quinta-feira, 9 de junho de 2011

Copom, câmbio e a especulação externa

Por Luis Nassif, em seu blog:

Em geral, costuma-se comparar a economia a um transatlântico. Depois que o comandante define a nova rota, o navio começa a se mover lenta mas inexoravelmente. Qualquer tentativa de acelerar o ritmo de mudança ou é temerário - por colocar o navio em risco - ou errado, por acentuar a mudança mais do que se devia. O erro só aparecerá mais à frente.



É o que está acontecendo com o PIB agora. A ultima pesquisa do IBGE mostrou o PIB se desacelerando em 9 das 14 regiões pesquisadas. A etapa seguinte será o desaquecimento se estender para as demais regiões.

Todos esses dados recomendariam não se insistir em aumentar ainda mais a taxa Selic.

Uma das contraindicações principais ao aumento de juros é a apreciação cambial.

Um estudo de Márcio Holland, Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda – apresentado na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara – identificou bem os problemas do câmbio. Há diagnósticos claros, precisos, há os efeitos perversos da apreciação cambial sobre a estrutura industrial do país. Mas o fato concreto é que as ações tomadas até aogra apenas impediram um aprofundamento maior da apreciação cambial.

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No diagnóstico do problema, Holland lembrou a desregulamentação financeira iniciada nos anos 70, aprofundada nos anos 90, a sofisticação dos instrumentos financeiros (derivativos, CDS etc), e, após a crise de 2008, o crescimento mundial assimétrico – emergentes crescendo mais, avançados com déficits fiscal e externo e expansão monetária.

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Antes da crise de 2008, o fluxo privado líquido para países emergentes estava em US$ 1,3 trilhão; contra US$ 800 bi em 2006. Depois, caiu para US$ 602 bi em 2008. Em 2011, a previsão é de US$ 960 bi – o maior nível, excetuando o período pré-crise de 2007.

Para combater o movimento especulativo de capitais, o governo aumentou de 2% para 6% o IOF sobre aplicações financeiras externas em renda fixa.

O aumento foi em outubro. Dois meses depois, o fluxo de IDE (Investimento Direto Estrangeiro) saltou de US$ 6,8 bilhões em outubro para US$ 15,4 bilhões em dezembro. No primeiro quadrimestre de 2011, o volume de IDE foi de US$ 23 bilhões – quase 200% a mais do que no mesmo período do ano passado.

Há evidências de que parte desse IDE está sendo desviado para renda fixa. Mas a postura do Banco Central é de leniência. Ontem, no Seminário da Comissão de Finanças da Câmara, o chefe da gerência-executiva de Normatização de Câmbio e Capitais Estrangeiros, Geraldo Magela, afirmou que o BC não identificou fraudes no ingresso dos IDEs – por tal, entenda-se, desvio para aplicação em renda fixa.

Como se identifica a fraude? Simplesmente controlando a trajetória dos dólares, fiscalizando onde serão aplicados. Mas, segundo o insigne gerente, "depois que os dólares entram no país e são convertidos em reais, fica difícil controlar".

Isso porque o BC não entra na análise dos balanços das instituições que trazem os dólares. Então, a única garantia de que não há burlas é a boa fé do fiscalizado: Acreditamos que não estão ocorrendo desvios", diz ele.

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