Por Max Altman
Por acaso os presidentes não têm direito de adoecer? Afinal, estão mais expostos às enfermidades devido a todas as exigências do cargo. Que compostura e dignidade comportam certos setores da sociedade e seus porta-vozes impressos e eletro-eletrônicos quando um presidente se enferma e festejam, mostram satisfação, sabendo que o fato representa aflição e preocupação ao povo que o elegeu. Que classe de seres humanos são os que desejam, dissimuladamente, a morte de presidentes e políticos que não podem controlar, quando diante das tragédias comuns de nosso dia-a-dia se mostram consternados e piedosos.
A direita venezuelana -– e isto se pode estender a todas de todos os recantos, em especial de Washington a Madri -– pretende conseguir agora, graças ao câncer que acometeu o presidente Hugo Chávez, o que não conseguiu em doze anos: sua derrocada do poder, por qualquer meio. Tentaram a sedição do golpe militar, valeram-se da Pdvsa para paralisar o país, alegaram fraude em disputas eleitorais, arquitetaram múltiplas conspirações para desestabilizar o governo. Não conseguiram. Perderam as ruas, perderam as urnas e perderam os quartéis.
A doença de Chávez desatou uma odiosa e repugnante campanha midiática global que jogou no lixo os últimos resquícios de integridade moral e os princípios que devem nortear o jornalismo: objetividade e verdade. Preferiram entregar-se à manipulação política servindo aos interesses da oligarquia local e à estratégia regional do império.
Quem lesse a grande imprensa privada da Venezuela percebia que havia certo regozijo com a enfermidade do presidente, exigindo que Chávez se licenciasse e o vice-presidente Elias Jaua assumisse o Palácio Miraflores. Alegavam os meios de comunicação e políticos de oposição, com base em “informações confidenciais” ou em “relatos do serviço de inteligência da CIA” que o estado de Chávez era terminal, que se havia cometido gravíssimo erro médico de diagnóstico e execução cirúrgica, que o câncer já se espalhara. Enfim, que o presidente não tinha condições de permanecer no cargo e muito menos de governar de Havana, onde estava hospitalizado.
Fizeram ‘tabula rasa’ do comunicado oficial do chanceler Nicolas Maduro de 10 de junho, segundo o qual o presidente sofrera cirurgia de emergência para limpar um abscesso pélvico e desdenharam a manifestação do próprio Chávez em 30 de junho de que tivera de passar por uma segunda cirurgia para extirpar células e tumor cancerígeno. A respeito da doença do presidente seguem dizendo “segundo as versões oficiais insuscetíveis de confirmação” e que a “localização e gravidade, assim como o tratamento e o prognóstico dos médicos são mantidos em segredo”.
Georges Pompidou, presidente da França, morreu de macroglobulinemia de Waldenström , um tipo de câncer linfático, no exercício de suas funções; François Mitterand governou boa parte de seus 14 anos de mandato carregando um câncer na próstata; e mais recentemente Fernando Lugo do Paraguai, governa normalmente ainda que portador de linfoma. São alguns exemplos e nenhum deles recebeu o tratamento mórbido de que Chávez é alvo.
O regresso de Chávez e a incrível manifestação espontânea que reuniu mais de 150 mil pessoas para ouvir o presidente do ‘Balcão do Povo’ do Palácio Miraflores e demonstrar sua imensa alegria, consistiram em resposta contundente àqueles que insistem em desestabilizar o governo. A reação venezuelana e o império esperavam que o afastamento do cenário político e administrativo de Chávez levassem a uma literal paralisia da ação governamental. Para seu imenso desgosto, no mês que Chávez esteve distante de Caracas, antes pelo giro que incluiu Brasília, Quito e Havana e depois pela internação hospitalar, o governo enfrentou galhardamente o desafio e seguiu funcionando normalmente. Não ocorreu nem ingovernabilidade nem vazio de poder nem paralisia de funções nem crise política nem agitação social como prognosticavam a oposição e seus porta-vozes midiáticos.
Insistem agora que as mazelas do país – os descaminhos da economia, a inflação nas alturas, a criminalidade desabrida, a escassez de moradias e o racionamento de energia – se agravaram. São problemas reais, existem e precisam ser combatidos. No entanto, escamoteiam e evitam dizer que nenhum governo do mundo fez tanto em tão pouco tempo pela saúde e educação de seu povo. Venezuela está livre do analfabetismo, mais da metade da população freqüenta alguma sala de aula, todo o povo tem acesso gratuito à medicina preventiva, a Missão Vivenda Venezuela está entregando casas para a população pobre, o instituto norte-americano Gallup situou a Venezuela em 6º lugar de bem-estar do mundo, considerando próspero seu nível de vida atual e expectativas futuras, o PIB cresceu 4,5 por cento no 1º trimestre, caiu a taxa de desemprego para 8,1 por cento, o salário mínimo e a distribuição de renda é o mais alto e a melhor da região, a pobreza foi reduzida drasticamente nos últimos 12 anos.
É por tudo isso que o povo venezuelano participou entusiasticamente das comemorações do Bicentenário da Independência da Venezuela, saindo às ruas às dezenas de milhares. Ao vibrar com a parada das forças militares do país, estavam saudando a independência e a soberania atual da Venezuela. Este é, a par da melhoria das condições de vida da população em geral, um dado essencial. Ao abrir o dia festivo de 5 de julho, tendo ao lado os comandantes das Forças Armadas, da Guarda Nacional e da Milícia Popular, o presidente Chávez declarou: “Não tínhamos melhor maneira para comemorar esse dia que o celebrando sendo independentes como somos, já não somos colônia de nenhum império nem o seremos nunca.”
A independência, porém, levou uma década para se consolidar, sendo concretizada finalmente em 24 de junho de 1821 quando as tropas comandadas por Simon Bolívar derrotaram definitivamente as espanholas na Batalha de Carabobo.
Igualmente, a próxima década – de 2011 a 2021 – terá por escopo consolidar o processo revolucionário bolivariano socialista. Chávez deve agora priorizar sua saúde, continuar governando mais apoiado em seus auxiliares e lançar-se com ímpeto na campanha eleitoral de 2012. Sua visão estratégica, seu elã e capacidade política de gerar iniciativas que fortalecem a união dos povos latino-americanos e do Caribe, como a Alba, Petrocaribe, Telesur e diversas outras, fazem de Chávez um protagonista na luta pela total independência e integração de Nossa América.
Mas a história ensina também que, ao longo dos próximos anos, faz-se mister que novas lideranças, provadas e capazes, surjam para levar adiante as bandeiras da soberania, da justiça social, da democracia, da paz e fraternidade entre os povos, da mãe-Terra, do socialismo enfim.
Quantas vezes mataram o Fidel, e o homem está aí firme e forte a revolucionar o mundo!
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