Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no Blog da Cidadania:
Estou na sala de estar de casa com a esposa e a neta, de dez anos. Na tela da tevê, um rapagão de quase dois metros de altura e uma garota gorduchinha, ambos lá pelos vinte e poucos anos, protagonizam uma cena lamentável. Insultam-se, dizem palavrões e têm espasmos de verdadeira histeria, com berros assustadores e gritos ininteligíveis.
Precisam ser contidos por outro casal, que parece achar que se atracarão aos socos e pontapés. As imagens confirmam a percepção. Choca um pouco o pensamento de que o rapaz a agrediria – e talvez ela a ele – se não estivessem na tevê, mesmo que pareça que estão prestes a esquecer disso e partirem para as vias de fato.
Digo à minha esposa que não concordo com que a minha neta assista ao programa. E que ela mesma não deveria. Estão se divertindo, porém. Acreditam que é inofensivo. Dizem que já vão desligar, enquanto riem do que vêem.
Não posso culpá-las. Não há nada melhor na tevê aberta e acabaram de lavar a louça do jantar. Estão naquele momento em que as pessoas só querem relaxar e tirar a mente de qualquer coisa séria.
Dirão que é uma deficiência educacional com a minha neta, mas todos sabem que essa é a realidade de milhões e milhões de famílias de todas as classes sociais e regiões do país. Além do que, proibir jovens de fazer alguma coisa só funciona enquanto estão sob os nossos olhares vigilantes. Há que convencê-los do que não devem fazer. E estou tentando, mas não é fácil.
Na escola da minha neta, colegas discutem animadamente sobre o Big Brother Brasil; a enfermeira que cuida da minha filha caçula, moça simples que veio da Bahia sem nada, batalhou e rompeu com a lógica dessas garotas do Nordeste que vinham para São Paulo e se tornavam empregadas domésticas automaticamente, também adora.
A enfermeira já se tornou parte da família. Às vezes até dorme em casa, quando eu e minha mulher temos que sair cedo para o nosso escritório no dia seguinte. Ela adora o BBB. Torce por um dos rapazes marombados e desprovidos de neurônios, que considera “lindo”. Tem 24 anos. É uma moça simples, esforçada, honesta. E minha mulher acha ótimo terem o programa para discutir.
Poderiam discutir uma boa teledramaturgia, por exemplo. Não precisaria ser esse lixo. Mas como não lhes oferecem coisa melhor, então “se viram” com o que têm.
Isso ocorre na residência de um ativista político de esquerda que desde que seus quatro filhos – sendo três deles adultos, hoje – eram bebês prega contra a baixaria na tevê e se dedica à causa da melhora da comunicação no Brasil. Imaginem o que acontece em famílias sem influência política ou intelectual…
Porque é inevitável. É “isso” o que temos na tevê aberta, no Brasil. Baixaria, vulgarização do sexo, bebedeira, ódio, mesquinhez, violência, inveja, desonestidade. Esses são os valores que a tevê aberta, um direito e uma propriedade da cidadania, incute em nossa juventude, em nossa infância e até em faixas etárias mais maduras.
Esse programa, porém, supera tudo o mais que há de ruim na tevê. Sobretudo por seu alcance, mas também pelos exemplos de lassidão dos costumes, do comportamento em sociedade. É um pisotear incessante de valores elevados que a tevê deveria difundir, mesmo que seja por sua condição de concessão pública.
O cinema ou o teatro que as tevês exibem, por exemplo, via de regra, mesmo exibindo comportamentos inaceitáveis, sempre terminam oferecendo a premissa de que o mau comportamento não compensa e de que tem um preço. Programas como o BBB, não. Aqueles dois ignorantes que discutiam com aquela virulência, ganham pelo que fazem. Nem que seja fama.
Quanto daquilo ficará na alma da minha neta? Que influência assistir a esse tipo de comportamento terá nas mentes mais simples? É liberdade de expressão vender a idiotia, a covardia, os maus instintos todos como características de jovens “descolados”?
O país suporta passivamente essa bofetada em sua face em que se consiste cada programa Big Brother Brasil, ano após ano. E, com a queda de audiência no Brasil de um programa que deixou de ser exibido no resto do mundo por falta justamente de audiência, pode-se prever que a apelação da Globo só fará aumentar.
E não há uma mísera autoridade que diga um A.
Estou na sala de estar de casa com a esposa e a neta, de dez anos. Na tela da tevê, um rapagão de quase dois metros de altura e uma garota gorduchinha, ambos lá pelos vinte e poucos anos, protagonizam uma cena lamentável. Insultam-se, dizem palavrões e têm espasmos de verdadeira histeria, com berros assustadores e gritos ininteligíveis.
Precisam ser contidos por outro casal, que parece achar que se atracarão aos socos e pontapés. As imagens confirmam a percepção. Choca um pouco o pensamento de que o rapaz a agrediria – e talvez ela a ele – se não estivessem na tevê, mesmo que pareça que estão prestes a esquecer disso e partirem para as vias de fato.
Digo à minha esposa que não concordo com que a minha neta assista ao programa. E que ela mesma não deveria. Estão se divertindo, porém. Acreditam que é inofensivo. Dizem que já vão desligar, enquanto riem do que vêem.
