Por Pedro de Oliveira, no sítio Vermelho:
“O melhor agente regulador (em se tratando de regulação de imprensa, N.A.) será o que estiver morto”. Com esta frase, Rupert Murdoch – um dos maiores barões da imprensa mundial, tão bem caracterizado pelo filme dirigido por Orson Welles em 1941, “Cidadão Kane” – definiu seu pensamento a respeito de organismos reguladores de imprensa.
Famoso por seu ultra-neoliberalismo e seu completo desrespeito por qualquer instituição que impeça o crescimento vertiginoso de suas empresas na esfera de mídia, Murdoch vive seus dias mais constrangedores. Depois de se negar, num primeiro momento, a comparecer diante de uma comissão especial do parlamento britânico para explicar o escândalo das escutas telefônicas clandestinas conduzidas pelo jornal “News of the World” – o jornal dominical inglês que tinha a maior tiragem da história do jornalismo na Inglaterra (2 milhões e meio de exemplares) e que foi fechado no último dia 10 de julho depois de 168 anos de vida – acabou forçado a depor diante da Comissão de Cultura.
Falou, balbuciou, fingiu não entender o que lhe perguntavam e não explicou nada, tentando se eximir de responsabilidades em fatos que remontam ao inicio dos anos 2000, quando a editora-chefe, Rebekah Brooks, assumiu o comando do jornal. Durante o depoimento, um comediante inglês tentou até jogar um prato com creme de barbear em sua face, no que foi impedido pela diligente esposa de Murdoch, uma mulher japonesa conhecida por “ninja”.
Desde o inicio de 2000 até estas duas ultimas semanas, cerca de 4 mil pessoas tiveram seu sigilo telefônico quebrado por um sistema financiado pelo jornal de Murdoch. Policiais londrinos foram subornados e os dirigentes principais da Policia Metropolitana e da Scotland Yard tiveram que se demitir de seus cargos nesta semana em função de terem sido complacentes e inoperantes na tarefa de investigar denúncias que apareceram em meados da década passada.
Até o Príncipe Charles teve seu celular violado
O fato é que o próprio Príncipe Charles acabou tendo a caixa de mensagens de seu celular violada clandestinamente em 2005 por um detetive contratado pelo jornal “News of the World”. Foi quando veio à luz mensagens de amor de Charles por sua amante e atual esposa, Camilla Parker Bowles. O Palácio de Buckinghan alertou, na época, a Polícia Metropolitana que por sua vez mandou prender o editor do jornal responsável por questões ligadas à realeza, Clive Goodman, e também um investigador profissional chamado Glenn Mulcaire, que confessou ter gravado as mensagens não apenas do Príncipe, como de outras personalidades públicas.
Caso mais escandaloso vazou quando o jornal acessou clandestinamente o celular de Milly Doler, uma estudante inglesa que foi abusada e morta em 2002 na volta da escola. Na verdade o detetive particular limpou as mensagens do celular para não entupir a caixa de mensagens, o que levou a família da jovem ter a esperança vã de que a menina pudesse estar viva ainda.
Em 2003, houve uma troca de cadeiras na direção do sistema de jornais de Murdoch na Inglaterra: Rebekah Brooks assume a chefia do jornal “The Sun” e Andy Coulson passa a dirigir o “News of the World”. Andy Coulson renunciou ao seu cargo quando houve a denúncia de que o jornal havia violado o celular do príncipe Charles, argumentando que nada sabia deste tipo de atividade de seus jornalistas. Uma investigação interna do jornal detectou que se tratou de um caso isolado e que não havia indícios de que era uma ação generalizada.
A ação do Comitê de Auto-regulação da imprensa
Os jornais ingleses criaram um órgão de auto-regulação de suas próprias atividades – uma espécie de comissão de controle interno chamado PCC, na sigla em inglês. Esta comissão também declarou não haver problemas na ação informativa do jornal e tudo ficou por isso mesmo. O jornal “The Guardian”, entretanto, foi o que resolveu divulgar em 2009 que um grande número de celebridades e políticos estavam com suas ligações telefônicas sendo violadas. Então se levantou a necessidade de reabrir a investigação de denúncias abafadas pela polícia. O chefe da Polícia Metropolitana, que agora foi obrigado a renunciar, impediu a reabertura do caso.
O atual Primeiro Ministro britânico, o conservador David Cameron, está enfrentando sua maior crise política desde a posse, pois ao assumir seu mandato (após a derrota dos trabalhistas), trouxe para o governo exatamente o chefe de redação do “News of the World” Andy Coulson, que havia renunciado ao seu cargo por denúncias de violação telefônica. Cameron foi obrigado a demiti-lo do cargo de porta-voz e enfrenta agora uma série de acusações no Parlamento, que foi convocado extraordinariamente de seu período de recesso, para analisar a nova situação criada.
