Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:
Em algum momento, lá pelo fim do segundo mandato de Lula, quando o presidente operário bateu em níveis inacreditáveis de popularidade, FHC foi tomado pelo pânico. Escreveu, então, um artigo (acho que no “Estadão”) qualificando o lulismo de “subperonismo”.
Quem conhece a Argentina e o Brasil sabe que no país vizinho Perón é uma presença ainda hoje dominante na política. Curioso: os argentinos desmontaram o Estado criado por Perón (e o autor do desmonte foi, esse sim, um subperonista – Carlos Menem, homem de costeletas largas e pensamentos curtos), mas o peronismo persiste como referência quase mítica no discurso político.
Nós, brasileiros, somos mais pragmáticos. Aqui, Vargas praticamente sumiu do imaginário popular. Mas sobrevive no Estado brasileiro – que FHC tentou desmontar. Vocês se lembram? Em 94, pouco antes de assumir a presidência, o tucano disse que uma das tarefas no Brasil era “enterrar a era Vargas”. Não conseguiu. Vargas sobrevive no BNDES, na Previdência Social, no salário-mínimo, na Petrobrás, nos sindicatos. O Brasil moderno foi construído sobre os alicerces deixados por Vargas. FHC gostaria de tê-los dinamitado.
Agora, o ex-presidente tucano reaparece. Não para tentar desqualificar o lulismo. Mas para lançar um alerta. Ele teme que as “oposições” se percam ”no burburinho [êpa, cuidado Stanley!!!] das maledicências diárias sem chegar aos ouvidos do povo“…. E pede que os tucanos deixem pra lá essa história de falar com o povão, e concentrem-se nas classes médias.
Literalmente, em artigo que acaba de ser publicado, o ex-presidente afirma:
“Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão”, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos. Isto porque o governo “aparelhou”, cooptou com benesses e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes mais eficazes do que a palavra dos oposicionistas, além da influência que exerce na mídia com as verbas publicitárias.”
FHC lança, assim, as bases do “subtucanismo”.
Em algum momento, quando ainda estava no poder, ele havia dito: “esqueçam o que escrevi”. Agora, escreve: “esqueçam o povão”.
Mas o subtucanismo de FHC não deve ser desprezado. Ele parte de uma constatação real, concreta. A de que a oposição (que se refugiou no discurso moralista da classe média) pode perder também esse quinhão. O ex-presidente e ex-sociólogo afirma que a tarefa da oposição é de uma “complexidade crescente a partir dos primeiros passos do governo Dilma que, com estilo até agora contrastante com o do antecessor, pode envolver parte das classes médias.”
Aqui nesse blog, ainda nas primeiras semanas de governo Dilma, escrevi um pequeno texto, intitulado “PT rumo ao centro e oposição na UTI”. Duvido que FHC tenha se rebaixado, e lido o subjornalismo que aqui praticamos. Mas, curiosamente, era mais ou menos isso que eu afirmava naquele post:
É um movimento claro: Lula já ocupara a esquerda e a centro-esquerda; agora, o projeto petista expande-se alguns graus mais – rumo ao centro! Isso sufoca a direita e a oposição.
Minha subanálise, baseada em subobservações dos primeiros movimentos de Dilma, avançava um pouco mais:
Lula e Dilma jogam de tabelinha. Ele mantém apoio forte entre a “esquerda tradicional”, e também entre sindicalistas e movimentos sociais, além do povão deserdado que vê em Lula um novo “pai dos pobres”. Ela joga para a classe média urbana e pragmática que – em parte – preferiu Marina no primeiro turno de 2010. Dilma, com essas ações, deixa muita gente confusa e irritada na esquerda. Mas reconheça-se: é estratégia inteligente.
Estratégia tão inteligente que já fez os tucanos acenderem o sinal amarelo: ou eles brigam pela classe média, ou ficarão sem nada.
FHC mostra-se realista ao propor que o PSDB use não as ferramentas tradicionais da política, mas concentre-se nas redes sociais:
“Pois bem, a imensa maioria destes grupos – sem excluir as camadas de trabalhadores urbanos já integrados ao mercado capitalista – está ausente do jogo político-partidário, mas não desconectada das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc. É a estes que as oposições devem dirigir suas mensagens prioritariamente, sobretudo no período entre as eleições, quando os partidos falam para si mesmo, no Congresso e nos governos. Se houver ousadia, os partidos de oposição podem organizar-se pelos meios eletrônicos, dando vida não a diretórios burocráticos, mas a debates verdadeiros sobre os temas de interesse dessas camadas.”
Ou seja: o subtucanismo defendido por FHC inclui abandonar o povão, concentrar-se nas mídias eletrônicas e seguir no bombardeio ”moralista” que ecoa junto ao último bastião das oposições – a classe média.
Portanto, preparem-se: as tropas de “trolls” tucanos (aliados à extrema dideita que frequenta a internet), atuantes durante a eleição, em breve voltarão a atacar. É nas redes sociais, com o discurso do medo e do moralismo, que o PSDB pretende se agarrar. Foi o que fez Serra em 2010. Obteve 44 milhões de votos.
O PT e o lulismo cometerão um erro grave se subestimarem a capacidade de aglutinação dessa nova oposição – que reconhece seus erros e agora parece redirecionar as baterias. FHC parece ser o ideólogo da operação, Aécio o operador congressual. A velha mídia já está em campo (e a capa da “Época” foi apenas um ensaio do que pode vir pela frente).
A classe média vai escutá-los? Ou será enredada pelo arranjo do lulismo, com Dilma a caminho do centro?
Os próximos meses vão revelar se o subtucanismo de FHC é uma operação desesperada, ou uma estratégia inteligente e duradoura.
