Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no Blog da Cidadania:
Zorra, substantivo feminino que significa barulho, ruído, confusão. Diz-se de qualquer organização malfeita, preferencialmente. Esta casa está uma zorra, a festa foi uma zorra, este departamento é uma zorra, diz-se de uma residência mal-arrumada, de uma festa barulhenta e incômoda ou de um setor de trabalho mal-organizado.
Não há melhor definição para o que é – ou como está – a comunicação no Brasil. Sobretudo no que diz respeito a concessões públicas de rádio e tevê, de propriedade de todos nós e que, portanto, não podem ser usadas para atender a grupos políticos, ainda que possam ser exploradas comercialmente.
Não se pode questionar, nem em pensamento, a premissa imperativa de que criações artísticas e culturais – e, em princípio, por pior que seja, toda criação de entretenimento assim deve ser considerada –, desde que não atentem contra ditames legais elementares relativos a direitos e garantias individuais e coletivos, sejam totalmente livres de censura.
Já o humor político, este é tão antigo quanto a civilização. O processo civilizatório da humanidade, porém, fez com que seja considerado imperativo, quando se faz humor com políticos usando meios que pertencem a cidadãos de todas as colorações políticas e ideológicas, que nenhuma dessas correntes seja poupada.
Não haveria mal em um programa humorístico com um quadro fazendo piada sobre o ex-presidente Lula se os autores do programa tomassem o cuidado de fazer o mesmo com José Serra, por exemplo, de forma a não usarem uma concessão pública para ridicularizar um político e poupar seus adversários, beneficiando-os por tabela.
A Globo, porém, não esconde a usurpação que fez de um meio público de comunicação, transformando-o em arma de luta política de partidos com os quais mantém uma aliança tácita, segundo sugerem fatos como o uso de programas humorísticos com viés partidário, atacando os adversários daqueles partidos.
Com o falecimento do humorístico global Casseta & Planeta por conta da audiência cadente, o que ocorreu devido a que o público daquele programa, mais intelectualizado, percebera que havia se transformado em arma política, restou na Globo só o Zorra Total, ganhador hors-concours de todos os “prêmios” de pior programa humorístico da TV brasileira e afeito a um público mais ingênuo, politicamente.
Zorra Total. Que nome poderia definir melhor o estado da comunicação no Brasil? Uma comunicação em que as concessões públicas foram privatizadas por partidos como o PSDB e o DEM através de acordos obscuros com a família Marinho, controladora do império global.
O público jamais verá, em um programa humorístico da Globo, um sósia de José Serra tentando, sem sucesso, eleger-se síndico de prédio, ou com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso passeando com aliados, tais como o candidato tucano a presidente no ano passado, vestindo uma burca ou com uma caixa de papelão cobrindo a cabeça.
O humor político da Globo tem uma direção só. Portanto, uma direção burra como a que o leitor verá na transcrição de quadro do programa Zorra Total do último sábado à noite, logo abaixo. Um produto de roteiristas que enxergam seu público como dotado de quatro patas e sem nenhum neurônio.
Nesse quadro, o ex-presidente, de pijamas, conversa com a esposa.
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“Dona Marisa faz ginástica, mas Lula só pensa em uma vaguinha no time de Dilma”
Lula – Ô, Amorzinho… Marisa, me ajuda aqui, meu amor – vem aqui. Olha só, to quase acabando, pa encerrá (sic) – lê palavras cruzadas que estava fazendo. – Ex-chefe de nação, barbudo e atualmente aposentado, com quatro letras… Já sei, companheira, tá na mão de Deus! Como é que se escreve Fidel?
Marisa – Luiz Inácio – diz, impaciente –, que Fidel o quê! Fidel tem cinco letras! Esse ex-chefe de nação, barbudo e aposentado, é você. Ele, uh, ele, aaah, Lulaaa! Quatro letraaas!
Lula – Eu? Que que é isso (sic), companheira?! Não to aposentado de maneira nenhuma. Nunca houve na história desse (sic) país um ex-presidente tão ativo como eu. Não quero mais fazer palavra cruzada – acesso de raiva, atirando a revista sobre a mesa – Eu vou procurar outra coisa pra fazer.
Marisa – Você não quer malhar um pouquinho, não, hein? – apontando a esteira de corrida.
Lula – Malhar é coisa da oposição. Passaram oito anos me malhando. Tudo invejoso! Ora…
Marisa – Desapega, Luiz Inácio. Eu to falando de exercícios físicos. É bom você entrar em forma, hein. Senão, nem no time da esquina vão te deixar jogar.
