Por Julia Nassif de Souza, na revista Caros Amigos:
A eleição à presidência no Peru se aproxima e temas fundamentais como a liberdade de imprensa ocupam espaço em um debate marcado pela desconfiança sobre a capacidade democrática de ambos os candidatos, tecnicamente empatados segundo as últimas pesquisas eleitorais.
Diariamente surgem denúncias, vídeos e declarações nos meios de comunicação que, em sua maioria, parecem já não terem rédeas para conter as pressões e manipulações políticas, principalmente oriundas da candidata fujimorista, que defende interesses de poderosas corporações no país.
Como costumava acontecer no antigo governo de Fujimori, foram entregues coroas funerárias aos diretores de um jornal (La Primera) dias atrás que, explicitamente tem apoiado o candidato Ollanta Humala.
Esse tipo de atitude antigamente era realizado pelo Grupo Colina, um esquadrão da morte de Fujimori, responsável pela guerra contra o grupo Sendero Luminoso e por diversos assassinatos e violações de direitos humanos que, até hoje, é anunciado pelo próprio Fujimori como sendo um grupo clandestino, que atuava sem autorização do governo, por mais que esse tivesse assinado e aprovado tais planos de ação.
Subornos e mudanças repentinas das regras empresariais foram alguns dos grandes escândalos vividos pelo fujimorismo, principalmente através do ex-assessor presidencial Vladimiro Montesinos, denunciados publicamente pelas gravações feitas pelo próprio assessor.
Durante os dez anos de governo do Fujimori, jornalistas e donos de meios foram perseguidos e amedrontados por ameaças aos que não apoiassem o governo ou ainda denunciassem os atos de corrupção e terrorismo de estado no período ditatorial.
A democracia dos dias atuais não impediu que, além de ameaças, jornalistas fossem despedidos por não acatarem a deliberação editorial a favor da candidata Keiko Fujimori, no Canal N, do grupo El Comercio, um dos mais importantes grupos de comunicação do país. Outros episódios de não menor valor também foram relatados em todo o país, através do IPYS (Instituto Prensa y Sociedad) e de outras entidades de Direitos Humanos.
A jornalista Patricia Montero, umas das demitidas, trabalhou durante 12 anos no Canal que, segundo ela, sempre teve muita credibilidade, desde sua criação. O Canal, inclusive, desempenhou um importante papel na queda da ditadura de Fujimori e sempre tentou manter uma posição neutra e plural dos acontecimentos, comenta Patricia.
Não foram dados motivos concretos para a sua demissão, assim como aconteceu com o jornalista do mesmo canal José Jara, que receberam como justificativa a entrada de um novo diretor no Canal, em pleno período eleitoral, acompanhado de sua nova equipe de produção.
Enquanto isso, os grandes meios não somente ignoram, mas terminam transferindo as desconfianças ao militar Ollanta Humala que, em uma disputa desigual por espaço e em uma tentativa de se aproveitar de tal situação, rebate aos ataques simultâneos com respeito a sua capacidade democrática de governar e responde com promessas públicas as dúvidas levantadas pela grande mídia.
Como resultado de tamanha manipulação de um meio de comunicação, alguns jornalistas consagrados tem se manifestado publicamente em defesa da liberdade editorial, mesmo no próprio Canal N que teve sua exposição fragilizada pelos últimos acontecimentos. Porém, essa foi uma atitude excepcional, já que se pode notar os jornais, revistas e programas televisivos claramente influenciados por favores políticos.
Além da invasão político-partidária nos meios de comunicação, é preocupante constatar a ausência de denúncias e a falta de iniciativa pessoal de jornalistas e funcionários da comunicação, com respeito às diretivas editoriais do meio onde trabalham.
É explicita a manipulação assim como também é clara a despolitização e o medo dos funcionários midiáticos limitados por uma linha editorial manipulada. A liberdade de imprensa peruana está ameaçada não somente por interesses políticos, mas também pelos funcionários que calam e consentem nos meios onde trabalham.
Tudo isso é resultado de um modelo que não protege seus trabalhadores e que, desde Alberto Fujimori, e reforçado pelas tentativas de decretos de Alan Garcia, busca criminalizar atos de protestos e manifestações sociais e trabalhistas no país. Essa é uma das grandes preocupações que trabalhadores independentes e organismos de defesa dos direitos humanos no Peru veem combatendo incessantemente em uma campanha aberta contra a volta do fujimorismo.
O segundo turno da eleição presidencial peruana acontecerá no próximo dia 5 de junho.
* Júlia Nassif de Souza é antropóloga e comunicadora social.
