Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
A queda de Palocci gerou debates acalorados na internet. Recapitulemos. O principal ministro do governo, acuado por denúncias de ter enriquecido 20 vezes enquanto exercia o mandato de deputado federal pelo PT, manteve-se calado por 20 dias. Quando resolveu falar, escolheu: entrevista exclusiva para a Globo.
O meio é a mensagem. Muita gente discutiu os argumentos do ministro naquela entrevista, as explicações, o tom “sóbrio”. O recado principal ali era outro: Palocci indicou que tinha (e tem) aliados poderosos no “establishment”. O meio é a mensagem. Falar à Globo – com exclusividade – é uma forma de dizer: eu sigo forte entre aqueles que mandam ou imaginam que mandam no Brasil. Isso era fundamental para que Palocci se sentisse mais “protegido” ao sair do governo.
Na segunda-feira, veio a decisão da Procuradoria Geral da República (PGR): o procurador não enxergou motivos (jurídicos) para investigar Palocci. Em alguns blogs e no twitter, choveram conclusões apressadas: “aí está a prova de que os detratores de Palocci estavam errados, ele é inocente, não há sequer indícios contra o ministro”. Espalharam-se ataques contra o jornalista Ricardo Kotscho, que havia escrito no blog dele, no dia da entrevista pra Globo: ”Palocci escolheu a guilhotina”. Kotscho errou feio, diziam alguns. Errou??
Outros blogueiros (entre eles esse escrevinhador), que escolheram o caminho da crítica (política) a Palocci, foram acusados de “traidores” e “oportunistas”. Um certo stalinismo de botequim espalhou-se por aí: quem não defende o governo unilateralmente é “traidor”. Hehe. Nessa, eu não caio.
Quem achou que a decisão da PGR era uma “vitória definitiva” de Palocci, desculpe-me, mas não entende muito de política. Palocci permaneceu no cargo durante mais de 20 dias justamente com esse objetivo: usar o cargo para evitar estragos maiores (especialmente na área judicial). Na segunda-feira, diante das conclusões apressadas dando conta da ”vitória jurídica” de Palocci, escrevi no twitter o que me parecia o óbvio ululante: a questão era – e continua a ser – política.
Agora que Palocci caiu, alguns blogueiros e tuiteiros que respeito muito dizem que “o governo acabou”. Bobagem…
Esse é um governo em disputa – ainda mais agora, com o rearranjo de forças. De minha parte, acho que o problema de Dilma não foi a queda de Palocci, mas sua nomeação numa função tão importante. Quando digo que a questaõ era, e é, política, refiro-me justamente a isso: a escolha de Palocci simbolizava a escolha de um nome completamente comprometido com o mundo financeiro e o grande capital. Em 2003, Lula precisava de um nome assim. FHC entregara o país à beira da bancarrota. Palocci cumpriu essa tarefa. Depois, foi derrubado pela soberba – no vergonhoso episódio do caseiro.
Dilma não precisava e não precisa disso. Ah, mas foi o Lula que indicou Palocci. E daí? Lula é um ser iluminado que não erra? Sigo a entender que Lula foi o melhor presidente da República, ao lado do Getúlio Vargas dos anos 50. Nem por isso deixaram (Vargas e Lula) de cometer erros.
A escolha de Palocci para a Casa Civil soma-se a outras escolhas da presidente Dilma – que apontam num rumo claro: o governo caminhou alguns graus rumo ao centro, na comparação com o segundo mandato de Lula – que foi razoavelmente avançado, um governo social-democrata clássico.
A saída de Palocci pode abrir caminho para um novo arranjo. Ninguém espera um governo “socialista” ou de “esquerda” na gestão Dilma. Claro está que a correlação de forças no Brasil exige acordos. Mas quem vai estar ao leme? Quem vai ter a hegemonia do processo? Num texto recente, escrevi sobre os risco das últimas escolhas de Dilma. Dizem por aí que as pesquisas já mostrariam certa queda no apoio à presidenta. Por conta do desgaste gerado pelo caso Palocci no noticiário. Isso é conjuntural. Mais grave pra mim é a corrosão de longo prazo: setores de esquerda sentem-se longe desse governo que prometia ser a continuidade de Lula.
O portal “Sul21″, que tem certa proximidade editorial com o governador petista Tarso Genro (RS), é muito claro na avaliação da queda de Palocci: “Soberba x Prestação de Contas”. Blogueiros como Idelber Avelar e Renato Rovai também escreveram texto curtos e precisos sobre o significado da queda de Palocci. Nenhum deles pode ser apontado como “traidor”, “oportunista”, ou “agente infiltrado do PIG”.
A idéia de que a queda de Palocci significa a “capitulação” de Dilma ao PIG é simplista. Foi Dilma quem tentou um acordo com a velha imprensa, no início do mandato: foi à “Folha”, à Globo, e deu sinais indiretos de que não iria avançar na “Ley de Medios” preparada por Franklin Martins. Escolhas. Palocci, no centro do governo, certamente tinha muito a ver com essas escolhas.