O império de Murdoch continua sua trajetória
Há duas semanas, o sistema News Corporation – que é a holding do império de mídia de Rupert Murdoch – estava para fechar o maior negócio de sua história, quando ameaçou comprar a maior empresa de televisão a cabo da Grã Bretanha, BSkyB. As denúncias de grampos telefônicos clandestinos dos jornais de Murdoch, no entanto, fizeram o negócio ser suspenso. Pelo menos por enquanto. Se verificarmos o perfil dos negócios de mídia de Murdoch, iremos constatar que a parte relacionada a jornais abarca apenas 13% do total dos lucros da News Corporation. O segmento de televisão a cabo é responsável por mais de 43%, o setor de filmes para cinema 15%, o de TV comercial 9% e o de satélites de comunicação cerca de 2%, entre outros empreendimentos do grupo de menor expressão.
A corporação dos Murdoch continua de olho no negócio de TV a cabo, o mais lucrativo dos segmentos da empresa. Este setor é dirigido atualmente pelo filho de Mudoch, James Murdoch. Nos Estados Unidos, onde a News Corporation tem seu braço americano agora com o controle de um dos maiores jornais de negócios do mundo, o “Wall Street Journal”, estão sob vigilância e sob investigação do sistema de controle de impostos do Tio Sam. Um exército de advogados contratados por Murdoch tenta defender a corporação da acusação comprovada de que suas empresas estão pagando tão somente 20% de impostos federais, enquanto deveriam estar pagando cerca de 35%.
O império construído por Rupert Murdoch passa por dificuldades, mas ainda é muito poderoso e espalha seus tentáculos por vários continentes, desde a Austrália, passando pela Europa (onde tem interesses em vários países) e nos Estados Unidos. Seus métodos são os mesmos do imperialismo em suas ações tanto no período colonialista, quando na era atual onde reina o neoliberalismo: a agressividade, o roubo de dinheiro publico a corrupção, o pagamento de propinas para policiais e autoridades constituídas, a aproximação com os poderosos de ocasião, o achaque e o apoio a políticas intervencionistas no plano internacional. Ao lado dessa plataforma está o repúdio permanente a qualquer tipo de regulação e controle público de suas atividades, como expressou Murdoch em sua máxima contra os agentes reguladores.
“O melhor agente regulador (em se tratando de regulação de imprensa, N.A.) será o que estiver morto”. Com esta frase, Rupert Murdoch – um dos maiores barões da imprensa mundial, tão bem caracterizado pelo filme dirigido por Orson Welles em 1941, “Cidadão Kane” – definiu seu pensamento a respeito de organismos reguladores de imprensa.
Famoso por seu ultra-neoliberalismo e seu completo desrespeito por qualquer instituição que impeça o crescimento vertiginoso de suas empresas na esfera de mídia, Murdoch vive seus dias mais constrangedores. Depois de se negar, num primeiro momento, a comparecer diante de uma comissão especial do parlamento britânico para explicar o escândalo das escutas telefônicas clandestinas conduzidas pelo jornal “News of the World” – o jornal dominical inglês que tinha a maior tiragem da história do jornalismo na Inglaterra (2 milhões e meio de exemplares) e que foi fechado no último dia 10 de julho depois de 168 anos de vida – acabou forçado a depor diante da Comissão de Cultura.
Falou, balbuciou, fingiu não entender o que lhe perguntavam e não explicou nada, tentando se eximir de responsabilidades em fatos que remontam ao inicio dos anos 2000, quando a editora-chefe, Rebekah Brooks, assumiu o comando do jornal. Durante o depoimento, um comediante inglês tentou até jogar um prato com creme de barbear em sua face, no que foi impedido pela diligente esposa de Murdoch, uma mulher japonesa conhecida por “ninja”.
Desde o inicio de 2000 até estas duas ultimas semanas, cerca de 4 mil pessoas tiveram seu sigilo telefônico quebrado por um sistema financiado pelo jornal de Murdoch. Policiais londrinos foram subornados e os dirigentes principais da Policia Metropolitana e da Scotland Yard tiveram que se demitir de seus cargos nesta semana em função de terem sido complacentes e inoperantes na tarefa de investigar denúncias que apareceram em meados da década passada.
Até o Príncipe Charles teve seu celular violado
O fato é que o próprio Príncipe Charles acabou tendo a caixa de mensagens de seu celular violada clandestinamente em 2005 por um detetive contratado pelo jornal “News of the World”. Foi quando veio à luz mensagens de amor de Charles por sua amante e atual esposa, Camilla Parker Bowles. O Palácio de Buckinghan alertou, na época, a Polícia Metropolitana que por sua vez mandou prender o editor do jornal responsável por questões ligadas à realeza, Clive Goodman, e também um investigador profissional chamado Glenn Mulcaire, que confessou ter gravado as mensagens não apenas do Príncipe, como de outras personalidades públicas.
