Reproduzo artigo de Glen Ford, publicado no sítio Opera Mundi:
O governador de Wisconsin, Scott Walker, desferiu mais um golpe com suas propostas de cortes adicionais de US$ 1,6 bilhão no orçamento de escolas e governos locais, uma ofensiva destinada a riscar do mapa os serviços públicos mais básicos, ou então levá-los à privatização pelo estrangulamento.
Esse Estado dominado pela classe média branca agora encara a possibilidade de ter salas de aula com 60 alunos, como no regime defeituoso que será imposto às crianças de Detroit sob um governo estadual democrata. Governadores democratas em Nova York, Califórnia e outros Estados certamente festejam a carnificina promovida por seus confrades republicanos no sistema monopartidário dos Estados Unidos, cujas depredações expandem o espaço político para suas próprias jihads contra o setor público e seus sindicatos.
Winsconsin é, em certo aspecto, o terreno quase ideal para um confronto final com a versão Tea Party do republicanismo. Os atores do drama são, na esmagadora maioria, brancos - o que deixa em evidência a crua natureza classista das agressões do capital. Com relativamente poucos bodes expiatórios negros para complicar a questão, os brancos precisam encarar a realidade do capitalismo em estágio avançado que esmaga as pessoas comuns enquanto salta de uma crise a outra.
Ou talvez não. A supremacia branca é uma ideologia dinâmica que sempre teve grande importância para as funções domésticas do Excepcionalismo norte-americano, distorcendo não só as relações raciais, mas também todas as outras relações sociais. Uma vez que o Nigger (preto) fundamental foi inventado e ganhou vida na mente pública, com todos os seus supostos defeitos ilógicos e poluidores da sociedade, suas características podem ser atribuídas a outros grupos-alvo - um kit pronto de demonização.
Os empregados públicos em geral e os professores em particular agora se veem niggerizados como burocratas preguiçosos, que fingem doenças para não trabalhar, que passeiam com mulheres penduradas na seguridade social, e outros flagelos humanos que precisam ser extirpados para que o livre mercado possa operar seus milagres.
Se as massas brancas se convencerem de que não merecem ser niggerizadas - e que tampouco o merecem os negros e pardos -, poderão um dia conquistar a lucidez necessária para derrotar a minoria de 2% que está desmantelando sistematicamente a esfera pública. Isto seria algo novo sob o sol norte-americano.
O advento de um fenômeno genuinamente novo, um presidente norte-americano negro, serviu objetivamente para fortalecer a influência do capital feroz neutralizando a metade negra dos EUA progressistas e obscurecendo o rosto da ofensiva de Wall Street, na qual Barack Obama tem papel fundamental. O ativista de esquerda Ben Manski, da Wisconsin Wave, diz que os estudantes e outros manifestantes não querem que Obama intervenha na briga com o governador Walker e a assembleia republicana por causa dos cortes do presidente no Pell Grants e em uma série de programas sociais.
Seus instintos estão corretos. Há razões de sobra para acreditar que, se Obama fosse além das banalidades dedicadas aos governadores na Casa Branca, nesta semana, ele diria aos senadores democratas de Wisconsin, entrincheirados em Chicago para não dar quorum aos republicanos: "Sei que vocês estão aproveitando bastante minha bela cidade, mas é hora de voltar para casa, sentar e resolver as coisas acima das divisões partidárias. Precisamos superar a política partidária." Em um instante, a sólida frente democrata desmoronaria e o Partido Republicano teria seu quorum.
Obama minou os professores da rede pública de uma maneira que o republicano George Bush nunca poderia ter feito, elevando a privatização das escolas públicas da nação à categoria de política nacional sob um governo democrata. Como observou o especialista em educação Richard D. Kahlenberg na semana passada no Washington Post, Obama "aplaudiu a demissão de cada professor sindicalizado da Escola Secundária de Central Falls, em Rhode Island".
