Bernardo. Quanto ao PNBL a avaliação é que ele andou menos o que desejou Lula, por isso o próximo Minicom deve ter uma secretaria específica para tratar da inclusão digital: "Paulo Bernardo fez um planejamento estratégico da Telebrás e agora vai deslanchar. Esse serviço público é fundamental para o desenvolvimento do país", explica Doutor Rosinha, deputado federal pelo PT do Paraná.
Quanto a gestão, o desafio de Bernardo é restruturar um Ministério sucateado e potencializar o ainda frágil Sistema Público de Radiodifusão, ambos carentes de funcionários. Nos Correios as armadilhas são maiores, Bernardo terá que sanar os escandâlos que explodiram no primeiro mandato de Lula e se proliferaram até agenda da candidatura de Dilma Rousseff à presidência: "Ele vai para o Minicom com tarefa importante, em especial nos Correios, porque é a empresa de posição mais forte. Mas as TV's públicas também vão ganhar, ele é um defensor que o Estado contrate mais funcionários".
Marcos Dantas foi secretário de Planejamento do Ministério das Comunicações em 2003 e considera a pasta uma "casca de ovo oco": "Ele tem uma visão extraordinária do setor público e terá que fazer um programa de recuperação do funcionalismo. Fiquei impressionado como tem gente boa no Minicom, mas que enfrenta problemas sérios".
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A batalha da WikiLeaks
Reproduzo artigo de Luis Nassif, publicado em seu blog:
A batalha da WikiLeaks – o site que vazou milhares de documentos secretos do Departamento de Estado norte-americano – é um divisor de águas na política mundial. Não fosse esse episódio, seria outr. Desde que surgiu a Internet, aguardava-se o dia em que provocaria o desmoronamento completo do jogo político e diplomático convencionais.
Historicamente, política e diplomacia foram exercitadas com enorme dose de hipocrisia. Há um jogo interno e um teatro para o público. É possível dois parlamentares encenarem brigas homéricas no plenário e saírem juntos para jantar. Ou a diplomacia de dois países demonstrarem relações civilizadas por cima e, por baixo da mesa, trocarem pontapés.
Faz parte do jogo da democracia representativa e das relações internacionais.
***
Na democracia representativa, o poder se exerce de maneira diferente em dois momentos distintos: nas eleições e no pós-eleições.
O verdadeiro poder se estabelece no pós-eleições. Compartilham dele os partidos políticos, grupos estabelecidos nos diversos poderes, grandes fornecedores do Estado, grupos econômicos influentes.
Esse é o jogo subterrâneo, no qual alianças, interesses, esquemas tendem a se estratificar, muitas vezes amarrando o desenvolvimento das democracias.
***
A cada quatro ou cinco anos vêm as eleições. É um dos poucos momentos em que o cidadão se manifesta.
Nas eleições há o teatro político, a denúncia, a radicalização do discurso, a captação das novas tendências da população, até então difusas, a retórica fácil. Convencer o eleitor é peça central do jogo. São esses momentos únicos, que se repetem a cada quatro anos, os responsáveis pela dinamização do país. Não significa que o eleitor sempre acerte. Mas ele sempre provoca as mudanças.
***
Em 1989, farto do jogo político e da paralisia total nas decisões de política econômica, o eleitor votou em Fernando Collor para o trabalho de desmonte da estrutura dos anos 80. Em 1994, considerou que Fernando Henrique Cardoso era o mais capaz para conduzir a estabilização econômica.
Em 2002, julgou que era a hora de se pensar no social. E elegeu Lula.
Em 2010 considerou importante a consolidação do modelo Lula e votou em Dilma.
***
As eleições determinam mudanças nas prioridades públicas, mas, passado o momento, o exercício do poder volta ao leito original, com mudanças lentas de rumo e com o mesmo exercício da hipocrisia.
O WikiLeaks simplesmente abriu as cortinas no intervalo das representações e mostrou o que se passa nos bastidores. Esse jogo será cada vez mais aberto, seja no vazamento de documentos confidenciais, gravações de cenas por celulares, inconfidências que ganham a Internet. E provocarão a desconstrução tanto da diplomacia quanto do jogo político convencionais – através de suas duas pernas centrais, o Executivo/Congresso e a velha mídia.
