domingo, 20 de março de 2011

Protestos no RJ assustaram Obama

Reproduzo artigo de Maurício Thuswohl, publicado na Rede Brasil Atual:

Programada para ser uma festa, a passagem de Barack Obama pelo Rio de Janeiro, antes mesmo de acontecer, já está marcada pelo enfrentamento entre as autoridades públicas e os setores da sociedade que manifestam posição política contrária à visita do presidente dos Estados Unidos.

Na noite de sexta-feira (18), esse enfrentamento chegou às ruas, durante um ato na porta do consulado dos Estados Unidos que terminou com um guarda ferido pelas chamas de um coquetel molotov e treze manifestantes presos. As reações contrárias a Obama também seriam a razão, segundo diversas fontes, do cancelamento do pronunciamento aberto ao público que ele faria domingo (20) na Cinelândia.

Não foi apresentada de forma oficial uma razão para o cancelamento do pronunciamento, mas pessoas da comitiva norte-americana que chegaram com antecedência ao Rio diziam em conversas reservadas que a desistência ocorreu simplesmente porque o evento na Cinelândia estaria “dando trabalho demais”. Outra versão dava conta de que agentes da CIA, o serviço de inteligência daquele país, haviam informado à Casa Branca sobre a impossibilidade de se garantir que não ocorreriam manifestações contrárias ao presidente.

Seja no primeiro ou no segundo caso, a falta de uma colaboração mais efetiva do governo brasileiro para a viabilização do evento na Cinelândia também não deixou de ser notada. “Em Brasília, o cancelamento do discurso aberto do Obama certamente não provocou uma única lágrima. Há quem ache que a agenda do presidente dos EUA tem muito espaço reservado para eventos de marketing pessoal e quase nenhum para reuniões de trabalho com o governo brasileiro”, disse um parlamentar carioca da base governista, que prefere manter seu nome em sigilo.

No consulado norte-americano, durante toda a sexta-feira circularam extraoficialmente diversas explicações para o cancelamento do ato público, passando por razões políticas (o iminente conflito na Líbia), sentimentais (respeito às vítimas no Japão) e até mesmo pouco plausíveis (estourou o orçamento previsto para a viagem presidencial). Em nota, a diplomacia dos EUA limitou-se a dizer que “devido a uma série de preocupações quanto à realização do evento ao ar-livre, decidimos que a melhor opção é realizar o discurso em um local fechado”. O lugar escolhido foi o Teatro Municipal, também localizado na Cinelândia.

Logo no começo do dia, o ex-prefeito Cesar Maia divulgou em seu ex-blog o conteúdo de um e-mail que recebera de “um delegado da área de inteligência” dando conta de que o ato público fora cancelado por temor das manifestações contrárias a Obama que estão sendo organizadas por algumas organizações dos movimentos sociais e partidos políticos. “Um grupo significativo de militantes foi sendo identificado por infiltração de quatro agentes. Levariam panos vermelhos, como lenços, ou mesmo camisetas vermelhas que seriam retiradas na hora, e outros sinalizadores de protesto. Distribuídos em grupos, ficariam como pólos espalhados no comício”, diz o delegado, identificado por Cesar pelas iniciais PRM.

O delegado, segundo o ex-prefeito, continua seu relato: “Num certo momento, ao meio do discurso, seria dado o sinal para que todos desfraldassem os panos e camisetas e cantassem, em uníssono, palavras de ordem contra o ‘imperialismo norte-americano’, ‘pró-palestinos’, ‘pró-Líbia’, e por aí vai. Tudo bem treinado como as torcidas de futebol. Simultaneamente, os celulares, smartphones e afins estariam gravando e transmitindo, ao vivo, para as redes sociais que multiplicariam as imagens e sons. Com isso, conseguiriam que a imprensa internacional multiplicasse com matérias do tipo: protestos contra Obama no Rio. Como a viagem de Obama ao Brasil tem como objetivo principal destacar a sua própria imagem, o comício aberto conspiraria no sentido contrário”.

Enfrentamento

Em todo caso, se a intenção do governo dos EUA era não chamar atenção sobre os descontentes com a visita de Obama, o tiro já começa a sair pela culatra, com a ajuda da polícia do Rio de Janeiro. Um ato convocado para o final da tarde de sexta-feira na Candelária e que contou com cerca de 250 militantes de sindicatos e partidos como PSTU, PSOL, PCB, PCdoB, PDT e PT descambou para o enfrentamento e a violência quando os manifestantes chegaram em frente ao consulado norte-americano.