Ele abraçou a ex-superintendente escolar de Washington Michelle Rhee, querida pelos defensores da privatização em ambos os lados do monopartido norte-americano, e acolheu o filme de propaganda antieducação pública Waiting for Superman na Casa Branca.
Aguardamos a próxima capitulação do Primeiro Presidente Negro em Capital Hill - algo inevitável, já que ele aceitou as premissas básicas da regra de Wall Street: déficits orçamentários são a maior ameaça ao bem-estar econômico; cortes de impostos para as corporações são necessários para a recuperação e o crescimento econômicos; os salários e direitos dos funcionários públicos precisam ser reduzidos (ele congelou seu pagamento unilateralmente por dois anos); e os gastos com a guerra, à exceção das margens, são invioláveis.
A princípio, não há diferença entre o Obama democrata corporativo e os republicanos corporativos - é apenas uma questão de grau. E os graus de separação ficam menores a cada dia.
O Partido Republicano tem quase garantida a vitória no Senado federal em 2012, para selar seu domínio do Legislativo. Ou teremos um republicano na Casa Branca, ou outro terrível mandato de Barack Obama, que a essa altura terá ajudado a mover o ponteiro ainda mais para a direita, onde se localiza sua zona de conforto. É por isso que, perdida ou ganha, a batalha em Wisconsin, assim como outros futuros confrontos com a direita triunfalista, precisam dar origem a uma política que não esteja amarrada às estruturas do Partido Democrata.
O Obamismo, em vez de oferecer o novo regime democrata que os progressistas desiludidos e as massas negras imaginavam, é um caminho direto para o fracasso. O sistema monopartidário é uma armadilha corporativa, e a aposta nas urnas, onde o dinheiro manda como nunca, não é capaz de galvanizar o movimento de ação direta que representaria a única defesa do povo em um ambiente pós-2012.
É hora de criar novas armas e retomar as antigas.
A boa notícia é que o capitalismo financeiro está morrendo. A má notícia é que ele quer levar todos nós junto - e, até agora, está conseguindo.
O governador de Wisconsin, Scott Walker, desferiu mais um golpe com suas propostas de cortes adicionais de US$ 1,6 bilhão no orçamento de escolas e governos locais, uma ofensiva destinada a riscar do mapa os serviços públicos mais básicos, ou então levá-los à privatização pelo estrangulamento.
Esse Estado dominado pela classe média branca agora encara a possibilidade de ter salas de aula com 60 alunos, como no regime defeituoso que será imposto às crianças de Detroit sob um governo estadual democrata. Governadores democratas em Nova York, Califórnia e outros Estados certamente festejam a carnificina promovida por seus confrades republicanos no sistema monopartidário dos Estados Unidos, cujas depredações expandem o espaço político para suas próprias jihads contra o setor público e seus sindicatos.
Winsconsin é, em certo aspecto, o terreno quase ideal para um confronto final com a versão Tea Party do republicanismo. Os atores do drama são, na esmagadora maioria, brancos - o que deixa em evidência a crua natureza classista das agressões do capital. Com relativamente poucos bodes expiatórios negros para complicar a questão, os brancos precisam encarar a realidade do capitalismo em estágio avançado que esmaga as pessoas comuns enquanto salta de uma crise a outra.
Ou talvez não. A supremacia branca é uma ideologia dinâmica que sempre teve grande importância para as funções domésticas do Excepcionalismo norte-americano, distorcendo não só as relações raciais, mas também todas as outras relações sociais. Uma vez que o Nigger (preto) fundamental foi inventado e ganhou vida na mente pública, com todos os seus supostos defeitos ilógicos e poluidores da sociedade, suas características podem ser atribuídas a outros grupos-alvo - um kit pronto de demonização.
Os empregados públicos em geral e os professores em particular agora se veem niggerizados como burocratas preguiçosos, que fingem doenças para não trabalhar, que passeiam com mulheres penduradas na seguridade social, e outros flagelos humanos que precisam ser extirpados para que o livre mercado possa operar seus milagres.