Essas escolhas criaram certo mal-estar entre gente que apoiou e/ou votou em Dilma durante a dura batalha de 2010. A queda de Palocci pode ser o símbolo de uma fase nova no governo.
O PT e o governo, se deixarem de lado o medo e os acertos “por cima”, podem usar o episódio Palocci contra a oposição. Se Palocci caiu por “enriquecer sem explicações convincentes”, o que dizer de Aécio e sua frota de carros na rádio? O que dizer da filha de Serra?
Não é por outro motivo que Serra (e muitos tucanos) ficaram ao lado de Palocci nesse episódio. Palocci era uma ponte com os tucanos e o empresariado atucanado.
A ponte ruiu. Isso não quer dizer que o governo Dilma vai avançar nas áreas onde tropeça e cede ao conservadorismo (Cultura, Relações Internacionais, Meio Ambiente). Mas a chance existe.
A queda de Palocci gerou debates acalorados na internet. Recapitulemos. O principal ministro do governo, acuado por denúncias de ter enriquecido 20 vezes enquanto exercia o mandato de deputado federal pelo PT, manteve-se calado por 20 dias. Quando resolveu falar, escolheu: entrevista exclusiva para a Globo.
O meio é a mensagem. Muita gente discutiu os argumentos do ministro naquela entrevista, as explicações, o tom “sóbrio”. O recado principal ali era outro: Palocci indicou que tinha (e tem) aliados poderosos no “establishment”. O meio é a mensagem. Falar à Globo – com exclusividade – é uma forma de dizer: eu sigo forte entre aqueles que mandam ou imaginam que mandam no Brasil. Isso era fundamental para que Palocci se sentisse mais “protegido” ao sair do governo.
Na segunda-feira, veio a decisão da Procuradoria Geral da República (PGR): o procurador não enxergou motivos (jurídicos) para investigar Palocci. Em alguns blogs e no twitter, choveram conclusões apressadas: “aí está a prova de que os detratores de Palocci estavam errados, ele é inocente, não há sequer indícios contra o ministro”. Espalharam-se ataques contra o jornalista Ricardo Kotscho, que havia escrito no blog dele, no dia da entrevista pra Globo: ”Palocci escolheu a guilhotina”. Kotscho errou feio, diziam alguns. Errou??
Outros blogueiros (entre eles esse escrevinhador), que escolheram o caminho da crítica (política) a Palocci, foram acusados de “traidores” e “oportunistas”. Um certo stalinismo de botequim espalhou-se por aí: quem não defende o governo unilateralmente é “traidor”. Hehe. Nessa, eu não caio.
Quem achou que a decisão da PGR era uma “vitória definitiva” de Palocci, desculpe-me, mas não entende muito de política. Palocci permaneceu no cargo durante mais de 20 dias justamente com esse objetivo: usar o cargo para evitar estragos maiores (especialmente na área judicial). Na segunda-feira, diante das conclusões apressadas dando conta da ”vitória jurídica” de Palocci, escrevi no twitter o que me parecia o óbvio ululante: a questão era – e continua a ser – política.
Agora que Palocci caiu, alguns blogueiros e tuiteiros que respeito muito dizem que “o governo acabou”. Bobagem…
Esse é um governo em disputa – ainda mais agora, com o rearranjo de forças. De minha parte, acho que o problema de Dilma não foi a queda de Palocci, mas sua nomeação numa função tão importante. Quando digo que a questaõ era, e é, política, refiro-me justamente a isso: a escolha de Palocci simbolizava a escolha de um nome completamente comprometido com o mundo financeiro e o grande capital. Em 2003, Lula precisava de um nome assim. FHC entregara o país à beira da bancarrota. Palocci cumpriu essa tarefa. Depois, foi derrubado pela soberba – no vergonhoso episódio do caseiro.
Dilma não precisava e não precisa disso. Ah, mas foi o Lula que indicou Palocci. E daí? Lula é um ser iluminado que não erra? Sigo a entender que Lula foi o melhor presidente da República, ao lado do Getúlio Vargas dos anos 50. Nem por isso deixaram (Vargas e Lula) de cometer erros.
A escolha de Palocci para a Casa Civil soma-se a outras escolhas da presidente Dilma – que apontam num rumo claro: o governo caminhou alguns graus rumo ao centro, na comparação com o segundo mandato de Lula – que foi razoavelmente avançado, um governo social-democrata clássico.
A saída de Palocci pode abrir caminho para um novo arranjo. Ninguém espera um governo “socialista” ou de “esquerda” na gestão Dilma. Claro está que a correlação de forças no Brasil exige acordos. Mas quem vai estar ao leme? Quem vai ter a hegemonia do processo? Num texto recente, escrevi sobre os risco das últimas escolhas de Dilma. Dizem por aí que as pesquisas já mostrariam certa queda no apoio à presidenta. Por conta do desgaste gerado pelo caso Palocci no noticiário. Isso é conjuntural. Mais grave pra mim é a corrosão de longo prazo: setores de esquerda sentem-se longe desse governo que prometia ser a continuidade de Lula.
