segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Os nós da economia estão apertando

Reproduzo artigo de Wladimir Pomar, publicado no sítio Correio da Cidadania:

É provável que a luta obstinada do governo Dilma pela erradicação da pobreza extrema e a criação de oportunidades para todos se veja dificultada tanto pela política monetária do próprio governo quanto pela demora na adoção de medidas que acelerem a produção de alimentos e de outros bens de consumo corrente.

As medidas de contenção da inflação, através da elevação dos juros e de forte contingenciamento fiscal, podem ser ótimas se a política geral não se incomodar com a compressão do consumo e a continuidade da miséria. No entanto, superar a miséria significa, em termos bem precisos, elevar o poder de compra ou de consumo de alguns milhões de brasileiros desprovidos dessa capacidade. Nesse contexto, a sustentação de um longo ciclo de crescimento pode ser, ao mesmo tempo, causa e efeito daquela superação.

Por um lado, como disse a presidente, é com crescimento que serão gerados os empregos e serão vencidas a desigualdade de renda e de desenvolvimento regional. Por outro lado, a geração de empregos, associada a programas que vençam a desigualdade de renda e de desenvolvimento regional, gera uma nova demanda que só pode ser atendida com mais crescimento e mais oferta.

Temos, desse modo, a necessidade de manter uma estabilidade econômica que atenda àquele crescimento. Todos sabemos que a inflação desorganiza a economia e degrada a renda do trabalhador, e realmente não devemos permitir que, ainda como disse a presidente Dilma, essa praga volte a corroer nosso tecido econômico e a castigar as famílias mais pobres. No entanto, também precisamos admitir que a contenção da inflação através da política de juros altos é um freio, tanto ao crescimento quanto ao aumento do poder de compra e do consumo das camadas de baixa renda, em especial se permitir que os capitais de curto prazo superem os investimentos diretos.

O governo Lula só conseguiu implantar um processo de crescimento na contramão da política de juros altos porque se beneficiou de uma situação internacional extremamente favorável. O problema do governo Dilma, nessa questão, consiste em que as condições internacionais se tornaram mais complexas e, em muitos aspectos, desfavoráveis. Quase certamente não será possível combinar os dois aspectos contrários de juros altos e crescimento. O que pode fazer naufragar a política de completa erradicação da miséria, desejada pela presidente.

Nessas condições, o combate à inflação deve ser travado pelo lado do aumento da oferta, e de uma oferta que atenda justamente ao acesso de camadas que estavam privadas de alimentos e bens de consumo corrente e agora começam a ter acesso a eles. A questão chave da estabilidade econômica reside, assim, no aumento da produção de alimentos e de bens de consumo corrente, aumento que está condicionado tanto pela super-especialização do agronegócio quanto pela reduzida capacidade da economia agrícola familiar e pela pouca agilidade de setores empresariais em investir em setores que consideram de rentabilidade duvidosa.

Embora os nós dos juros altos e do contingenciamento fiscal estejam apertando o consumo e, em certa medida, possam conter a inflação por algum tempo, isso pode ter como subproduto uma redução no ritmo de crescimento, em especial nos setores que se tornaram vilões inflacionários, como os alimentos e vários bens de consumo corrente.

Se isso ocorrer, e não forem adotadas medidas para elevar a produção nesses setores, poderemos ingressar num processo de confronto entre a necessidade de crescer para combater a miséria, e a necessidade de conter a inflação, causada por oferta insuficiente.

Uma das dúvidas diante desse quadro é saber até que ponto o governo está disposto a intervir com firmeza para elevar a produção de alimentos e estimular os investimentos na fabricação daqueles bens de alta demanda pela população emergente. Em outras palavras, até que ponto já está agindo para desatar os nós que começam a sufocar o crescimento.

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