Se as massas brancas se convencerem de que não merecem ser niggerizadas - e que tampouco o merecem os negros e pardos -, poderão um dia conquistar a lucidez necessária para derrotar a minoria de 2% que está desmantelando sistematicamente a esfera pública. Isto seria algo novo sob o sol norte-americano.
O advento de um fenômeno genuinamente novo, um presidente norte-americano negro, serviu objetivamente para fortalecer a influência do capital feroz neutralizando a metade negra dos EUA progressistas e obscurecendo o rosto da ofensiva de Wall Street, na qual Barack Obama tem papel fundamental. O ativista de esquerda Ben Manski, da Wisconsin Wave, diz que os estudantes e outros manifestantes não querem que Obama intervenha na briga com o governador Walker e a assembleia republicana por causa dos cortes do presidente no Pell Grants e em uma série de programas sociais.
Seus instintos estão corretos. Há razões de sobra para acreditar que, se Obama fosse além das banalidades dedicadas aos governadores na Casa Branca, nesta semana, ele diria aos senadores democratas de Wisconsin, entrincheirados em Chicago para não dar quorum aos republicanos: "Sei que vocês estão aproveitando bastante minha bela cidade, mas é hora de voltar para casa, sentar e resolver as coisas acima das divisões partidárias. Precisamos superar a política partidária." Em um instante, a sólida frente democrata desmoronaria e o Partido Republicano teria seu quorum.
Obama minou os professores da rede pública de uma maneira que o republicano George Bush nunca poderia ter feito, elevando a privatização das escolas públicas da nação à categoria de política nacional sob um governo democrata. Como observou o especialista em educação Richard D. Kahlenberg na semana passada no Washington Post, Obama "aplaudiu a demissão de cada professor sindicalizado da Escola Secundária de Central Falls, em Rhode Island".
Ele abraçou a ex-superintendente escolar de Washington Michelle Rhee, querida pelos defensores da privatização em ambos os lados do monopartido norte-americano, e acolheu o filme de propaganda antieducação pública Waiting for Superman na Casa Branca.
Aguardamos a próxima capitulação do Primeiro Presidente Negro em Capital Hill - algo inevitável, já que ele aceitou as premissas básicas da regra de Wall Street: déficits orçamentários são a maior ameaça ao bem-estar econômico; cortes de impostos para as corporações são necessários para a recuperação e o crescimento econômicos; os salários e direitos dos funcionários públicos precisam ser reduzidos (ele congelou seu pagamento unilateralmente por dois anos); e os gastos com a guerra, à exceção das margens, são invioláveis.
A princípio, não há diferença entre o Obama democrata corporativo e os republicanos corporativos - é apenas uma questão de grau. E os graus de separação ficam menores a cada dia.
O Partido Republicano tem quase garantida a vitória no Senado federal em 2012, para selar seu domínio do Legislativo. Ou teremos um republicano na Casa Branca, ou outro terrível mandato de Barack Obama, que a essa altura terá ajudado a mover o ponteiro ainda mais para a direita, onde se localiza sua zona de conforto. É por isso que, perdida ou ganha, a batalha em Wisconsin, assim como outros futuros confrontos com a direita triunfalista, precisam dar origem a uma política que não esteja amarrada às estruturas do Partido Democrata.
O Obamismo, em vez de oferecer o novo regime democrata que os progressistas desiludidos e as massas negras imaginavam, é um caminho direto para o fracasso. O sistema monopartidário é uma armadilha corporativa, e a aposta nas urnas, onde o dinheiro manda como nunca, não é capaz de galvanizar o movimento de ação direta que representaria a única defesa do povo em um ambiente pós-2012.
É hora de criar novas armas e retomar as antigas.
A boa notícia é que o capitalismo financeiro está morrendo. A má notícia é que ele quer levar todos nós junto - e, até agora, está conseguindo.
Excelente analise. A melhor que ja vi, como residente nos USA. No fim da istoria Barak Obama e o lado pardo, nao negro de Bush. Por isto eu o chamo de Barak O'Bush
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