O portal “Sul21″, que tem certa proximidade editorial com o governador petista Tarso Genro (RS), é muito claro na avaliação da queda de Palocci: “Soberba x Prestação de Contas”. Blogueiros como Idelber Avelar e Renato Rovai também escreveram texto curtos e precisos sobre o significado da queda de Palocci. Nenhum deles pode ser apontado como “traidor”, “oportunista”, ou “agente infiltrado do PIG”.
A idéia de que a queda de Palocci significa a “capitulação” de Dilma ao PIG é simplista. Foi Dilma quem tentou um acordo com a velha imprensa, no início do mandato: foi à “Folha”, à Globo, e deu sinais indiretos de que não iria avançar na “Ley de Medios” preparada por Franklin Martins. Escolhas. Palocci, no centro do governo, certamente tinha muito a ver com essas escolhas.
Essas escolhas criaram certo mal-estar entre gente que apoiou e/ou votou em Dilma durante a dura batalha de 2010. A queda de Palocci pode ser o símbolo de uma fase nova no governo.
O PT e o governo, se deixarem de lado o medo e os acertos “por cima”, podem usar o episódio Palocci contra a oposição. Se Palocci caiu por “enriquecer sem explicações convincentes”, o que dizer de Aécio e sua frota de carros na rádio? O que dizer da filha de Serra?
Não é por outro motivo que Serra (e muitos tucanos) ficaram ao lado de Palocci nesse episódio. Palocci era uma ponte com os tucanos e o empresariado atucanado.
A ponte ruiu. Isso não quer dizer que o governo Dilma vai avançar nas áreas onde tropeça e cede ao conservadorismo (Cultura, Relações Internacionais, Meio Ambiente). Mas a chance existe.
Qual será o próximo factóide? Quem será o próximo a ser fritado? Quando virá a próxima crise? A nova CPI?
ResponderExcluirNão sejamos ingênuos, o PIG e a alta cúpula política do país sabe que só podem detonar a Dilma através de factóides, indícios, suposições de fraudes. “O macaco senta sobre seu rabo e afirma que o coelho tem rabo grande”.
Quase sempre dá certo. Inventaram a casa da Dinda do Collor e detonaram o cara. Inventaram o mensalão e detonaram o José Dirceu. Inventaram o caseiro e agora o enriquecimento do Palocci e detonaram o cara.
Até a casa do irmão do Lula foi vasculhada, para ver se não podiam, de alguma forma fabricar alguma crise que atingisse o Lula, porque não?
Tambem não conseguiram detonar a Dilma, (quando era ministra) embora o senador Alvaro Dias tenha inventado uma planilha e pedido a saída dela, lembra?
Tambem ainda não conseguiram detonar o Maluf que já teve conta inventada na Suissa, nas Ilhas Caimãn, e mais recentemente nas Ilhas Jersey. O coitado sofre desde 1984!
Que jornalismo é este, que tem a autoridade de acusar sem provar?
"Palocci simbolizava a escolha de um nome comprometido com o mundo financeiro e o grande capital."; "Palocci era a ponte com os tucanos e o empresariado atucanado"; "Ele não é um agente infiltrado do PIG."; Podia até não ser, mas os "alguns graus rumo ao centro" dado pelo governo... A questão é tão complexa que pensamentos pensáveis e impensáveis se alternam. Será que o (a) suplente da senadora Gleisi será tão aguerrido como ela? Desculpe. É a densidade e a precipitação dos fatos...
ResponderExcluirUm erro não justifica o outro. Quem é corrupto é corrupto, em qualquer partido picareta.
ResponderExcluirExcelente análise, camarada!
ResponderExcluirO Rodrigo se equivoca, Miro, ao achar que aqueles que defenderam o Estado de Direito no caso Palocci ignoravam que com toda a imprensa, toda a oposição, boa parte do PT e quase toda a Blogosfera contra Palocci, não seria difícil defenestrar o ministro. Minha pregação sempre foi pelo Estado de Direito. O Kotscho, por exemplo, disse que Serra estava eleito após entrevistar Carlos Augusto Montenegro, do Ibope. As pessoas erram ou acertam, em política. E nas duas situações, a coincidência pode ser o único fator. Imagine agora se eu, a cada acerto, dissesse que entendo mais de política do que os outros. Não é questão de entender de política, mas de ficar do lado certo. A meu ver, punir alguém sem provas é o lado errado. Para mim, havia gente contra Palocci que estava de boa fé e gente que estava de má fé. Fiz essa distinção o tempo todo. Se alguém disse que todos os que queriam derrubar o ministro eram traidores, errou feio. Nesse caso, errar ou acertar o desfecho, para mim, era o que menos impportava e, sim, oferecer ao público uma outra versão, já que em parte alguma se via outro discurso que não fosse pró derrubada do ministro. Meu blog teve esse papel e isso muito me honra. Condenação política era método da ditadura.
ResponderExcluirUm abraço,
Eduardo Guimarães