***
Durante décadas, a velha mídia fez um trabalho sistemático de desconstrução da política, visando impor seu poder sobre os partidos. O WikiLeaks acaba desnudando as duas pontas do modelo e reforçando como nunca o poder do chamado leitor-cidadão.
É o Momento 1 da construção de um novo modelo de governança.
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A batalha da WikiLeaks – o site que vazou milhares de documentos secretos do Departamento de Estado norte-americano – é um divisor de águas na política mundial. Não fosse esse episódio, seria outr. Desde que surgiu a Internet, aguardava-se o dia em que provocaria o desmoronamento completo do jogo político e diplomático convencionais.
Historicamente, política e diplomacia foram exercitadas com enorme dose de hipocrisia. Há um jogo interno e um teatro para o público. É possível dois parlamentares encenarem brigas homéricas no plenário e saírem juntos para jantar. Ou a diplomacia de dois países demonstrarem relações civilizadas por cima e, por baixo da mesa, trocarem pontapés.
Faz parte do jogo da democracia representativa e das relações internacionais.
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Na democracia representativa, o poder se exerce de maneira diferente em dois momentos distintos: nas eleições e no pós-eleições.
O verdadeiro poder se estabelece no pós-eleições. Compartilham dele os partidos políticos, grupos estabelecidos nos diversos poderes, grandes fornecedores do Estado, grupos econômicos influentes.
Esse é o jogo subterrâneo, no qual alianças, interesses, esquemas tendem a se estratificar, muitas vezes amarrando o desenvolvimento das democracias.
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A cada quatro ou cinco anos vêm as eleições. É um dos poucos momentos em que o cidadão se manifesta.
Nas eleições há o teatro político, a denúncia, a radicalização do discurso, a captação das novas tendências da população, até então difusas, a retórica fácil. Convencer o eleitor é peça central do jogo. São esses momentos únicos, que se repetem a cada quatro anos, os responsáveis pela dinamização do país. Não significa que o eleitor sempre acerte. Mas ele sempre provoca as mudanças.
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Em 1989, farto do jogo político e da paralisia total nas decisões de política econômica, o eleitor votou em Fernando Collor para o trabalho de desmonte da estrutura dos anos 80. Em 1994, considerou que Fernando Henrique Cardoso era o mais capaz para conduzir a estabilização econômica.
Em 2002, julgou que era a hora de se pensar no social. E elegeu Lula.
Em 2010 considerou importante a consolidação do modelo Lula e votou em Dilma.
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As eleições determinam mudanças nas prioridades públicas, mas, passado o momento, o exercício do poder volta ao leito original, com mudanças lentas de rumo e com o mesmo exercício da hipocrisia.
O WikiLeaks simplesmente abriu as cortinas no intervalo das representações e mostrou o que se passa nos bastidores. Esse jogo será cada vez mais aberto, seja no vazamento de documentos confidenciais, gravações de cenas por celulares, inconfidências que ganham a Internet. E provocarão a desconstrução tanto da diplomacia quanto do jogo político convencionais – através de suas duas pernas centrais, o Executivo/Congresso e a velha mídia.
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Durante décadas, a velha mídia fez um trabalho sistemático de desconstrução da política, visando impor seu poder sobre os partidos. O WikiLeaks acaba desnudando as duas pontas do modelo e reforçando como nunca o poder do chamado leitor-cidadão.
É o Momento 1 da construção de um novo modelo de governança.
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Revista da Gol rejeita citação de Serra
Reproduzo artigo de Rodrigo Savazoni, publicado no sítio Trezentos:
Nos últimos dez meses vinha fazendo uma coluna sobre tecnologia para a Revista da Gol. Espaço bacana. Sempre fui bem tratado pelos competentes editores e fui alertado desde o início para tratar mais de comportamento e da sociedade do que de política.
Procurei sempre seguir a orientação, mas pelo vício de origem, vez ou outra era necessário um ajuste, porque não imagino como falar de sociedade sem falar da dimensão comum, daquilo que orienta a vida de tod@s, que é a política.
Para a edição de dezembro preparei uma coluna sobre o Twitter, o sucesso que a ferramenta fez este ano, destacando-se a Copa do Mundo e as Eleições. Publico o texto aqui, para depois relatar o episódio em que o texto foi recusado pelo Diretor de Núcleo da Editora Trip, que produz para a Gol sua revista de bordo.