A eleição à presidência no Peru se aproxima e temas fundamentais como a liberdade de imprensa ocupam espaço em um debate marcado pela desconfiança sobre a capacidade democrática de ambos os candidatos, tecnicamente empatados segundo as últimas pesquisas eleitorais.
Diariamente surgem denúncias, vídeos e declarações nos meios de comunicação que, em sua maioria, parecem já não terem rédeas para conter as pressões e manipulações políticas, principalmente oriundas da candidata fujimorista, que defende interesses de poderosas corporações no país.
Como costumava acontecer no antigo governo de Fujimori, foram entregues coroas funerárias aos diretores de um jornal (La Primera) dias atrás que, explicitamente tem apoiado o candidato Ollanta Humala.
Esse tipo de atitude antigamente era realizado pelo Grupo Colina, um esquadrão da morte de Fujimori, responsável pela guerra contra o grupo Sendero Luminoso e por diversos assassinatos e violações de direitos humanos que, até hoje, é anunciado pelo próprio Fujimori como sendo um grupo clandestino, que atuava sem autorização do governo, por mais que esse tivesse assinado e aprovado tais planos de ação.
Subornos e mudanças repentinas das regras empresariais foram alguns dos grandes escândalos vividos pelo fujimorismo, principalmente através do ex-assessor presidencial Vladimiro Montesinos, denunciados publicamente pelas gravações feitas pelo próprio assessor.
Durante os dez anos de governo do Fujimori, jornalistas e donos de meios foram perseguidos e amedrontados por ameaças aos que não apoiassem o governo ou ainda denunciassem os atos de corrupção e terrorismo de estado no período ditatorial.
A democracia dos dias atuais não impediu que, além de ameaças, jornalistas fossem despedidos por não acatarem a deliberação editorial a favor da candidata Keiko Fujimori, no Canal N, do grupo El Comercio, um dos mais importantes grupos de comunicação do país. Outros episódios de não menor valor também foram relatados em todo o país, através do IPYS (Instituto Prensa y Sociedad) e de outras entidades de Direitos Humanos.
A jornalista Patricia Montero, umas das demitidas, trabalhou durante 12 anos no Canal que, segundo ela, sempre teve muita credibilidade, desde sua criação. O Canal, inclusive, desempenhou um importante papel na queda da ditadura de Fujimori e sempre tentou manter uma posição neutra e plural dos acontecimentos, comenta Patricia.
Não foram dados motivos concretos para a sua demissão, assim como aconteceu com o jornalista do mesmo canal José Jara, que receberam como justificativa a entrada de um novo diretor no Canal, em pleno período eleitoral, acompanhado de sua nova equipe de produção.
Enquanto isso, os grandes meios não somente ignoram, mas terminam transferindo as desconfianças ao militar Ollanta Humala que, em uma disputa desigual por espaço e em uma tentativa de se aproveitar de tal situação, rebate aos ataques simultâneos com respeito a sua capacidade democrática de governar e responde com promessas públicas as dúvidas levantadas pela grande mídia.
Como resultado de tamanha manipulação de um meio de comunicação, alguns jornalistas consagrados tem se manifestado publicamente em defesa da liberdade editorial, mesmo no próprio Canal N que teve sua exposição fragilizada pelos últimos acontecimentos. Porém, essa foi uma atitude excepcional, já que se pode notar os jornais, revistas e programas televisivos claramente influenciados por favores políticos.
Além da invasão político-partidária nos meios de comunicação, é preocupante constatar a ausência de denúncias e a falta de iniciativa pessoal de jornalistas e funcionários da comunicação, com respeito às diretivas editoriais do meio onde trabalham.
É explicita a manipulação assim como também é clara a despolitização e o medo dos funcionários midiáticos limitados por uma linha editorial manipulada. A liberdade de imprensa peruana está ameaçada não somente por interesses políticos, mas também pelos funcionários que calam e consentem nos meios onde trabalham.
Tudo isso é resultado de um modelo que não protege seus trabalhadores e que, desde Alberto Fujimori, e reforçado pelas tentativas de decretos de Alan Garcia, busca criminalizar atos de protestos e manifestações sociais e trabalhistas no país. Essa é uma das grandes preocupações que trabalhadores independentes e organismos de defesa dos direitos humanos no Peru veem combatendo incessantemente em uma campanha aberta contra a volta do fujimorismo.
O segundo turno da eleição presidencial peruana acontecerá no próximo dia 5 de junho.
* Júlia Nassif de Souza é antropóloga e comunicadora social.
A mídia peruana é da mesma árvore onde brotou a mídia brasileira, a flôr cadáver.
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