Lula – Companheira, e eu sou homem de jogar em time da esquina? Eu to interessado numa vaguinha do time da companheira Dilma, isso sim. Aliás, aproveita a oportunidade, vai lá, liga pra ela e pergunta se eu já to escalado.
Marisa – Não adianta nada ligar pra ela. O time dela já tá completo…
Lula – Não tem problema, companheira – diz, desconsolado. – Eu posso até ficar fora do time, mas eu vou ser o juiz do jogo, a autoridade máxima.
Marisa – Que “autoridade máxima”, o quê! Desapega, Luiz Inácio, você não apita mais nada.
Lula – Pára com isso… Marisa, esse aparelho aí, é o que? – pergunta, examinando a esteira de exercícios.
Marisa – Isso aqui é uma esteira ergométrica, entendeu. Você anda, anda, anda e não sai do lugar.
Lula – Esse exercício eu já fiz muito. Fiquei marcando passo durante oito anos… Marisa, pra que que serve (sic) esse botãozinho aqui, ó?
Marisa – Isso aqui é pra regular a inclinação da esteira, entendeu. Olha só: assim, dá a impressão que você tá subindo uma rampa…
Lula – Subindo a rampa? Marisa, pelo amor de Deus, deixa eu treinar aqui assim – com um pulinho lépido, sobe na esteira. – Ó!, to subindo a rampa, Marisa. Ai que saudade que eu tenho!
Marisa – Desapega, Luiz Inácio! Esse negócio de subir rampa não é mais pra você… Olha só: por que você não pega um pesinho e faz uma musculação, hein?
Lula – Fazer uma musculação – flexiona o braço direito com o peso em punho. – Não, deixa quieto. Deixa isso aqui quieto, Marisa. Você sabe que pegar no pesado não é comigo. Eu já sei o que eu vou fazer: eu vou dar uma corridinha pela praça. Fazer uns Cooper (sic), he, he.
Marisa – Ah, sei… Essa corrida, você vai se preparar pra corrida que vai ter daqui a quatro anos – diz enquanto “Lula” abre a porta da rua. – Você volta pro jantar, Luiz Inácio?
Lula – Volto. Essa corrida vai ser longa, mas eu volto. Depois que acostuma, a gente sempre quer voltar – olhando para a câmera com um sorriso maroto.
por um lado fazer piadas com o lula é ate melhor pois ele ainda significa algo no imaginário brasileiro. ele vai sempre ta la pra perturbar a tucanada. fazer piada com serra e fhc.o que eles representam nada com nada. então deixa a globo fazer piadinha que mais o lula se fortalece pra 2014
ResponderExcluirÉ preciso aumentar a diversidade de oferta de canais de rádio e tv aberta. A internet não vai substituir este sistema, mas complementá-lo. O dia em que a grande massa puder escolher entre 100 ou 200 canais quando estiver em frente a um aparelho de tv, esse tipo de programação vai ter menos importância.
ResponderExcluirFalta quantidade pra que as pessoas possam escolher. Esse é o problema da comunicação no Brasil. Um direito de resposta neste caso ou uma medida que obrigasse este canal a incluir um quadro de "FHC aposentado" (por exemplo) não resoveria nada, nem seria um sistema administrável.
É preciso que qualquer pessoa, micorempresário, escola, hospital, açougue, mercearia, associação de bairro etc. possa ter o seu canal de TV sem precisar ser amigo de político pra conseguir uma concessão.
Miro, nos últimos meses do Casseta & Planeta, a preferência tucana era evidente até nas piadas. Dilma Rousseff era tratada como se fosse um subproduto de Lula, através do gesto irônico de esconder o dedo mindinho - alusão a uma das mãos de Lula, que teve um dedo amputado por conta de um acidente de trabalho - e da voz que parodiava o ex-presidente.
ResponderExcluirEnquanto isso, José Serra era parodiado pelos cassetas de forma mais boba e inofensiva, mais como um clone de Dráuzio Careca (sátira do médico Dráuzio Varella), um tanto ingênuo e quase infantil, mais preocupado com a calvície do que em qualquer coisa.
Tais paródias sem graça simplesmente assinalaram o esgotamento criativo de um grupo humorísticos cujo integrante Marcelo Madureira, ainda por cima, não contou uma piada sequer na sua "histórica" palestra no Instituto Millenium, há um tempo atrás. Até Paulo Henrique Amorim dá um banho de senso de humor no casseta ranzinza.
Tem mais é que fazer piada mesmo. Não que eu defenda o humor deste programa exdrúxulo, mas piada é o sinônimo da política do Brasil. O Serra também é uma piada.
ResponderExcluirE dê as mãos para o céu, pois a Globo pôs a sua Dilma onde está!!
O PT sempre manipulou a imprensa, agora que não consegue vira um deus nos acuda...