Em algum momento, lá pelo fim do segundo mandato de Lula, quando o presidente operário bateu em níveis inacreditáveis de popularidade, FHC foi tomado pelo pânico. Escreveu, então, um artigo (acho que no “Estadão”) qualificando o lulismo de “subperonismo”.
Quem conhece a Argentina e o Brasil sabe que no país vizinho Perón é uma presença ainda hoje dominante na política. Curioso: os argentinos desmontaram o Estado criado por Perón (e o autor do desmonte foi, esse sim, um subperonista – Carlos Menem, homem de costeletas largas e pensamentos curtos), mas o peronismo persiste como referência quase mítica no discurso político.
Nós, brasileiros, somos mais pragmáticos. Aqui, Vargas praticamente sumiu do imaginário popular. Mas sobrevive no Estado brasileiro – que FHC tentou desmontar. Vocês se lembram? Em 94, pouco antes de assumir a presidência, o tucano disse que uma das tarefas no Brasil era “enterrar a era Vargas”. Não conseguiu. Vargas sobrevive no BNDES, na Previdência Social, no salário-mínimo, na Petrobrás, nos sindicatos. O Brasil moderno foi construído sobre os alicerces deixados por Vargas. FHC gostaria de tê-los dinamitado.
Agora, o ex-presidente tucano reaparece. Não para tentar desqualificar o lulismo. Mas para lançar um alerta. Ele teme que as “oposições” se percam ”no burburinho [êpa, cuidado Stanley!!!] das maledicências diárias sem chegar aos ouvidos do povo“…. E pede que os tucanos deixem pra lá essa história de falar com o povão, e concentrem-se nas classes médias.
Literalmente, em artigo que acaba de ser publicado, o ex-presidente afirma:
“Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão”, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos. Isto porque o governo “aparelhou”, cooptou com benesses e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes mais eficazes do que a palavra dos oposicionistas, além da influência que exerce na mídia com as verbas publicitárias.”
FHC lança, assim, as bases do “subtucanismo”.
Em algum momento, quando ainda estava no poder, ele havia dito: “esqueçam o que escrevi”. Agora, escreve: “esqueçam o povão”.
Mas o subtucanismo de FHC não deve ser desprezado. Ele parte de uma constatação real, concreta. A de que a oposição (que se refugiou no discurso moralista da classe média) pode perder também esse quinhão. O ex-presidente e ex-sociólogo afirma que a tarefa da oposição é de uma “complexidade crescente a partir dos primeiros passos do governo Dilma que, com estilo até agora contrastante com o do antecessor, pode envolver parte das classes médias.”
Aqui nesse blog, ainda nas primeiras semanas de governo Dilma, escrevi um pequeno texto, intitulado “PT rumo ao centro e oposição na UTI”. Duvido que FHC tenha se rebaixado, e lido o subjornalismo que aqui praticamos. Mas, curiosamente, era mais ou menos isso que eu afirmava naquele post:
É um movimento claro: Lula já ocupara a esquerda e a centro-esquerda; agora, o projeto petista expande-se alguns graus mais – rumo ao centro! Isso sufoca a direita e a oposição.
Minha subanálise, baseada em subobservações dos primeiros movimentos de Dilma, avançava um pouco mais:
Lula e Dilma jogam de tabelinha. Ele mantém apoio forte entre a “esquerda tradicional”, e também entre sindicalistas e movimentos sociais, além do povão deserdado que vê em Lula um novo “pai dos pobres”. Ela joga para a classe média urbana e pragmática que – em parte – preferiu Marina no primeiro turno de 2010. Dilma, com essas ações, deixa muita gente confusa e irritada na esquerda. Mas reconheça-se: é estratégia inteligente.
Estratégia tão inteligente que já fez os tucanos acenderem o sinal amarelo: ou eles brigam pela classe média, ou ficarão sem nada.
FHC mostra-se realista ao propor que o PSDB use não as ferramentas tradicionais da política, mas concentre-se nas redes sociais:
“Pois bem, a imensa maioria destes grupos – sem excluir as camadas de trabalhadores urbanos já integrados ao mercado capitalista – está ausente do jogo político-partidário, mas não desconectada das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc. É a estes que as oposições devem dirigir suas mensagens prioritariamente, sobretudo no período entre as eleições, quando os partidos falam para si mesmo, no Congresso e nos governos. Se houver ousadia, os partidos de oposição podem organizar-se pelos meios eletrônicos, dando vida não a diretórios burocráticos, mas a debates verdadeiros sobre os temas de interesse dessas camadas.”
Ou seja: o subtucanismo defendido por FHC inclui abandonar o povão, concentrar-se nas mídias eletrônicas e seguir no bombardeio ”moralista” que ecoa junto ao último bastião das oposições – a classe média.
Portanto, preparem-se: as tropas de “trolls” tucanos (aliados à extrema dideita que frequenta a internet), atuantes durante a eleição, em breve voltarão a atacar. É nas redes sociais, com o discurso do medo e do moralismo, que o PSDB pretende se agarrar. Foi o que fez Serra em 2010. Obteve 44 milhões de votos.
O PT e o lulismo cometerão um erro grave se subestimarem a capacidade de aglutinação dessa nova oposição – que reconhece seus erros e agora parece redirecionar as baterias. FHC parece ser o ideólogo da operação, Aécio o operador congressual. A velha mídia já está em campo (e a capa da “Época” foi apenas um ensaio do que pode vir pela frente).
A classe média vai escutá-los? Ou será enredada pelo arranjo do lulismo, com Dilma a caminho do centro?
Os próximos meses vão revelar se o subtucanismo de FHC é uma operação desesperada, ou uma estratégia inteligente e duradoura.
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