Caso mais escandaloso vazou quando o jornal acessou clandestinamente o celular de Milly Doler, uma estudante inglesa que foi abusada e morta em 2002 na volta da escola. Na verdade o detetive particular limpou as mensagens do celular para não entupir a caixa de mensagens, o que levou a família da jovem ter a esperança vã de que a menina pudesse estar viva ainda.
Em 2003, houve uma troca de cadeiras na direção do sistema de jornais de Murdoch na Inglaterra: Rebekah Brooks assume a chefia do jornal “The Sun” e Andy Coulson passa a dirigir o “News of the World”. Andy Coulson renunciou ao seu cargo quando houve a denúncia de que o jornal havia violado o celular do príncipe Charles, argumentando que nada sabia deste tipo de atividade de seus jornalistas. Uma investigação interna do jornal detectou que se tratou de um caso isolado e que não havia indícios de que era uma ação generalizada.
A ação do Comitê de Auto-regulação da imprensa
Os jornais ingleses criaram um órgão de auto-regulação de suas próprias atividades – uma espécie de comissão de controle interno chamado PCC, na sigla em inglês. Esta comissão também declarou não haver problemas na ação informativa do jornal e tudo ficou por isso mesmo. O jornal “The Guardian”, entretanto, foi o que resolveu divulgar em 2009 que um grande número de celebridades e políticos estavam com suas ligações telefônicas sendo violadas. Então se levantou a necessidade de reabrir a investigação de denúncias abafadas pela polícia. O chefe da Polícia Metropolitana, que agora foi obrigado a renunciar, impediu a reabertura do caso.
O atual Primeiro Ministro britânico, o conservador David Cameron, está enfrentando sua maior crise política desde a posse, pois ao assumir seu mandato (após a derrota dos trabalhistas), trouxe para o governo exatamente o chefe de redação do “News of the World” Andy Coulson, que havia renunciado ao seu cargo por denúncias de violação telefônica. Cameron foi obrigado a demiti-lo do cargo de porta-voz e enfrenta agora uma série de acusações no Parlamento, que foi convocado extraordinariamente de seu período de recesso, para analisar a nova situação criada.
O império de Murdoch continua sua trajetória
Há duas semanas, o sistema News Corporation – que é a holding do império de mídia de Rupert Murdoch – estava para fechar o maior negócio de sua história, quando ameaçou comprar a maior empresa de televisão a cabo da Grã Bretanha, BSkyB. As denúncias de grampos telefônicos clandestinos dos jornais de Murdoch, no entanto, fizeram o negócio ser suspenso. Pelo menos por enquanto. Se verificarmos o perfil dos negócios de mídia de Murdoch, iremos constatar que a parte relacionada a jornais abarca apenas 13% do total dos lucros da News Corporation. O segmento de televisão a cabo é responsável por mais de 43%, o setor de filmes para cinema 15%, o de TV comercial 9% e o de satélites de comunicação cerca de 2%, entre outros empreendimentos do grupo de menor expressão.
A corporação dos Murdoch continua de olho no negócio de TV a cabo, o mais lucrativo dos segmentos da empresa. Este setor é dirigido atualmente pelo filho de Mudoch, James Murdoch. Nos Estados Unidos, onde a News Corporation tem seu braço americano agora com o controle de um dos maiores jornais de negócios do mundo, o “Wall Street Journal”, estão sob vigilância e sob investigação do sistema de controle de impostos do Tio Sam. Um exército de advogados contratados por Murdoch tenta defender a corporação da acusação comprovada de que suas empresas estão pagando tão somente 20% de impostos federais, enquanto deveriam estar pagando cerca de 35%.
O império construído por Rupert Murdoch passa por dificuldades, mas ainda é muito poderoso e espalha seus tentáculos por vários continentes, desde a Austrália, passando pela Europa (onde tem interesses em vários países) e nos Estados Unidos. Seus métodos são os mesmos do imperialismo em suas ações tanto no período colonialista, quando na era atual onde reina o neoliberalismo: a agressividade, o roubo de dinheiro publico a corrupção, o pagamento de propinas para policiais e autoridades constituídas, a aproximação com os poderosos de ocasião, o achaque e o apoio a políticas intervencionistas no plano internacional. Ao lado dessa plataforma está o repúdio permanente a qualquer tipo de regulação e controle público de suas atividades, como expressou Murdoch em sua máxima contra os agentes reguladores.
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