sexta-feira, 18 de março de 2011

Tucanos pedirão benção a Obama?

Por Altamiro Borges

Em sua badalada visita ao Brasil, o presidente Barack Obama deveria fazer um convite especial aos grãos-tucanos do país. É certo que estão em crise, divididos e fragilizados, mas eles merecem um chamego. Afinal, eles bem que tentaram derrotar o presidente Lula nas eleições de outubro passado para melhor servir ao amo imperial. Eles jogaram sujo e pesado, mas não deu desta vez!

Um dos objetivos do candidato do PSDB, José Serra, era exatamente o de retomar a política de “alinhamento automático com os EUA”, praticada no reinado entreguista de FHC. Novos documentos vazados pelo WikiLeaks confirmam a total subserviência dos tucanos. Com seu “complexo de vira-latas”, eles mereceriam um afago e ficariam felizes se pudessem pedir benção a Obama.

Amor ao império e desprezo ao Brasil

Num dos telegramas do serviço diplomático dos EUA, datado de 29 de dezembro de 2009, os tucanos revelam todo seu amor ao império e desprezo ao Brasil. Ele informa que na sua visita ao país, o secretário-assistente para o Hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela, teve encontros “com importantes observadores políticos e econômicos em São Paulo, que expressaram preocupação com a política externa do Brasil, com gastos públicos e com manobras políticas às vésperas da eleição de outubro de 2010”.

“Em um encontro privado subseqüente com Arturo Valenzuela, o governador de São Paulo e líder da corrida presidencial, José Serra, alertou que a corrupção e a radicalização estavam crescendo no governista Partido dos Trabalhadores (PT) e sugeriu que como presidente ele deixaria a política externa mais sintonizada com os Estados Unidos”.

Irã, Honduras e o servilismo

A mensagem relata ainda que Valenzuela participou de um almoço oferecido pelo Cônsul Geral e “nove importantes especialistas políticos e econômicos, inclusive o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer e o ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos Rubens Barbosa” – dois tucanos de carteirinha, inimigos jurados da política externa do governo Lula e estrelas da TV Globo.

“Todos os convidados brasileiros criticaram a política externa do governo Lula, demonstraram preocupação com a crescente radicalização do governista Partido dos Trabalhadores (PT) e enfatizaram a deterioração das contas públicas. Lafer descreveu a posição do Brasil em relação ao Irã como ‘o pior erro’ da política externa de Lula, enquanto o embaixador Barbosa citou o papel do Brasil em Honduras como um fracasso importante”, descreve o documento oficial da diplomacia ianque.

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Leia a íntegra do telegrama

Telegrama de 29 de dezembro de 2009, do Consulado dos Estados Unidos em São Paulo, vazado pelo Wikileaks

241953 - 12/29/2009; 16:53 - 09SAOPAULO667; Consulate Sao Paulo - CONFIDENTIAL

C O N F I D E N T I A L SAO PAULO 000667 SIPDIS AMEMBASSY BRASILIA PASS TO AMCONSUL RECIFE E.O. 12958: DECL: 2019/12/29 TAGS: PGOV, PREL, ECON, EFIN, BR SUBJECT: SAO PAULO LEADERS OUTLINE CONCERNS WITH GOB TO WHA A/S VALENZUELA CLASSIFIED BY: Thomas J. White, Consul General; REASON: 1.4(B), (D) 1. (C) SUMMARY:

Na perna final de sua visita de uma semana ao Cone Sul, o secretário-assistente para o Hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela, se encontrou com importantes observadores políticos e econômicos em São Paulo, que expressaram preocupação com a política externa do Brasil, com gastos públicos e com manobras políticas às vésperas da eleição de outubro de 2010. Em um encontro privado subsequente com A/S Valenzuela, o governador de São Paulo e líder da corrida presidencial José Serra alertou que a corrupção e a radicalização estavam crescendo no governista Partido dos Trabalhadores (PT) e sugeriu que como presidente ele deixaria a política externa mais sintonizada com os Estados Unidos. END SUMMARY.

Sao Paulo Political and Economic Observers

2. (C) Concluindo sua visita à região com uma escala em São Paulo no Sábado, 18 de Dezembro, A/S Valenzuela participou de um almoço oferecido pelo Cônsul Geral com ChargC) e nove importantes especialistas políticos e econômicos, inclusive o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer, o ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos Rubens Barbosa e o ex-ministro da Ciência e Tecnologia José Goldemberg. A/S Valenzuela fez um balanço de sua visita e enfatizou a alta prioridade do USG [United States Government] nas relações bilaterais/ Ele identificou cooperação com o Brasil em questões regionais, inclusive Honduras, como sendo de importância crítica.

3. (C) Todos os convidados brasileiros criticaram a política externa do governo Lula, demonstraram preocupação com a crescente radicalização do governista Partido dos Trabalhadores (PT) e enfatizaram a deterioração das contas públicas. Ex FM Lafer descreveu a posição do Brasil em relação ao Irã como “o pior erro” da política externa de Lula, enquanto o embaixador Barbosa citou o papel do Brasil em Honduras como um fracasso importante. Todos concordaram que o GOB [Government of Brazil] está focalizando questões internacionais (Irã, o conflito israelo-palestino, Honduras, etc.) nos quais o Brasil tem poucos interesses nacionais e pequena influência, ao custo de ignorar questões mais próximas de casa, inclusive relações com o Mercosul.