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O ano em que o Twitter bombou
Uso da rede social com textos de até 140 caracteres cresceu em 2010
Qualquer balanço do ano que está se encerrando não pode deixar de fora a importância que o Twitter adquiriu no Brasil. O site de rede social criado em 2006 para a postagem de frases com até 140 caracteres vinha sendo utilizado pela elite tecnológica, mas em 2010 atingiu as massas e fez a diferença durante a Copa do Mundo e as eleições.
Um estudo da empresa americana ComScore aponta que, em agosto, 23% dos internautas brasileiros twittaram, contra 11,9% nos Estados Unidos. Em números absolutos, os americanos ainda lideram. Mas a análise relativa mostra que ninguém usa mais o Twitter que o brasileiro. Essa explosão comunicacional produziu momentos que fizeram a diversão de muita gente e também causou um curto-circuito midiático.
Um dos episódios mais emblemáticos foi o “Cala boca, Galvão”. Durante a cerimônia de abertura da Copa do Mundo, twitteiros começaram a reclamar da performance do apresentador Galvão Bueno usando a hashtag #calabocagalvao. Hashtag é uma palavra ou expressão combinada ao símbolo # que permite indexar as informações, garantindo ao usuário acessar tudo o que foi dito sobre um assunto.
“Calabocagalvao” foi parar no primeiro lugar das palavras mais escritas do Twitter, levando usuários de língua inglesa a se questionarem sobre o que seria aquela expressão. Os brasileiros iniciaram então um exercício de gozação, criando as mais estapafúrdias versões para o fato.
Durantes as eleições, o Twitter comprovou sua força. Foi o principal instrumento no impacto entre os tradicionais veículos de massa (televisões, rádios, jornais e revistas) e a nova esfera pública interconectada, baseada na blogosfera e nos ativistas das redes sociais. Em várias ocasiões, expressões brasileiras ficaram no topo da lista das conversas mundialmente mais populares.
Sem entrar no mérito político, o caso “serrarojas” foi emblemático. No segundo turno das eleições presidenciais, José Serra (PSDB) foi atingido em uma manifestação de rua e suspendeu sua agenda. Iniciou-se uma guerra de versões sobre se ele teria sido alvejado por uma bolinha de papel ou uma bobina de fita-crepe. Twitteiros defensores da candidata governista começaram a compará-lo ao goleiro chileno Rojas, que durante uma partida simulou ter sido atingido por fogos de artifício.
A hashtag “serrarojas” se espalhou e a versão foi usada em uma declaração de Lula. Foi a primeira vez que um presidente repercutiu uma abordagem surgida nas redes sociais, comprovando o poder que passou a ter o Twitter massificado. E isso é só o começo.
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Esse texto, que republico aqui, foi aprovado pelos editores da publicação, mas recusado anteontem, véspera do fechamento, pelo Diretor responsável da editora, que alegou – foi isso que me foi repassado – não querer menção ao nome do candidato José Serra, derrotado nas últimas eleições.
Como acredito que não fiz nada demais, apenas relatei um episódio globalmente comentado o qual já entrou para a história da relação entre internet e política, optei por não recuar e comuniquei aos editores, por meio da carta que reproduzo aqui, a minha decisão de não mais seguir escrevendo para a revista.
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Car@s,
Antes de tudo, quero agradecer pelo tratamento dispensado e pelo espaço aberto por vocês para minhas contribuições na Revista da Gol.
Desde o primeiro momento, procurei seguir com afinco as orientações sobre quais temáticas abordar, focando nas mudanças sociais e culturais causadas pela tecnologia. Tivemos algumas diferenças em relação a alguns temas, mas creio que contornamos com maturidade e o resultado vinha me agradando bastante. A repercussão também sempre foi positiva e espontânea.
Este mês, submeti uma coluna a vocês sobre o sucesso do Twitter, impulsionado pela Copa do Mundo e pelas Eleições. Discutimos a coluna, concordamos que ela estava tratando das questões sem enfocar primordialmente o aspecto político, mas que nomeava um episódio singular até como forma de demonstrar a centralidade que essas tecnologias têm ganhado nas nossas vidas.