Enquanto os manifestantes tentavam se aproximar do portão do consulado e eram contidos com mais veemência pelos policiais do 13º Batalhão da Polícia Militar, dois artefatos incendiários foram lançados. Um deles explodiu no asfalto, mas o segundo atingiu o vigilante do consulado Rodolfo Gomes Pereira, que sofreu queimaduras no braço e na barriga. Logo em seguida, os policiais partiram pra cima dos manifestantes com spray de pimenta, cassetetes e bombas de efeito moral, além de dispararem balas de borracha.

Ao final do confronto, treze manifestantes, um deles menor de idade, foram presos e levados à 5ª DP (Centro), onde passaram a noite. Na manhã deste sábado (19), o menor foi encaminhado à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, e os presos maiores foram transferidos para os presídios de Água Santa (homens) e Bangu (mulheres). Todos prestaram depoimento durante a madrugada e poderão ser indiciados por incêndio criminoso e lesão corporal.

A transferência dos manifestantes detidos para presídios pode acirrar ainda mais os ânimos dos militantes que pretendem realizar um ato contra a presença de Obama no Rio às 10h de domingo (20), com concentração no metrô da Glória. A intenção inicial da manifestação seria se deslocar até a Cinelândia. Com a mudança do discurso público de Obama para um discurso fechado no Teatro Municipal, os organizadores ainda estudam a melhor estratégia para o ato, de forma a evitar eventuais novos confrontos com a polícia.

4 comentários:

  1. Acho que as pessoas têm todo o direito de expor sua opinião, mas, desde que o façam com respeito. Nós podemos divergir sem ofender. Também acho que o governo deveria parar de tentar "censurar" aqueles que são contrários ao Obama. Ele é inteligente o bastante para saber que não importa aonde vá, não agradará a todos.

    @lucianombs

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  2. Miro,

    A visita de Obama só está sendo repercutida pela mídia nativa, não há nada disso na imprensa internacional. Inclusive, houve críticas na imprensa americana acerca dessa visita.

    O saldo dessa visita é mais positivo para os EUA. As reivindicações de Dilma não foram garantidas nenhuma, mas apenas comentários gerais, aqueles típicos e argumentos que querem fugir da questão em si.

    O resto é propaganda. Chama atenção, também, o oportunismo dos governos estadual e municipal do Rio. Se houvesse o discurso na Cinelândia, não há dúvida de que ambos disponibilizariam ônibus para que o pessoal da zona oeste e da baixada viesse assistir e ainda segurar bandeirinhas americanas numa mão e brasileira noutra.

    Veríamos aquele carioca comum, típico brasileiro que leva mais de cinco horas para ir e vir do trabalho, que não se alimenta direito, que carrega no corpo o cansaço de uma vida de labor mal dormida. Veríamos estas pessoas que são lembradas apenas neste período, sendo ordenadas como gado para daremas boas vindas.

    Isso seria mostrado como o carinho do povo brasileiro a presidente do EUA, pela Globo. Mas, que bom que foi cancelada e esta visita está restrita ao Brasil no que respeita à mídia. Não há importância nenhuma lá fora.

    Pelojeito, nem mesmo pelo carioca, porque não há tanta gente assim na Cinelândia e houve aquele carioca contrário, consciente que foi protestar.

    Detalhe, toda essa louvação, ao presidente, mas nem a comida brasileira os caras comeram, vieram seus próprios cozinheiros e foram para cozinha do hotel preparar a comida.

    Alguém havia me falado uma vez que morou nos EUA e fazia feijoada lá, foi proibido de fazer porque o cheiro era desagradável, as pessoas do prédio não gostavam, tinham outros hábitos.

    Quando vi que o Itamaraty ia servir isso me lembrei. E quando ouvi isso na Record News me lembrei novamente. Em suma, metade da visita de Obama é marketing e metade é mecadejar.

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  3. Ato Institucional Nº1 de Dilma: "Estão suspensos TODOS os DIREITOS dos cidadãos brasileiros, quando houver visita de exploradores internacionais." Isso é uma vergonha, qual o perigo ofereciam aqueles brados, organizados, diga-se de passagem, para ser reprimido com aquela violência toda??? #Vergonha e a nossa presidente de ex-querda apóia tudo isso ainda, ou ela se manifestou sobre a ação contra os manifestantes??? Lamentável! Força, Honra e Sabedoria aos que estão presos! PAZ!
    Vergonha! Isso é um atentado à Democracia. O direito de manifestar e se opor a qualquer que seja o evento político.

    Se políticos sofreram essa agressão, imagina o que seria feito à meros mortais como nós, cidadãos brasileiros.

    Abaixo a opressão!

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  4. O pré-sal é o principal alvo. Talvez o Brasil tenha vantagens, talvez não; vanos esperar para ver o que acontece, ainda está tudo muito encoberto.

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