Reproduzo artigo de Celso Lungaretti, publicado no blog Náufrago da Utopia:
Demorou bem pouco para os estranhos que a presidente Dilma Rousseff admitiu no ninho revelarem ou confirmarem sua incompatibilidade com um governo democrático.
O general José Elito Siqueira, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, defendeu a estapafúrdia tese de que um país não deva envergonhar-se quando agentes do Estado sequestram, torturam e executam opositores políticos, dando depois sumiço nos restos mortais para ocultarem as provas de seus crimes.
Se é esta a visão que ele tem das instituições, está no posto errado. Que segurança haverá se quem zela por elas não considera vergonhosos os procedimentos ilegais, covardes e bestiais dos poderosos, mesmo quando se trata de golpistas que usurparam o poder e impuseram uma ditadura à Nação?
Se a incontinência verbal do tal Elito foi inesperada, já o ministro da Defesa Nelson Jobim era caçapa cantada de todos os analistas perspicazes.
Não decepcionou: mal começa o novo governo e ele vem trombetear que a Comissão da Verdade deveria investigar também a atuação dos que resistiram ao regime militar.
O Estado brasileiro tem a obrigação de esclarecer onde, quando e como os cidadãos que não se vergavam ao arbítrio foram vitimados por seus agentes e, se possível, dar às famílias algo para enterrarem, tanto tempo depois.
Quanto às baixas do outro lado, foram mais que investigadas na época, com a utilização de torturas de todo tipo; e os responsáveis, punidos não só de acordo com as leis de exceção então vigentes, como também ao arrepio delas.
No fundo, o que Jobim pretende é apenas equiparar, para efeitos propagandísticos, as novidades que venham a surgir com escassos e requentados casos de excessos cometidos pelos resistentes - em toda luta desse tipo os há, mas a Resistência Francesa, p. ex., foi incomparavelmente mais violenta do que a brasileira, e isto Jobim esquece.
Ou seja, cada vez que a Comissão da Verdade esclarecesse mais uma atrocidade dos carrascos da ditadura, a rede de extrema-direita contra-atacaria com os poucos episódios de sempre, sobejamente esclarecidos e por ela já explorados ad nauseam, se estes estivessem também no pacote.
Omite, como de hábito, o fundamental: um abismo separa, em termos jurídicos e morais, o que agentes de um governo ilegítimo e despótico fizeram e o que foi feito por cidadãos que confrontavam sua tirania, em condições de enorme desigualdade de forças.
Tanto quanto a responsabilidade do Estado é incomensuravelmente maior no que tange às ações de quem agia, ainda que com investidura espúria, em nome dele.
A conclusão salta aos olhos: se a presidente Dilma contemporizar, os desafios à sua autoridade serão cada vez mais frequentes e insolentes.
Urge afastar os corvos do seu ninho.
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Caro Miro,
ResponderExcluirInfelizmente, como nos mostrou Jack Nicholson, no clássico "Estranho no Ninho", não há como divisar bem os "normais" dos "estranhos".
Por mais incômodo que pareça, as contradições que carregamos no tocante a questão da violência do Estado sobre o indivíduo está mais entranhada em nós que gostaríamos.
Nossa presidenta embarcou feio na lenga-lenga das UPPs, e defendeu abertamente o modelo de invasão das forças armadas no RJ.
Grave: Intervenção das forças armadas sem o rito constitucional é estado de exceção.
Logo, está claro que diante de situações que compreendemos de maneira fragmentada, propositalmente ou por ignorância, como é o caso da segurança pública, reproduzimos a mesma paranóia pelo combate a violência com mais violência e agressão ao Estado de Direito.
Em 64, por pânico ao "inimigo público número um", a esquerda, lançamos mão do arbítrio.
Em 2010, por pânico ao "inimigo público número um", o tráfico de drogas, lançamos mão, mais uma vez, do arbítrio.
Como antes, a sociedade e o poder político delegam o monopólio político do uso da força estatal aos militares.
Em um país com a História aberta como uma ferida putrefata, dói ver a presidenta sucumbir aos apelos da popularidade, e a agenda militarista do combate a cirminalidade, trazendo para as ruas, com lesão a CRFB, os mesmos "cães-de-guerra" que a barbarizaram.
Um abraço.
Muito bom comandante Miro,
ResponderExcluirAcredito que Dilma só não foi morta nas masmorras da ditadura porque sua família (de posses) sabia onde ela se encontrava.
Miro, tem um ditado que siz "quem dorme com orcego, acorda de cabeça para baixo". Dilma tem que defenestrar esse cara.
ResponderExcluirCaro Miro,
ResponderExcluirHouve no meu comentário algo que agredisse ou violasse alguma regra de participação do blog?
Claro que a conveniência de publicação ou não de comentários é exclusiva do(s) administrador(es).
Mas dada a demora, imagino que tenha sido censurado. Bom, se esse foi o caso, pelo menos gostaria de saber por quê?
Bom, de qualquer forma, encerro minhas participações por aqui!
Boa sorte!