4. (C) Vice-presidente do Centro Brasileiro para Relações Internacionais (CEBRI) Roberto Teixeira da Costa e professor Goldemberg particularmente questionaram o interesse do GOB no Irã, dada a falta de perspectivas comerciais e a improbabilidade de cooperação nuclear civil. [NOTA: Numa conversa paralela com o ChargC), Goldemberg, que é um renomado cientista nuclear, disse que o Brasil não tem nada a oferecer ao Irã em questões de combustível nuclear e que o Irã está bem adiante do Brasil em capacidade centrífuga. Além disso, ele disse que aprovava as recentes declarações da secretária Clinton sobre países que trabalham em proximidade com o Irã e que o GOB deveria levar as declarações a sério. FIM DA NOTA] A/S Valenzuela enfatizou que um crescentemente isolado Irã está em busca de oportunidades como as oferecidas pelo governo Lula para tentar encobrir sua falta de cooperação e impopularidade com a comunidade internacional.

5. (C) Domesticamente, os participantes brasileiros descreveram a estratégia do PT em tornar as eleições nacionais vindouras em um plebiscito sobre o governo Lula como superior ao governo Cardoso e enfatizaram a intenção do partido de fazer uma campanha agressiva. Tomando este rumo, eles argumentaram, [o PT] poderia descrever José Serra como candidato de Cardoso, ajudando a transferir alguma popularidade de Lula para Dilma Rousseff, que nunca disputou um cargo eletivo antes e tem demonstrado pouco carisma como candidata até agora. O ombudsman da Folha de S. Paulo Carlos Eduardo Lins da Silva destacou a força financeira sem precedentes do PT para fazer campanha depois de oito anos no governo, enquanto o cientista político Bolivar Lamounier disse que um PT crescentemente radicalizado provavelmente faria uma campanha muito negativa contra a oposição. Lins da Silva acrescentou que, se o PT perder as eleições presidenciais de 2010, poderia usar sua nova riqueza para fazer uma oposição muito problemática.

6. (C) Na economia, Teixeira da Costa disse que as percepções públicas sobre o Brasil estavam demasiadamente otimistas e que os mercados poderiam entrar em queda rapidamente se a situação internacional se deteriorasse ainda mais. Ricardo Sennes, diretor de assuntos internacionais da firma de consultoria Prospectiva, ecoou a avaliação, dizendo que as contas públicas do GOB estavam sob crescente ameaça e que a economia brasileira continuava não competitiva no longo prazo, devido à fraca infraestrutura, alta carga de impostos e políticas trabalhistas rígidas. Todos concordaram, no entanto, que a forte performance do Brasil nos últimos oito anos e a atual recuperação da crise global ajudam a campanha de Dilma Rousseff. Sobre o recente envolvimento destacado do Brasil na Conferência do Clima de Copenhague (COP-15), Professor Goldemberg disse que a performance do presidente Lula foi medíocre, e que os titubeios do GOB deixaram a percepção de que o Brasil decidiu suas posições nas últimas duas semanas. De outra parte, ele elogiou a apresentação da secretária Clinton e disse que que os países mais importantes deveriam se reunir em pequenos grupos (versus o G-77) para obter progresso em questões como financiamento e monitoramento.

SP Governor and Presidential Front-runner Jose Serra

7. (C) Em um encontro de 90 minutos um-a-um no palácio do governador, José Serra expressou um número das mesmas preocupações quanto à corrente política nacional, a crescente corrupção, gastos públicos e política externa. Serra disse ao A/S Valenzuela que o governista Partido dos Trabalhadores (PT) está fazendo de tudo para construir uma plataforma de poder de longo prazo enquanto estiver no governo. Serra disse que o Brasil está atingindo níveis de corrupção nunca vistos antes e que o PT e sua coalizão de aliados estão usando crescentes gastos públicos para construir uma máquina política para as eleições de 2010. Diante de tais tentativas, e o que ele descreveu como fraco aparato de seu próprio partido PSDB, Serra não estava firmemente confiante de que poderia vencer a presidência em outubro de 2010.

8. (C) Para além da política doméstica, Serra criticou a política externa do governo Lula e indicou que ele levaria o Brasil para uma direção mais internacionalista se eleito presidente. Serra citou Honduras especificamente como fracasso do governo Lula, culpando a posição do GOB e o presidente hondurenho Zelaya por impedir uma resolução. De outra parte, ele destacou seu envolvimento com o Governo da Califórnia em questões ambientais como um exemplo de oportunidade para trabalhar juntos em questões difíceis. No entanto, reiterando sua posição pública sobre biocombustíveis, Serra criticou as tarifas dos Estados Unidos sobre etanol importado do Brasil como economicamente ilógicas.

9. (C) Numa referência ao crescente populismo na região, Serra disse que achava a presidente argentina Cristina Kirchner “cordial e inteligente” e sugeriu que se o USG tem preocupações com as políticas populistas de Kirchner, a candidata presidencial do PT Dilma Rousseff deveria causar maior preocupação. Ele também alertou que as referências do USG a uma “relação especial” com o presidente Lula não soavam bem em todos os segmentos do Brasil e poderiam ser manipuladas pelo PT. [COMENTÁRIO: Além da Argentina, Serra parecia geralmente desinformado sobre recentes acontecimentos no Cone Sul, inclusive sobre a situação política do presidente paraguaio Lugo, e parecia primariamente imerso na política doméstica do Brasil. FIM DO COMENTÁRIO]. Finalmente, Serra disse que estava trabalhando em vários artigos de opinião que articulariam publicamente suas críticas à política externa do governo Lula nos próximos meses.

Um comentário:

  1. Aquí en Perú se les llama "sobones" "ayayeros" a todos aquellos que estan acostumbrados a besar la mano del imperio.
    Ojalá Dilma Rousseff haga prevalecer su caracter de mujer fuerte e inteligente para beneficio de su pueblo que tanto la quiere y la respeta.
    No permita el pueblo brasilero mas interferencia del imperio en sus asuntos, viva Brasil libre y soberano.

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