Ontem, na véspera do fechamento, fui acionado porque a principal instância de aprovação da editora não concordou com essa interpretação que demos à coluna e pediu alterações, com a supressão da menção ao candidato José Serra no texto. Entendo que se trata de uma publicação de bordo, vinculada à marca de uma empresa, e que interesses comerciais acabam por prevalecer em relação aos eminentemente jornalísticos.
Fiz adequações, amenizei a menção ao político tucano, mas conclui que em benefício da verdade e da primeira avaliação que tivemos não poderia assinar uma coluna para falar sobre as mudanças ocasionadas pelo Twitter suprimindo aqueles que foram os “grandes casos” da campanha eleitoral. Tentei uma nova redação, sem menção explícita a José Serra, e enviei a vocês e ela tampouco foi aceita.
Diante desse fato, só me resta agradecer pelo espaço cedido para minhas reflexões sobre o tema. Digo que procurei cumprir com qualidade e responsabilidade o papel a mim delegado, e dizer que, sem assumir tom de mártir – porque nem seria o caso – tenho pautado minha trajetória pessoal por compromissos claros e irrevogáveis com o que acredito. Quando esses valores essenciais são confrontados, só me restam duas alternativas: enfrentar e/ou partir para outra. Parto para outra.
Gostaria de pedir se vocês poderiam me mandar, apenas em formato texto, as versões todas editadas das colunas que produzi nesses meses de trabalho. Se não for pedir demais, evidentemente.
Atenciosamente,
*****
Resolvi contar essa história porque toda vez que topamos com uma situação dessa, na minha opinião, devemos torná-la pública. Por um único motivo: talvez o acúmulo de relatos possa impedir que novas situações como essa ocorram. Isso vai ajudar a gente a melhorar a qualidade da nossa democracia.
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Nos últimos dez meses vinha fazendo uma coluna sobre tecnologia para a Revista da Gol. Espaço bacana. Sempre fui bem tratado pelos competentes editores e fui alertado desde o início para tratar mais de comportamento e da sociedade do que de política.
Procurei sempre seguir a orientação, mas pelo vício de origem, vez ou outra era necessário um ajuste, porque não imagino como falar de sociedade sem falar da dimensão comum, daquilo que orienta a vida de tod@s, que é a política.
Para a edição de dezembro preparei uma coluna sobre o Twitter, o sucesso que a ferramenta fez este ano, destacando-se a Copa do Mundo e as Eleições. Publico o texto aqui, para depois relatar o episódio em que o texto foi recusado pelo Diretor de Núcleo da Editora Trip, que produz para a Gol sua revista de bordo.
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O ano em que o Twitter bombou
Uso da rede social com textos de até 140 caracteres cresceu em 2010
Qualquer balanço do ano que está se encerrando não pode deixar de fora a importância que o Twitter adquiriu no Brasil. O site de rede social criado em 2006 para a postagem de frases com até 140 caracteres vinha sendo utilizado pela elite tecnológica, mas em 2010 atingiu as massas e fez a diferença durante a Copa do Mundo e as eleições.
Um estudo da empresa americana ComScore aponta que, em agosto, 23% dos internautas brasileiros twittaram, contra 11,9% nos Estados Unidos. Em números absolutos, os americanos ainda lideram. Mas a análise relativa mostra que ninguém usa mais o Twitter que o brasileiro. Essa explosão comunicacional produziu momentos que fizeram a diversão de muita gente e também causou um curto-circuito midiático.
Um dos episódios mais emblemáticos foi o “Cala boca, Galvão”. Durante a cerimônia de abertura da Copa do Mundo, twitteiros começaram a reclamar da performance do apresentador Galvão Bueno usando a hashtag #calabocagalvao. Hashtag é uma palavra ou expressão combinada ao símbolo # que permite indexar as informações, garantindo ao usuário acessar tudo o que foi dito sobre um assunto.
“Calabocagalvao” foi parar no primeiro lugar das palavras mais escritas do Twitter, levando usuários de língua inglesa a se questionarem sobre o que seria aquela expressão. Os brasileiros iniciaram então um exercício de gozação, criando as mais estapafúrdias versões para o fato.