Não posso culpá-las. Não há nada melhor na tevê aberta e acabaram de lavar a louça do jantar. Estão naquele momento em que as pessoas só querem relaxar e tirar a mente de qualquer coisa séria.
Dirão que é uma deficiência educacional com a minha neta, mas todos sabem que essa é a realidade de milhões e milhões de famílias de todas as classes sociais e regiões do país. Além do que, proibir jovens de fazer alguma coisa só funciona enquanto estão sob os nossos olhares vigilantes. Há que convencê-los do que não devem fazer. E estou tentando, mas não é fácil.
Na escola da minha neta, colegas discutem animadamente sobre o Big Brother Brasil; a enfermeira que cuida da minha filha caçula, moça simples que veio da Bahia sem nada, batalhou e rompeu com a lógica dessas garotas do Nordeste que vinham para São Paulo e se tornavam empregadas domésticas automaticamente, também adora.
A enfermeira já se tornou parte da família. Às vezes até dorme em casa, quando eu e minha mulher temos que sair cedo para o nosso escritório no dia seguinte. Ela adora o BBB. Torce por um dos rapazes marombados e desprovidos de neurônios, que considera “lindo”. Tem 24 anos. É uma moça simples, esforçada, honesta. E minha mulher acha ótimo terem o programa para discutir.
Poderiam discutir uma boa teledramaturgia, por exemplo. Não precisaria ser esse lixo. Mas como não lhes oferecem coisa melhor, então “se viram” com o que têm.
Isso ocorre na residência de um ativista político de esquerda que desde que seus quatro filhos – sendo três deles adultos, hoje – eram bebês prega contra a baixaria na tevê e se dedica à causa da melhora da comunicação no Brasil. Imaginem o que acontece em famílias sem influência política ou intelectual…
Porque é inevitável. É “isso” o que temos na tevê aberta, no Brasil. Baixaria, vulgarização do sexo, bebedeira, ódio, mesquinhez, violência, inveja, desonestidade. Esses são os valores que a tevê aberta, um direito e uma propriedade da cidadania, incute em nossa juventude, em nossa infância e até em faixas etárias mais maduras.
Esse programa, porém, supera tudo o mais que há de ruim na tevê. Sobretudo por seu alcance, mas também pelos exemplos de lassidão dos costumes, do comportamento em sociedade. É um pisotear incessante de valores elevados que a tevê deveria difundir, mesmo que seja por sua condição de concessão pública.
O cinema ou o teatro que as tevês exibem, por exemplo, via de regra, mesmo exibindo comportamentos inaceitáveis, sempre terminam oferecendo a premissa de que o mau comportamento não compensa e de que tem um preço. Programas como o BBB, não. Aqueles dois ignorantes que discutiam com aquela virulência, ganham pelo que fazem. Nem que seja fama.
Quanto daquilo ficará na alma da minha neta? Que influência assistir a esse tipo de comportamento terá nas mentes mais simples? É liberdade de expressão vender a idiotia, a covardia, os maus instintos todos como características de jovens “descolados”?
O país suporta passivamente essa bofetada em sua face em que se consiste cada programa Big Brother Brasil, ano após ano. E, com a queda de audiência no Brasil de um programa que deixou de ser exibido no resto do mundo por falta justamente de audiência, pode-se prever que a apelação da Globo só fará aumentar.
E não há uma mísera autoridade que diga um A.
Salve Miro,
ResponderExcluirO texto é bom, mas não dá pra concordar com essa frase: "Poderiam discutir uma boa teledramaturgia, por exemplo"... de qual ele tá falando??? Da Rede Globo??? Acho q esqueceram de avisar a ele que as novelas globais vão no mesmo caminho do BBB e tbém alienam e amortecem a mente e os corações de milhares de brasileiros... repito, de resto, o texto é bom, mas esse trecho deu uma certa manchada em seus argumentos... pelo menos na minha opinião... abs,
CarlosCarlos
Isso que vc escreve tem fundamento. A mídia está cada dia mais preocupada com o Lucro gerado em comerciais, patrocínios e etc..E pouco estão importando, ou mhelhor, quase inexiste uma preocupação com o conteúdo a ser exibido em horário nobre. nós ficamos a parte disso tudo. pois preferimos nem comentar sobre o teor das exibições do BBB... O que prevalece sempre, é o lucro. a Rede Globo está interessada apenas nisso. ai meu Deus!!!
ResponderExcluirAbraços
Olá Miro,
ResponderExcluirO Brsil realmente não merece isso, mas, e a Globo sabe disso? Para manter milhões de alienados, eu me pergundo, a quem está servindo a Globo???
Grande abraço
Porque é inevitável. É “isso” o que temos na tevê aberta, no Brasil. Baixaria, vulgarização do sexo, bebedeira, ódio, mesquinhez, violência, inveja, desonestidade. Esses são os valores que a tevê aberta, um direito e uma propriedade da cidadania, incute em nossa juventude, em nossa infância e até em faixas etárias mais maduras
ResponderExcluiré isso que ele querem, irmaos, se virem, brigem...