Durantes as eleições, o Twitter comprovou sua força. Foi o principal instrumento no impacto entre os tradicionais veículos de massa (televisões, rádios, jornais e revistas) e a nova esfera pública interconectada, baseada na blogosfera e nos ativistas das redes sociais. Em várias ocasiões, expressões brasileiras ficaram no topo da lista das conversas mundialmente mais populares.
Sem entrar no mérito político, o caso “serrarojas” foi emblemático. No segundo turno das eleições presidenciais, José Serra (PSDB) foi atingido em uma manifestação de rua e suspendeu sua agenda. Iniciou-se uma guerra de versões sobre se ele teria sido alvejado por uma bolinha de papel ou uma bobina de fita-crepe. Twitteiros defensores da candidata governista começaram a compará-lo ao goleiro chileno Rojas, que durante uma partida simulou ter sido atingido por fogos de artifício.
A hashtag “serrarojas” se espalhou e a versão foi usada em uma declaração de Lula. Foi a primeira vez que um presidente repercutiu uma abordagem surgida nas redes sociais, comprovando o poder que passou a ter o Twitter massificado. E isso é só o começo.
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Esse texto, que republico aqui, foi aprovado pelos editores da publicação, mas recusado anteontem, véspera do fechamento, pelo Diretor responsável da editora, que alegou – foi isso que me foi repassado – não querer menção ao nome do candidato José Serra, derrotado nas últimas eleições.
Como acredito que não fiz nada demais, apenas relatei um episódio globalmente comentado o qual já entrou para a história da relação entre internet e política, optei por não recuar e comuniquei aos editores, por meio da carta que reproduzo aqui, a minha decisão de não mais seguir escrevendo para a revista.
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Car@s,
Antes de tudo, quero agradecer pelo tratamento dispensado e pelo espaço aberto por vocês para minhas contribuições na Revista da Gol.
Desde o primeiro momento, procurei seguir com afinco as orientações sobre quais temáticas abordar, focando nas mudanças sociais e culturais causadas pela tecnologia. Tivemos algumas diferenças em relação a alguns temas, mas creio que contornamos com maturidade e o resultado vinha me agradando bastante. A repercussão também sempre foi positiva e espontânea.
Este mês, submeti uma coluna a vocês sobre o sucesso do Twitter, impulsionado pela Copa do Mundo e pelas Eleições. Discutimos a coluna, concordamos que ela estava tratando das questões sem enfocar primordialmente o aspecto político, mas que nomeava um episódio singular até como forma de demonstrar a centralidade que essas tecnologias têm ganhado nas nossas vidas.
Ontem, na véspera do fechamento, fui acionado porque a principal instância de aprovação da editora não concordou com essa interpretação que demos à coluna e pediu alterações, com a supressão da menção ao candidato José Serra no texto. Entendo que se trata de uma publicação de bordo, vinculada à marca de uma empresa, e que interesses comerciais acabam por prevalecer em relação aos eminentemente jornalísticos.
Fiz adequações, amenizei a menção ao político tucano, mas conclui que em benefício da verdade e da primeira avaliação que tivemos não poderia assinar uma coluna para falar sobre as mudanças ocasionadas pelo Twitter suprimindo aqueles que foram os “grandes casos” da campanha eleitoral. Tentei uma nova redação, sem menção explícita a José Serra, e enviei a vocês e ela tampouco foi aceita.
Diante desse fato, só me resta agradecer pelo espaço cedido para minhas reflexões sobre o tema. Digo que procurei cumprir com qualidade e responsabilidade o papel a mim delegado, e dizer que, sem assumir tom de mártir – porque nem seria o caso – tenho pautado minha trajetória pessoal por compromissos claros e irrevogáveis com o que acredito. Quando esses valores essenciais são confrontados, só me restam duas alternativas: enfrentar e/ou partir para outra. Parto para outra.
Gostaria de pedir se vocês poderiam me mandar, apenas em formato texto, as versões todas editadas das colunas que produzi nesses meses de trabalho. Se não for pedir demais, evidentemente.
Atenciosamente,
*****
Resolvi contar essa história porque toda vez que topamos com uma situação dessa, na minha opinião, devemos torná-la pública. Por um único motivo: talvez o acúmulo de relatos possa impedir que novas situações como essa ocorram. Isso vai ajudar a gente a melhorar a qualidade da nossa democracia.
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